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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Antonio Silvino no Rio Grande do Norte

Raimundo Soares de Brito (*)

 
Antônio Silvino
Grafite (18/08/1993) de Guilherme Augusto - funcionário da Petrobras, baseado em foto do cangaceiro, publicada no livro “Antônio Silvino: O Rifle de Ouro”, de Severino Barbosa (Arquivo SBEC)

No dia em que o calendário assinala mais um aniversário do ataque de Lampião a Mossoró, nunca é demais, recordar-se os lamentáveis acontecimentos, lembrando às gerações do presente, os dias tormentosos do cangaceirismo no passado.

Dizem que o Dr. Raul Fernandes, depois do sucesso alcançado com o lançamento de “A Marcha de Lampião”, partiu para uma outra caminhada no roteiro do cangaço: organizar um outro livro, baseado nas incursões de Antônio Silvino e seu bando, no nosso Estado, e assim o fez com o título de “Antônio Silvino no Rio Grande do Norte”.


Conforme se sabe, três chefes de bando armado, deixaram os seus nomes inscritos no livro do cangaço, e na mente das populações sertanejas, de maneira indelével, nesta região: Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino e o mais famoso de todos – Lampião.


Cada um, porém, com a sua história, contada ou escrita com as
características próprias e diversificadas, na maneira de agir, ditadas pelo estado temperamental de cada um e pelas condições ecológicas do meio ambiente, na época em que viveram e atuaram.sim faço: dessado.

Jesuíno Brilhante, cronologicamente o primeiro, na nossa região, não foi um celerado qualquer, salteador e sangüinário como tantos. Não. Tinha os seus homens, o seu grupo, é certo; muito mais para se defender da polícia e dos seus numerosos inimigos, do que para a prática do assalto criminoso à propriedade alheia. Não roubava. Sensível ao sofrimento dos humildes, dos injustiçados e desprotegidos da própria sorte, se fez deles protetor. Dizem que assaltou comboios do governo em época de seca, distribuindo os gêneros com os flagelados. A sua história se acha contada pelo escritor conterrâneo Raimundo Nonato em “Jesuíno Brilhante – O Cangaceiro Romântico”.


Antônio Silvino – de quem nos ocuparemos demoradamente neste comentário, em alguns aspectos – e sem que pese a prática de alguns assaltos – tinha lá as suas maneiras de agir, muito semelhantes às de Jesuíno Brilhante. De modo geral, também não assaltava. Mandava um recado, ou, pacificamente se apresentava ele próprio ao chefe da localidade ou ao fazendeiro abastado, a quem fazia o seu pedido, dizia das suas necessidades e das suas pretensões. Uma vez atendido, desaparecia, sem a ninguém molestar.


“Antônio Silvino,
pernambucano, usou o rifle dezoito anos. Atravessou o Rio Grande do Norte, pacificamente” – diz o Dr. Raul Fernandes no livro que escreveu sobre Lampião. Este, ao contrário dos dois, foi a expressão máxima do cangaceiro nordestino. Implantou o terror. Foi em síntese, o crime personificado, matando pelo prazer de matar; roubando, pelo prazer de roubar.

No ano de 1901, Antônio Silvino acossado pela polícia paraibana, penetrou no Rio Grande do Norte. Foi exatamente quando se deu o chamado “Fogo da Pedreira”, na fazenda desse nome, pertencente ao
Cel. Janúncio Salustiano da Nóbrega, do município de Caicó. Olavo Medeiros Filho residente em Natal, sabe como tudo aconteceu.

Ainda em 1901, há notícia de que esteve em São João do
Sabugí. Dizem que, com a sua chegada, com exceção da casa do Sr. Manoel Amâncio, todas as outras da pequena povoação, foram fechadas. Na casa de Amâncio, Silvino foi pacífica e amistosamente recebido. Uma coleta de duzentos mil réis feita pelo seu hospedeiro entre as pessoas mais abastadas da terra, foi o suficiente para que o bandoleiro abandonasse a localidade “internando-se ainda mais neste Estado” – dizia o noticiário da época.

No ano de 1912, esteve em Jucurutu e Augusto Severo, atual Campo Grande. Muito embora Mossoró não tivesse no seu roteiro de visitas, os seus habitantes ficaram em polvorosa: “Uma notícia alarmante correu célere pela cidade nos dias agitados de maio de 1912. Teria sido visto no Alto da Conceição um presumível comparsa de Antônio Silvino” – é o que nos conta Lauro da
Escóssia no seu livro de memórias, dizendo mais que “o comércio fechou as portas, o povo se aglomerou, enquanto as autoridades de imediato tomaram as providências cabíveis organizando a defesa da cidade. Mais tarde, tudo estaria esclarecido: Um comerciante da praça reconhecera no suposto ‘perigoso cangaceiro’, um seu freguês, também comerciante em Alexandria, que, quase pagava com a vida as canseiras da viagem” – conclui Lauro.

Vem dessa época, o fato que motivou esse relato.

Na sua visita a Augusto Severo – por sinal bem sucedida – Antônio Silvino deixou um recado para o povo de Caraúbas, dizendo que em breve iria até ali, com o mesmo propósito. O recado foi transmitido pelo Padre Pinto, então vigário de Augusto Severo, ao Bel. Alfredo Celso de Oliveira Fagundes, que ali se encontrava em trânsito.

O Dr. Alfredo, recém-investido no cargo de Juiz Distrital de Caraúbas, cioso dos seus deveres de guardião da lei, não viu com bons olhos a descabida e pretensiosa atitude do bandoleiro e ao chegar a sua terra, onde também já havia chegado o “ultimatum” de Silvino, encontrou o chefe local e demais autoridades
sobressaltados e desalentados ante a perspectiva da indesejável visita.

Foi quando o juiz tomou a arrojada decisão: assumiu a responsabilidade da defesa do lugar e mandou dizer ao bandoleiro que, “podia vir, mas que seria recebido à bala” – aquela mesma resposta que Rodolfo Fernandes daria mais tarde a Lampião.

É claro que Antônio Silvino não gostou da resposta e mandou-lhe o troco com esta terrível ameaça:“Pois diga a esse
dotôzinho, que breve irei lá. Vô rasgá a sua carta de dotô, queimar a sua casa, esquartejá-lo e depois dinpindurá os seus restos nos postes dos lampiões da luz...”.
Imediatamente a população foi mobilizada. Alberto Maranhão no Governo do Estado, cientificado, mandou “um cunhete de balas (1.000 cartuchos)”. As lideranças locais e fazendeiros convocados atenderam ao chamamento do juiz e de repente 40 rifles estavam a sua disposição. Vários dias a então vila de Caraúbas esteve em pé de guerra na expectativa do ataque iminente, mas Antônio Silvino não apareceu para “rasgá a carta do dotô...”.
De tudo ficou o fato e a foto documentando para a História um acontecimento, fruto de uma época de atraso que já se vai encobrindo na curva do tempo...




Grupo de defensores de Caraúbas ao ataque de Antônio Silvino:


Francisco de Souza, Nilo de Góis, Francisco Amâncio, Elizeu Noronha, Francisco Brasilino, João Cisneiros de Góis, Firmino Gurgel, Osório Pinto, Abel Fernandes, Pedro Oliveira, Manoel Rosa, Mariano Soares, João Neiva, Samuel Mário, Nestor Fernandes, Vital Fernandes, Bento Sobrinho, Bertoldo Soares, Josué de Oliveira, Valério de Freitas, João Câmara, Manoel Darico, Elísio Fernandes, Pedro Fernandes, Joaquim Amâncio, Deodoro Gurgel, Lino Ademar, Manoel Teopompo Fernandes, Jacob Gurgel, Luiz de Oliveira, Joaquim Gurgel, Nestor de Oliveira, Dr. Alfredo Celso, Cícero Fernandes, Raimundo Costa, Manoel Arruda, José Dantas e Matias Fernandes.

(*) Raibrito. Membro da SBEC.

Adenda:

O leitor Margones Barros, bisneto do Cel. Luiz Martins de Oliveira Barros, dá conta de um episódio ocorrido na Fazenda Lágea Formosa, no município de São Rafael, no Rio Grande Norte, de propriedade daquele Coronel. Conta ele que Antonio Silvino e alguns “cabras” chegaram à fazenda e “solicitaram ajuda” em dinheiro. O Cel. juntou o solicitado e entregando-o ao cangaceiro, solicitou que não fosse molestada a sua família pois sua esposa estava prestes a dar à luz. Antonio Silvino recebeu o adjutório e partiu dali, dizendo: “Eu não poderia atacar um homem tão bom para os pobres como o Senhor, Coronel.”

Um comentário:

  1. Parabém pelo seu excelente blog.

    José Mendes Pereira - do blog: http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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