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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

PRA QUEM GOSTA DE HISTÓRIA.

Artistas ou agiotas?

Autora de biografias de grande sucesso, Mary del Priore fala em entrevista sobre a história das narrativas sobre a vida de figuras públicas, o fim da privacidade e critica duramente o grupo Procure saber

Ronaldo Pelli
  • Historiadora lançou recentemente um blog, onde quer estreitar a relação com entusiastas da história [Foto: Divulgação]
    Historiadora lançou recentemente um blog, onde quer estreitar a relação com entusiastas da história [Foto: Divulgação]
    Ela já escreveu biografias de amantes de imperadores, mostrou bastidores do poder, revelou segredos de príncipes para o grande público, abriu as portas da vida privada do brasileiro de séculos passados, contou segredos de grandes nomes da cultura nacional. Isso só para ficar em alguns dos exemplos da sua longa lista de obras históricas publicadas. A professora Mary del Priore tem, portanto, experiência no tema para opinar sobre a recente polêmica das biografias [entenda toda a questão aqui]. Para ela, entre todas as questões levantadas pelo grupo Procure Saber, formado por artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Roberto Carlos, Djavan, a pior acusação seria a de que biógrafos ganhariam muito dinheiro com as obras de pessoas famosas – e que esse valor deveria ser dividido entre os biografados.

    “A ênfase do grupo Procure Saber em transformar biógrafos em ‘gente que ganha dinheiro’ é chocante! Uma tal visão das coisas só revela a ganância dos membros deste grupo. Somos jornalistas, historiadores, escritores, apenas interessados em fazer nosso trabalho pelo qual somos pagos proporcionalmente ao mercado de livros que no Brasil ainda é muito pequeno. O que querem de nós, que paguemos ‘dízimo’? E chamar essa gente de ‘artistas’? Melhor seria: agiotas ou comerciantes”, diz ela, em conversa por e-mail.
    A intenção da professora da pós-graduação de Historia da Universidade Salgado de Oliveira nesta discussão é, em vez de diminuir as produções de cunho histórico, divulgar o conhecimento sobre o assunto. Mais biografias, e sem autorização de ninguém. Se houver calúnia ou exageros, que a Justiça seja chamada para resolvar a questão. Herdeiros impedindo a publicação de qualquer texto? Um absurdo. Imagine ter que atender todos os descendentes dos cerca de 40 filhos bastardos de D. Pedro I?
    Confirmando esse interesse na difusão, recentemente ela lançou o blog História hoje, para dialogar com os entusiastas do tema. Além disso, após estudar as crianças e as mulheres em separado, acaba de publicar a História dos homens no Brasil, nada menos que seu 37º livro, segundo o seu site oficial. Seu interesse pelas biografias vem desde o início de sua carreira. Em entrevista para a Revista de História da Biblioteca Nacional, em 2010, ela já explicava como começou a escrevê-las:
    “Quando me mudei para o Rio de Janeiro, descobri o riquíssimo arquivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e percebi quantos filões poderiam nascer dali. E, nesse momento, houve uma ruptura naquilo que eu considerava que poderia ser uma carreira, como historiadora, e não como professora. Nunca me senti professora de nada e nem de ninguém. Então, naquele período, vislumbrei a possibilidade de fazer livros de divulgação que chamassem atenção para a questão da História do Brasil. Escrever sobre personagens que fossem desconhecidos, usando-os como janelas para o passado. E aí o meu trabalho deu uma guinada, e comecei a focar nas biografias, onde tenho tido bastante sucesso.”
    Agora, em entrevista por email, ela reforça que os textos sobre a história de homens - ilustres ou não -, inclusive, não devem ficar
    Novo livro da historiadora aborda a trajetória masculina no Brasil [Foto: Divulgação]
    Novo livro da historiadora aborda a trajetória masculina no Brasil [Foto: Divulgação]
    restritos ao ambiente universitário, mas ser tratado como uma das vertentes da literatura, como “romances, thrillers policiais, auto-ajuda”.
    “Considerado um gênero menor, paradoxalmente ele atrai milhões de leitores e tem autores desde a Antiguidade. O pioneiro Plutarco em sua obra Vidas paralelas tratou da biografia de Rômulo, Cesar entre outros personagens históricos”, explica a professora, que vai participar de um evento na Estação das letras, no Flamengo, Zona Sul do Rio, no dia 28 de novembro, discutindo exatamente “Literatura e História: Limites Ilimitados”.
    “Outra característica que se esquece é que a biografia é filha de seu tempo. Ela reflete as formas de pensar de uma época. Na Antiguidade, a biografia fabricava heróis, na Idade Média, santos e personagens de vida espiritual irreprochável, na Idade Moderna, obras como a de Vasari ou Brantome procuravam personagens moralizantes, capazes de transmitir ideais por meio de seu comportamento.”
    A professora recorda que “no século XIX, biografias de reis e generais serviram a consolidar a ideia de nação, com seus heróis e feitos”. Já no seguinte, autores famosos como Stefan Zweig e Marguerite Yourcenar escreveram romances históricos, ao abordar personagens famosos como Maria Antonieta ou o imperador romano Adriano, respectivamente. Já no atual século, o grande tema é a intimidade, “objeto de estudos das ciências humanas, através da história, da psicanálise e da antropologia e é natural que essas questões se transfiram para as biografias”, escreve ela.
    Mary del Priore, em foto para a entrevista publicada na RHBN em abril de 2010 [Foto: Fernando Rabelo]
    Mary del Priore, em foto para a entrevista publicada na RHBN em abril de 2010 [Foto: Fernando Rabelo]
    “Some-se a isso o fato de que vivemos numa sociedade do espetáculo que aprecia o voyeurismo através da internet, de programas como Big Brother, de sex texts. Como impedir que essas questões que emanam da sociedade não contaminem o trabalho literário?”, questiona.
    Segundo Mary, em nossa sociedade pós-burguesa, os valores do exibicionismo se tornaram mais fortes do que os da discrição e do pudor. Assuntos que frequentam as páginas de revistas de fofocas vão necessariamente aparecer na obra de biografados. 
    “Figuras públicas são públicas. Então que tenham coerência entre o que dizem e o que fazem”, opina, lembrando que os limites entre o que é público e o privado está ficando cada vez mais difícil de se perceber. “Em meu livro, Historias Intimas, demonstrei que a privacidade, um fenômeno cultural que foi lentamente construído pela burguesia entre os séculos XVIII e XIX está sendo desmontado.”
    A professora argumenta que o estudo da vida privada, em vez de ser um problema, deve ser encarado como uma qualidade das biografias. Ela já comentava essa propostana entrevista em 2010 para a Revista de História da Biblioteca Nacional, quando afirmou que um dos principais pontos quando se escreve sobre a vida de alguém é exatamente o detalhe.
    “Isto é absolutamente inquestionável. A possibilidade de o leitor ver aquilo que você está contando. O escritor deve estar menos interessado em interpretar ou justificar determinados fatos e mais preocupado em recuperar a atmosfera de um período e descrever certos acontecimentos. E, para isso, é preciso estudar sobre a vida privada.”
    Basta, agora, os biografados concordarem.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

PECULIARIDADES DE UMA ÉPOCA

  Recentemente conversando com um amigo contemporâneo da década de  1970, relembramos alguns hábitos peculiares às crianças e adolescentes da época. Um deles era, além de engraçado,perigoso: Subir no telhado para girar a antena da televisão e tentar conseguir uma melhor imagem pros gigantescos aparelhos de  tv em preto e branco. De tanto subir na casa, a marca dos meus pés quase ficaram eternizados.
  Outro tormento por nós enfrentado, eram as constantes falta de energia. Era rara a semana em que o apagão não acontecia, principalmente quando era final de novela. Ficávamos a mercê das revistas, ou de algum parente distante que nos ligava e contava como tinha se desenrolado o tão esperado final.
  Havia umas telas  horrorosas que as pessoas fixavam no aparelho para dar a impressão de que a tv era em cores, uma coisa pavorosa.!
  As primeiras televisões em cores chegaram por aqui com muito atraso e a um preço impraticável, poucos dispunham desse privilégio. Tudo mudou em tão pouco tempo.
  No colégio, éramos induzidos a comprar pequenas gravuras estampadas com o rosto dos presidentes do regime militar.Que função tinha aquilo??? Ainda hoje me pergunto o quão éramos bobinhos.....
  Nos desfiles "cívicos" do Sete de setembro, conduzíamos cataventos verde e amarelo para saudar as escolas passantes,e era enorme a multidão que se formava, praticamente "quarávamos" no sol causticante, mas com prazer.
  Jogávamos "bafo" defronte ao cine Lourimar para conseguir as figurinhas dos álbuns que eram super comuns e disputados, as figurinhas mais difíceis custavam caríssimo: Álbuns das seleções, do Super Man, de ciências, de figurinhas fosforecentes , da turma da Disney, da Mônica, entre outros. Saudades de tudo aquilo!!!!!
                             Israel Vianney

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

CLUBE DOS MORENOS

  Na década de 1970, principalmente no Nordeste, ainda havia um ranço muito forte  de Brancos  em relação aos Negros. Já ouvi vários depoimentos, e num deles me disseram que em Martins , cidade serrana próxima daqui, havia um clube (CLEM)  em que os negros não eram bem vindos. Não era uma norma  estabelecida, mas uma intolerância que o próprio cotidiano ditava.
  Aqui em Pau dos ferros  havia um foco de resistência à sociedade Normatizadora, o conhecido, porém esquecido CLUBE DOS MORENOS.
  Peço um pouquinho de calma aos nobres leitores, que estou coletando dados pra trazer a vocês, esse capítulo interessante e pouco explorado da nossa história. Ainda essa semana!!!!
                               VIANNEY

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

É BOM SABER!!!!

AMORES ESCRAVOS E AMORES MESTIÇOS NO BRASIL DO SÉCULO XIX

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Há poucas referências de cronistas estrangeiros aos casamentos entre escravos. Sabe-se hoje que eles eram correntes. O livro do casal Agassiz, educadores que capitanearam uma expedição ao Brasil entre 1865 e 1866, tece, por exemplo, alguns comentários de índole moral em torno de cerimônias que eles mais consideram “irreligiosas”, tal a rispidez com que o padre tratava os nubentes. Segundo o relato,
“[...] se estas pobres criaturas refletissem, que estranha confusão não se faria em seu espírito! Ensinam-lhes que a união entre o homem e a mulher é um pecado, a menos que seja consagrada pelo santo sacramento do matrimônio. Vêm buscar este sacramento e ouvem um homem duro e mau resmungar palavras que eles não entendem, entremeadas de tolices e grosserias que eles entendem até demais. Aliás, com seus próprios filhos crescem crianças escravas de pele branca, que na prática, ensinam-lhes que o homem branco não respeita a lei que impõe aos negros.”
Provavelmente inspirado nos negros que trabalhavam para a empresa inglesa da Mina de Morro Velho, era Minas Gerais, Richard Burton dizia que “[...] o escravo tem no Brasil, por lei não escrita, muitos direitos de homem livre [...] é legalmente casado e a castidade de sua esposa é defendida contra o senhor. Tem pouco receio de ser separado da família”.
downloadNo século XIX, para efetivar seus casamentos os escravos continuavam precisando da anuência de seus senhores que, muitas vezes, decidiam levando em conta o número de filhos que nasceriam dessa união. Em propriedades grandes e médias havia a tendência em não separar os cônjuges, por venda ou herança. Nos plantéis pequenos, porém, os proprietários estavam mais sujeitos a contratempos econômicos, garantindo em menor escala o bem-estar conjugal dos escravos. Aos jovens, fortes candidatos a fugas, dizia um senhor da região de Campinas, no interior paulista: “E preciso casar este negro, dar-lhe um pedaço de terra para assentar a vida e tomar juízo”.
A presença da escravidão e da mestiçagem trouxe muitos reflexos para as relações afetivas. No Brasil, a fidelidade do marido não apenas era considerada utópica, segundo os viajantes, mas até ridicularizada. E a manutenção de amantes — a julgar pela marquesa de Santos, exemplo vindo de cima — um verdadeiro segredo de polichinelo. Tal vida não se tornava, no dizer de um desses cronistas, “uma ignomínia para um homem, em vez disso era como a ordem natural das coisas”. Eram comuns, particularmente no interior do Brasil, famílias constituídas por um homem branco cuja companheira — mais ou menos permanente, segundo o caso — era uma escrava ou uma mestiça. Somava-se a isso a desproporção entre homens — em maior número — e mulheres — poucas — estudada por demógrafos historiadores. As marcas do sofrimento ficaram na documentação e nas observações de uma viajante estrangeira. Conta-nos ela:
escravidao2“Na noite anterior eu notara uma jovem mulher branca, ou antes amarela, de grandes olhos com olheiras, de cabelos mal penteados, que andava descalça, vestida com uma saia malfeita, uma criança pela mão e outra no colo, e supusera que bem poderia ser a mulher do administrador que, no entanto, tinha roupa fina, um traje decente e um verniz de letras e de ciência [...] resolvi, então, satisfazer minha curiosidade, notando em seu rosto traços de profundo sofrimento:
— Pareces triste, senhora, disse-lhe.
— Sou bem infeliz, senhora, respondeu-me ela.
— Não é a mulher do administrador?
— Para minha desgraça.
— Como assim?
— Ele me trata indignamente. Aquelas mulatas, acrescentou ela, apontando-me uma, é que são as verdadeiras senhoras da fazenda. Por elas, meu marido me cobre de ultrajes.
— Por que suporta isso?
— Meu marido me força a receber essas criaturas até em minha cama; e é lá, debaixo dos meus olhos, que lhes dá suas carícias.
— Ê horrível!
— Quando me recuso a isso, ele me bate e suas amantes me insultam.
— Como continua com ele? Abandone-o.
Ela olhou-me com profundo espanto, replicando.
[...] — Isso é bom para as francesas que sabem ganhar seu pão; mas nós, a quem não se ensinou nada, somos obrigadas a ser como criadas de nossos maridos.”
Na cultura popular, as modinhas ensinavam as mulheres a desconfiar seus maridos. Veja-se esta coligida na Bahia em 1843:
Astuciosos os homens são
Enganadores
Por condição
Os homens querem sempre enganar
Nós nos devemos
Acautelar
Juram constância
Até morrer
Mas enganar
É seu prazer
[...]
Quando dependem
São uns cordeiros
Logo se tornam
Lobos matreiros
[...]
Quando da noite
O sol raiar
Então firmeza
Lhes hão de achar
Já nem ao menos vergonha tem:
Quando isto ouvem
Riem-se bem.
O concubinato corrente entre homens brancos e mulheres afrodescendentes provocou uma reação: mulheres brancas deviam casar com homens brancos. Embora já houvesse muitas uniões entre brancas e mulatos, como descreveu Freyre para o Nordeste, nas capitais todo o cuidado era pouco. Tão pouco, que a Folhinha Laemmertz de 1871 admoestava: “com a Lei do Ventre Livre algumas moças que não querem ficar para tias, casam-se com negros”. Ao fundo, a imagem de um casal misto, ela, uma pintura, ele, caricaturizado.
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No litoral, procuravam-se genros nascidos no Velho Mundo. O “mendigo de mais alto nascimento era preferido aos mais ricos nativos”. Mas nas províncias do interior não havia tanta fartura de brancos e, na conclusão do observador estrangeiro Burton, “o mulatismo tornou-se um mal necessário”. Maria Graham repete as mesmas palavras: os portugueses “preferem dar suas filhas e fortuna ao mais humilde caixeiro de nascimento europeu do que aos mais ricos e meritórios brasileiros”, leia-se, mestiços. Ela acreditava que “os portugueses europeus ficavam extremamente ansiosos para evitar o casamento com os naturais do Brasil”, demonstrando, dessa forma, já estarem “convencidos das prodigiosas dificuldades, se não malefícios que fizeram a si próprios com a importação de africanos”. Mas a solidão em que viviam muitos brancos, isolados em um deserto e não tendo qualquer restrição das opiniões da sociedade possibilitava, no entender da professora inglesa, que eles se “acomodassem” com as mulheres a seu alcance. Escapa-lhe o potencial afetivo de muitas dessas relações. Completava-se, assim, o binômio que induzia “muitos no país a prescindirem de uma esposa”, nesse caso, de uma moça branca para casar legalmente. Desse “desregramento” nem os ingleses escapavam, observa um norte-americano, mencionando o caso de certo Mister Fox, comerciante solteiro que já sexagenário desfrutava, em sua casa, da companhia de uma senhora negra e viçosa, de pouco mais de 35 anos, que atendia à mesa, desincumbindo-se, também, de outras tarefas domésticas.
Nosso conhecido viajante Schlichthorst fazia à corte, a sua maneira, a uma mestiça que encontrara nas ruas do Rio de Janeiro. A aproximação entre o estrangeiro e a nativa é direta. Não há rodeios; há trocas. Comida por companhia. As clivagens de raça e classe ficam claramente visíveis, sobretudo, quando ele titubeia em beijar a mão da linda jovem cuja visão o deleitava. Orgulho e preconceito se misturam. Vejamos como ele relata essa experiência:
“A moça de aparência decente, estava desacompanhada. Ofereci-lhe o braço e levei-a para sua casa. Algumas escravas nos seguiam. A esse feliz acaso fiquei devendo minhas horas mais agradáveis no Rio de Janeiro. Beata Lucrécia da Conceição não era, em verdade de sangue puro como a Europa exige para sua pretensa fidalguia racial,” mas era uma moça boa e simples, de dezessete anos, que vivia com decente liberdade em companhia de sua mãe, uma crioula gorda. A riqueza dessa gente modesta constava de uma casinha e de alguns negros que trabalhavam na alfândega. O capital crescia com um bando de moleques, de tempos em tempos, aumentado pela extraordinária fertilidade das negras ou, como dizia a velha — pela benção do céu. D. Luiza, mãe de D. Beata, era viúva. A filha, solteira, tinha um amigo tropeiro, que andava com sua tropa de mulas por Minas Gerais e vivia com ela quando vinha ao Rio de Janeiro. Uma encantadora menina nascera desta união.”
casamentodenegrosO jovem estrangeiro deixa-se encantar pelo ambiente simples e acolhedor de uma casa onde podia chegar à hora que quisesse. De certa feita, resolve ir às compras para, o que considera, uma refeição modesta.
“Como sei que é dia de jejum e conheço o gosto das senhoras, compro caranguejos, palmitos, macarrão para a sopa, algumas sardinhas e batatas, cebolas, agrião para a salada e um pouco de alho às escondidas. Não me esqueço das passas, das amêndoas, dos abacaxis, das laranjas, das bananas e, para completar, a sobremesa, de ostras, de queijo e algumas garrafas de excelente vinho do Porto, que nenhuma senhora desdenha. Chego assim carregado com o negro à casa de D. Luiza e me convido para jantar. A boa mulher sente-se muito honrada com a minha visita e sua amável filha me recebe com toda a sua graça natural.”
Mas logo sobrevêm considerações que misturam preconceito e prazer, sentimentos complexos que deviam viver não poucos dos que vinham fazer a América:
“Quase sou tentado a beijara mão que me estende. Contra isso, porém, rebela-se o nobre sangue europeu, ao pensar que a tinge leve cor africana. Enquanto a velha vai em pessoa para a cozinha, a fim de dirigir o preparo da refeição, aprendo com a minha bela mestra, em poucas horas, mais português do que me ensinaria em seis semanas um rabugento professor. Se nesta convivência íntima, um sentimento melhor não vence o orgulho ridículo a que venho de me referir, fico indeciso, porque sei respeitar os direitos alheios, mesmo que sejam de um simples tropeiro de Minas. Após a refeição, as senhoras que se serviram de talheres em consideração à visita vão dormir. Acendo um cigarro, me embalo numa rede até o sono me fechar às pálpebras. Um sonho me conduz à Europa, na qual, quando acordado raras vezes penso, e me concede gozos a que devo renunciar no Brasil [...]. A noite cega depressa. Quando se acendem os lampiões ofereço o braço à dama mais moça e, seguidos por uma escrava preta, damos uma volta pelas ruas da cidade, que a essa hora têm a maior animação.”
E o comentário: “D. Luiza que de bom grado teria vindo conosco fica em casa pela delicada modéstia de sentir sua diferença de cor. Sua filha com um quarto de sangue africano, à noite pode passar como branca de sangue puríssimo”.
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Apesar de consideradas indignas de casar de papel passado, laços de convívio diário com escravas acabavam por tornar-se tão respeitados como em qualquer país da Europa e elas assumiam, sem maiores obstáculos, a honrosa posição de esposas. No caso em que tais relações se prolongassem, adentrando a velhice do parceiro, este não se decidindo por providenciar um casamento com uma mulher branca, acabava por fazer de seus filhos mulatos os únicos herdeiros de seus bens. Durante uma visita a Bertioga, no litoral paulista, o reverendo Walsh defrontou-se com “uma negra”, que, diz ele, “veio e sentou-se para olhar para nós. Ela era a companheira de nosso pequeno anfitrião e mãe de algumas crianças mulatas que possuíam toda a propriedade de seus pais”.
Estudando a vida privada na Província de São Paulo, o historiador Robert Sleenes esmiuçou documentos em que essas afirmações ganham carne e sangue. Filhos mulatos nascidos dessas uniões herdam bens, escravos e negócios, dando origem a uma pequena camada média, mestiça, como já observara, à mesma época, o reverendo Walsh. O fenômeno não era comum, havendo o pai que alforriar seus filhos que, por seu turno, muitas vezes, tinham seus herdeiros nas mesmas condições: com escravas. As dificuldades de mobilidade social foram grandes até meados do século, mas não faltavam senhores que, literalmente apaixonados, ameaçavam a vida de casal de escravos. Um exemplo, em São Paulo? Um senhor que perseguia violentamente Romana, sua escrava, dizendo a seu marido que “o havia de matar porque precisa da crioula para sua manceba”. Ou, em Vassouras, no Rio de Janeiro, em que uma esposa traída apresenta ao juiz uma carta de seu marido à amante, uma ex-mucama: “Marcelina, você como tem passado, meu bem? Estou com muita saudade de você e ainda não fui dar-lhe um abraço porque estou na roça feitorando outra vez [...]”. E se despede:
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“Adeus, minha negra, recebe um abraço muito e muito saudoso, e até breve. O frio já está apertando, e faz-me lembrar das noites da barraca com uma saudade que me põe fora de mim; está bom, não quero dizer mais nada por hoje, se começo a me lembrar de certas coisas, em vez desta carta vou eu mesmo, e hoje não posso sair. Outra vez adeus e até lá.”
Na corte, Marcelina deixava-se fotografar com acessórios considerados de fino trato: leques e lindo vestido de tafetá pregueado com o laço à marrequinha.
Não é esse o caso de Marcelina, mas na maioria dos exemplos que extraímos da documentação tem-se a impressão de que era mais fácil, se não econômico, para o homem branco, aproveitar-se das mulheres que não podiam exigir dele compromissos formais, mas lhe ofereciam os mesmos serviços que uma esposa branca e legalmente casada. Segundo observação de um viajante estrangeiro, até os homens acabavam por sentir “uma estranha aversão pelo casamento”, passando a não gostar de se casar para sempre e, uma vez que “a humana lei latina facilita o reconhecimento dos filhos ilegítimos”, são eliminados os atrativos que restam ao matrimônio. Ficavam assim justificadas em favor do homem, segundo Tânia Quintaneiro, as ligações à margem da legislação com negras e mestiças e a desproteção a muitos filhos que, apesar da “humana lei latina”, nem sempre eram legalmente reconhecidos.
Texto de Mary Del Priore in “História do Amor no Brasil”, Contexto, São Paulo, 2006, excertos p. 188-195. A partir de http://stravaganzastravaganza.blogspot.com.br/2013/04/amores-escravos-e-amores-mesticos-no.html?q=Nordeste

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A INTENTONA COMUNISTA EM PAU DOS FERROS


                                    Intentona Comunista Quartel da Salgadeira - Atual Casa do Estudante



A Intentona Comunista faz parte da História do Brasil. Luiz Carlos Prestes, mesmo depois de morto há muitos anos, é noticiado cotidianamente. Há poucos meses devolveram o título de Senador da República e sua viúva requereu sua investidura como General do Exército Brasileiro, face a lei da anistia. Existe até uma discussão pública, e nos anais oficiais, entre a viúva e a filha de Carlos Prestes com Olga Benário, pois a filha não quer que o pai receba a patente de General, diz que ele sempre odiou o Exército, assim a imprensa noticiou.

O RN, diferentemente de outros Estados, foi o único da federação cujo governador foi deposto pelos rebeldes de Luiz Carlos Prestes. O comandante da polícia do Estado aderiu a rebelião comunista, no início de novembro de 1935 e resolveu depor o Governador Rafael Fernandes  Gurjão (pauferrense). O Governador estava no Teatro Carlos Gomes (hoje Alberto Maranhão?) quando soube da traição do seu Chefe de Polícia. Fugiu e se escondeu com sua mulher e os 2 filhos (Gileno e Marcos Fernandes Gurjão) na casa de amigo e no dia seguinte se asilou no Consulado da Itália). O Comandante da PM do Estado telegrafou para todos os Chefes de Batalhões da PM de todos os municípios, mas a maioria não aderiu ao seu chefe, inclusive Mossoró, que se manteve fiel ao Governador. Mas o de Pau dos Ferros atendeu a ordem e prendeu e depôs o prefeito Marcelino Francisco de Oliveira. Alguns jovens de Pau dos Ferros, liderados por Licurgo Nunes, que na época era acadêmico de Direito, se insurgiram contra essa opressão e tentaram se organizar para o combate, mas a PM soube antes e passou a persegui-los. Além de Licurgo, Antônio Holanda foi preso, como também um Diógenes e um Gameleira cujos nomes não são lembrados. 

Por aqui, nos idos de 1935, foram 9 dias de angústias, de pesadelos, famílias tradicionais foram envolvidas e seus sobrenomes não devem ser manifestados. Os manifestantes tomaram a cidade, João Escolástico Bezerra fugiu para Cajazeiras num jeep (fabricação USA) fornecido por Joaquim de Holanda para não ser preso pelos manifestantes. A esposa de João Escolástico se escondeu embaixo de um Juazeiro na Fazenda de Joaquim de Holanda, porque residentes na rua 7 de setembro, quase vizinhos da cadeia de muro alto e fortificado ao lado do açougue e do motor da luz,  ouviram gritos e supuseram que os preços políticos estavam sendo torturados. Há um fato engraçado com a prisão de Antonio Holanda, que por pouco não conseguiu fugir da perseguição dos soldados, mas ao pular uma cerca de arame ficou preso pelas calças e localizado pelos militares. Os filhos de João Escolástico também se esconderam na fazenda, inclusive o menor, de 11 meses, fora carregado em um cesto de pão pela senhora Maria Elizária.

O motorista que transportou João Escolástico a Paraíba foi preso ao retornar e, provavelmente, mediante tortura, confessou a vinda de tropas da Paraíba, para tentar retomar a cidade dos rebeldes, o que causou a fuga de policiais, além do fato de existir em Pau dos Ferros apenas 9 militares, alguns - inclusive - estiveram presos, por não terem compartilhado com a Intentona.  Mas esse é um fato obscuro, não se sabe exatamente quantos soldados estavam em Pau dos Ferros, a única certeza é que ninguém morreu, não houve enfrentamento. A desigualdade de tropas, no entanto, entre a que veio da Paraíba e a que estava na cidade (inclusive soldados e civis provenientes de Natal), serviu até de motivo de exploração na eleição contra João Escolástico nas posteriores eleições de 1937. Através da vinda das tropas paraibanas, foi que a cidade conseguiu ser retomada.

Essas tropas aqui desembarcaram, através dos mandos do Governador da Paraíba, Argemiro de Figueiredo, que já havia enviado tropas para várias cidades do RN, inclusive foram as tropas paraibanas que expulsaram os rebelados da Intentona e trouxe a paz e tranquilidade para Natal, eles quando depuseram o governador, passaram a usar a Vila Cinanto, onde trabalhava e residia o Governador. Foi  também o Governador da Paraíba que reinvestiu o Governador Rafael Fernandes Gurjão no seu cargo. O interlocutor do governo paraibano era o nosso conhecido Senador e Governador Dinarte Mariz, que na época era um negociante de algodão, mas que resolveu liderar combatentes do RN contra os comunistas. Foi Dinarte Mariz, um dos criadores do Partido Popular (partido que também contou com Aluysio Alves), que intermediou com o governador paraibano, a remessa de tropas paraibanas para Pau dos Ferros.

 O caminhão GM chegava a Pau dos Ferros transportando João Escolástico Bezerra e 46 soldados paraibanos. A rua, hoje Avenida Getúlio Vargas, estava cheia de gente, nunca vira tantos pauferrenses juntos.  O caminhão era enorme (de fabricação da USA que o Brasil importava), a cabine cabia 4 pessoas e na carroceria 2 carreiras de bancos nas laterais e 2 unidas no centro, onde os soldados estavam. A cobertura de encerados (lonas), mas as lonas estavam encolhidas nas laterais, por onde o povo e os militares se avistavam.

Os sublevados ou tinham fugido ou se rendido, na verdade em Pau dos Ferros existiam apenas 1 Sargento (Comandante) e 8 soldados. Os prisioneiros (da Intentona) foram libertados. A cidade estava em festa.  Os rebelados erraram em subestimar a capacidade dos católicos, ao fechar a Catedral.  No comunismo da época, o mesmo da Rússia, as propriedades privadas passavam para o Estado, tudo era distribuído para o povo usufruir, só governava as pessoas por eles indicadas, mas os pauferrenses ficaram revoltados em ter sua igreja fechada, não ter onde assistir a missa, o Padre Omar Cascudo foi aprisionado na casa paroquial.  Tal como em Natal, as mercearias e as mercadorias da feira foram confiscadas,  aquele que não tivesse reserva de alimentos, estava desesperado, virava pedinte dos policiais e dos pauferrenses que se aliaram a eles. Sim, houve quem fizesse isso, inclusive de famílias - na época - bem conhecidas, que assim tentavam preservar seus pertences e, supõe-se que isso tenha  causado tanto silêncio para a posteridade.

Em 1937 foram realizadas as eleições para Prefeito, em 16/03/1937, e João Escolástico concorreu pelo Partido Popular. Foi eleito e proclamado em 02/04/1937.  Mas, não foi uma vitória retumbante, os adversários questionaram o fato de ser o responsável pela invasão de militares paraibanos em Pau dos Ferros, que poderia ter causado um morticínio, se tivesse havido reação das forças que dominavam a cidade.  Levaram a emoção, alegando que os soldados pauferrenses se renderam para não provocar tantas mortes, como ocorrera em Caraúbas.  Como citado anteriormente, havia uma preocupação imensa dos capelães Omar Cascudo, seguido pelo capelão Militão Benedito de Mendonça em apaziguar os ânimos e trazer a paz para Pau dos Ferros, até que teve seus desejos satisfeitos, pois durante uma missa conseguiram do povo pauferrense e solenemente, a promessa de paz entre os habitantes.  Muitas famílias voltaram a ser amigas, todo mundo perdoado e a paz imperou na cidade até nossos dias, inclusive com muitos casamentos entre membros dessas famílias. Hoje, não existem nomes, só os fatos, lamentavelmente provocados por ambições de políticos desalmados do Rio de Janeiro e outras capitais do país, cuja repercussão alcançou o povo ordeiro de nossa terra. 


CRÉDITOS DA MATÉRIA A JOÃO ESCOLÁSTICO FILHO - Editor Manoel Cavalcante


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

VALE A PENA VISITAR !!!

 PEGADAS DOS DINOUSSAUROS EM SOUSA-PB – UM LOCAL FANTÁSTICO

Trilha fossilizada no Vale dos Dinossauros, no município de Sousa - Fonte - Fabio Colombini
Trilha fossilizada no Vale dos Dinossauros, no município de Sousa – Fonte – Fabio Colombini
REGISTROS DO CRETÁCEO – ALGAS AJUDARAM A PRESERVAR
PEGADAS DE DINOSSAURO NA PARAÍBA 
IGOR ZOLNERKEVIC | Edição 209 – Julho de 2013 – Revista de Pesquisa da FAPESP
Para quem quiser deixar uma marca duradoura de sua existência na Terra, fica a dica: caminhe à beira de um lago, onde houver lama ou areia fina e molhada, coberta de limo. Centenas de dinossauros fizeram isso, e suas pegadas permanecem intactas, gravadas nas rochas do sertão nordestino, no município de Sousa, interior da Paraíba, graças à ação das algas verdes e azuis do limo onde pisaram há mais de 100 milhões de anos.
A conclusão é dos paleontólogos Ismar Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Giuseppe Leonardi, do Instituto Cavanis, em Kinshasa-Ngaliema, na República Democrática do Congo. Em parceria com o geólogo Leonardo Borghi, da UFRJ, eles apresentaram, em artigo publicado em maio deste ano na revista Cretaceous R  esearch, a primeira prova material da importância do limo na preservação de pegadas fósseis. O filme gelatinoso criado pelos microrganismos crescendo sobre a lama pisada teria impedido que as pegadas fossem apagadas pelo vento e pela chuva, antes que ela endurecesse e fosse recoberta por uma nova camada de sedimento que a protegeria da erosão.
“É incrível como microrganismos ajudaram a registrar a vida de alguns dos maiores animais que já viveram”, comenta Leonardi, considerado um dos principais especialistas em icnologia, o estudo de marcas deixadas por animais extintos, os chamados icnofósseis, para determinar sua postura e comportamento. Foi por meio de pegadas, por exemplo, que os paleontólogos deixaram de montar incorretamente os esqueletos fósseis nos museus.
Foto realizada pelo autor do blog TOK DE HISTÓRIA em 1994
Foto realizada pelo autor do blog TOK DE HISTÓRIA em 1994
Antigamente achava-se que os dinossauros andavam como os crocodilos, arrastando o ventre e a cauda no chão. As pegadas, no entanto, mostram que as criaturas andavam com a cauda e corpo suspensos, com seu peso distribuído igualmente sobre as patas.
As pegadas de Sousa foram descritas pela primeira vez em 1924, pelo engenheiro de minas Luciano Jacques de Moraes. O estudo dessas marcas, entretanto, só começou em 1975, quando Leonardi passou um ano explorando a região. Nascido na Itália em uma família de geólogos e paleontólogos, Leonardi, 74 anos, sempre dividiu seu tempo entre a carreira de pesquisador e a de padre católico. Ele se prepara para lançar um livro sobre Sousa, escrito em colaboração com Carvalho, ao mesmo tempo que atua na educação de crianças no Congo.
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As rochas de Sousa se formaram a partir de sedimentos acumulados em um vale aberto no início da separação entre a América do Sul e a África, no começo do chamado período Cretáceo. Entre 142 milhões e 130 milhões de anos atrás, o vale abrigava rios e lagos, atraindo a fauna da região. Sua lama transformada em rocha registrou a passagem de quase 400 indivíduos — dinossauros, crocodilos, sapos e tartarugas. Também há marcas de ondulações produzidas por água corrente e até pequenos buracos criados por gotas de chuva.
Cenas do passado
Não há, porém, ossadas fósseis em Sousa, ao contrário do que ocorre na bacia sedimentar vizinha do Araripe, no Ceará, local da descoberta de muitos dinossauros do Cretáceo. Leonardi explica que os sedimentos e o ambiente das bacias eram distintos. O ambiente mais ácido de Sousa corroía os ossos, enquanto no Araripe enxurradas arrastavam e soterravam rapidamente as carcaças dos animais, mantendo os ossos em condições favoráveis à petrificação.
“Em geral, os fósseis são registros da morte, enquanto as pegadas são registros da vida”, afirma Carvalho. Dificilmente as pegadas permitirão identificar a espécie do animal que as produziu. Mesmo assim, os pesquisadores conseguem classificá-las de acordo com certos grupos de dinossauros e, em locais onde há muitas delas, podem reconstruir cenas do passado.
Fonte - ARIEL MILANI MARTINE
Fonte – ARIEL MILANI MARTINE
O cotidiano dos dinossauros de Sousa lembra a vida dos grandes mamíferos das savanas africanas de hoje. Há trilhas feitas por bandos numerosos de saurópodes, imensos herbívoros quadrúpedes, semelhantes aos brontossauros. Em certo local é possível notar que um saurópode adulto diminuiu sua marcha para acompanhar o passo de um filhote. Em outros pontos, esses bandos são perseguidos por pequenos grupos de terópodes, carnívoros bípedes parecidos com tiranossauros ou velocirraptores. Mais ativos que os herbívoros, os terópodes deixaram mais pegadas registradas, apesar de provavelmente terem sido em menor número.
“Essas marcas são estruturas tão delicadas, tão fáceis de serem apagadas pelas intempéries”, diz Carvalho. “Queríamos entender como foram preservadas.” Segundo ele, os pesquisadores costumavam concordar que, para as pegadas serem preservadas, bastava que o sedimento onde estavam impressas tivesse certas características especiais. Ele deveria ser fino, úmido e plástico na medida certa, como a argila. Todos os estudos experimentais feitos até agora, porém, demonstram que isso muitas vezes não é o suficiente.
De uma década para cá, começaram a aparecer evidências de que as pegadas menos erodidas são aquelas cobertas por limo. Em 2009, por exemplo, um grupo de arqueólogos suíços observou exatamente isso ao estudar o endurecimento de pegadas humanas impressas há poucos anos na beira de lagos no Caribe e no Oriente Médio. Carvalho notou algo semelhante na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. Outros paleontólogos começaram a suspeitar de que as chamadas esteiras microbianas que compõem o limo funcionariam como uma cola entre os grãos do sedimento, preservando os traços das pegadas, além de os protegerem contra o vento e a chuva. Os microrganismos ajudariam ainda na petrificação, acumulando o cálcio que endurece o sedimento.
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Carvalho e seus colegas descobriram a primeira evidência material do fenômeno ao analisarem ao microscópio as lâminas de rochas extraídas de um poço na Fazenda Cedro, em Sousa. Encontraram várias camadas de microbialitos, um tipo de rocha formado a partir dos restos de esteiras microbianas do Cretáceo.
Outra evidência indireta é a presença em Sousa de fósseis de conchostráceos, um crustáceo protegido por duas conchas, aparentado de caranguejos e camarões. Os conchostráceos existem até hoje e quase nunca ultrapassam meio centímetro de comprimento. Uma das espécies de Sousa, porém, atinge 4,5 centímetros. Carvalho acredita que os conchostráceos de Sousa cresceram tanto por conta do ambiente de águas quentes, calmas e ricas em nutrientes que favoreceram a proliferação das esteiras microbianas nas margens dos lagos onde os dinossauros pisavam.
Foto de uma reprodução de um dinossauro. Realizada pelo autor do blog TOK DE HISTÓRIA em 1999
Foto de uma reprodução de um dinossauro. Realizada pelo autor do blog TOK DE HISTÓRIA em 1999
Mais limo, mais detalhes
As pegadas mais ricas em detalhes, que vistas bem de perto revelam de marcas de unhas a ranhuras da planta das patas e dos dedos, seriam aquelas formadas onde as esteiras teriam crescido mais. O limo teria ajudado a preservar também as rebordas que aparecem em volta de algumas pegadas. As rebordas são feitas da lama espirrada quando o animal pisou e podem informar seu peso.
Além do sedimento argiloso e das esteiras microbianas, os ciclos de deposição dos sedimentos seguindo as estações secas e chuvosas também ajudou a preservar as pegadas em Sousa. Pegadas eram gravadas e endurecidas durante a estação seca, para então serem enterradas por uma nova camada de sedimento trazida pelas chuvas. A nova camada serviria então de substrato para gravar mais pegadas na estação seca seguinte. Em um local conhecido como Passagem das Pedras, em Sousa, Leonardi escavou 25 dessas camadas com pegadas, produzidas por variações cíclicas na borda de um lago.
Carvalho, cuja pesquisa tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), espera agora examinar lâminas de rochas de outros lugares do mundo com pegadas fósseis. O maior deles fica em Sucre, na Bolívia. “Tenho quase certeza de que os microbialitos estão presentes lá”, diz.
Foto de uma das trilhas feitas pelos dinossauros em Sousa, realizada pelo autor do blog TOK DE HISTÓRIA em 1994
Foto de uma das trilhas feitas pelos dinossauros em Sousa, realizada pelo autor do blog TOK DE HISTÓRIA em 1994
“As esteiras microbianas estão na moda”, comenta o paleontólogo Marcelo Adorna Fernandes, da Universidade Federal de São Carlos, cujo laboratório possui a maior coleção de icnofósseis do país, muitos deles coletados no interior paulista, principalmente em Araraquara, onde foram descobertas pegadas até em rochas das calçadas da cidade. Fernandes conta que espera analisar em breve o que ele acredita ser rastros deixados por invertebrados ao rasgarem esteiras microbianas crescendo no fundo dos lagos glaciais, que deram origem às rochas sedimentares conhecidas como os varvitos de Itu.
Artigo científico
CARVALHO, I. et alPreservation of dinosaur tracks induced by microbial mats in the Sousa Basin (Lower Cretaceous), BrazilCretaceous Research.

NO MEU TEMPO ERA ASSIM !!!

Fico estarrecido quando nos dias atuais alguém diz que não tem condições de estudar. As escolas públicas não exigem  fardamento (o que acho erradíssimo), existe o bolsa escola, existe o SISU, O ENEM, as provas agendadas para processos de aceleração, existe a famigerada dependência já nas escolas de segundo grau...enfim, toda a facilidade pra quem quer ou não estudar....já ia esquecendo, professor que reprovar aluno é quase linchado pela direção e supervisão, tornando tudo um belo carnaval...então já digo assim: SÓ NÃO ESTUDA QUEM NÃO QUER!!!!
 Na minha época de adolescente, em primeiro lugar,todo mundo só entrava fardado na escola pública, sem exceções. Depois, não havia kits escolares doados pelo prefeito ou pelo governador...tínhamos que comprar, fosse pobre ou não. Os livros do "ginásio" também eram comprados, ou então nos submetíamos a copiar tudo pelo livro do colega mais abastado. Trabalhos de casa feitos em folha de papel "amasso"(uma folha dupla pautada) também tinha que ser comprado, e até,pasmem, palitos de picolé para educação artística. Paralelo a isso, a farda da educação física, com calçado incluído. Só estudavam ricos?? NÃO! a maioria eram pessoas humildes, filhos de agricultores e outras profissões menos remuneradas...era ditadura militar e tudo mais, mas estudamos, aprendemos e nos formamos na escola pública....Hoje, tem que ir matricular menino em casa, tornar-se refém deles (os alunos) e no final das contas, aprender que é bom NADA!! Culpa repartida, escola flexível, pais desinteressados ...não vejo saída a curto prazo, me perdoem as utópicas que adoram estatísticas.
                   Israel Vianney

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

FILANTROPIA



        O Hospital Dr. Cleodon Carlos de Andrade- HCCA  conta em sua estrutura, com o GRUPO DE TRABALHO EM  HUMANIZAÇÃO- G.T.H, um dispositivo  idealizado pela Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde, que compreende uma série de iniciativas voltadas às práticas  humanizadoras  para usuários e cuidadores , concretizando ações  e consolidando vínculos interventores  na melhoria dos processos de trabalho e na qualidade da produção de saúde para todos.
          Durante o mês de Outubro/2013, as ações do G.T.H estão voltadas  às atividades alusivas ao SERVIDOR PÚBLICO, para o qual estamos elaborando uma programação especial, envolvendo palestras, momento de beleza e outras comemorações. Destaque para o BAZAR DO H.C.C.A,  que será feito com as doações dos nossos servidores, cuja renda servirá para auxiliar nas despesas da nossa Confraternização natalina.O  sucesso do nosso Bazar dependerá exclusivamente das doações;  está previsto para o dia 01/11/2013. Para tanto, contamos com a doação de: Roupas, calçados, bijuterias, acessórios, perfumarias, utilidades para o lar e outras variedades.
CONTAMOS COM VOCÊ !

EQUIPE DO G.T.H/HCCA