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quarta-feira, 25 de abril de 2012

“FAÇA AMIGOS, NÃO BULLYING”

A Secretaria Municipal da Juventude, Habitação e Assistência Social do Município de Pau dos Ferros através do Centro de Referencia Especializado de Assistência Social - CREAS iniciou esta semana um projeto educacional intitulado “FAÇA AMIGOS, NÃO BULLYING” realizando rodas de conversas em toda a rede educacional de ensino, com o intuito de esclarecer e orientar a direção, professores e alunos.
O CREAS iniciou suas atividades a partir desse mês de abril na Escola Estadual “4 de Setembro” e será desenvolvido nas demais instituições escolares.


terça-feira, 24 de abril de 2012

PERFIL



UMA CRIANÇA  CURIOSA, UMA ADOLESCENTE AUDACIOSA, UMA JOVEM DESTEMIDA...
UMA MULHER CORAJOSA.

Socorro da 36 ou Socorro Pontes, foi a menina Maria do Socorro. Uma menina que aos 13 anos de idade, atravessava o rio Apodi nas suas cheias nadando, para levar alimento até às famílias pobres do Antigo Alto da Foice, hoje Bairro São Geraldo... Que por muitas vezes foi  “guia de cegos(as)”, pelo prazer de servir ao próximo... Que ainda adolescente foi professora voluntária de muitas crianças, só pelo prazer de querer vê-las  lendo e escrevendo... Que aos 18 anos de idade começou a ser mãe biológica, mas o destino lhe reservara uma maternidade sem limite para o coração: A que fizera receber o título de mãe da pobreza pauferrense.
No início dos anos 80, concluindo o Magistério, já havia havia sido Diretora de uma Escola Municipal, durante 11 anos. A partir do ano de 1985, já ocupava o Cargo de Coordenadora de Creche no município, onde ampliou e fortaleceu a sua formatura natural de servir, através da Assistência Social.
Acostumada  a trabalhar batendo de porta em porta, identificando as necessidades das pessoas, a conhecida Socorro da 36, já era a amiga/mãe dos bairros São Geraldo,
Bairro Manoel Deodato e Beira Rio(Antiga Favela dos Sem-Teto), Bairro São Benedito e Bairro Arizona. A partir daí, Socorro da 36 acostumada a reunir várias mães e famílias até debaixo de árvores, para dedicar-lhes o seu ofício, conseguiu com muito sacrifício, fundar um grupo de mães. Desse grupo de mães, surgiu outras necessidades que não a deixou parar, e em 1987 no local que reunia as pessoas debaixo de uma Árvore, foi fundada a Associação Beneficente Joana Mirim. A sua alma gêmea. Sua irmã que a permite cuidar de tantas crianças, jovens , idosos e de centenas de famílias que abrem portas e janelas para sua entrada, durante 25 ANOS.
 Esse é o maior bem conquistado e criado pela efetiva educadora e cuidadora, que não precisou ser letrada. Apenas sabe o que é o ser humano, o que é trabalhar com amor. O restante da história, toda Pau dos Ferros já conhece.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

ROMANCEIRO POTIGUAR, de DEÍFILO GURGEL – UM LIVRO IMPORTANTE Entre outras pérolas, livro póstumo de Deífilo Gurgel reúne mais de 300 romances cantados e declamados por vários mestres, como Dona Militana.

Entre outras pérolas, livro póstumo de Deífilo Gurgel reúne mais de 300 romances cantados e declamados por vários mestres, como Dona Militana.
Entre outras pérolas, livro póstumo de Deífilo Gurgel reúne mais de 300 romances cantados e declamados por vários mestres, como Dona Militana. Foto Alex Régis – Tuna do Norte
A Coleção Cultura Potiguar, que reúne os mais diversos temas da literatura norte-rio-grandense, da Secretaria Extraordinária de Cultura do RN e Fundação José Augusto (Secultrn/FJA) terá mais uma obra entre seus títulos. Dessa vez, uma das mais ilustres: O Romanceiro Potiguar, que será lançado na próxima quarta-feira (18), no Palácio Potengi – Pinacoteca do Estado, a partir das 19h. O livro será adquirido ao preço de R$ 40. O Romanceiro Potiguar é uma obra inédita do folclorista e pesquisador Deífilo Gurgel – falecido em fevereiro deste ano – fruto de uma pesquisa realizada entre as décadas de 1980 e 1990 e que reúne um dos mais ricos apanhados da oralidade dos romanceiros, tanto de origem Ibérica quanto brasileira. O livro conta com ilustrações do presidente do Conselho Estadual de Cultura, Iaperi Araújo.
De acordo com Alexandre Gurgel, que em algumas viagens ao longo dos dez anos de pesquisa acompanhou o pai, Deífilo Gurgel conversou com muitas pessoas para a elaboração d´O Romanceiro Potiguar, como por exemplo, seu Atanásio, detentor deste saber popular e pai de outra conhecida romanceira, Dona Militana, que também figura na pesquisa, dentre muitos outros. Com esse feito, andando de norte a sul pelo Estado, Deífilo Gurgel conseguiu compilar romances que fazem parte do cancioneiro popular, desde as origens Ibéricas (da Espanha e Portugal), passando pelos romances Religiosos, do Cangaço, da Caatinga e da Pecuária. “Ele viajou o Estado inteiro e conseguiu reunir uma obra que preserva pelo menos cinco origens de Romances. E o mais importante desse trabalho é que ele conseguiu colher versões inéditas de alguns romances”, informa o filho.
Para a secretária Extraordinária de Cultura, Isaura Rosado, O Romanceiro Potiguar dignifica o plano editorial do Governo do Estado conduzido pela Secultrn/FJA. “Deífilo pesquisou em sítios, vilas, povoados, nos espaços mais distantes do RN, seu trabalho é reconhecido para além do solo potiguar. Pensando em cultura de tradição, a assessoria de Deífilo sempre foi imprescindível. Digo isso para atestar minha admiração enquanto gestora, ao pesquisador, amigo, estudioso da cultura popular. Digo isso para expressar o quanto nos orgulhamos de Deífilo e o quanto as gerações que nos sucederem serão gratas a ele pelo registro e proteção às nossas raízes”, disse ela em apresentação da obra.
O poeta e membro da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, Paulo de Tarso Correia de Melo, é quem faz a abertura do Romanceiro Potiguar, a convite do próprio Deífilo Gurgel e em determinado trecho, revela o apuro e dedicação deste que, certamente, foi um dos maiores estudiosos da cultura popular no RN e no Brasil: “O milagre é o mesmo de seus outros livros de pesquisa folclórica. A documentação precisa e conscienciosa de sempre. O relacionamento exato de fontes, lugares e datas da situação de pesquisa. Desta vez quero realçar o registro de saborosíssimos epílogos prosificados e por vezes prosificações completas de romances registrados acuradamente”.
O trabalho e pesquisa de Deífilo Gurgel foi realizado de maneira solitária, já que não conseguiu bolsistas ou outros interessados na pequisa. E assim, aos 70 anos, Deífilo Gurgel de dispôs a “cansativas”, porém “gratificantes” viagens pelo Rio Grande do Norte “à cata das últimas pepitas desse fabuloso tesouro, representadas pelas quase trezentas versões de romances, que coletamos nas mais diversas regiões do nosso Estado, dos romanceiros peninsular e brasileiro”, escreve o próprio pesquisador em seu livro, agora póstumo.
Deífilo Gurgel e a romanceira Dona Militana
Deífilo Gurgel e a romanceira Dona Militana
O livro é constituído das seguintes divisões: Romances Ibéricos e Romances Brasileiros, que se subdividem-se da seguinte forma: Romances Palacianos, acontecidos entre a nobreza europeia; Romances Religiosos ou Sacros, que falam da vida de Jesus e de episódios ocorridos na vida de santos do catolicismo; Romances Plebeus, da gente do povo; Romances da Pecuária, que contam a vida de bois legendários: Boi Espácio, Boi Misterioso, Boi Surubim; Romances do Cangaço, relatos da vida e da morte de valentões sertanejos, desde épocas remotas: “Zé do Vale”, “O Cabeleira” e vários outros; Romances Burlescos, encenados outrora em teatrinhos mambembes e circos de cavalinhos. Ao todo são 330 versões de romances ibéricos e brasileiros.
Assessoria de Imprensa Secult-RN/FJA

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Covinhas – Uma História de Fé

Nelson Rodrigues disse uma vez em entrevista: “O homem só não anda de quadro porque morre.”. Justamente por essa consciência, única, foi criada um dos grandes objetos da subjetividade humana, a fé. Esse é o tema do curta metragem potiguar “Covinhas”, dirigido por Catarina Doolan e Julio Castro.
O documentário trata da fé em duas meninas que morreram de fome e sede na seca de 1877, na pequena cidade de Rodolfo Fernandes, no interior do Rio Grande do Norte. As “Meninas das Covinhas”, como ficaram conhecidas, têm como responsável pela disseminação da fé o senhor Bento Honório, 82 anos, personagem central do filme. É o que conta uma lenda que se renova a cada geração. A fé popular retratada em uma história que envolve mistérios, curas e fenômenos inexplicáveis.

Fonte: http://revistacatorze.com.br

SAUDADES!

  

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VOCÊ SABIA????


_Há pouquíssimos  vestígios dos indígenas em nossa região, inclusive em Portalegre, que abrigou as últimas tribos da redondeza. Penso que há um certo DESINTERESSE  dos arqueólogos por se tratar de povos "inferiores".Para não dizer que nunca vi nada, uma certa vez o sr Salomão Cabral(pesquisador autodidata), me mostrou um pedaço de cerâmica, supostamente indígena, encontrado por ele na década de 1960. Com certeza o subsolo tem muito a nos dizer...
  _Em se tratando de pré-história os indícios são vastos. Um dos locais mais bonitos que visitei foi uma caverna em serrinha dos campos, Municipio de Francisco dantas. Lá se encontra um belíssimo mural feito pelos nossos longíquos ancestrais. O local é de difícil acesso, mas o esforço vale a pena. É  uma experiência indescritível deparar-se com uma obra de arte feita há milhões de anos....
  Se algum leitor tiver alguma foto ou objeto relacionado ao tema , entre em contato conosco.
           VIANNEY

A PROPÓSITO

 Minha chefe(de tribo mesmo) é um" DOCINHO".

quinta-feira, 19 de abril de 2012

OS ÌNDIOS NO RN


      Em três séculos toda essa Gente desapareceu. Nenhum centro resistiu, na paz às tentações d'aguardente, às moléstias contagiosas, às brutalidades rapinantes do conquistador. Reduzidos foram sumindo misteriosamente, como que sentindo que a hora passara e eles eram estrangeiros na própria terra". (Cascudo, 1955)
     O RN no início de sua colonização era habitado por numerosas tribos indígenas. De acordo com informações dos historiadores tradicionais, como Estevão Pinto, Câmara Cascudo e Tarcísio Medeiros, parte desses índios pertencia ao grupo Tupi-Guarani, falando a língua geral, e os demais que falavam idiomas diferentes eram considerados de "Língua travada" ou Tapuias.
    Centralizando em nossa região tivemos os "Icós pequenos" que fixaram-se nas regiões de Luiz Gomes, José da Penha, marcelino Vieira, pilões e Alexandria. "Caborés e Icozinhos", errantes e turbulentos ocasionaram muitos problemas com os fazendeiros nos séculos XVII E XVII. Aldeados com os Pain na zona de Mossoró e Apodi em 1688, mais tarde apareceram em Portalegre. Em Pau dos ferros, Encanto, Dr Severiano, São Miguel e  Rafael Fernandes habitaram os Panatis.
     No difícil convívio do índio com o branco, no contexto social da colonização, a posição do primeiro foi sempre de completa submissão e no decorrer de três séculos, o indígena do Rio Grande do Norte desapareceu não resistindo a uma série de fatores a que estava sujeito com a colonização branca.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

PORNOCHANCHADA


Pornochanchada é um gênero do cinema brasileiro, comum na década de 1970. Surgiu em São Paulo, e contou com uma produção bem numerosa e comercial. A mais conhecida produção era a da chamada boca do lixo, região de prostituição existente na zona central da cidade de São Paulo.
Dessa fonte despontaram vários diretores de talento (Cláudio Cunha; Alfredo Sternheim; Ody Fraga; Jean Garrett, Neville d'Almeida, Fauzi Mansur, entre outros) que souberam usar o que dava bilheteria na época (filmes eróticos softcore) para fazer filmes de grande valor estético e formal. Chamado assim por trazer alguns elementos dos filmes do gênero conhecido como chanchada e pela dose alta de erotismo que, em uma época de censura no Brasil, fazia com que fosse comparado ao gênero pornô, embora não houvesse, de fato, cenas de sexo explícito nos filmes.
A censura, que não era política mas de costumes, exigia que os filmes cumprissem diversas exigências, sem as quais os mesmos seriam sumariamente proibidos (muitos foram liberados totalmente retalhados pelos cortes, o que os tornava incompreensíveis). Dentre essas exigências, havia várias como mostrar um seio de cada vez, etc. Com o tempo, essa e outras exigências foram amenizadas com a liberação dos costumes e a abertura política iniciada em 1977, até que com o fim da censura em 1984, o gênero foi substituído pelos filmes pornográficos exibidos em salas especiais.
A pornochanchada revelou algumas atrizes que depois ficaram famosas na TV e passaram, de certa forma, a esconder de seus currículos a participação nos filmes do gênero.

Surgimento e auge

Surgiram como filmes feitos para a grande massa, muito influenciada pelas comédias populares italianas. A cota de exibição obrigatória de filmes brasileiros, uma das muitas medidas de desenvolvimento econômico e cultural criadas pela chamada Ditadura Militar, dava espaço para o desenvolvimento desse gênero - a lei obrigava as salas de exibição a exibir uma cota de filmes nacionais por ano.
O sucesso de público também foi essencial para o gênero pois possibilitou que os filmes ficassem por mais semanas em cartaz. Ao contrário do que comumente se pensa, eles não eram financiados pela Embrafilme mas sim por produtores independentes, comerciantes locais, ou quem mais se interessasse, porque eram de fato muito lucrativos.
A pornochanchada atraiu milhões de espectadores ao cinema na década de 1970, fazendo com que atores e atrizes alcançassem o estrelato. Alguns atores e atrizes conseguiram migrar para a televisão e para os filmes mais comerciais, mas outros permaneceram apenas no cinema até o fim desse período.
Dentre os atores que conseguiram mudar de estilo, destacam-se Sônia Braga, Nádia Lippi, Nuno Leal Maia, Antonio Fagundes, Reginaldo Faria, Helena Ramos, Lucélia Santos, e Vera Fischer, sendo que esta chegou a ter problemas em sua cidade natal quando começou a participar de pornochanchadas.
Dentre os filmes realizados destacam-se
Mulher Objeto e A Árvore dos Sexos, de Silvio de Abreu
Giselle
Bem Dotado, o Homem de Itu
Histórias que Nossas Babás não Contavam
Como É Boa Nossa Empregada
As Cangaceiras Eróticas
As Intimidades de Analu e Fernanda
O Convite ao Prazer
E adaptações de Nélson Rodrigues, como A Dama do Lotação, Os Sete Gatinhos e Bonitinha, mas Ordinária, entre outros.

Decadência

A pornochanchada iniciou sua decadência nos anos 80, com o fim da obrigatoriedade das cotas de exibição de fitas nacionais, o surgimento do videocassete e a exibição de filmes de sexo explícito nos cinemas.
Com o fim delas acabou também a fama e o estrelato de alguns atores e atrizes que não conseguiram mudar de estilo ou ir para a TV. Alguns conseguiram pequenos trabalhos na televisão e no teatro, como Matilde Mastrangi, David Cardoso, Nicole Puzzi, Adele Fátima e Aldine Muller, enquanto outros simplesmente desapareceram, Zaira Bueno, Noelle Pinne, Carlo Mossy, Rossana Ghessa, Zilda Mayo e Francisco Di Franco.

Consequências

A maior consequência do gênero foi marcar o cinema brasileiro como sinônimo de um cinema repleto de nudez e de palavrões. Durante os anos 90 foi comum as emissoras de TV exibirem filmes nacionais em horários avançados, dando a entender que seriam como sessões eróticas. Destacam-se aqui os programas "Sala Especial", na TV Record, no começo dos anos 80, "Cine Brasil", na CNT, entre 1997 e 1998, e "Made in Brasil" na Rede Bandeirantes, nos anos 90 até 2006.


PROJETO AFRO-BRASILEIRO: MEU MUNICÍPIO TEM COR - SELO UNICEF 2012


 Pau dos Ferros realizou no dia 13/04/2012 na Escola Municipal Prof. Severino Bezerra o Projeto "Afro-brasileiro: Meu Município tem cor", buscando conquistar o Selo UNICEF 2012. 

Confira as fotos do evento AQUI

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O cineasta J. Gomes estará em Pau dos Ferros neste sábado para lançar o Filme "Inácio Garapa, um matuto sonhador" II. A projeção acontecerá a partir das 19h30min entrada a R$10,00 na Casa de Cultura Joaquim Correia com o apoio da Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desportos e a Prefeitura de Pau dos Ferros.

terça-feira, 3 de abril de 2012

A Semana Santa de antigamente

Especial: Páscoa
Quando chegava a Semana Santa numa cidadezinha ao Nordeste há alguns anos, tudo era diferente dos costumes de hoje em dia. A vida normal do povo dava lugar a um sentimento cristão,com tudo se voltando para Cristo.
Logo a partir de Domingo de Ramos, sem que houvesse decreto ou lei alguma, as pessoas passavam a respeitar aquele período: a irradiadora da pracinha não tocava músicas profanas, os comerciantes pesavam com mais critérios as mercadorias, deixando de roubar no peso, o cinema fechava as portas.
Na madrugada de sexta-feira para sábado, havia a queimação do Judas, boneco feito com roupas velhas para ser queimado ao final. Mas, antes, havia o testamento do traidor onde constava bens destinados a políticos, familiares e correligionários numa crítica à sua atuação administrativa. No sábado, às oito horas, era celebrada a missa da Aleluia. Algumas crianças, lá fora, recitavam animadas: “Aleluia, Aleluia, carne no prato e farinha na cuia”.
Antigamente, não se comia carne durante toda a Semana Santa. A abstinência era total e rígida e as fazendas da região tratavam de providenciar o abastecimento de peixes para a população, graças aos açudes que nelas havia. Traíras, carás e curimatãs eram os peixes mais procurados. Os doces, também eram evitados nesse período de penitência. Não se podia comer doce e nem chupar cana, pois seria falta de respeito, já que Nosso Senhor tinha bebido fel.
Casas do Nordeste
Algumas crendices populares tinham amplo uso nesta época. Coisas simples e sem nenhum sentido ofensivo eram consideradas pecaminosas, passando a serem proibidas. Olhar-se ao espelho, usar batom e mesmo perfume, por serem sinais de vaidade; tomar banho, pelo perigo das tentações à vista do corpo, namorar, cantar, dançar e até assobiar seriam sinais de uma alegria incompatível com um momento tão triste; manter relações sexuais durante a Semana Santa seria pecado mortal, principalmente na Sexta-Feira da Paixão. O homem que assim procedesse, ainda que legalmente casado, ficaria impotente para o resto da vida e a mulher ficaria incapcitada para gerar filhos. O rebento, coitado, nasceria com o “cão no couro”, sendo infeliz por toda a vida. Embriagar-se nesses dias, seria condenar-se a nunca recuperar o juízo.
Pesquisa em livros do escritor Mário Souto Maior.
Fonte: Lumen – Edição 42 – Abril de 2003.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

CASAL DE EX-CANGACEIROS DE LAMPIÃO CONTA COMO ERA A VIDA NO CANGAÇO


AUTOR – Nonato Freitas – Jornalista, bacharel em Letras pela Universidade de Fortaleza (UniFor), poeta, pesquisador e servidor aposentado pelo Senado Federal
FONTE – Revista SENATUS – Maio 2008, Senado Federal, Brasília – DF
Depois de 66 anos no mais absoluto anonimato, sem contar nada a ninguém sobre a vida deles no cangaço, Moreno e Durvalina, a Durvinha, único casal de cangaceiros do bando de Lampião (Virgulino Ferreira da Silva) e Maria Bonita ainda vivo, resolveram relatar os longos e dramáticos momentos que juntos passaram na caatinga sob a perseguição implacável da polícia. No dia da morte do Rei do Cangaço, na Gruta de Angico, na beira do rio São Francisco, em Sergipe, pela volante (força policial) do tenente João Bezerra, Moreno e Durvalina estavam em Mata Grande, distante 70 quilômetros do local. Homem de confiança de Virgulino, ele cumpria uma missão no comando de um subgrupo de cangaceiros.
Moreno lembra que, além de Lampião e Maria Bonita, mais nove cangaceiros foram mortos e degolados naquele dia (28 de
julho de 1938). Ao todo, entre homens e mulheres, eram cerca de 47 pessoas. Os que escaparam do cerco se entregaram em seguida à polícia. Corisco, o Diabo Louro, sanguinário e igualmente homem de total confiança de Lampião, no momento do massacre encontrava-se do outro lado do rio, a três quilômetros de Angico.
Tinha sob seu comando um subgrupo. Moreno recorda que Corisco chegou a ouvir os tiros, mas nada pôde fazer em defesa dos companheiros por estar à margem oposta do rio, sem condição de atravessá-lo.
Hoje, aos 98 anos, Moreno vive com Durvalina, de 93, em Belo Horizonte. Ambos estão aí vivinhos, lúcidos e cheios de
histórias para contar. Histórias repletas de dramas vividos num tempo em que, no Nordeste, a lei era ditada pela boca do
mosquetão e pelas afiadas lâminas de punhais que chegavam a medir 87 centímetros.
Com a morte de Lampião, o medo se espalhou como um fantasma entre os cangaceiros que não haviam sido capturados.
Eles temiam ser degolados a qualquer momento. Assim mesmo continuavam a desafiar as incansáveis volantes que eram comandadas por homens experientes e destemidos.
Dois anos após a morte de Lampião, o tenente Zé Rufino, da polícia alagoana, temível caçador de cangaceiros, decepou a cabeça de Corisco, que preferiu morrer lutando a se entregar às forças do governo. Naquele tempo, a ordem era uma só: ou o cangaceiro se entregava, ou então era morto e degolado em seguida. Diante dessa crua realidade, Moreno tomou uma decisão. Homem corajoso que sempre foi, chamou a companheira de um lado e confessou que não se entregaria aos macacos, termo usado por Lampião e seus cabras para desqualificar os soldados das volantes.
SOZINHOS NA CAATINGA
Depois daquela manhã em que Lampião tombou morto ao lado de sua amada Maria e de mais nove companheiros, o cangaço, na verdade, ficaria riscado, definitivamente, do mapa do Nordeste.
Corisco ainda resistiu durante dois anos ao lado de Dadá, sua brava e fiel companheira. Mas sem Lampião, sem Maria Bonita, e tantos outros, como Corisco, Luiz Pedro, Virgínio, Zé Baiano, Juriti, Ezequiel (Ponto Fino, irmão de Lampião), Sabonete, Menino de Ouro e Jararaca, todos eles homens rudes e de extrema valentia, sem essas legendas do cangaço, que ficaram para trás, mortos em combate com as volantes, o mundo do crime nada mais representava para Moreno e sua Durvalina.
O que fazer então com a vida? Abrir mão da liberdade e se entregar à polícia? Ou seria melhor pôr o pé na estrada e fugir?
Fugir para onde, se apenas conheciam as veredas áridas e abrasadoras das caatingas? E se na próxima curva dos caminhos
desérticos fossem surpreendidos por uma volante? Ah, isso tudo ia moendo, pouco a pouco, o juízo de Moreno.
Era o ano de 1940. Lá fora Hitler mostrava suas garras para o mundo. A Segunda Grande Guerra, com as famigeradas câmaras
de gás, começava a ceifar milhares de vidas inocentes. No cinema, a grande sensação era E o vento levou, rodado um ano atrás em Hollywood. No Brasil, para variar, surgia um movimento simpático ao III Reich, ou seja, algumas figuras importantes da nossa política trabalhavam, às escondidas, em prol das idéias nazistas lideradas por Hitler. Felizmente o raciocínio não vingou e, dois anos depois,no dia 23 de agosto de 1942, Getúlio Vargas decide declarar guerra ao eixo formado por Alemanha, Itália e Japão. Mas para Moreno, perdido naquele mundinho de nada, sem tomar conhecimento de qualquer fato exterior, nada disso tinha a menor importância.
Em pleno sertão nordestino, acuado agora pela solidão de haver perdido tantos amigos, Moreno optou então pela fuga. Mas,
como um homem rude, sem nenhuma instrução escolar, que mal conhecia os limites da região onde nasceu e da qual nunca se
ausentou, conseguiu romper a vigilância dos homens da lei e fugir, ao lado de sua amada, para um lugar tão distante como Minas Gerais? Pois Moreno e Durvalina, caro leitor, conseguiram romper esse cerco.
Antes de contar esta fascinante história de fuga, vamos conhecer um pouco a trajetória desses dois intrépidos cangaceiros.
Natural de Tacaratu, PE, Moreno, cujo nome completo é Antonio Ignácio da Silva, nasceu no dia lº de novembro de 1909. São seus pais: Manuel Ignácio da Silva e Maria Joaquina de Jesus. Ele entrou para o cangaço ali pelo ano de 1930, quando era apenas um jovem de 21 anos. Antes de abraçar a vida do cangaço, Moreno era um pacato trabalhador que ganhava seu honesto dinheirinho prestando serviços nas fazendas da região. Numa destas fazendas, de propriedade de um senhor chamado André, Moreno, ou melhor, Antonio (como era chamado antes de ingressar no cangaço), praticou o primeiro homicídio, das 21 mortes que cometeu durante sua longa vida de cangaceiro. O fato é narrado em todos os seus detalhes por João de Sousa Lima, diretor de publicação e arquivo público do Instituto Histórico e Geográfico de Paulo Afonso, na Bahia, no livro intitulado Moreno e Durvinha – Sangue, amor e fuga no cangaço, lançado em 2006.
Uma sobrinha do dono da fazenda enamora-se de Antonio. Para azedar a amizade entre ambos, uma agregada da propriedade, conhecida por Antoninha, conta para Antonio que a moça não é mais virgem. Acrescenta que ela havia “se perdido” em troca de uma novilha de gado. Esta mesma conversa é levada ao conhecimento de André pela própria Antoninha, mas de forma envenenada. Diz que o boato fora espalhado por Antonio, que é abordado pelo patrão. Injuriado, ele nega tudo, argumentando que soube do fato pela boca de Antoninha. Ao entardecer, André reúne no pátio da fazenda, além de sua sobrinha, todas as pessoas que convivem ali com ele. Lá estão também Antonio, um irmão de André, de nome Ananias, Antoninha e seu marido. Ao notar a aproximação de Antonio, Antoninha se antecipa, dizendo:
- Oh, seu Zé, que história é essa que o senhor foi contar
para o André?
- Aquela que você me contou.
- Mentira sua, disse ela nervosa.
Antonio respondeu que não era homem de mentira e aplicou um violento murro na orelha de Antoninha, que caiu zonza no
chão. Diante da cena, o marido dela partiu furioso sobre Antonio, que sacou de uma faca peixeira e, ato contínuo, cravou a arma no peito do homem, que caiu se esvaindo em sangue sobre a mulher e, em seguida, morreu.
Antes de fugir, Antonio, a faca assassina em punho, ainda mirou as pessoas ali presentes com o olhar transtornado de quem
estava pronto para o que desse e viesse. “Quem se considerar meu amigo não se aproxime!”. Como ninguém fez um único gesto para detê-lo, pegou o caminho do mato e sumiu no meio do mundo. Esta foi a porta aberta para Antonio entrar no desafiante e incrível mundo do cangaço. Depois de trabalhar numa usina de açúcar e em algumas fazendas da região, Antonio se depara, numa dessas propriedades, com um bando de cangaceiros. Eram eles: Virgínio, Luiz Pedro, Maçarico, Fortaleza e Salviano, vulgo Medalha.
Deixaram com ele um recado para o Sr. Antonim, dono da fazenda, avisando que em determinado prazo voltariam para pegar uma encomenda. Eram duzentos mil réis. Quando voltaram, trouxeram com eles um coiteiro, devidamente amarrado, que os havia denunciado à polícia. Traição no cangaço era sinônimo de morte. Os cangaceiros se arrancharam na fazenda durante uns três dias e fizeram amizade com Antonio, que se mostrou interessado em segui-los. Antes de partirem, submeteram-no a um teste de fogo. Entregaram-lhe uma “Mauser” (carabina automática, de fabricação alemã) e pediram que fizesse o serviço.
Frio como uma pedra de gelo, Antonio segurou a arma com firmeza e mirou calmamente o peito do miserável. Em seguida,
acionou o gatilho. O pobre homem caiu morto no meio do acampamento. Naquele instante, Luiz Pedro, famoso pela valentia e
por ser um dos homens de confiança de Lampião, deu dois passos em direção a Antonio e afirmou, convicto: “Você vai com a gente. E de agora em diante seu novo nome será Moreno”. Estava, assim, selado o batismo do ingresso de Antonio Ignácio da Silva no cangaço. Por ser um homem extremamente arisco e muito valente e, acima de tudo, pelo faro que tinha das coisas, cedo se destacou entre os companheiros como uma pessoa altamente preparada para o cangaço. Mais tarde vamos vê-lo substituindo Virgínio, cangaceiro morto em combate, no comando de um subgrupo de Lampião.
Durvalina Gomes de Sá nasceu em Paulo Afonso, BA, no dia 25 de dezembro de 1915. Seu umbigo está enterrado na Fazenda
Arrasta-pé, de propriedade de seus pais, Pedro Gomes de Sá e Santina Gomes de Sá. A fazenda, um oasisinho aconchegante,
ficava a dois passos do Raso da Catarina, região inóspita, talvez a mais inóspita do País. Era lá, no Raso, onde Lampião e seus cabras se refugiavam quando a perseguição das volantes se tornava mais intensa. Amigo da família de Durvalina, Lampião escolheu a fazenda Arrasta-pé como um dos seus coutos preferidos. O local, palco de comemorações familiares, com direito às devidas festinhas, vivia sempre rodeado de cangaceiros.
Numa dessas visitas, o cangaceiro Virgínio, vulgo Moderno, viúvo de Angélica Ferreira da Silva, irmã mais velha de Lampião,
se enfeitiçou por Durvalina, que tinha apenas 15 anos. Ela era muito bonita e vivia triturando o coração dos rapazes que frequentavam a fazenda de seus pais. Virgínio, 27 anos, natural do Rio Grande do Norte (nasceu em 1903), com fama de galanteador, não perdeu tempo. Pegou Durvalina e, para desespero dos pais dela, fugiu com a moça para o cangaço.
Amigo próximo e ex-cunhado de Lampião, Virgínio era chefe de um sub-bando. Perverso, costumava castrar suas vítimas.
Há registro de diversos casos em que ele mesmo castrava ou mandava alguém do bando executar o serviço.
Durvalina nutria por ele um grande amor. Tiveram dois filhos, Lourdes e Pedro, que, criados longe dos pais, vieram a falecer nos primeiros anos de vida. Durvalina ficou ao lado de Virgínio até o dia em que, atingido no joelho por uma bala desferida em combate por um soldado, ele morreu depois de perder muito sangue.
Profundamente abatida, Durvinha é amparada por Moreno, que faz parte do grupo, sendo a segunda pessoa de Virgínio. Ele
pergunta se ela quer voltar para a casa dos pais ou se quer ficar com ele. Ela aceita ficar com Moreno. Então, a partir daquele
momento, Durvalina e Moreno iniciam um romance que se perpetua até os dias de hoje. São 72 anos de união.
Agora, Moreno é o novo chefe do bando. Amigo inseparável de Virgínio, ele chora copiosamente no momento em que vai
enterrar o velho companheiro de incontáveis lutas. Em seu livro, João de Sousa Lima conta que, no dia seguinte à morte de Virgínio, ocorrida em outubro de 1936, nas proximidades da fazenda Rejeitado, sul de Sertânia, Pernambuco, os soldados desenterraram o corpo dele e arrancaram os dentes de ouro que estavam incrustados na boca do morto. E ainda, num ato de extrema selvageria, cortaram a orelha do cangaceiro e a levaram salgada para ser exibida no povoado Morro Redondo.
Com a morte de Virgínio, Moreno assume a chefia do grupo, que começa a se esvaziar. Mas a debandada é passageira. Logo o
bando se fortalece de novo e Moreno segue sua vida no cangaço ao lado de Durvalina. Vez por outra ele retoma o contato com Lampião para juntos discutirem estratégias e novas investidas dos grupos. Nesses encontros, que se dão em coutos ou em plena caatinga, as presenças de Corisco, Luiz Pedro e Zé Sereno, também chefes de subgrupos, são imprescindíveis. Vale lembrar que os subgrupos funcionavam sob a supervisão de Virgulino.
No intenso calor das caatingas, saqueando ou fugindo das volantes, a vida de Moreno e Durvalina era um verdadeiro inferno.
Nos poucos momentos em que não estavam sob a mira dos fuzis inimigos, os dois aproveitam as sombras da noite para fazer
amor. Algumas vezes nem podiam terminar o ato porque eram surpreendidos pelas volantes e tinham que fugir às pressas.

Numa dessas paradas, com o céu incendiado de estrelas, conforme lembra Durvalina, a polícia não apareceu. E ali, no meio da mais profunda solidão da caatinga, os dois se amaram intensamente. E vieram outras noites calmas e abençoadas por Cupido.
Outras manhãs, outras tardes, outras madrugadas. E haja amor entre os dois cangaceiros. Corria o ano de 1937. Durvalina passou a mão sobre a barriga e descobriu que estava grávida. No dia 03 de janeiro de 1938, ela deu à luz um menino, nos carrascais da fazenda Riachão, em Tacaratu. Quem serviu de parteiro foi o próprio Moreno.
Com muitas dificuldades para criar o menino na vida de nômades que levavam, Moreno e Durvalina decidiram doar a criança
para o cônego Frederico Oliveira Araújo, de Tacaratu. A criança foi batizada com o nome de Inácio e ficou com o padre até o dia em que este morreu, 14 de janeiro de 1944. Depois, Inácio foi levado à cidade de Paulo Afonso para conhecer a verdadeira família. Hoje, Inacinho, como é mais conhecido, vive no Rio de Janeiro, onde é oficial da Polícia Militar daquele estado.
A FUGA
Agora que o cangaço não tinha mais horizontes, pois todos os seus grandes líderes, como Lampião e Corisco, estavam mortos,
só haviam duas saídas para Moreno: se entregar à polícia ou fugir. O próprio padre Frederico Oliveira fazia apelos insistentes para que o casal fugisse, pois do contrário a presença deles em suas terras, caso fossem descobertos, poderia trazer grandes problemas para o sacerdote. Moreno decidiu atender os pedidos do padre, mas disse para Pedro Tiririca, porta-voz do vigário, que precisava de ajuda para ir embora. O padre lhe mandou roupas, calçados, um burro com mantimentos e 200 mil réis.
No dia 02 de fevereiro de 1940, dia da Festa de Nossa Senhora da Saúde, Padroeira de Tacaratu, os cangaceiros aproveitaram o silêncio da noite e partiram. Tiveram, antes, o cuidado de trocar as tradicionais roupas do cangaço por vestes comuns. Em seguida, Moreno escondeu todas as balas num oco de pau. Depois, emocionado, pegou o velho mosquetão que o acompanhou por tanto tempo e o colocou, cuidadosamente, na fenda de uma rocha. Ali também deixou o chapéu, mas não se esqueceu de arrancar da peça uma moeda de ouro e uma libra esterlina que serviam de adorno. Com o coração partido, Durvalina chorou copiosamente por se ver forçada a afastasse do filho. Moreno, acostumado às brutais estocadas do cangaço, também não resistiu e seus olhos encheram-se de lágrimas. E ainda improvisou os seguintes versos: “Dentro do meu coração/Nasceu um pé de flor/Mas toda folhinha murchou/por causa de meu filho Inacinho/Que em Tacaratu ficou”. Matos têm olhos e paredes têm ouvidos. Era preciso, portanto, muito cuidado nessa nova empreitada. O peito protegido por uma medalha de Nossa Senhora e do Sagrado Coração de Jesus, Durvalina, um longo xale a cobrir-lhe a cabeça e os ombros, era a imagem perfeita de uma pacata senhora em sua monótona mas decidida marcha rumo ao desconhecido. De nomes mudados, os cangaceiros pegaram as margens do rio São Francisco, cuja rota seguia em direção a Minas Gerais. Quando perguntavam para onde iam, a resposta era a sempre a mesma: “Somos romeiros e vamos pagar uma promessa em Bom Jesus da Lapa”.

O autor deste blog junto ao filho de Moreno e Durvinha, Inácio.
Depois de quatro longos e extenuantes meses, alimentando-se de peixes, arroz de leite, arroz solto, feijão, farinha, rapadura,
tudo isso servido por pescadores e ribeirinhos, sem falar nos mantimentos dados pelo padre, chegam finalmente a Bom Jesus
da Lapa, interior da Bahia.
Logo nos arrabaldes da cidade, foram acolhidos na casa de uma senhora chamada Gertrudes. “Durvalina chegou aos extremos
de suas capacidades, dentro do seu limite, enfadada, sentindo dores e o corpo com um pouco de inchaço”, observa João Lima
em seu livro. A cangaceira estava há vários dias com a menstruação atrasada. Mesmo recebendo o carinho e a atenção da dona da casa, que abrigou o casal por uns dias, o estado de saúde de Durvalina se agravava cada vez mais. Chegou um momento em que, enlouquecida, saiu correndo totalmente nua ao encontro de Moreno, que estava descansando, sentado debaixo de uma árvore na frente da casa. Ao perceber a cena, assustado, ele segurou a companheira e a conduziu para dentro da residência. Dias depois, já restabelecida, Durvalina parte em companhia de Moreno na carroceria do primeiro caminhão que encontraram parado na feirinha da cidade. No bolso, os duzentos mil réis que acabara de receber com a venda do burro. Seguiram rumo a Montes Claros, Minas Gerais, mas desceram em Araçuaí, no entroncamento, pois o motorista havia avisado que só ia até aquele local. De lá foram furando de novo a estrada a pé. Doçura de caminhada. O pior já tinham deixado lá para trás. Chegaram em Montes Claros ao alvorecer do outro dia. Compraram umas coisinhas na estação, com o dinheiro apurado na venda do burrinho e, em seguida, tomaram a direção de Bocaiúva. Ali passaram um ano na fazenda Taboa, onde Moreno trabalhava cortando lenha para a velha Maria Fumaça, maquinazinha a vapor que até hoje encanta as pessoas.
Moreno queria abrir novas veredas. Então, arrumou de novo as tralhas e partiu com Durvalina para Augusto de Lima, onde
trabalharam na fazenda Curumataí, no povoado de Santa Bárbara, de propriedade do Sr. Torval Sampaio, durante dez anos. Dez anos de trabalhos abençoados. Moreno começou a crescer. Além de cultivar muita mandioca, ele extraía lenha e vendia o produto para a Estrada de Ferro Central do Brasil. Chegou a ser o maior fornecedor de farinha da região do Norte de Minas. Seus negócios prosperam bastante. Depois, abriu uma casa noturna, que permaneceria em seu poder até o ano de 2000, quando resolveu “se aposentar”, aos 91 anos.
Hoje, ele vive em Belo Horizonte ao lado da mulher e dos cinco filhos (além dos netos e bisnetos), todos nascidos em Minas.
São eles: Murilo, João, Nely, Dadá e Dinho. Inacinho, o primeiro filho deixado para o padre Frederico criar, virou oficial de
polícia e vive no Rio de Janeiro. Aliás, o casal soube orientar bem os filhos. João, além de poliglota (escreve e fala fluentemente vários idiomas sem nunca ter ido a uma escola especializada), é maître de um grande hotel em Belo Horizonte. Nely é funcionária pública, Murilo foi motorista e aposentou-se como instrutor da empresa de ônibus Gontijo, e Dinho é comerciante. O casal passou 66 anos, desde o dia em que deixou o cangaço, no mais absoluto segredo, sem contar um dedo de sua emocionante história a ninguém. A ninguém mesmo. Nem os filhos sabiam de nada. Em 2005, adoentado, Moreno pensou que ia morrer e resolveu contar tudo para os filhos. Antes, conversou com Durvalina sobre o assunto, mas ela não concordou com o marido. Depois de muita insistência ela cedeu. A primeira pessoa a saber dos fatos foi Murilo, filho mais velho do casal. Depois, os ex-cangaceiros reuniram o restante da família e contaram, olho no olho de cada filho, a longa e dramática vida que levaram no cangaço.
A emoção tomou conta de toda a família e, como não podia ser diferente, as lágrimas inundaram os olhos de todos. Nely começa a travar uma alucinada busca na esperança de localizar o irmão Inacinho. Faz desesperadas tentativas. Liga pra quase todo mundo em Tacaratu, cidade onde ele foi deixado pelos pais com o padre Frederico Araújo. Depois de angustiantes telefonemas conseguiu falar com a Casa de Cultura e, por intermédio de dona Joana, fica sabendo que Inacinho vivia no Rio de Janeiro e só aparecia em Tacaratu durante os festejos da Padroeira. Quando Nely falou com o irmão pelo telefone e contou a história dos pais, Inacinho pensou tratar-se de mais um dos muitos trotes que recebera na ânsia de localizá-los. Então, para convencer o irmão, Nely pôs Durvalina do outro lado da linha.
Finalmente convencido de que Durvalina era sua mãe, ele desabou a chorar.
O encontro de Inacinho com os pais e o restante dos irmãos e demais parentes, inclusive os tios, irmãos de Durvalina, se deu no dia 05 de novembro de 2005 na casa de Moreno, em Belo Horizonte. Parecia cena de filme. Aliás, o cineasta cearense Wolney Oliveira vai aproveitar algumas imagens que fez desse encontro para o filme que está rodando sobre o cangaço, intitulado Lampião, Governador do Sertão.
Durvinha faleceu em 2008 e Moreno em 2010

Por Rostand Medeiros