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terça-feira, 31 de julho de 2012

O RICO MANUEL MACHADO E A SUA VIÚVA

Por Rostand Medeiros

Dizem que no início do século XX, o comerciante Manuel Machado, nascido em Portugal era o homem mais rico de Natal. Consta que sua prosperidade econômica vinha principalmente do seu comércio.
Pela propaganda que vemos mais adiante, dá para ver que ele trabalhava com importação e exportação de uma grande gama de produtos, muitos de primeira necessidade, e ainda tinha uma participação em negócios marítimos.

Logicamente que apenas esta propaganda não explica o poder econômico deste comerciante. Aparentemente são os investimentos em terras, onde ele tinha muita visão na hora das aquisições, que fez aumentar seus rendimentos. Era casado com a natalense Amélia Duarte Machado, que lhe proporcionou uma longa união, mas que não deixou filhos.
Manuel Machado faleceu na metade da década de 1930 e começa uma interessante história envolvendo a sua mulher, que passa a ser conhecida apenas como a Viúva Machado.
Ela se torna muito rica, que vive de uma polpuda renda deixada pelo espólio do marido. Mas que ao invés de abrir seu suntuoso palacete (construído em 1910) para a provinciana sociedade natalense, localizado próximo a Igreja do Rosário, ela se fecha em sua residência. Consta que ela recebia poucas visitas, saia muito pouco de casa (até porque tinha uma igreja na porta) e ainda sofria de uma estranha doença, onde se afirma que suas orelhas eram muito grandes.
Palacete da Viúva Machado.

Daí as pessoas de Natal associavam este estranho fato ao de não ter filhos, dela ser viúva e diziam que isto tudo seria um “castigo divino”. Outros comentavam que a Viúva Machado teria realizado um “pacto com o cão” para ficar rica e agora pagava pelos seus erros com esta doença.
Em meio à ignorância reinante, as pessoas tolas e invejosas perceberam que a Viúva Machado, talvez para compensar a ausência de filhos naturais, adorava conviver com crianças dos poucos amigos e dos seus parentes.  Não demorou muito e se espalhou na cidade ela comia o fígado (ou o “fígo”) de crianças. Consta que Amélia teria sido até mesmo agredida verbalmente e sido alvo de chacota publicamente.
Muitas mães de Natal, ao longo de muitos anos, aproveitaram a deixa para espalhar o terror entre seus rebentos, dizendo que se eles não se aquietassem, “a Viúva Machado vinha comer seu fígado, para evitar que suas orelhas crescessem”. A coitada da viúva passou a ser conhecida como “papafigo” e isso só aumentou seu isolamento. Amélia Duarte Machado faleceu no início da década de 1960.
Provavelmente ela sofria de uma rara doença denominada Síndrome de Treacher Collins. Esta nada mais é que um distúrbio genético que gera defeitos no crânio e nas características faciais do seu portador. Descrita em 1900 pelo cirurgião inglês Edward Treacher Collins, esta doença afeta o tamanho e o formato das orelhas, pálpebras, maças do rosto, maxilar inferior e superior. A Síndrome de Treacher Collins pode ser grave em alguns casos e a maioria dos que são afetados não possuem problemas mentais.
Pessoalmente acredito que além de sua rara doença, Amélia Duarte Machado padeceu de duas enfermidades típicas existentes entre a sociedade de Natal; a inveja e a eterna mania de dar conta da vida alheia.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A CAIPORA

Caipora é uma entidade da mitologia tupi-guarani. A palavra “caipora” vem do tupi caapora e quer dizer "habitante do mato".[1]
No folclore brasileiro, é representada como um pequeno índio de pele escura, ágil, nu, que fuma um cachimbo e gosta de cachaça.
Caipora
Habitante das florestas, reina sobre todos os animais e destrói os caçadores que não cumprem o acordo de caça feito com ele. Seu corpo é todo coberto por pelos. Ele vive montado numa espécie de porco-do-mato e carrega uma vara. Aparentado do Curupira, protege os animais da floresta. Os índios acreditavam que o Caipora temesse a claridade, por isso protegiam-se dele andando com tições acesos durante a noite.
No imaginário popular em diferentes regiões do País, a figura do Caipora está intimamente associada à vida da floresta. Ele é o guardião da vida animal. Apronta toda sorte de ciladas para o caçador, sobretudo aquele que abate animais além de suas necessidades. Afugenta as presas, espanca os cães farejadores, e desorienta o caçador simulando os ruídos dos animais da mata. Assobia, estala os galhos e assim dá falsas pistas fazendo com que ele se perca no meio do mato. Mas, de acordo com a crença popular. é sobretudo nas sextas-feiras, nos domingos e dias santos, quando não se deve sair para a caça, que a sua atividade se intensifica. Mas há um meio de driblá-lo. O Caipora aprecia o fumo. Assim, reza o costume que, antes de sair numa noite de quinta-feira para caçar no mato, deve-se deixar fumo de corda no tronco de uma árvore e dizer: "Toma, Caipora, deixa eu ir embora". A boa sorte de um caçador é atribuída também aos presentes que ele oferece. Assim, por sua vez, os homens encontram um meio de conseguir seduzir esse ente fantástico. Mas fracasso na empreitada é atribuído aos ardis da entidade. No sertão do Nordeste, também é comum dizer que alguém está com o Caipora quando atravessa uma fase de empreendimentos mal sucedidos, e de infelicidade.
Há muitas maneiras de descrever a figura que amedronta os homens e que, parece, coloca freios em seus apetites descontrolados pelos animais. Pode ser um pequeno caboclo, com um olho no meio da testa, cocho e que atravessa a mata montado num porco selvagem; um índio de baixa estatura, ágil; um homem peludo, com vasta cabeleira.
Segundo o folclorista Luís da Câmara Cascudo, "ser caipora é o mesmo que ter azar, ter sorte madrasta, ser perseguido pelo destino (...). Nas lendas tupis, o caapora é representado ora como uma figura de um pé só, à maneira do saci, ora com os pés virados para trás, simbolizando por isso, como diz João Ribeiro, 'a pessoa que chega tarde e nada alcança'".[1]

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Quem nunca come mel, quando come se lambuza

  
     Nos últimos dias, um vereador recém empossado anda tumultuando as repartições escolares do município. Travestido de salvador da pátria, esse senhor tem protagonizado episódios hilários, que beiram o ridículo. Os gestores das repartições visitadas já estão se articulando para inibir esses abusos. É bom.

O VITRINE VEM AÍ !

  Estamos nos aproximando  de mais um vitrine cultural "Xanana Diógenes", e por esse motivo, peço aos fazedores de cultura para se apressarem em efetuar as inscrições, e às escolas públicas municipais para enviarem o quanto antes os orçamentos para a realização dos espetáculos. O sucesso depende do envolvimento de vocês.
                                Vianney

terça-feira, 24 de julho de 2012

VERNÁCULO-ARTE E CULTURA POPULAR


No final de semana que passou, tive  o prazer de acompanhar a equipe do professor  Everardo Ramos, do departamento de artes da UFRN e do museu Câmara cascudo. Estão desenvolvendo o projeto Vernáculo que visa valorizar e difundir a arte popular e a produção artesanal do Rn. Entre  os achados da equipe, simpatizei pela figura de D. Raimunda  nonata vieira do St Comum, municipio de São miguel. Uma senhora com mais de 60 anos e que fabrica potes, alguidás e panelas de barro para a venda, num mundo onde o fogão a gás impera. Criou sete filhos com o produto do seu trabalho e hoje,às vesperas da aposentadoria< pensa em largar a atividade. Continuidade? Jamais. Quem, no mundo atual, cheio de bolsas "qualquer  coisa" vai trabalhar com barro ou agricultura? Concordo  D. Raimunda!
                      Vianney

quinta-feira, 19 de julho de 2012

A HISTÓRIA DO TÍTULO DO MATUTÃO DE 1971 CONQUISTADO PELO CLUBE CENTENÁRIO PAUFERRENSE.




Título do Matutão

Pra quem não sabe o sentido
Do nosso estádio altaneiro
Ter o nome singlar,
Sendo “9 de Janeiro”
É fazendo uma alusão
Ao título do “Matutão”
Por nosso time guerreiro.

Era nosso grande Clube
Centenário Pauferrense,
O famoso CCP
Que a nossa história pertence,
Deixando estabelecido
Quando se está unido
Qualquer batalha se vence.

Matutão foi um certame,
Um famoso campeonato,
Disputado pelos campos
Nas cidades e no mato
Reunindo as principais
Seleções municipais
Sem bla-bla-bla nem boato.

O Centenário ficou,
Acuado qual tatu,
Num grupo ruim feito leite
De pele de cururu,
Porém não ficou no quase
Deixou na primeira fase
Almino Afonso e Patu.

Contra Patu, dois empates:
Um a um e dois a dois,
Porém contra Almino Afonso,
Nós vencemos sem complôs:
Um a zero e dois a um
Sem querer fazer jejum
Do que viria depois.

Na fase de mata-mata
Confesso de forma franca
Que ainda teve gente
Que pensou em botar banca
E o CCP, sem ser fraco,
Pôs dois a zero no saco
Do time de Areia Branca.

Depois sem muito trabalho,
Nós goleamos sem dó
O timão mais badalado
Das terras do Seridó
E para ser mais sincero
Sapecamos cinco a zero
No lombo de Caicó.

Aí chegou a final
Com grande expectativa.
De Pau dos Ferros saiu
A equipe competitiva
Para o jogão esperado
Almejando o resultado
De maneira positiva.

O time de Macaíba
Era o nosso adversário,
O Juvenal Lamartine
Em Natal foi cenário
Sem mídia nem entrevista
Da grandiosa conquista
Que tentava o Centenário.

Dia 9 de Janeiro
Do ano de 71
Aconteceu o jogão,
Findou-se nosso jejum,
Pois foi com muita emoção,
O CCP campeão
Dando alegria incomum.

Foi 71 o ano
Que aconteceu a final,
Mas ela foi referente
Ao torneio triunfal
Que aconteceu em 70,
Porque quem jogou sustenta
De forma sacramental.

Salvino foi o goleiro
E na zaga, pra impedir
Os ataques foi Manel
Do Dnoc’s e Aldemir,
E pra fechar a janela
Butiginha com Varela
Jogavam sem se exibir.
  
Toinho de Sula era
Nosso lateral direito
De Assis era o esquerdo
Dando um balanço perfeito,
Pois ambos não se cansavam,
Defendiam e apoiavam
Correndo de todo jeito.

Chiquinho, ponteira esquerda
Na técnica perfeita
Dava show junto a Derval
Que era o ponteira direita
E pelo meio, sem perda,
Bobô era meia esquerda
Deixando a orquestra feita.

De todos os jogadores
Cada qual foi importante,
Mas os ponteiras e o meia
Tinham papel relevante
Pois detinham a função
De só meterem bolão
A Edílson o centro-avante.

Os reservas começando
Pelo nome do goleiro,
Nós tínhamos pelo banco
O arqueiro José Monteiro
E Chico de Umarizal
Nunca que levava a mal
Ser reserva o tempo inteiro.

Dedé Bobó, Geraldinho,
Chico da Bomba e Bambão,
Também ficavam no banco
Junto a Cosmo, porém não
Viam a necessidade
De cheios de vaidade
Fazerem reclamação.

Jácio, vindo de Natal,
Do time foi treinador
Armando como um xadrez
Cada peça com primor,
Adquirindo o respeito
Tratando do mesmo jeito
Jogador por jogador.
  
Sobre a história do jogo,
Primeiro o bicho pegou,
Pois chutaram uma bola,
Nosso Salvino espalmou,
Mas chutaram novamente
E Manel, infelizmente,
Com a mão tirou o gol.

O pênalti foi marcado
Pelo juiz num impulso,
Porém Manoel do Dnoc’s
Mesmo com seu ato avulso
Não foi nem penalizado,
Porque isso, no passado,
Não fazia ser expulso.

O cabra só era expulso
Se fosse um grande alvoroço,
Numa falta violenta,
Na quebrada de um pescoço,
Numa voadora rara,
Num tabefe numa cara,
Numa torada de osso.

Mas voltando para o pênalti,
O cabra fez logo o gol,
Bateu fazendo um a zero,
Porém mal comemorou,
Mal se contentou por dentro,
Pois quando bateu o centro
O Centenário empatou.

O empate também foi num
Pênalti sem discutir
Que foi sofrido e batido
Pelo zagueiro Aldemir,
Mas o gol mais desejado,
O momento mais louvado
Estava logo por vir.

Porque com jogo empatado,
A partida pegou fogo
E eu confesso sem mentir,
Sem querer ser demagogo,
Que sem precisar rodeio
Chiquinho, sem aperreio,
Num instante virou o jogo.

Com a partida em dois a um,
Já perto de seu final,
O Centenário ficou
De maneira imperial
Tocando a bola e pensando
Naquele momento quando
Vinha o apito triunfal.

Quando o juiz apitou
Foi enorme a emoção,
Em Natal mesmo ficaram
Para comemoração,
Pois Paulo Diógenes fez
Um banquete de uma vez
Para o time campeão.

Mas antes de ir à festa
Feita pelo deputado
O time inteirinho foi
Andando, mesmo cansado,
Para uma igreja sem pressa
Pra pagar uma promessa
Pelo êxito alcançado.

No outro dia saíram
Num ônibus equipado
Em busca de Pau dos Ferros
Sem saber que o povo honrado
Esperava, na verdade,
Já na entrada da cidade
Na fazenda boi comprado.

Quando os campões chegaram
Foi um alvoroço incerto...
Desfilaram na cidade
Em festa num carro aberto
E quem diz sem temer sorte
Que aquela foi, do esporte,
A maior a festa, está certo.

Lá no centro da cidade
Tinha um palanque montado
Repleto de autoridades
E o time homenageado
Pela banda marcial
Ali naquele local
Por populares lotado.

Realmente foi um marco
Que ficou na nossa história
Não foi apenas um título
Não apenas uma glória
Foi lição de amor perfeito
Àquele escudo do peito
Dando mais brilho à vitória.

Trecho do livro "Pau dos Ferros à sombra da oiticica".

Por Manoel Cavalcante

quarta-feira, 18 de julho de 2012

TROFÉU ÓLEO DE PEROBA



  Política e religião são assuntos que geralmente causam polêmica quando abordados. Todo mundo tem um ponto de vista, e cada um se acha dono da razão.
  Hoje borrifarei um pouco de methiolate na ferida, falando das espécies exóticas que são os candidatos a vereador. Quão numerosos são eles....Grande parte sequer sabe justificar a sua candidatura. Quer deixá-los em pânico?? Pergunte pelas propostas para o mandato.
  Engraçado é como muitos deles nos abordam para pedir o voto. Um exemplo recente: Ei, tá sabendo que sou "CANIDATO"? Quero contar com seu voto, você sabe que eu sempre lhe dei o maior valor.
Seria hilário se não fosse trágico. A grande maioria não tem a mínima folha de serviços prestados, parece  que tem uma visão de outro mundo e no outro dia se lança candidato. Ouvi um desses personagens dizer: Passei 18 anos em sala de aula, nâo é possível que meus ex-alunos não me elejam. Ué, e por acaso você ensinou de graça? Tive vontade de perguntar. 
  O que mais de 50% dessas pessoas tem, é muita CORAGEM  e uma tremenda "Cara de pau". Troféu Óleo de peroba para boa parte deles. E vão estudar, "magote" de espertinhos.
                                     Vianney

terça-feira, 17 de julho de 2012

LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE



Autor – Clerisvaldo B. Chagas
Fonte – http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br/
Alagoas, no geral, sempre foi um estado quase arredio para assunto de cangaço e para cantador repentista. Talvez, pelo gosto mais reservado para esses temas, não tenha havido repercussão por aqui do livro embargado pela Justiça “Lampião, o Mata Sete”, do juiz Pedro de Morais. Grandes repentistas e famosos livros sobre Lampião também não causam impacto nenhum no “Paraíso das Águas”, assim como já antevejo o nosso “Lampião em Alagoas”, cujo esforço está concentrado para o lançamento ainda este mês.
Embargado pela Justiça, através da família Ferreira, “Lampião, o Mata Sete”, conseguiu escapar com alguns exemplares, lidos por abnegados pesquisadores do tema cangaço. Alguns ficaram horrorizados com as baboseiras e delírios do autor (um verdadeiro Zé Limeira cantador do absurdo). Confesso que não li o citado livro que, mesmo clandestino, não circulou por essas bandas. Reagindo aos sonhos eróticos do juiz, surgiu na praça um veemente protesto comandado pelo livro antagônico “Lampião contra o Mata Sete”, do delegado de polícia, estreante na Literatura e como novo escritor do cangaço, colunista, “blogueiro” e pesquisador Archimedes Marques, no estado sergipano.
Quando o escritor atinge certa idade, reduz quase a zero a sua leitura livresca em troca das escritas frenéticas como a querer reconquistar o tempo. Pela minha parte, abri exceção para o início da frase acima, ao receber o calhamaço de 552 páginas do homem da lei Archimedes Marques. Há muito, não passando de , uma leitura de 50 páginas, mergulhei no “Lampião contra o Mata Sete” como nos velhos tempos da adolescência, lendo-o em dois dias. Sobre qualquer tipo de assunto, desde a crônica ao romance, tenho atração pelo fraseado simples, acessível, porém, mágico, burilado e criativo que faz a diferença entre o ótimo escrito da pessoa comum e o jogo atrativo de palavras e frases literárias. É assim que Archimedes consegue levar o leitor até o fim do livro como se fosse a sua linguagem a de um veterano escritor de qualquer coisa. Portanto, esse seu estilo, é um dos atrativos das páginas contra o “Mata Sete”.
Archimedes Marques
Lendo o livro de Marques, não preciso mais espiar a safadeza de “Lampião, o Mata Sete”, pois as constantes citações sobre ele − apresentadas e contestadas por Archimedes − provocam náuseas desde os escritores sérios às raparigas mais fuleiras dos becos do Nordeste. O livro “Lampião contra o Mata Sete”, de Archimedes Marques, é um terremoto máximo nas pretensões do juiz aposentado Pedro de Morais.  
II
O ilustre delegado (profissão motivo de orgulho de Archimedes) nem precisava de citações para defender a sua tese, todavia, ele preferiu reforçar defesa e ataque incorporando uma tropa de elite, colocando-a, ora na linha de frente ora na retaguarda dos combates contra o Mata Sete. Estão ali os mais destacados escritores do cangaço apostos à frieza do comando. Além disso, é grande a contribuição do pano de fundo com as diversas passagens apresentadas por Marques, carimbadas pelos pesquisadores de peso do cangaço.
Dois sábios alemães deram o caráter científico autônomo da Geografia no século XIX. Alexandre de Humboldt (naturalista) e Karl Ritter (historiador e filósofo). O primeiro viajou em pesquisa pela Europa, América do Norte, Ásia Setentrional e publicou o livro “Cosmos”. O segundo, pouco viajou. Dedicado ao Magistério e baseado em leituras entregou ao público o livro “Ciência Comparada da Terra”. Isso quer dizer que o pesquisador tanto pode fazer pesquisas de campo, quanto usar as fontes diversas e honestas sem sair de casa. Aliás, fora outros atributos, para pesquisas in loco é preciso ganhar bem, ou dispor de boa fonte financeira e coragem para enfrentar cobras, mosquitos, sol abrasador, água ruim, péssimas estradas e não ter ojeriza à pobreza.
O juiz escritor, Morais, pode ter feito como o historiador Karl Ritter, pesquisando nos melhores livros sobre o cangaço ao alcance do seu poder aquisitivo. O seu estilo é bom, escreve bem, mas infelizmente sua inteligência o guiou para uma inovação literária que transforma água limpa, potável, cristalina, em marrons, turvas, negras lamas de barreiro.
O autor no dia do lançamento do seu livro, tendo a sua direita o nosso amigo Francisco Pereira, a maior referência em venda de livros sobre o cangaço no Brasil. A esquerda de Archimedes está o pesquisador e autor João de Sousa Lima e Antônio Lira.
Não sei, não quero a crítica literária, não tenho vocação para o mister. Mas, como leitor atento às citações de Archimedes, fiz algumas comparações particulares, isto é, fora do foco do seu livro para melhor entendimento sobre o cangaço. Nada que compromete o desenrolar dos fatos e que os abordaremos na sequência.
Detesto o “puxa-saquismo” para os lados de Lampião ou da Polícia, quando usado por “monstros sagrados” ou iniciantes sobre o tema cangaço com Lampião como personagem central. Isso não encontrei nos textos escritos por Archimedes Marques. O autor fala com toda clareza em vários trechos sobre a monstruosidade do bandido, porém, da mesma maneira não nega as suas qualidades. Sua atração pelo assunto, não o conduz à paixão explícita por Lampião como mais de um “grande” tentam passar ao leitor menos exigente. Talvez seja esse equilíbrio levado pelo novo escritor que vai conquistando o seu fã clube. Para melhor situar a obra do homem de Sergipe, passamos a informação: (MARQUES, Arquimedes. Lampião contra o Mata Sete. 1 ed. Aracaju, Info Graphics, 2012).
III
Acho que o primeiro livro sobre o cangaço que eu li foi do autor Nertan Macedo: “O capitão Virgulino Ferreira da Silva – Lampião”, da Editora Leitura, 1962, no início da minha adolescência. Linguagem vigorosa, porém, muito poética e que impressiona os jovens no alvorecer das grandes leituras. Daí para cá, ou antes, disso, inúmeros pesquisadores esmiunçaram a existência de Virgolino e, ultimamente escrevendo até a vida de vários de seus muitos mais de duzentos seguidores. Em Alagoas ainda resta um ex-cangaceiro vivo, motivo de uma conversa que tive com um dos seus genros para escrever os feitos do sogro. Não aposto que pode acontecer, pois não me empenho para isso. Quando o livro de Archimedes fala sobre o autor de “Lampião na Bahia”, Oleone Coelho Fontes (1998), como coiteiro de Pedro de Morais, pela sua apresentação tendenciosa no livro “Lampião, o Mata Sete”, é sem dúvida motivo de tristeza. Dizem que é um ótimo livro, o escrito por Oleone, mas sair da condição de festejado para coiteiro de Morais, pelo amor de Deus!
Coronel José Lucena Albuquerque Maranhão – Fonte -
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br
Quanto às páginas referentes e contra o coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão, não batem com o que sabemos. Informações amplas sobre o assunto, inclusive a morte de José Ferreira, logo estarão disponível brevemente em “Lampião em Alagoas”. Mesmo assim, na próxima crônica narraremos a nossa opinião sobre Lucena, baseada na tradição oral em Alagoas e nas linhas de outros escritores do cangaço.
Diante de tantas e tantas obras publicadas sobre Virgolino, vimos afirmações sobre ele, muitas, exageradas: Era parteiro, poeta, artesão, almocreve, agricultor, vaqueiro, pecuarista, dançarino, devoto, entres outras qualidades. Expressando minha humilde opinião sobre o que tenho lido do montante de títulos a seu respeito, no Sertão nordestino, o fazendeiro, vaqueiro, pequeno proprietário nasce naquele meio fazendo quase tudo. Lampião apenas fazia o que todos faziam, sem os exageros dos que dizem que ele era o melhor isso, o melhor aquilo, numa adoração sem fim.  Quantas besteiras! Compositor razoável, poeta sofrível, almocreve comum, bom dançarino como muitos outros sertanejos, vaqueiro, artesão, pequeno agropecuarista com o pai, dentro da normalidade. Agora, quando se fala da sua capacidade militar, aí sim. O homem nasceu mesmo para guerrear. Era na verdade muito superior em estratégia a todos os comandantes de volantes que enfrentaram a luta. Não confundir com valentia, pois valentes e covardes nunca faltaram nas tropas do governo e nem nos bandos cangaceiros.  Lampião nunca foi coronel dos coronéis e nem todos temiam suas investidas. Lampião nunca passou de falso capitão, mas foi o gênio militar das caatingas nordestinas em torno de vinte anos. Não há contestação. Ele nunca foi herói por ter participado de guerras do Brasil com outros países, herói nacional. Entretanto, o mestre Aurélio diz: “Herói: homem extraordinário por seus feitos guerreiros; pessoa que por qualquer motivo é o centro de atrações”. É o mestre quem diz em seu “Novo Dicionário AURÉLIO” e não eu. Está aí: o monstro, estuprador, assassino, torturador, ladrão, assaltante, bandido, herói do conceito acima pelo seu extraordinário quengo militar e convergência das atenções. VE E VE A D O , doutor Pedro de Morais, com certeza o “Diabo dos Sertões” nunca foi e nem teve vontade. A coisa tá feia doutor.
IV
Muitas coisas foram ditas sobre José Lucena de Albuquerque Maranhão em nosso livro “O boi, a bota e a batina: história completa de Santana do Ipanema” que ficou para o ano para novas inclusões e por ter cinco outros livros na fila, antes dele. Lucena também está amplamente no livro “Lampião em Alagoas” que, pelos preparativos de lançamento, não vai dar para o dia vinte e oito deste mês, como prevíamos, ficando talvez para agosto. Uma crônica só é pouco para nossas observações sobre o Capítulo 8 do livro “Lampião contra o Mata Sete”, mas tentaremos pelo menos com reduzidas palavras afirmar posições. Desde 1918 que o sargento Lucena lutava na Zona da Mata Alagoana e no Alto Sertão, época em que a Família Ferreira veio morar em Alagoas. Lutou contra bandos de cangaceiros, inclusive o dos Porcino que foram chefe de Lampião. Aliás, Lampião não foi somente chefiado por Sinhô. Ele teve três chefes, pela ordem: Matilde, os Porcino e depois Sinhô Pereira. No caso da morte de José, está claro em “Lampião em Alagoas”. Lucena estava em busca do criminoso Luís Fragoso, cercou sua casa, sem resistência, morrendo aí, por infelicidade, José Ferreira, durante a invasão, pelo instinto de cão do soldado Caiçara, o assassino. Lucena esbravejou contra Caiçara, mas como comandante da pequena força, assumiu o ato do soldado. Quanto à morte do oficial de que fala o Capítulo 8, de “Lampião contra o Mata Sete”, também está escrito de forma inédita detalhadamente, em “Lampião em Alagoas”. O oficial tentara assassiná-lo na noite de escuro, anterior. Chamado para esclarecimento o tenente Porfírio desafiou o comandante e não quis atender o seu pedido por duas vezes, o que Lucena para não ficar desmoralizado mandou que dois soldados que foram chamar o oficial o trouxessem vivo ou morto. Porfírio preferiu ir morto. (Aguarde “Lampião em Alagoas”).
Em relação à morte do coronel José Rodrigues de Lima, Lucena havia sido emboscado no município de Água Branca quando morreu o capitão Eutíquio Rafhael de Medeiros. Essa emboscada foi atribuída a Zé Rodrigues. Naquele tempo − o companheiro Archimedes sabe que era assim − ou um ou outro. Lucena até demorou com a vingança. (Detalhes no mesmo livro acima).
Em 1936, com a criação do 2º Batalhão de Polícia de Alagoas e sua instalação em Santana do Ipanema, Lucena torna-se o seu primeiro comandante. O batalhão passa a ser a sede de todas as forças volantes distribuídas estrategicamente no semiárido. São frases do conhecido comandante João Bezerra “Como dei cabo de Lampião” (…) “S.S. sempre possuía dados importantes. Trabalhador valoroso, não se descuidava de um só instante de pesquisar por todos os meios ao seu alcance dos paradeiros dos grupos assassinos”.
(…) esse valente militar dava ordens à distância e nunca perdia o contato com os seus comandados, auxiliando-os constantemente por todos os meios, ora com avisos, informações escritas, por portadores e telegramas quando possível, ora fiscalizando as marchas através das caatingas, animando, estimulando e orientando os comandados que surpreendia em toda parte com a sua agradável presença de chefe destemeroso.
Ainda Bezerra (1983, p. 177): O coronel Lucena nunca vacilou para dar ordens enérgicas sempre que o interesse da campanha o exigisse. A confiança que tinha em si mesmo, a sua fé e a sua coragem aliadas à expectativa feliz de êxito nas diligências, se irradiavam sobre os seus comandados, estimulando-os a imitá-lo na esperança da vitória.
Foi Theodoreto quem sugeriu a criação do 2º Batalhão de Polícia com sede em Santana do Ipanema. O comando seria entregue ao major José Lucena de Albuquerque Maranhão, oficial reconhecidamente destemido e experimentado nas lutas cangaceiras. Sobre ele fala o santanense sargento Oscar Silva, seu comandado, depois escritor de conceito, em “Fruta de Palma”:
(…) sob o comando de um homem de cultura limitada, mas de inteligência rara e férreo espírito de disciplina: o major José Lucena de Albuquerque Maranhão (…).
(…) senso de intransigente cumpridor da Lei e da Ordem. Era um amigo incondicional dos comandados, ao mesmo tempo, um intransigente adversário de qualquer deles, conforme a adaptação ou não dos subordinados à sua maneira de comando.
V
Respondendo ainda ao Capítulo 8 do livro “Lampião contra o Mata Sete”. Zé Lucena criou fama perseguindo bandidos, desde 1918, em Alagoas. Com a revolução de 30 continuou fiel ao governador e acabou preso acusado de desviar dinheiro da Caixa Beneficente da Guarda Civil. Muito sereno, provou sua inocência, foi solto e passou a ser homem de confiança do governador. Assumiu o comando do 2º Batalhão de Polícia com sede em Santana do Ipanema, criado para ser o centro de operações contra cangaceiros. Foi ele quem escolheu seus homens a dedo. Recebeu carta branca contra cangaceiros, ladrões de cavalos, arruaceiros e malfazejos em geral que atormentavam a sociedade. Em Santana incorporou-se ao social fazendo dupla com o padre Bulhões, os dois homens mais prestigiados de todo o interior. Brincava carnaval com os comerciantes locais e participava ativamente de todos os movimentos em prol do progresso de Santana. Foi prefeito dessa cidade, deputado e prefeito de Maceió. Tem razão o juiz Pedro de Morais quando diz em citação de Archimedes na página 186: “(…) Lucena foi um militar probo, valente, e seus feitos de glória honraram a briosa Força Pública das Alagoas, pela retidão de seu caráter, no mister de valoroso guerreiro, cumpridor de seus afazeres. (…). O resto da citação é loucura. Zé Lucena foi um dos mais valentes comandantes do Nordeste à caça de cangaceiros. Deu o prazo de 15 dias para a entrega da cabeça de Virgolino pelas volantes alagoanas e, o prazo foi cumprido.  Quem fala que Lucena era covarde porque matou inúmeros bandidos em cova aberta ou não, ainda não apresentou um nome sequer de algum comandante de polícia ou volante candidato a santo. Estamos aguardando. Esperem mais detalhes do seu caráter logo, logo em “Lampião em Alagoas”.
Lucena hoje é nome da avenida principal da cidade de Santana do Ipanema e do 7º Batalhão de Polícia sediado nessa cidade de cinquenta mil habitantes, “Capital do Sertão” de Alagoas. Zé Lucena sempre reconheceu as estratégias militares de Lampião, pois brigara com ele desde o tempo em que Virgolino era capanga dos Porcino (Antônio, Manuel e Pedro). Por outro lado, Lampião tinha um cuidado especial com Lucena, pois já provara da sua coragem e ferocidade nos combates. Desafiar Lucena não era tarefa para qualquer um, tanto que após a instalação do Batalhão em Santana, Virgolino nunca mais ali passou por perto. Querer tirar os méritos do morto Lucena, é querer fazer o que o juiz Pedro de Morais quer fazer com Lampião.
 VI
É sempre difícil falar nossas opiniões sobre o pensamento dos grandes sobre qualquer assunto. Oscar Niemeyer, por exemplo, foi autor de prédios famosos, alguns feios, outros sem ventilação. Mas quem ousa criticar o mestre, como vi em certa revista? Mas também já vi críticas sobre teses absurdas de um grande do cangaço, no próprio espaço virtual dedicado ao tema. Bem, quem escreve é formador de opiniões, cabe aos leitores, como nós aceitar ou não. Com as melhores das intenções, com seu trabalho exaustivo, sério e de fôlego, Arquimedes deixa ao leitor alguns ganchos que não comprometem sua obra. O assunto é vasto e nem sempre o autor dispõe de outras fontes para confronto. Pag. 129: Água Branca, Alagoas, não pertence à região do Pajeú. Págs. 150, 151 e 152: Excelente sobre Frederico Bezerra Maciel. Pag. 228: O peitica também é uma ave do interior (Empidonomus varius) parecido com o Bem-te-vi. Seu canto é considerado de mau augúrio. Págs. 252, 253: Faltando entre os quatro mais importantes combates, o primeiro de Poço Branco, quando Virgolino se firmou para o cangaço. Houve um segundo combate de Poço Branco, logo após o assalto a Água Branca (ver depois detalhes: “Lampião em Alagoas”). Pag. 277: Ótimo, dignidade do tenente alagoano José Joaquim Grande, ao resguardar Volta Seca, mas, Pag. 351, sobre o mesmo tenente, o contrário? O tenente era homem de toda a confiança do comando. Pag. 430: Se os seguidores de Bezerra naquela noite de 27 de julho de 1938, não fossem destemidos, não teriam passado a noite enfrentando o frio terrível e o escuro para enfrentarem o bandido Lampião. Sobre as imundícies praticadas por Panta e outros, é outra coisa: abomináveis. Pag. 445: Nunca vi uma fotografia de Lídia para afirmar que ela era mesmo a mais bonita, pois, pelas fotos vistas, somente “bonita” era o apelido de Maria de Lampião. Aliás, beleza é questão particular de cada um. Pag. 453: O grande e excelente Costa incorporou tanto o tema cangaço, dá inúmeros títulos a Lampião e chega ao absurdo de chamá-lo Herói Nacional, (talvez um Caxias, um Tiradentes, um Plácido de Castro…) essa, com toda vênia, não engulo nem com manteiga. Pag. 455: Foram chefes de Virgolino: Matilde, os Porcino e só depois Sinhô, quando veio o apelido Lampião. Pag. 463: Tentando diminuir o mérito de José Rufino em cercar um paralítico. Quem já viu cobra cascavel paralítica sem veneno? Pag. 484: Lampião, Justiça de Deus: Um absurdo maior do que o paralítico. Essa opinião nem com manteiga e iogurte.
Tenente José Joaquim Grande
Não sou vaqueiro do cangaço, não sou associado ao movimento, não sou escritor e pesquisador do cangaço, propriamente dito, sou apenas um leitor exigente e como leitor, não me pode ser negado o direito de opinar, certo ou errado. Sobre a parte relativa à Maria Bonita, preferi apenas ler as palavras do Dr. Pedro de Morais, nas citações de Archimedes, bem como os veementes protestos de defesa.
Sobre ridículos, pequenos, médios e grandes escritores do cangaço: Muitos querem colocar Lampião no céu; poucos enfiá-lo no inferno; e pouquíssimos enquadrá-lo no purgatório.
Encerro aqui os meus trabalhos de uma série de seis crônicas sobre a obra de Marques, agradecendo a paciência dos leitores e a confiança do autor. Desejo todo o sucesso do mundo ao pesquisador, delegado, advogado e novo escritor desse tema complexo e de borracha que se chama cangaço. Almejamos, meu amigo Archimedes Marques, outros livros seus na praça, tão bons e gostosos de leitura quanto “Lampião contra o Mata Sete”. Parabéns.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

DE VOLTA AO BATENTE

 Voltei queridinhos! Após um breve período de hibernação necessária, aqui estamos nós. Pelo menos tive tempo de exorcizar os fantasmas juninos....Agora arregaçaremos as mangas para mergulhar de cabeça no VITRINE  CULTURAL XANANA DIÓGENES. Quero reforçar o convite aos verdadeiros artistas, que estamos de portas abertas para recebê-los nos dias 3,4 e 5 de setembro e que ainda temos espaço para inscrições. Quando falo de "verdadeiros artistas", estou excluindo toda uma parcela de gentalha, travestidos de astistas, que se envolvem nos eventos culturais com o intuito de semear a discórdia e trazer uma tonelada de energia negativa. Sal grosso pra vocês!!!  Volta pro mar oferenda!!
                                   Vianney