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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

ACADEMIA NORTE RIOGRANDENSE DE TROVAS II



No dia 30 de Abril de 2011, no auditório do Memorial Câmara Cascudo, em Natal-RN, tomou posse na Academia de Trovas do Rio Grande do Norte, o pauferrense Manoel Cavalcante de Souza Castro. Dono da Cadeira 17, o alto-oestano é o mais novo pupilo pauferrense a dar continuação à mística da pequena cidade na instituição que teve membros como Luís da Câmara Cascudo. Manoel Cavalcante, nasceu no dia 03/04/1990 na cidade de Pau dos Ferros-RN. Filho de Edmilson Alves de Souza e Maria Estelita  de Souza Castro. Fez seu curso primário na Escola Estadual Teófilo Rêgo, a maior parte do ensino fundamental no Instituto Educacional “O Mundo do Saber” (até a 7ª série, hoje 8º ano) e a partir da 8º série ( hoje 9º ano ), estudou no Educandário Imaculada Conceição, escola que terminou o ensino médio. Escreve poesia desde sua infância, quando tocado pelas noites de cantoria que ia e ainda vai com seus pais. Adentrou no mundo da poesia com o lançamento do seu primeiro livro intitulado: UM CAÇUÁ DE CULTURA, em 2007, lançado no Educandário Imaculada Conceição por iniciativa do Professor Zildembergue e da então Diretora Alexandrina. Ao tomar posse aos 21 anos, MC tornou-se o acadêmico mais novo do Brasil. Conseguiu várias premiações em concursos de trovas e de poesias em todo o Brasil, antes mesmo de entrar na Academia. Além de poeta trovador, é cordelista (com vários títulos publicados), sonetista e poeta popular. É membro da UNICODERN (União dos Cordelistas do Rio Grande do Norte), da AEPP (Associação Estadual dos Poetas Populares) e atualmente cursa Odontologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).


CLASSIFICAÇÕES EM CONCURSOS
1° Lugar – Feserp 2010 (Festival Sertanejo de Poesia)
1° Lugar - Concurso de Trovas – CTS (Clube dos Trovadores do Seridó) Caicó 2009
1° Lugar – Concurso de Trovas Primavera 2009 (Realizado no Orkut)
1º Lugar – I Concurso de Literatura Assuense 2011 (Categoria Trovas)
2° Lugar – I Concurso de Literatura Assuense 2011 (Categoria Trovas)
2º Lugar – Concurso de Trovas Maranguape-CE 2011
3° Lugar – Jogos Florais de Cantagalo-RJ – 2009
3° Lugar – Concurso Intersedes de Trovas – São Paulo - 2011
4° Lugar – Concurso de Poesia Popular de Maranguape-CE – 2010
5º Lugar – Concurso de Trovas – CTS
5º Lugar – Concurso de Trovas da UBT (União Brasileira dos Trovadores) Secção Natal-RN - 2011
5° Lugar - Concurso de Poesia Zila Mamede - 2011
6° Lugar – Feserp 2008 (Festival Sertanejo de Poesia)
6° Lugar – Concurso da ATRN (Academia de Trovas do RN) - 2011
7º Lugar – Jogos Florais de Cantagalo 2010 (Menção Honrosa)
8° Lugar – Concurso de Cordel da AEPP 2011
9° Lugar – Festival de Poesia Patativa do Assaré  - 2010


Em breve voltaremos com alguns poemas premiados do jovem poeta.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

ACADEMIA NORTE RIOGRANDENSE DE TROVAS


Fundada no dia 12 de Novembro de 1965, a Academia de Trovas do Rio Grande do Norte, já teve membros efetivos ilustres no Brasil como Luís da Câmara Cascudo e Monsenhor Walfredo Gurgel. No entanto, meus leitores..., a Cadeira de número 17 que tem como patrono um dos primeiros repentistas e o maior romanceiro da história, Fabião das Queimadas, parece ter sido feita de Oiticica, a árvore que deu origem à cidade de Pau dos Ferros. A cadeira 17 da ATRN (Academia de Trovas do RN) teve como primeiro ocupante o poeta trovador Sebastião Soares nascido em Pau dos Ferros-RN em 1918 e como seu sucessor, há quase um ano, tomou posse o também pauferrense Manoel Cavalcante nascido em 1990, este último será motivo de outra matéria.
Sebastião Soares nasceu em 15 de Novembro de 1918, no sítio Gangorra, então município de Pau dos Ferros-RN e hoje município de Rafael Fernandes-RN, filho de Miguel Arcanjo Soares e Maria Freire da Conceição, foi poeta, epigramista, advogado, trovador e editor do jornal “A Trombeta”. Pertenceu a Academia de Trovas do RN sendo por duas vezes presidente dessa instituição, nos biênios 1987-1988 e 1989-1990. Pertenceu também à União Brasileira dos Trovadores secção Natal-RN. Foi um trovador notadamente lírico e premiadíssimo em todo Brasil, faleceu em Natal-RN no final da década de 90 sendo sepultado nesta mesma cidade.
Sebastião Soares fora vereador em Pau dos Ferros-RN em meados da década de 70 inclusive sendo colega do bisavô do seu sucessor na Academia de Trovas do RN, o também ex-edil, Antônio Elias Feitosa.
Abaixo algumas trovas do Poeta Sebastião Soares:

Uma criança abandonada
Pela calçada da rua,
Espelha a folha arrancada
Que na torrente flutua.

Premiada em Bandeirantes/PR – 1979.

Eu sei de uma negra cruz,
de tão negra não tem nome:
essa que o pobre conduz
pelo calvário da fome.
2° Lugar Sete Lagoas/MG – 1986

Entre o amor e o sonho vão,
eu sei que foste, querida,
a chave de um ilusão
na porta da minha vida.

Premiada em Belém/PA – 1991
O beijo – doce expressão,
Obra de um grande inventor,
é a chave do coração
abrindo a porta do amor.

Premiada em Belém/PA – 1991.
O destino, nos seus lances,
fez o que jamais pensei:
trouxe-me vários romances
mas levou o que eu sonhei...
Sino, nossa estranha sorte
Deus assim que ver comprida,
canta o tormento da morte
que eu vou chorando os da vida!
Quando toda luz desfeita
se derrama pelo monte,
o crepúsculo se deita
sobre a rede do horizonte.

BATE E VOLTA - EM DEFESA DO HOSPITAL REGIONAL


 Pouca gente sabe, mas trabalho no hospital Cleodom Carlos de Andrade há 22 anos e ultimamente tenho acompanhado pela imprensa e ao vivo, a crise pela qual aquela instituição está passando. Não posso dar uma de doido e dizer que tudo está bem, claro, não está. Masssssss... existem alguns fatores que colaboram e muito para a atual situação. Uma coisa que me deixa revoltado é a completa falta de assistência médica básica nos municípios vizinhos. Há municípios em que em uma noite só, a ambulância vem mais de dez vezes ao pronto socorro, trazendo pacientes com os problemas mais banais possíveis. Se fôssemos realmente atender só aos casos de urgência, aquele hospital seria uma ilha de excelência e tranquilidade. Me parece que ninguém mais toma um analgésico em casa ou até mesmo um chá, o negócio é vir ao hospital. Há dois municípios vizinhos que de tanto ir e vir,já batizei as ambulâncias de bate e volta da estrela e cada viagem mais parece uma excursão, tão grande é a lotação dos carros. E aí eu me pergunto... Cadê o dinheiro que vem para os programas  "saude da família", Agentes de saúde, medicamentos, manutenção de Centros de Saúde??? Cadê???? Pronto, falei!
           Israel Vianney

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

COMUNICADO



   A NUTRILINE AVISA AOS SEUS CLIENTES QUE ESTÁ  FUNCIONANDO EM NOVO ENDEREÇO, NUM ESPAÇO EM FRENTE À ANTIGA LOJA. ESSA SEMANA, COMEMORANDO O NOVO ESPAÇO, ESTÁRÁ COM DIVERSAS PROMOÇÕES , NÃO DEIXE DE COMFERIR!
A NUTRILINE ESTÁ LOCALIZADA À RUA 15 DE NOVEMBRO, 159. CENTRO.

A FEIRA II

 (Foto da internet)

                   ... O barracão municipal ficou exclusivamente para o movimento da feira. Os feirantes colocavam as suas bancas de miçangas como eram chamadas as mercadorias diversas e de pequeno porte, as bancas de jogos de roletas, de dados, de cartas de baralho, que os banqueiros com a habilidade dos seus truques enganavam as pessoas que participavam do jogo. Lá também vendiam utensílios de uso doméstico feitos de barro, como potes, panelas, quartinhas; de palha de carnaúba, como urupema, bolsas, cestas, esteira; de madeiras, como mesas, cadeiras, tamboretes, pilão; artefatos de ferro, de uso doméstico; de couro que os fazendeiros usavam nas suas fazendas; materiais agrícolas fabricados na região, além de outras variedades de objetos. As barraqueiras armavam as suas barracas de bolos de milho, de batata e pão de ló, e os famosos, potes de aluás, de milho e de ananás, que eram os refrigerantes da época, muito apreciados pelo povo tanto dos sítios como da cidade, juntamente com os pães doce das padarias de Manoel Aires e Ananias Aires, as únicas existentes. As verduras e os legumes consumidos eram apenas cebola em cabeça, cheiro verde, pimentão, quiabo, jerimum, batata doce e outros produzidos na região. As frutas eram as regionais, que vinham das serras de Portalegre, Martins e sítios próximos da cidade, transportadas em lombo de animais. Os cereais procediam das propriedades rurais da vizinhança, e eram trazidos para feira em velhos
carros de bois que despertavam a cidade com seus gemidos característicos. Eram colocados em caixões de madeira vendidos em litro (recipiente de madeira medindo 10 centímetros cúbicos) e cuia que continha cinco litros.
                    Mais tarde apareceu o Instituto de Peso e Medida, que tornou obrigatório o uso da balança e do quilo, abolindo as velhas medidas. Os fazendeiros abastados usavam como transporte pessoal um tipo de carroça chamado Cabriolé, puxado por um animal ou luxuosas montarias.
                      Com o passar dos anos a feira foi crescendo e se estendendo pelas ruas laterais do Mercado, Rua Pedro Velho e adjacências, em direção ao novo açougue municipal, construído na primeira gestão do Prefeito José Fernandes de Melo, onde já se realizavam as feiras de verdura e frutas no calçadão em frente ao mesmo construído pelo Prefeito Pedro Diógenes, e as bancas dos verdureiros por mi na primeira gestão. Atualmente a nossa feira ocupa várias ruas da cidade, com uma grande variedade de produtos, uma movimentação comercial intensa, centro importante de negócios, vendas e trocas, podendo ser considerada como a maior feira livre da zona oeste do nosso Estado.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A FEIRA I

(Foto retirada da Internet)
 
                   Poucos anos após a criação do novo Município, para promover e desenvolver o seu movimento comercial, a Intendência, atualmente Câmara dos Vereadores, criou em 01 de dezembro de 1859, uma feira semanal que teve curta duração. Em 1868, a Câmara voltou a criar uma nova feira, que funcionava semanalmente aos domingos, até a década de 1930, quando foi mudada para os dias de sábado na gestão do Prefeito Francisco Fernandes de Sena que permanece e funciona até os dias atuais. Os proprietários não gostaram da mudança, porque perdiam um dia de trabalho na semana e aos domingos o comércio era fechado. Os jovens da época, principalmente os da zona rural, aplaudiram, pois ficaram com dois dias para visitarem a cidade, o sábado para a feira e os negócios e o domingo para a missa e o lazer.
             Naquela época, a nossa feira era pequena, mas já se destacava como a maior da Região. Limitava-se apenas à área interna do Mercado Municipal, que era descoberta e com o piso de barro batido. O açougue funcionava naquele local, no lado correspondente à travessa Teófilo Rego. Os marchantes da época, Glicério de Souza, Zé Pinto, Manoel Rosa, Francisco Jovêncio e Agostinho de Bessa, colocavam as mantas das diversas carnes expostas à venda em cima de mesas ou estendidas em vigas de madeira.
                   O Prefeito João Escolástico Bezerra construiu o atual barracão municipal que ainda hoje conserva a sua originalidade. Retirou o açougue do anterior local, reformou um velho prédio pertencente à Prefeitura, sede da antiga Intendência, localizado onde hoje é o Supermercado Progresso, de Antônio Maia. Nele, instalou de um lado o novo açougue e no outro colocou o motor da energia elétrica que foi inaugurada.

Trecho do Livro Pau dos Ferros, Crônicas, Fatos e Pessoas II de Dr José Edmilson de Holanda

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Antonio Silvino no Rio Grande do Norte

Raimundo Soares de Brito (*)

 
Antônio Silvino
Grafite (18/08/1993) de Guilherme Augusto - funcionário da Petrobras, baseado em foto do cangaceiro, publicada no livro “Antônio Silvino: O Rifle de Ouro”, de Severino Barbosa (Arquivo SBEC)

No dia em que o calendário assinala mais um aniversário do ataque de Lampião a Mossoró, nunca é demais, recordar-se os lamentáveis acontecimentos, lembrando às gerações do presente, os dias tormentosos do cangaceirismo no passado.

Dizem que o Dr. Raul Fernandes, depois do sucesso alcançado com o lançamento de “A Marcha de Lampião”, partiu para uma outra caminhada no roteiro do cangaço: organizar um outro livro, baseado nas incursões de Antônio Silvino e seu bando, no nosso Estado, e assim o fez com o título de “Antônio Silvino no Rio Grande do Norte”.


Conforme se sabe, três chefes de bando armado, deixaram os seus nomes inscritos no livro do cangaço, e na mente das populações sertanejas, de maneira indelével, nesta região: Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino e o mais famoso de todos – Lampião.


Cada um, porém, com a sua história, contada ou escrita com as
características próprias e diversificadas, na maneira de agir, ditadas pelo estado temperamental de cada um e pelas condições ecológicas do meio ambiente, na época em que viveram e atuaram.sim faço: dessado.

Jesuíno Brilhante, cronologicamente o primeiro, na nossa região, não foi um celerado qualquer, salteador e sangüinário como tantos. Não. Tinha os seus homens, o seu grupo, é certo; muito mais para se defender da polícia e dos seus numerosos inimigos, do que para a prática do assalto criminoso à propriedade alheia. Não roubava. Sensível ao sofrimento dos humildes, dos injustiçados e desprotegidos da própria sorte, se fez deles protetor. Dizem que assaltou comboios do governo em época de seca, distribuindo os gêneros com os flagelados. A sua história se acha contada pelo escritor conterrâneo Raimundo Nonato em “Jesuíno Brilhante – O Cangaceiro Romântico”.


Antônio Silvino – de quem nos ocuparemos demoradamente neste comentário, em alguns aspectos – e sem que pese a prática de alguns assaltos – tinha lá as suas maneiras de agir, muito semelhantes às de Jesuíno Brilhante. De modo geral, também não assaltava. Mandava um recado, ou, pacificamente se apresentava ele próprio ao chefe da localidade ou ao fazendeiro abastado, a quem fazia o seu pedido, dizia das suas necessidades e das suas pretensões. Uma vez atendido, desaparecia, sem a ninguém molestar.


“Antônio Silvino,
pernambucano, usou o rifle dezoito anos. Atravessou o Rio Grande do Norte, pacificamente” – diz o Dr. Raul Fernandes no livro que escreveu sobre Lampião. Este, ao contrário dos dois, foi a expressão máxima do cangaceiro nordestino. Implantou o terror. Foi em síntese, o crime personificado, matando pelo prazer de matar; roubando, pelo prazer de roubar.

No ano de 1901, Antônio Silvino acossado pela polícia paraibana, penetrou no Rio Grande do Norte. Foi exatamente quando se deu o chamado “Fogo da Pedreira”, na fazenda desse nome, pertencente ao
Cel. Janúncio Salustiano da Nóbrega, do município de Caicó. Olavo Medeiros Filho residente em Natal, sabe como tudo aconteceu.

Ainda em 1901, há notícia de que esteve em São João do
Sabugí. Dizem que, com a sua chegada, com exceção da casa do Sr. Manoel Amâncio, todas as outras da pequena povoação, foram fechadas. Na casa de Amâncio, Silvino foi pacífica e amistosamente recebido. Uma coleta de duzentos mil réis feita pelo seu hospedeiro entre as pessoas mais abastadas da terra, foi o suficiente para que o bandoleiro abandonasse a localidade “internando-se ainda mais neste Estado” – dizia o noticiário da época.

No ano de 1912, esteve em Jucurutu e Augusto Severo, atual Campo Grande. Muito embora Mossoró não tivesse no seu roteiro de visitas, os seus habitantes ficaram em polvorosa: “Uma notícia alarmante correu célere pela cidade nos dias agitados de maio de 1912. Teria sido visto no Alto da Conceição um presumível comparsa de Antônio Silvino” – é o que nos conta Lauro da
Escóssia no seu livro de memórias, dizendo mais que “o comércio fechou as portas, o povo se aglomerou, enquanto as autoridades de imediato tomaram as providências cabíveis organizando a defesa da cidade. Mais tarde, tudo estaria esclarecido: Um comerciante da praça reconhecera no suposto ‘perigoso cangaceiro’, um seu freguês, também comerciante em Alexandria, que, quase pagava com a vida as canseiras da viagem” – conclui Lauro.

Vem dessa época, o fato que motivou esse relato.

Na sua visita a Augusto Severo – por sinal bem sucedida – Antônio Silvino deixou um recado para o povo de Caraúbas, dizendo que em breve iria até ali, com o mesmo propósito. O recado foi transmitido pelo Padre Pinto, então vigário de Augusto Severo, ao Bel. Alfredo Celso de Oliveira Fagundes, que ali se encontrava em trânsito.

O Dr. Alfredo, recém-investido no cargo de Juiz Distrital de Caraúbas, cioso dos seus deveres de guardião da lei, não viu com bons olhos a descabida e pretensiosa atitude do bandoleiro e ao chegar a sua terra, onde também já havia chegado o “ultimatum” de Silvino, encontrou o chefe local e demais autoridades
sobressaltados e desalentados ante a perspectiva da indesejável visita.

Foi quando o juiz tomou a arrojada decisão: assumiu a responsabilidade da defesa do lugar e mandou dizer ao bandoleiro que, “podia vir, mas que seria recebido à bala” – aquela mesma resposta que Rodolfo Fernandes daria mais tarde a Lampião.

É claro que Antônio Silvino não gostou da resposta e mandou-lhe o troco com esta terrível ameaça:“Pois diga a esse
dotôzinho, que breve irei lá. Vô rasgá a sua carta de dotô, queimar a sua casa, esquartejá-lo e depois dinpindurá os seus restos nos postes dos lampiões da luz...”.
Imediatamente a população foi mobilizada. Alberto Maranhão no Governo do Estado, cientificado, mandou “um cunhete de balas (1.000 cartuchos)”. As lideranças locais e fazendeiros convocados atenderam ao chamamento do juiz e de repente 40 rifles estavam a sua disposição. Vários dias a então vila de Caraúbas esteve em pé de guerra na expectativa do ataque iminente, mas Antônio Silvino não apareceu para “rasgá a carta do dotô...”.
De tudo ficou o fato e a foto documentando para a História um acontecimento, fruto de uma época de atraso que já se vai encobrindo na curva do tempo...




Grupo de defensores de Caraúbas ao ataque de Antônio Silvino:


Francisco de Souza, Nilo de Góis, Francisco Amâncio, Elizeu Noronha, Francisco Brasilino, João Cisneiros de Góis, Firmino Gurgel, Osório Pinto, Abel Fernandes, Pedro Oliveira, Manoel Rosa, Mariano Soares, João Neiva, Samuel Mário, Nestor Fernandes, Vital Fernandes, Bento Sobrinho, Bertoldo Soares, Josué de Oliveira, Valério de Freitas, João Câmara, Manoel Darico, Elísio Fernandes, Pedro Fernandes, Joaquim Amâncio, Deodoro Gurgel, Lino Ademar, Manoel Teopompo Fernandes, Jacob Gurgel, Luiz de Oliveira, Joaquim Gurgel, Nestor de Oliveira, Dr. Alfredo Celso, Cícero Fernandes, Raimundo Costa, Manoel Arruda, José Dantas e Matias Fernandes.

(*) Raibrito. Membro da SBEC.

Adenda:

O leitor Margones Barros, bisneto do Cel. Luiz Martins de Oliveira Barros, dá conta de um episódio ocorrido na Fazenda Lágea Formosa, no município de São Rafael, no Rio Grande Norte, de propriedade daquele Coronel. Conta ele que Antonio Silvino e alguns “cabras” chegaram à fazenda e “solicitaram ajuda” em dinheiro. O Cel. juntou o solicitado e entregando-o ao cangaceiro, solicitou que não fosse molestada a sua família pois sua esposa estava prestes a dar à luz. Antonio Silvino recebeu o adjutório e partiu dali, dizendo: “Eu não poderia atacar um homem tão bom para os pobres como o Senhor, Coronel.”

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO PASSADO...


                 Na década de 1930, não existiam em nosso Município capelas espalhadas pela zona rural como nos dias atuais, mas apenas três: a da Vila de Vitória, hoje cidade de Marcelino Vieira, e as dos Distritos de Encanto e Riacho de Santana, que mensalmente recebiam as visitas do Padre de nossa Paróquia para a celebração da missa mensal da Comunidade e demais atos religiosos como batizados e casamentos. A atual cidade de Rafael Fernandes era um sítio com o nome de Varzinha. Lá moravam as famílias dos Chagas, dos Ferreiras e dos Oliveiras.
                Água Nova também era outro sítio unde residia a família do patriarca Manoel Raimundo, proprietário de um aviamento de fabricar farinha de mandioca, local onde hoje está edificada a cidade. Ali também residiam as famílias dos Laos e dos Oliveiras.
                  Em nossa Paróquia, nas décadas de 1930 e 40, os Padres Omar Cascudo, Militão Benedito de Mendonça e Padre Caminha celebravam, aos domingos, três missas: uma de madrugada, às 4:30 horas, outras às 7:00 horas e a última às 10:00 horas, para o povo que morava nas propriedades circunvizinhas da cidade. Geralmente, a nossa secular matriz ficava lotada de fiéis, como acontece atualmente, atraídos não só pela devoção a nossa Padroeira, mas também pelos sermões dos nossos vigários, notadamente, a eloquência das pregações do nosso inesquecível Monsenhor Caminha. Naquela época, a missa era celebrada em latim, com o Padre de costas para o povo. Existia a figura do Sacristão que auxiliava o Padre na celebração, às vezes junto com os coroinhas mais assíduos como Dr. José Fernandes Dantas, ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça; Padre Sátiro Dantas, atual Diretor do colégio Diocesano Santa  Luzia de Mossoró; os irmãos Djalma, Assis Expedito Ferreira Nunes e eu.

[Trecho do livro Crônicas, Fatos e Pessoas II de Dr. José Edmilson de Holanda]

REMINISCÊNCIAS VISUAIS

 Desfile de 07 de Setembro ( 1958) em destaque Alba Aquino

 Grupo de jovens acompanhadas pelas Irmãs Vicentinas no jardim do Patronato Alfredo Fernandes - início da década de 1960
 
Alunas do Patronato Alfredo Fernandes na década de 1960 
( 3ª da esquerda para direita Luzia Ferreira de Castro)

 Da esquerda para direita Irmã Barreira, Irmã Vicência 
e outra Irmã não identificada

 Grupo de jovens no Patronato A. Fernandes 

Desfile 07 de Setembro (1958) Guarda de Honra do Curso Normal 
do Grupo Escolar Joaquim Correia 
( Com a bandeira Diazete Fernandes do Rêgo e ao centro Alba Aquino )

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

LEMBRAM DELA??

    Apesar da precariedade da foto, esta é ou era  D. Antonia "três motor". Muito conhecida na cidade por não ter "papas na língua" e também por ter sido moradora do "rabo da gata", antiga rua de prostíbulos, atualmente Lafaiete Diógenes. Faleceu na década de 1990.
  Foto cedida por Adão Lima.


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

MAIS FUNDO NO TÚNEL DO TEMPO

 Procissão de Nossa Senhora da Conceição (1958) Observe a organização das filas
 Apostolado da Oração (1961) ao centro Cônego Caminha, D. Naninha Lopes, D. Libânia Lopes, D. Marieta Holanda, D. Pazi
1ª Comunhão de Maria Zilmar Holanda 14 de setembro de 1947


                Obs.: Colabore conosco enviando fotos antigas para publicação neste Blog.
E-mail: culturapauferrense@gmail.com ou israelvianey@gmail.com

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

CONFERÊNCIA REGIONAL DE CULTURA

  A Primeira conferência Regional de Cultura que aconteceu ontem na Casa de Cultura Joaquim Correia,  superou todas as nossas expectativas. Compareceram delegados e representantes de 22 municípios que juntos deram o pontapé inicial para uma nova sistemática relativa a financiamentos e melhorias para a cultura no alto oeste potiguar.
   Tivemos ótimas apresentações artístico-culturais como a "Orquestra Sanfônica Trupé do sertão" da cidade de major sales, O cordelista José Pessoa ou "seu dedé" de S. Francisco do Oeste e  o cantor Erico Soares da mesma cidade.
    Quero agradecer o empenho de todos os profissionais da SEMECE, à Mônica Rocha da Casa de Cultura e à toda a equipe da Fundação José augusto, representada brilhantemente pelas competentes Ivanira Ribeiro Machado e Danielle Brito.
  Fotos de  Betinho Show do Site Altoclique.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

OLHA SÓ O TESOURO QUE ENCONTREI!!

 Apresentação de moças da sociedade de Pau-ferrense no Salão paroquial ano 1956
Cônego Caminha no Seminário

Fonte: Memorial Cônego Caminha Centro Cultural Joaquim Correia

DE VOLTA PRO ACONCHEGO

  Após 23 anos ausente da terrinha, está de volta o nosso querido Adão Lima, profissional da mais alta extirpe em maquiagem e beleza. Nesse "tempinho" em que morou fora, executou centenas de trabalhos de publicidade para as melhores revistas(Marie Claire, Playboy, Contigo...) e Tvs do Brasil (SBT, RECORD, GNT...). Adão é irmão do não menos talentoso Vescio Lima e brevemente estará mostrando seu trabalho  no SPA de Leila Sabino que será inaugurado em breve. Fico feliz com a sua volta e Pau dos  Ferros ganha muito com isso, já que o mercado tem se expandido de forma espantosa nos últimos anos.
   Na foto abaixo, Adão e a  Miss Pau dos Ferros Ana Claudia Fídias para o novo comercial do Rio Grande Supermercado.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

REMEXENDO NOS ARQUIVOS DA MAMÃE

 Josetina Guedes do Rêgo - 1956
 Mamãe (segunda da direita para esquerda) e conhecidos
 Casamento de amigos (decada de 1960)
 Meus pais (à direita), avó e tios
Batizado de uma prima (no detalhe Cônego Caminha)

PERFIL


Pau-ferrense,nascida em 1944, Maria das graças Gomes Alves,mais conhecida por GAGAÇA é uma figura ímpar. Filha do saudoso "Padim",que já enalteci em outras matérias, Gagaça nasceu na localidade conhecida como "alto do Velame", atual rua Donaciano cavalcante. Casou aos 14 anos e teve o primeiro filho já no ano seguinte. Além de ajudar ao marido na agricultura, também exerceu por muitos anos a função de Parteira.Massssss, tornou-se conhecida em toda a região depois que começou a compor músicas para campanhas políticas.A partir daí, ninguém mais conseguiu detê-la. Participou ativamente das campanhas de José Edmilsom e teve seu apogeu na campanha de José fernandes de Queiroz entre outras.
   Gagaça é mãe de 05 filhos e já possui netos e bisnetos à vontade. Tive o prazer de entrevistá-la em sua casa, num almoço regado a muita cerveja e papos animadíssimos. Valeu!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

SINTA-SE CONVIDADO

A HISTÓRIA DA COLUNA DE REVOLTOSOS EM SÃO MIGUEL


O ano de 1926 iniciava de forma tranquila para a pequena cidade de São Miguel, mas pelo Brasil afora fortes tensões e graves problemas políticos cresciam desde 1922.
Em 1924 estouram vários levantes armados pelo país, com os mais sérios ocorrendo em São Paulo e no Rio Grande do Sul.
Grupo Escolar Padre Cosme, em São Miguel, um ano após a passagem dos Revoltosos pela região - Fonte - Livro "João Rufino-Um visionário de fé", pág. 65
Estes movimentos eram sempre motivados pela insatisfação generalizada da jovem oficialidade militar em relação a política do então presidente da República, o mineiro Artur Bernardes. Este era um homem de temperamento complicado e extremamente autoritário. Como exemplo podemos comentar que durante a gestão Bernardes, todo o seu período governamental, do primeiro ao último dia, foi realizado com o país em estado de sítio.
Foto aérea de São Miguel na atualidade - Foto - Prefeitura Municipal de São Miguel - Fonte - Livro "João Rufino-Um visionário de f´é", pág. 367
As forças do governo em pouco tempo esmagam estas ações, mas os grupos revoltosos de São Paulo e do Rio Grande do Sul resistem e formam duas colunas revolucionárias. Os paulistas eram comandados pelo general Miguel Costa e os gaúchos pelo tenente engenheiro Luís Carlos Prestes. No dia 11 de abril de 1925 os dois grupos se encontram próximos a Foz do Iguaçu. Deste encontro os revoltosos, como ficaram conhecidos na época, decidem realizar a “guerra de movimento”, marchando pelo interior do Brasil, permanecendo na luta até a população se sensibilizar com o exemplo destes guerreiros, ajudarem a derrubar o despótico governo de Artur Bernardes e criar uma nova ordem.
Notícia sobre a invaso de São Miguel - Fonte - Coleção do autor
No início de fevereiro de 1926, dez meses depois de deixarem a fronteira com o Paraguai e cruzarem grande parte do país, a Coluna está deixando o estado do Ceará e seu caminho segue em direção ao Rio Grande do Norte, mais precisamente a São Miguel.
O então Governador potiguar, José Augusto Bezerra de Medeiros, sabendo da aproximação da Coluna de Revoltosos, informa ao coronel João Pessoa de Albuquerque, então Presidente da Intendência de São Miguel, cargo equivalente atualmente ao de prefeito, que os Revoltosos se aproximavam de sua cidade. Um curto telegrama informava que o grupo de revoltosos era composto de “70 combatentes”.
A Ladeira do Engenho, local do combate entre os revoltosos e os defensores de São Miguel - Foto - Rostand Medeiros - Fonte - - Fonte - Livro "João Rufino-Um visionário de f´é", pág. 269
Foi formado então um contingente para interceptar o grupo na conhecida Ladeira do Engenho, um antigo caminho que ligava a região serrana ao Jaguaribe, no Ceará.
O advogado, atualmente residente na cidade de Coronel João Pessoa, Nivaldo Moreno Pinheiro, comenta que seu pai, o comerciante João das Chagas Moreno, mais conhecido como “Joca Gato”, participou da resistência. Homens da cidade se reuniram em seu ponto comercial, um bar conhecido como “bodega de Joca Gato”, onde o grupo aproveitou para tomar algumas “lapadas” de cachaça para dar o combustível da coragem. O proprietário do bar estava preocupado e questionou o grupo se os homens da cidade de São Miguel que se dispunha a lutar contra os Revoltosos, possuíam armamento e munição em condições adequadas? Ao invés de debaterem seriamente sobre a dúvida informada pelo precavido vendeiro, este foi sumariamente perguntado “-Se estava com medo?”. Diante destas discussões, “Joca Gato” nada mais perguntou, nem esperou por novos debates. Apenas foi em casa, pegou seu rifle Winchester, farta munição de calibre 44, lubrificou sua arma e partiu juntamente com um grupo, que os pesquisadores locais apontam como sendo superior a vinte homens armados.
Ata da então Intendência de São Miguel, sobre os Revoltosos - Fonte - Coleção do autor
Sobre esta questão, a ata da “Sessão Ordinária da Intendência Municipal de São Miguel”, datada de 3 de maio de 1926, elaborada três meses após a passagem da Coluna de invasores, lista nominalmente vinte “patriotas”, mas informa haver “alguns outros” membros que faziam parte do grupo de defensores da cidade. Este importante e histórico documento se encontra atualmente nos arquivos da prefeitura municipal de São Miguel.
Já Raimundo Nonato é categórico ao afirmar em seu livro que os “patriotas” foram vinte civis e quatro policiais do destacamento de São Miguel. Este grupo potiguar foi reforçado por mais quatro homens do vizinho município cearense de Pereiro.
No total, apenas vinte e oito combatentes.
Aspecto da trilha da Ladeira do Engenho - Foto - Rostand Medeiros
Do outro lado os números são diversos. O documento elaborado pela municipalidade de São Miguel aponta que a Coluna de Revoltosos era composta de 2.000 homens. Os que se debruçaram sobre o assunto apontam um número mais modesto, entre 450 a 1.000.
O advogado Nivaldo Moreno Pinheiro em uma solenidade quando era prefeito da cidade de Coronel João Pessoa - Fonte - Livro "João Rufino-Um visionário de fé", pág. 132
Mas voltando ao dia 3 de fevereiro de 1926, que São Miguel jamais esqueceu, Nivaldo Moreno informa que o grupo se posicionou na “cabeça”, no alto da ladeira do Engenho, já em território da vizinha cidade cearense de Pereiro, aguardando os “70 Revoltosos”, como dizia o documento do governo estadual.
O que os valorosos defensores avistaram do alto da sua privilegiada posição, a uma altitude em torno dos 650 metros, nem de longe se parecia com o reduzido grupo anteriormente informado. Diante dos seus olhos se avolumava uma grande quantidade de combatentes, mostrando-se como um verdadeiro exército em marcha.
Mesmo diante desta multidão motivada, armada, a maioria fardada de uniformes de cor kaki, lenços vermelhos ao pescoço e extremamente calejados na guerra de guerrilha, o grupo de combatentes de São Miguel não titubeou.
Fonte - http://www.mundoeducacao.com.br
O primeiro a atirar teria sido Francisco da Costa Queiroz, o “Chico Queiroz”. Ele teria disparado não contra o grosso de um dos quatro grupos que formavam a Coluna, mas contra um contingente de umas trinta pessoas, que efetuavam a averiguação do terreno, em busca de possíveis inimigos. Os jornais antigos existentes no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte afirma que o grupo de defensores de São Miguel ainda conseguiu atingir e matar um dos revoltosos.
Mas a resposta dos experientes seguidores de Miguel Costa e Luís Carlos Prestes foi uma intensa chuva de balas. Um dos revoltosos atirou a poucos
metros da trincheira dos defensores com duas armas curtas. Os rebeldes recuaram deixando alguns materiais. Por sorte o grupo de defensores de São Miguel se protegeu atrás de várias pedras.
Logo outros membros da Coluna retornavam para novo combate. Os defensores da cidade serrana recuaram, se entrincheirando em uma casa e, segundo Raimundo Nonato, sustentaram forte tiroteio por duas horas.
A conhecida “Cruz do Revoltoso”. Segundo a tradição oral da região neste lugar estaria enterrado um membro da Coluna Prestes - Foto - Rostand Medeiros - Fonte - Livro "João Rufino-Um visionário de fé", pág. 271
 Diante do volume avassalador de fogo efetuado pelos membros da Coluna, que cercava a casa, além da noite se aproximando, o grupo onde estava “Joca Gato” percebeu que a sua resistência era inútil e todos fugiram deste local.
Nas primeiras horas do dia 4 de fevereiro de 1926, um novo grupo de doze defensores voltou para fustigar a Coluna de Revoltosos.
O grupo partiu armado de rifles, comandados por Manoel Vicente Tenório, tendo sido reunido em São Miguel, quando o fazendeiro Manuel Antônio Nunes, utilizou uma prática comum na época e atualmente esquecida nas cidades do
sertão; com um búzio marinho, ele “buzou”, alertando e chamando as pessoas na casa do coronel João Pessoa, para seguirem para a luta.
Resto do antigo engenho, que serviu de abrigo aos defensores de São Miguel contra os Revoltosos - Foto - Rostand Medeiros
Era noite fechada quando no sítio Crioulas, a alguns quilômetros da cidade, os defensores defrontaram-se com um contingente de trinta rebeldes. O tiroteio foi rápido, mas rendeu para os defensores a prisão do revoltoso Policarpo Gomes do Nascimento.
Este era natural do Maranhão, onde havia aderido às hostes revoltosas quando da sua passagem pelo seu estado natal.
O dia vinha clareando quando este grupo de defensores retorna a São Miguel com o prisioneiro. Tenório está com mais dois outros companheiros quando na entrada da cidade estoura um novo tiroteio. Apesar da reação dos defensores, este grupo de rebeldes era mais numerosos e o chefe Tenório recebeu dois
balaços de fuzil na coxa esquerda.
Agora não tinha mais jeito, a Coluna de Revoltosos entrou em São Miguel.
Fonte - Coleção do autor
Ao adentrarem a cidade, primeiramente um oficial em um cavalo negro percorria as ruelas e gritava para que o povo não tivesse medo, que eles lutavam para derrubar um governo podre.
Depois um grupo vai direto á a agência dos correios onde destroem a estação telegráfica, para evitar a transmissão de informações à polícia em Pau dos Ferros. Estas informações foram transmitidas pela micaelense Zenaide Almeida Costa, autora do livro “A vida em clave de dó”. Na época da invasão Zenaide era uma criança, que juntamente com a família, foram alguns dos poucos habitantes de São Miguel a ficarem na cidade e testemunharem os fatos.
Logo uma grande quantidade de cavaleiros, com algumas mulheres, que acompanhavam seus homens pelos sertões afora, entraram na pequena cidade. Tiros eram dados para o alto e um grupo acampou diante da casa da família de Zenaide.
Igreja de São Miguel Arcanjo, com a fachada igual a época do ataque dos Revoltosos - Foto - Manuelito, através de material cedido pelo historiador René Guida - Fonte -- Livro "João Rufino-Um visionário de f´é", pág. 287
Segundo Nivaldo Moreno, os líderes dos revoltosos ficaram na casa de Manoel Vieira de Carvalho, que buscou receber o grupo da melhor forma possível. Outros membros foram ao cartório público, retiraram praticamente toda a documentação, fizeram uma pilha diante do prédio, jogaram querosene sobre a papelada e atearam fogo. Outro grupo ateou fogo em documentos diante da prefeitura.
Nivaldo conta que os invasores solicitaram ao então tesoureiro municipal, Chico Dias, a chave do cofre da prefeitura. Ao tentar entregar a chave, o tesoureiro foi obrigado ele próprio a abrir o cofre da municipalidade e o material que se encontrava no interior foi examinado pelos revoltosos. Membros do grupo obrigaram pessoas da comunidade a lavrar um termo onde apontavam o que continha este cofre. Foi encontrado dinheiro, que foi contado, listado, mas nada foi retirado.
Antiga Cadeia Pública de São Miguel, edificação com mais de 200 anos, que viu a Coluna passar diante de suas portas. Foto - José Guadêncio Torquato - Fonte - Fonte - - Livro "João Rufino-Um visionário de f´é", pág. 357
Segundo o advogado, algumas pessoas indicaram para um grupo retardatário e revoltosos que determinados proprietários de casas comerciais afirmavam ser contra as causas que motivavam aquele grupo contra o Governo Federal, ou que este ou aquele dono de loja havia participado do tiroteio na Ladeira do Engenho.
Ao tomarem conhecimentos destes relatos, muitos destes inverídicos, alguns revoltosos promoveram diversos saques em várias casas comerciais de São Miguel. Foram espalhadas pelas poeirentas ruas de terra batida farta quantidade de produtos. Peças de tecidos foram abertas, a farmácia de Chico Queiroz foi saqueada, gêneros alimentícios subtraídos e em outros locais a cena foi se repetindo. Segundo a edição do jornal natalense “A Republica”, de 10 de fevereiro de 1926, o número de casas comerciais atingidas foi de dezessete. Para Nivaldo Moreno, inúmeras pessoas, algumas até mesmo com determinado nível financeiro de São Miguel, se aproveitaram da situação.
Nezinho Moreira, quando criança ficou frente a frente com os Revoltosos, nunca esqueceu que utilizavam lenços vermelhos no pescoço - Fonte - Livro "João Rufino-Um visionário de f´é", pág. 330
Um grupo de batedores seguiu da cidade em direção a fazenda Riacho Fundo, analisando o caminho por onde seus companheiros deveriam prosseguir. Ao chegar neste local foi feito um contato e ocorreu uma troca de tiros com um contingente da polícia militar do Rio Grande do Norte comandado pelo tenente Juventino Cabral. Este pelotão policial havia saído de Pau dos Ferros, sendo composto por vinte homens e haviam levado oito horas para chegar ao Riacho Fundo.
Como resultado do encontro armado, um jovem morador deste sítio foi morto por disparos feitos pela força governamental, com balaços que lhe atingiram a cabeça.
Para a polícia potiguar, diante da realidade de se combater um grupo lutador e motivado, que superava todo o contingente policial potiguar da época, o melhor a fazer era dar meia volta em direção a Pau dos Ferros. Nesta cidade, esperando a chegada dos revoltosos, se encontrava um contingente de 150 homens armados e sob as ordens do major Luís Júlio, então comandante do Regimento de Polícia Militar.
Sítio Riacho Fundo, local do combate entre os membros da Coluna e a Polícia Militar do Rio Grande do Norte - Foto - José Correia Torres Neto
Para os rebeldes, o tiroteio no Riacho Fundo aparentemente motivou o grupo a seguirem pôr uma rota que os levaria para os sítios da Serrinha de João Paulo e Pau Branco.
Segundo Raimundo Nonato, se não tivesse ocorrido os confrontos na Ladeira do Engenho, nas Crioulas, na entrada da cidade e o encontro armado com a polícia no Riacho Fundo, provavelmente o tempo que os revoltosos ficariam em São Miguel seria mais longo. Ou como resultado destes combates a Coluna, ao invés de seguir em direção a Paraíba, poderia ter tomado o rumo de outras cidades potiguares, que seriam interessantes de serem conquistadas, como Pau dos Ferros, Apodi, Mossoró, ou até mesmo Areia Branca e seu importante porto.
Os historiadores que se debruçaram sobre este assunto não concordam com esta versão. Para eles a entrada da Coluna no território potiguar era apenas uma passagem para os estados vizinhos e não tinham o intuito de atacar outras localidades potiguares.
Os líderes dos revoltosos esperavam que os oficiais do Exército Brasileiro, Souza Dantas, Seroa de Melo e Cleto Campelo, todos ligados a causa revolucionária, conseguissem rebelar os seus respectivos quartéis e aderissem ao grupo de combatentes revolucionários. Os dois primeiros militares estavam lotados na capital paraibana e o último em Recife. Mas as tentativas de rebelião destes militares fracassaram.
Membros do batalhão criado para defender Caicó dos membros da Coluna - Fonte Livro "Era uma vez em Caicó", de Marcelo Rocha Coelho
Já o então deputado federal e futuro governador potiguar, Juvenal Lamartine de Faria, temeroso que diante de alguma ação bélica da polícia da Paraíba, houvesse a possibilidade dos revoltosos retornarem ao Rio Grande do Norte pela região do Seridó, organizou grupos de defesa em Caicó, Serra Negra do Norte, Jardim de Piranhas, Parelhas e outras localidades. Em Caicó, a mais importante cidade da zona seridoense, o grupo de defensores ali criado foi pomposamente chamado de “Batalhão Patriótico de Caicó”, ou “Batalhão Treme Terra”. Este era formado, segundo o pesquisador Adauto Guerra Filho, autor do livro “O Seridó na memória de seu povo” (2001), por um contingente que chegava a 300 combatentes. Para muitos, Juvenal Lamartine aproveitou a passagem dos revoltosos para ganhar politicamente com o fato e assim ratificar sua indicação como futuro governador potiguar. Fato que ocorreu em 1927.
Juvenal Lamartine a frente do Batalhão de Caicó - Fonte - Coleção do autor
O certo é que a partir das notícias do combate no Riacho Fundo, o grosso dos combatentes rebeldes converge em direção ao sítio Pau Branco.
Uma parte do contingente de milicianos revoltosos passou na mesma estrada que hoje passa exatamente defronte a sede da fazenda São Gonçalo, pertencente à família de João Alves de Lima, o João Rufino, o nosso biografado.
A Coluna de Revoltosos seguiu em direção aos atuais territórios dos municípios potiguares de Venha Ver e Luís Gomes, onde o trajeto utilizado aparentemente foi através dos sítios Bananeira, Formoso, Bartolomeu e depois Venha Ver, na época uma fazendola com algumas casas na beira de um açude.
A rezadeira Maria Bernarda de Aquino, conhecida como Dona Cabocla - Foto - Rostand Medeiros
Nesta cidade, segundo relatos da conhecida rezadeira Maria Bernarda de Aquino, conhecida como Dona Cabocla, através do que seus pais lhe contaram, enquanto o grosso da tropa seguia adiante, alguns membros da Coluna acamparam próximos ao açude, aonde chegaram a permanecer alguns poucos dias na região, inclusive com suas mulheres. Estas utilizavam lenços e panos na cabeça de cor vermelha, mostrando orgulhosamente que faziam parte do grupo rebelado.
Logo os revoltosos mataram vários porcos para sua alimentação e não molestaram ninguém. Estavam sempre com um vigilante permanentemente de plantão e andavam todo o tempo “equipados”, com suas amas e munições prontas para o uso imediato.
Uma mulher de Venha Ver, conhecida como Josefa, ou Zefa de Zé Lauro, ajudou as mulheres dos rebeldes com lavagens, concertos de roupas e preparação de alimentação. Como pagamento pelo seu trabalho ela ganhou farta quantidade de dinheiro, tecidos, redes, lençóis, roupas prontas e utensílios variados.
A cidade de Venha Ver - Foto - José Correia Torres Neto
Para Dona Cabocla a pobreza naquela época era tão grande que sua mãe, Maria das Dores de Jesus, comentava que com este material, a família de Zefa de Zé Lauro se tornou “rica” do dia para a noite em Venha Ver.
Após saírem deste lugarejo, a Coluna de Revoltosos seguiu em direção a propriedade Cacos (ou Cactos), e após passarem pela Ladeira dos Miuns, estiveram na região dos sítios Tigre, Imbé, São Bernardo, Feira do Pau e na pequena área urbana da cidade de Luís Gomes.
Praça central da cidade de Luiz Gomes - Foto - Rostand Medeiros
Em Luís Gomes se repetiram as “ações revolucionárias”, com uma sequência de saques de casa residências e comerciais. Foram provocados incêndios no cartório e na agência dos correios. Já no dia 6 de fevereiro, os revoltosos deixaram Luis Gomes e o Rio Grande do Norte, adentrando na Paraíba.
Depois de deixarem terras potiguares, a Coluna de Revoltosos combateu ainda por vários estados brasileiros.
Cruzeiro nas proximidades da Ladeira dos Miuns, local de passagem dos revoltosos - Foto José Correia Torres Neto - Fonte - Livro "João Rufino-Um visionário de f´é", pág. 277
Exatamente um ano após passar por São Miguel, a 4 de fevereiro de 1927, o grupo cruzou a fronteira com a Bolívia, onde foi dissolvido.
Já seus líderes tomaram rumos diversos. Luís Carlos Prestes, o mais conhecido e respeitado de todos, inspirou o mito do “Cavaleiro da Esperança”, que durante anos alimentou aspirações das camadas médias urbanas por uma vida melhor. Em 1930 Prestes adere ao comunismo e continua fiel a esta ideologia até a sua morte em 1990. Com o passar dos anos, conforme a popularidade do antigo comandante crescia, o exemplo de sua liderança e ideais se tornam conhecidos, a Coluna de Revoltosos é esquecida e se torna a Coluna Prestes.
Para São Miguel e região, este foi o mais importante acontecimento histórico ocorrido no século passado.
Mesmo diante de um inimigo extremamente experiente e poderoso no número de combatentes, mesmo com invasão da cidade pelos revoltosos sendo inevitável, a postura de seus defensores demonstra a capacidade de luta do seu povo e merece ser lembrada sempre.
Fonte - Coleção do autor
Entretanto, na opinião deste pesquisador, este momento histórico é timidamente recordado pela comunidade e consequentemente pouco conhecido pelos habitantes mais jovens de São Miguel.
Na região oeste potiguar é notório o enorme sucesso do trabalho de resgate da memória, em relação à resistência da população da cidade de Mossoró contra o bando do cangaceiro Lampião, no dia 13 de junho de 1927.
Entretanto não podemos deixar de comentar que no dia do ataque de Lampião a esta cidade, um número em torno de 200 defensores em armas estavam preparados, em diversas barricadas, para defender Mossoró contra um grupo de cangaceiros que girava em torno de cinquenta membros.
Capa do nosso trabalho onde está inserido este artigo - Fonte - Coleção do autor
Proporcionalmente a “Capital do Oeste” teve uma nítida vantagem. Já no caso de São Miguel, sem contar o tiroteio na fazenda Riacho Fundo, protagonizado entre revoltosos e policiais, nos outros três entreveros antes da Coluna adentrar a cidade, o número máximo de defensores foi apenas de vinte e oito homens.
Mesmo fracionada, os revoltosos chegaram a esta região serrana com um número muito superior ao de cangaceiros que atacaram Mossoró. Além do mais, sem desmerecer o fato, mas não se pode esquecer que Mossoró se defendeu de cangaceiros. De bandoleiros que praticavam a rapinagem e o sequestro em larga escala. Mesmo levando-se em conta a capacidade de combate dos homens de Lampião, São Miguel tentou a defesa, considerada impossível, contra um número muito maior de calejados e motivados combatentes. Homens e mulheres comandados por alguns dos mais corajosos, idealistas e preparados grupos de oficiais que o Exército Brasileiro já formou.
Noite de autógrafos em São Miguel - Fonte - Coleção do autor
Os quatro dias da passagem do bando de Lampião em território potiguar, teve um enorme saldo negativo. Foram assassinatos, diversos sequestros, suspeitas de estupros, roubos, saques e outros tantos delitos.
Nos dias da passagem da Coluna Prestes no Rio Grande do Norte, é inegável que os revoltosos saquearam casas comerciais, em busca de medicamentos e materiais para a continuidade da luta. Várias foram às apropriações de equinos para a continuidade de sua marcha e, antes deles terem matado alguém, tiveram um dos seus combatentes morto na subida da Ladeira do Engenho.
Show do grande Raimundo Fagner em São Miguel no dia do lançamento do livro - Fonte - http://doutorseverianonews.blogspot.com
Para quem estuda o fenômeno de banditismo social ocorrido no Nordeste do Brasil entre 1820 e 1944, conhecido por cangaço, conversar com os raros sobreviventes ou suas famílias, tentar uma entrevista com muitas destas pessoas, muitas vezes é tratar de um assunto delicado, difícil e complicado, diante do que as pessoas passaram nas mãos de bandidos da pior espécie.
Já ao tratarmos do tema Coluna Prestes em São Miguel, ocorre uma situação totalmente inversa. Na região da serra as pessoas têm orgulho em contar que a “Coluna passou na minha casa”, como os descendentes de João Rufino têm ao comentarem sobre a passagem de membros da Coluna Prestes diante de sua propriedade na fazenda São Gonçalo.
Festa de lançamento, com exposição fotográfica - Fonte - Coleção do autor
Para as pessoas da região, diferentemente de Lampião, os revoltosos possuíam um ideal, eram educados, tinham um objetivo.
Apesar de serem movimentos históricos distintos em diversas características, pelo que aqui foi descrito, em nossa opinião, este momento histórico deve ser lembrado na região de São Miguel com maior ênfase, para evitar o seu total esquecimento.
Este texto é parte integrante do livro “João Rufino-Um visionário de Fé”, páginas 268 a 280, de nossa autoria. Est obra foi lançada em São Miguel-RN, em abril de 2010, com o ISBN nº – 9788590942412, editado pela Caravela Selo Cultural, de Natal-RN.