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quarta-feira, 16 de setembro de 2020

MARIA FATEIRA E OS ESTIGMAS SOCIAIS

                                                            Maria Fateira. Foto: Véscio Lima


Quem da minha geração não se lembra de Maria Fateira?

Uma senhora preta nascida numa cidade vizinha a Pau dos Ferros que tinha a fama de andarilha e era chamada pejorativamente de cigana. Embora estejam por vários lugares do país e tenham "cartão de cidadão em situação especial" no SUS, os Ciganos sofrem muito preconceito na sociedade em geral e também nas instituições. Maria era denominada como Cigana, mas ela própria não se reconhecia como tal.

Fateiras eram mulheres que tratavam e limpavam as vísceras dos animais abatidos. Esse nome também passou a ter um tom depreciativo. Ela saía de sua casa, próximo a UERN, com um saco grande, recolhia coisas em lixos e juntava ao que ganhava de outras pessoas. Como tinha animais em casa, recolhia também "fatos" de animais e restos de comidas, talvez por isso o nome Fateira. Sabedora do tom pejorativo do nome, atendia cordialmente por Maria Fateira quando não via maldade no chamado.

Era Uma verdadeira sobrevivente a (tantas) violências e a tantos silenciamentos que viveu. Andava a pé a cidade inteira pedindo ajuda pra seu sustento e de sua família. Era da estirpe das rezadeiras. Essas também estão sumindo. Quando recebia algo, gostava de rezar nas crianças em retribuição.

O nome Maria Fateira virou um apelido. Algo associado a estar com roupas extravagantes, ou com muitas pulseiras e colares. Usavam o nome Maria Fateira pra fazer medo. "Lá vem Maria Fateira." As crianças tinham medo. Eu tive medo. Era a versão Pauferrense do "Velho do saco." Somos formados dessa sociedade que é capaz de tirar a roupa pra dar ao vizinho que está precisando, mas que também pode se comportar como o suprassumo da exclusão. Respondendo à pergunta inicial : Não há ninguém da minha geração que não lembre dela. É quase uma figura folclórica na cidade. Está no nosso imaginário. Maria Fateira amava dançar.Certamente está dançando muito com colares e pulseiras ainda mais extravagantes lá no céu. Viva!!!

Por José Holanda

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Pau dos Ferros - Emancipação política x Criação do município


Hoje, 4 de setembro de 2020, Pau dos Ferros completa 164 anos de emancipação política. De desmembramento de Portalegre. Na realidade, dois atos institucionais foram conseguidos em 4 de setembro de 1856. A elevação de Freguesia à Vila e a emancipação política da Vila. Foram várias tentativas para que lográssemos êxito. Ante o crescimento populacional, o desenvolvimento econômico de nosso povoado na época, a independência era apenas questão de tempo. 


A PRIMEIRA TENTATIVA

O primeiro pedido foi proposto em 1841, através de um abaixo-assinado, conta-se que 492 pessoas compuseram esse abaixo-assinado, inclusive alguns ágrafos, "analfabetos", que puseram as impressões digitais. Todavia, nessa primeira tentativa, não obtivemos sucesso.


A SEGUNDA TENTATIVA

Em 1847, O deputado João Inácio Loiola de Barros, defendeu projeto na Asembleia Legislativa do RN para transferir a sede do município para nossas terras, para o seio de nosso povoado. No entanto, novamente, não foi aprovado.


A TERCEIRA TENTATIVA

A terceira tentativa se deu pelas mãos do Barão de Assu juntamente com Elias Antônio Cavalcanti de Albuquerque. Em 1853, mais precisamente no dia 12 de abril, o projeto apresentado defendia a elevação de Freguesia à Vila e a nomeação como Vila Cristina. Mais uma vez não foi aprovado. Como diria a música, "tentativas em vão".


A QUARTA TENTATIVA

A quarta tentativa aconteceu pelo projeto do Deputado Bevenuto Fialho, que fora apresentado em 23 de Agosto de 1856. A proposição, desta feita, foi aprovada e sancionada no dia 4 de setembro de 1856, pelo presidente das províncias do Rio Grande do Norte, Antônio Bernardo Passos. A Lei de número 344, elevou à Freguesia à Vila e desmembrou nosso povoado de Portalegre. Obtivemos independência política. A chamada Emancipação. E em 19 de janeiro de 1857, Manoel Silvestre Ferreira foi o primeiro Presidente da Câmara de nossa vila, o que correspondia, na época, ao prefeito da Vila. Seus atos primeiros foram destinar verba para construção da Matriz e do Cemitério, no ano de 1858. Em 1859, criou-se a feira da Vila, primeiramente aos domingos e, em 1873, aos sábados como acontece atualmente.


A CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO

De 1856 a 1924, Pau dos Ferros existiu independentemente na categoria de Vila. Apenas no dia 2 de dezembro de 1924, o município teve sua criação legal. Através da Lei 593, o município de Pau dos Ferros foi criado. Seu primeiro prefeito institucional eleito foi Francisco Dantas de Araújo, em 1929, inclusive foi ele, conforme a história atesta, que construiu o prédio da prefeitura municipal com dinheiro do próprio bolso. Francisco Dantas, fora destituído do cargo um ano depois na revolução de 1930.

A criação do município é um ato olvidado em nossa cidade, não se vê em lugar nenhum de nosso tempo e de nossa história, uma menção à data de 2 de dezembro de 1924, que se fique registrada essa data. Não somente à emancipação de 4 de setembro de 1856.

No mais, hoje chegamos a 164 anos de independência, com muito desenvolvimento, muita prosperidade, mas com muitos desafios adiante, inclusive a preservação de nossa memória. Viva!


Por Manoel Cavalcante