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quarta-feira, 17 de junho de 2020

XANANA DIÓGENES: a flor pau-ferrense da arte plástica

Acervo: Secretaria de Cultura e Turismo de Pau dos Ferros (2015)
Texto: Victor Rafael do Nascimento Mendes
Na memória de hoje apresento algumas das obras de Dona Xanana Diógenes, pioneira nas artes plásticas em Pau dos Ferros (décadas de 60 a 90). Com mais de 200 obras vendidas e espalhadas por todo o Brasil, Dona Xanana, como era popularmente conhecida, fez da arte o seu ofício de vida.
No interior do estado, mais precisamente no Alto Oeste, ela é referência, tendo iniciado sua atividade artística ainda jovem. Seus principais temas na pintura retratavam fatos do cotidiano familiar, da religião e de paisagens do sertão potiguar.
Em Pau dos Ferros, Mossoró e Natal, Dona Xanana realizou algumas exposições, elevando o seu nome em domínio estadual no quesito de arte plástica.
Foi professora de boa parte dos artistas pau-ferrenses, quais sejam: Marta Pontes, Toinho Dutra, Edielton Rêgo, Israel Vianey, Marnilce etc.
Em uma de suas poucas entrevistas, ao Jornal De Fato (S. D.), disse Dona Xanana: “A arte de pintar para mim é tudo. As vezes eu deixava de cuidar da casa e do marido. A verdade é que a arte não tem preço”.
As fotografias que aqui apresento foram concedidas a mim por Gigi Diógenes, filha de Dona Xanana, no ano de 2015 (feitas pelo fotógrafo Franskin Leite), quando estivemos reunidos (eu, Franskin, Marta Pontes e Gigi) para dialogarmos sobre homenagens do Vitrine Cultural do mesmo ano.
Para além do que o seu nome popular representa; uma flor do semiárido com propriedades curativas e decorativas do sertão, Xanana representa a identidade pau-ferrense em seus trabalhos espalhados por muitos lugares do mundo.
Por toda arte espalhada e semeada em Pau dos Ferros, salve à memória de Dona Xanana!
Victor Rafael do Nascimento Mendes









TRÊS MARIAS DA BARRAGEM: personagens do folclore pau-ferrense

Fotografias:
Ene Pinheiro
e Blog Nossa Pau dos Ferros
Texto: Victor Rafael do Nascimento Mendes
Três irmãs: Lilita, Antônia e Helena. São esses os nomes das - Três Marias da Barragem – (nome popular atribuído), “estrelas ofuscadas” (FREITAS, 2013) que circundam a memória folclórica pau-ferrense. Nascidas na comunidade Sanharão, zona rural da cidade de Pau dos Ferros, as - Três Marias da Barragem -, desde crianças, apresentaram comportamento de convívio afastado da “sociedade” (certas estão elas).
Algumas pessoas contam que esse comportamento se deu pelo fato do convívio limitado, apenas com os pais, pois esses também não gostavam de conviver com outras pessoas, pouco saíam e pouco conversavam. Dizem também que quando chegava alguém “estranho” (fora do convívio de casa) as três irmãs corriam para dentro do quarto e de lá só saíam quando a visita se ausentava.
As “Três Marias da Barragem” são conhecidas pelo povo pau-ferrense como mulheres que escondem a face com panos sob a cabeça, que usam vestidos pretos e de pouco contato com outras pessoas. Na juventude, com a morte dos pais, começaram a caminhar pelas ruas de Pau dos Ferros a procura de comida (para alguns, ‘esmolas’), produtos para uso pessoal e doméstico (continuam até os dias de hoje).
Vítimas do machismo e da ausência de compreensão da maldade humana, foram abusadas por alguns homens, o que as fizeram gerar filhos que hoje são criados por diferentes famílias do Alto Oeste Potiguar (em maior quantidade em Pau dos Ferros).
Muitas são as histórias, memórias e lendas contadas sobre as irmãs Marias, que são evidenciadas em positiva pesquisa realizada pela historiadora Vanessa Maria de Queiroz Freitas (pau-ferrense pioneira neste assunto), em seu trabalho de conclusão no curso de História (UFRN-Campus de Caicó).
As memórias construídas em relação às “Três Marias da Barragem” são marcadas por exclusão e preconceito em virtude da forma de como é conduzida a vida das três irmãs. No entanto, não podemos deixar de reconhecer que elas fazem parte da cultura imaterial da cidade de Pau dos Ferros, sobretudo pelas histórias, lendas e mitos que são criadas em torno delas e que hoje, graças aos trabalhos desenvolvidos (FREITAS, 2013; NASCIMENTO-MENDES, 2014), estão escritos nos anais da memória pau-ferrense.
REFERÊNCIAS
FREITAS, Vanessa M. Queiroz. Estrelas Ofuscadas: as “Três Marias da Barragem” sob a ótica da sociedade pau-ferrense. 2013. 30 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em História) - Faculdade de História, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Caicó, 2013.
NASCIMENTO-MENDES, Victor Rafael do. As Três Marias da Barragem: redes de memórias e construções de identidades sob a ótica pau-ferrense. II Seminário de Educação, Memória e Identidade. Mossoró: UERN, 2014.
Foto 01: As “Três Marias da Barragem” caminhando pelas ruas de Pau dos Ferros/RN. Fonte: Blog Nossa Pau dos Ferros. Disponível em: http://www.nossapaudosferrosrn.blogspot.com.br/2009/09/as-tres-marias-da-barragem-lenda-viva.html. Acessado em 12 de julho de 2014.
Foto 02: Da esquerda para a direita: Lilita, Antônia e Helena – As “Três Marias da Barragem”. Fonte: Arquivo pessoal de Ene Moreira Pinheiro.

IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA IMACULADA CONCEIÇÃO DE PAU DOS FERROS: sobre as máculas arquitetônicas durante os séculos

Fotografias: Fausto Fernandes, Toinho Dutra e Edna Souza

Acervo: Ponto de Memória Pau-Ferrense

Próximo ao antigo leito do Rio Apodi e cercada por árvores frondosas, como a Oiticica, por exemplo, uma capela foi construída em 1738 por Francisco Marçal. Essa capela, inicialmente, serviu de apoio às devoções e orações de pessoas que viviam em um povoado que crescia no Alto Oeste da província do Rio Grande do Norte.
No ano de 1756, a capela tornou-se matriz, tendo como padroeira Nossa Senhora Imaculada Conceição. Na metade do século XVIII, a então matriz iniciou suas atividades paroquianas e começou a realizar, sempre aos 8 dias de dezembro, missas e procissões em alusão à Senhora Padroeira.
Por estar situada no local de passagem de vaqueiros e viajantes, a Matriz de Nossa Senhora Imaculada Conceição recebia fieis de todas as localidades, tanto de vilas e povoados do RN quanto de outras províncias.
Aos poucos, o povoado foi crescendo e, em virtude de vaqueiros bravios, que esfriavam os ferros quentes que marcavam o gado em árvores às margens do Rio Apodi, o local foi, inicialmente, ficando conhecido por "Pau de Ferro", posteriormente passando a ser chamado de "Vila Cristina" (nome não oficializado) e, por último, "Pau dos Ferros".
Sob forte influência de fazendeiros, religiosos da igreja católica e deputados provinciais, Pau dos Ferros, outrora integrado à Vila de Portalegre (1761), foi elevada à categoria de Vila em 1856.
Com a elevação da Vila de Pau dos Ferros, a Igreja Matriz de Nossa Senhora Imaculada Conceição passou de uma pequena capela a um grande de templo de amor, festa e devoção à Mãe Imaculada, tendo seu estilo arquitetônico modificado durantes as décadas e século seguintes (rococó, barroco, gótico etc.).
Nos anos 2000, a Igreja Matriz, já sem nenhuma característica de sua construção inicial, é modernizada à luz do eu que considero (e acredito que seja) movimento carismático das igrejas católicas brasileiras.
Sob influência desse movimento, o belíssimo e bicentenário altar-mor da igreja foi demolido, dando espaço para uma parede que recebe uma bonita pintura da artista sacra Maria Fonseca. Junto à demolição do altar, também foi demolida a memória material do povo pau-ferrense. Por outro lado, tivemos a construção da segunda torre da igreja, que há muito era requerida pelos fies.
Quero pensar que as influências carismáticas na igreja sejam para seguir os ensinamentos do atual Papa Francisco, que vê na humildade e na prática da caridade de sua igreja o caminho para a salvação.
Eu gostaria que houvesse um tombamento histórico e arquitetônico da igreja de nossa querida cidade Pau dos Ferros, sobretudo para impedir que novos apagamentos arquitetônicos sejam feitos, mas, ao que me parece, não é somente a Senhora que é imaculada, mas também a cúria diocesana, que insiste em seguir um caminho um tanto diferente do que o Francisco (o santo) e o Francisco (o papa, e ainda não santo) nos ensinam.
Victor Rafael do Nascimento Mendes.

COMUNIDADE LGBTQIA+ DE PAU DOS FERROS: histórias, resistências e lutas

[LEIAM ATÉ O FINAL]
Destaque: Encontros de Visibilidade Trans em Pau dos Ferros (2019-2020)
Pau dos Ferros é, historicamente, uma cidade que marginaliza o (a) “cidadão (ã)” fora do padrão normativo social. O marginal, entendido por alguns como alguém que infringe as regras e leis, é, na verdade, alguém que foi deixado às bermas da estrada por não seguir o fio condutor da normatividade. Esta última definição é social, e é através dela que posiciono o meu discurso na memória de hoje.
Marginalizados desde sempre, a comunidade LGBTQIA+ de Pau dos Ferros tem enfrentado, cotidianamente, o racismo e a discriminação travestida de um discurso que diz “respeitar” (o que não significa “aceitar”) os direitos e sistemas de vidas das pessoas que pertencem à essa comunidade.
Nas décadas de 70 e 80, homossexuais pau-ferrenses ficavam à sombra dos costumes hegemônicos e normalizadores da “família tradicional”, silenciados em suas vontades e em seus desejos de expressarem o que havia de mais humano: ser quem de fato são.
Alguns de meus amigos que viveram nessas décadas me disseram que, além da família, os homossexuais eram reprimidos em festas, comunidades, feiras, igrejas (sobretudo nas igrejas, vixe!) etc. Neste parágrafo me refiro aos homossexuais abertamente assumidos da cidade naquela época (imaginem os que não eram).
Se fosse travestir: - Eita, corre que “os alibans” estão vindo para me bater e pegar o meu “aqüé”. Quando falo em travestir, me vem à memória os nomes de Rubinha e Magnólia, nomes de resistência e luta pela vida; pelo direito de amar diferente e de serem tão autênticas quando mais ninguém era nos anos 90 em Pau dos Ferros. Elas foram excluídas das instituições escolares, igrejas, das atividades sociais e de qualquer outro lugar onde o padrão normativo estivesse imposto (por isso tantos outros homossexuais não assumiam suas reais condições, preferiam (sobre)viver à sombra da exclusão social).
Rubinha e Magnólia significam CORAGEM para mim. Corajosas em transitar “livremente” nas ruas. O “livremente” está em aspas pelo fato de que, em vez de receberem flores de possíveis admiradores, recebiam cuspidas, pedradas e chacotas de pessoas homofóbicas. Algumas pessoas achavam que as travestis eram palhaças, mas que, no escuro da noite, saiam de suas casas em busca de uma maravilhosa noite com elas (a psicologia explica).
Poucos locais aceitavam a permanência delas, como, por exemplo, o Pavilhão. Quem lembra de ver no Pavilhão, sentadas à uma mesa, Rubinha e Magnólia com um grupo de amigas e amigos a conversar, beber e sorrir com as histórias umas das outras? Eu lembro! Mas, espere aí, o Pavilhão não era um espaço da elite? No início dos anos 2000 já estava marginalizado e pouco frequentado, até ser fechado na virada da década. Os bares da elite eram outros, onde até a forma de sentar tinha que ser padrão, tão finos quanto as taças de cristais (cristais tão vagabundos que enganavam o pobre-rico).
Nos anos 2000, com o advento de políticas públicas inclusivas, pessoas homossexuais passaram a ter garantias de direitos importantes para o exercício de sua cidadania. Essas garantias foram oportunizadas através do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça (Direito ao uso do nome social por pessoas transexuais e travestis; União estável e Casamento entre pessoas do mesmo sexo; Adoção por pessoas LGBT; Direitos Previdenciários etc.), já que a banca do BBB (Boi, Bala e Bíblia), no congresso nacional, incapacita positivos avanços legislativos no Brasil.
É nos anos 2000 que surge figuras importantes para a memória trans em Pau dos Ferros, quais sejam: Clarice Nolasco e Murilo Gonçalves, ativistas pelas causas LGBTQIA+ dos pau-ferrenses, sobretudo de pessoas trans. Clarice é uma menina de voz forte e de muito conhecimento sobre os direitos e conquistas de sua comunidade. Contrariando as estatísticas, Clarice é graduanda no Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, com certeza, não vai parar por aí. Murilo Gonçalves também foi um jovem cheio de vida, que conquistou a confiança de sua comunidade pela capacidade de defender os seus e de acreditar no potencial das pessoas serem autênticas consigo mesmas.
Infelizmente, Murilo faleceu no ano de 2019, mas, saibam, pau-ferrenses, nós temos história nos anais do Rio Grande do Norte. Vocês sabiam que o único Ambulatório de Saúde Integral do RN para Travestis e Transexuais recebe o nome de Murilo Gonçalves? Saibam! Localizado em Natal, recebe o nome de Ambulatório Estadual de Transexuais e Travestis Murilo Gonçalves. Apesar do contínuo preconceito e da discriminação imposta por alguns da cidade, Pau dos Ferros está, sim, inscrita nos anais da história LGBTQIA+ de nosso estado.
Além da inscrição positiva na história do RN, Pau dos Ferros também escreveu história negativa, quando, em 2017, foi aprovada a Lei Nº 1804 na Câmara Municipal, cujo objetivo era de PROIBIR discussões do que a ignorância legislativa pau-ferrense chama de “ideologia de gênero”. A lei foi proposta pelos Vereadores Hugo Alexandre e Sargento Monteiro, tendo sido foi aprovada pelo placar de 8 a 2, causando indignação na comunidade LGBTQIA+; acadêmica; e jurídica da cidade (a OAB emitiu nota de repúdio).
Votaram a favor do projeto os seguintes vereadores: Xixico (PSD), Gilson Rêgo (DEM), Sargento Monteiro (PSD), Gordo do Bar (DEM), Jader Júnior (PSDC), Gugu Bessa (DEM), Renato Alves (DEM), além do autor da matéria, Hugo Alexandre (PTN). Somente os vereadores Galego do Alho (PMDB) e Bolinha Aires (PSD) foram contrários ao projeto. O Projeto de Lei foi sancionado pelo atual Prefeito, Leonardo Rêgo, no mesmo ano, Lei Nº 1612/2017. SAIBA DISSO, Pau dos Ferros!
Para a nossa “honra e glória” (como é dito no discurso religioso - pagando aqui com a mesma moeda -), o Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional, em abril de 2020, projetos e leis que proíbem o diálogo sobre gênero nas escolas. SAIBA DISSO TAMBÉM, Pau dos Ferros!
Há muitas histórias da comunidade LGBTQIA+ pau-ferrense, distribuídas nas mais diversas narrativas: de sucessos, lutas, perdas, conquistas, preconceitos, exclusão e muitas outras, que só ganham destaque pelo lugar de fala de cada um, uma vez que a memória pertence a quem tem propriedade para falar sobre ela.
Espero que esse texto inspire outros pau-ferrenses a contar suas histórias e de registrar, na PAREDE DA MEMÓRIA COLETIVA DE PAU DOS FERROS, a luta constante de quem busca, acima de todos os outros diretos, o mais importante deles, O DIREITO DE AMAR.
Clarice Nolasco, Murilo Gonçalves, Rubinha e Magnólia, vocês são referências LGBTQIA+ de Pau dos Ferros!
DEIXO AQUI O MEU REGISTRO E HOMENAGEM, NO MÊS DO ORGULHO LGBTQIA+ E POR TODO O SEMPRE, AOS PAU-FERRENSES QUE FORAM EXCLUÍDOS E DISCRIMINADOS PELO FATO DE AMAR DIFERENTE.
Victor Rafael do Nascimento Mendes
Gay, Pau-Ferrense, Professor, Mestre e Doutorando.
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JOAQUIM JOSÉ CORREIA: vida, obra e memória em Pau dos Ferros

[Destaque: Casa de Cultura Popular Joaquim Correia (antigo Grupo Escolar Joaquim Correia)]
Fotografias: Fausto Fernandes, João B. Q. Fernandes e
Franskin Leite Maria Nunes
Acervo: Ponto de Memória Pau-Ferrense
Natural de Martins/RN, Joaquim José Correia (1848-1928), conhecido popularmente como Coronel Joaquim Correia, foi um grande idealista e visionário. Contribuiu de forma bastante propositiva em muitas atividades comunitárias com que manteve contato e conviveu. Por ter sido um homem público de bastante prestígio, suas ações foram/são reconhecidas em todo o Estado do Rio Grande do Norte.
Conhecedor das necessidades de infraestrutura nos locais onde viveu, Joaquim Correia erigiu obras relevantes e de grande impacto na vida da população local, que fazem parte da memória e da identidade do povo pau-ferrense, quais sejam: o Grupo Escolar “Joaquim Correia” e o Açude “25 de Março”, edificações estas presentes até hoje em nossa cidade.
O Grupo Escolar “Joaquim Correia” foi a primeira escola oficializada (Lei Nº 11 de 09/03/1835) em Pau dos Ferros e na região Oeste do Estado. Nesse grupo escolar, como bem define o historiador Fernandes (2002, p. 33), “muitas gerações do século passado encontraram as luzes do saber, com primeiros passos na educação, geradora de grandes profissionais corretos espalhados por este país”.
O Açude “25 de Março” foi uma obra iniciada pelo poder municipal de Pau dos Ferros em 1884 e inaugurada aos vinte e cinco dias do mês de março de 1897, razão da nomeação do Açude. Tal obra foi comandada/dirigida pelo Coronel Joaquim Correia, de cujo empenho e dedicação resultaram na minimização dos registros das secas daquela época.
A vida de Joaquim Correia não é especialmente exemplar apenas por causa de sua força e disposição, de sua capacidade de enxergar para além das necessidades imediatas, nem tampouco pelo seu espírito empreendedor e determinado. Seu grande legado para a história de Pau dos Ferros consiste na consolidação da imagem de um homem simples e capaz de fazer a diferença no seu tempo, e de se projetar para além dos anos de sua vida, muito particularmente pela generosidade com que atendeu aos anseios de seu povo.
SOBRE O PRÉDIO DA CASA DE CULTURA POPULAR JOAQUIM CORREIA
Em outubro de 2013, período em que a equipe da Secretaria de Cultura e Turismo (SECULT) de Pau dos Ferros deu início a seus trabalhos, a equipe técnica da SECULT, formada por Marta Pontes, Genário Pinheiro e Victor Mendes, realizou visita à Casa de Cultura Popular Joaquim Correia e constatou que a infraestrutura do local estava em condições inadequadas de uso: paredes depredadas, falta de higiene, portas, telhas e portões quebrados (as) e grande volume de vegetação no ambiente do jardim.
A partir dessa constatação, a equipe técnica tomou conhecimento de um acordo de cooperação assinado pelo ex-prefeito de Pau dos Ferros (gestão 2008-2012). Tal acordo tratava-se da cessão do espaço do prédio "Centro Cultural Joaquim Correia" pelo estado do RN ao poder executivo municipal.
Tomando conhecimento da cessão, a referida secretaria, juntamente com a administração municipal (2013-2016), resolveu, conforme documentos históricos e registro de imóvel, legitimar a situação para o âmbito municipal.
Após isso, em 2014, a Casa de Cultura Popular Joaquim Correia passou por reforma interna e externa, revitalizando o espaço que outrora carecia, fisicamente, de cuidado especial.
A título de informação, em dezembro de 2013, através da Lei Municipal Nº 1429, a Casa de Cultura Popular Joaquim Correia passou a integrar a estrutura física da Secretaria de Cultura e Turismo de Pau dos Ferros. Portanto, é também dever da poder executivo municipal zelar pela conservação do prédio centenário.
Victor Rafael do Nascimento Mendes
Marta Maria Pontes Feitosa Chaves (
Marta Pontes
)
REFERÊNCIA
FERNANDES, João Bosco Queiroz. Joaquim Correia “Líder Oestano”. Pau dos Ferros: Centro Cultural Joaquim Correia, 2002.


 



BAIRRO SÃO BENEDITO – PAU DOS FERROS

[Festa e devoção: comunidade de origem negra]
Destaques: Santuário Eucarístico de São Benedito e Clube Centenário Pau-Ferrense
Fotografias:
Edna Souza
Acervo: Ponto de Memória Pau-Ferrense
O São Benedito é um dos bairros mais conhecidos de Pau dos Ferros (se não, o mais). Localizado no centro da cidade, o bairro tem origem nas primeiras décadas do século XX. Os primeiros moradores foram remanescentes de quilombolas que vieram do município de Portalegre.
De acordo com Doutor Edmilson de Holanda (2006), a primeira denominação do São Benedito foi “Alto do Carrasco”, devido a formação geológica do terreno. Além disso, havia uma densa vegetação no local em virtude da proximidade do Rio Apodi, mas que logo foi diminuindo pelo fato da construção de casas de taipas feitas pelas famílias negras.
Durante a década de 30, o Alto do Carrasco passa a ser chamado de São Benedito em alusão ao santo de pele em cor negra, fazendo referência à maioria das famílias que lá residiam (e ainda residem).
Na parede da memória de hoje, apresento duas fotografias de monumentos históricos e culturais do bairro referido, a saber:
1. Clube Centenário Pau-Ferrense: palco de grandes eventos culturais; acadêmicos e carnavalescos, o CCP, assim como era chamado, foi por muito tempo local de encontros dos pau-ferrenses. Não há exatidão de quando começou a ser construído, mas alguns historiadores afirmam que foi durante a década de 50. O CCP também marcou, durante certo período, exclusão racial. Conforme Silva (1999, p. 36) “[...] negros não podiam entrar no clube, porém, em virtude disso, foi criado o Clube dos Morenos na Rua Francisco Dantas”. [O CCP foi demolido em meados da década de 90];


2. Santuário Eucarístico de São Benedito: com construção iniciada em 1948, a capela foi inaugurada em 1954, sob a supervisão de Monsenhor Manoel Caminha Freire, pároco na época. Segundo relatos de populares, alguns negros do bairro só assistiam a Missa na Capela de São Benedito, pois não eram bem vistos por algumas famílias abastadas que frequentavam a Igreja Matriz de Nossa Senhora Imaculada Conceição.


Da caatinga densa, aos grandes prédios importantes do bairro, o São Benedito é genuinamente pau-ferrense. Muito além dos monumentos arquitetônicos, o bairro é também repleto de personagens ilustres (merece outro texto) que muito contribuíram para o desenvolvimento comunitário e municipal.
As famílias negras que vieram das terras de Portalegre semearam o local de costumes culturais e religiosos peculiares. A discriminação racial que muitos sofreram servia de antídoto eficaz em busca de melhores condições de vida, e tão pouco feria a alma. Dos homens e das mulheres fortes de quilombo nordestino, surgiu o São Benedito.
Victor Rafael do Nascimento Mendes
REFERÊNCIAS
HOLANDA, José Edmilson. Pau dos Ferros: crônicas, fatos e pessoas. Pau dos Ferros: Arte Gráfica Pau-ferrense, 2006.
SILVA, Edivan. Pau dos Ferros, enfim uma cidade. Pau dos Ferros: Arte Gráfica Pau-ferrense, 1999.