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terça-feira, 14 de julho de 2020

BAIRRO MANOEL DEODATO: PRECONCEITOS E ESTIGMAS SOCIAIS À MARGEM DA SOCIEDADE PAU-FERRENSE


Fotografia: Bairro Manoel Deodato na Década de 90 / Fonte: Tércia Maria Batalha
Acerto: Ponto de Memória Pau-Ferrense

O Bairro Manoel Deodato surgiu em meados dos anos 60. Às margens do Rio Apodi, construíram-se a primeiras casas, erguidas em barro e taipas. Para além das margens do rio, o bairro também surgiu margeado de estigmas e preconceitos com as famílias que lá residiam.
As pessoas que lá moram foram discriminadas (e ainda são) e esquecidas à margem da sociedade, onde estão os excluídos: negros, prostitutas, homossexuais e, sobretudo, os pobres.
Na década de 90, em virtude da ausência de saneamento básico e assistência social, os moradores do bairro eram isolados dos serviços públicos: culturais, artísticos, saúde, segurança e educacionais (e quando tinham, recebiam migalhas, o que sobrava da casa grande).
Por falta de incentivo em políticas públicas para a população do MD (como o bairro é popularmente conhecido), muitos jovens e adultos caminharam rumo às drogas e prostituição, já que eram as únicas portas que lhes davam morada. As demais portas eram batidas à cara!
Por algum tempo, morar no MD era sinônimo de “maconheiro”, puta e ladrão (fruto do padrão normativo de nossa sociedade).
Enquanto isso, as oligarquias e os mais abastados moravam nos melhores bairros, no luxo de ruas asfaltadas, com saneamento básico, onde estavam as melhores escolas, assistência social e de saúde, e de fácil acesso aos bens culturais mais sofisticados que a cidade dispunha.
Faço aqui a comparação para destacar que as diferenças sociais e de garantias de direitos foram intensificadores para a exclusão, discriminação e preconceitos com os moradores do MD. Infelizmente, foi preciso que muitos morressem para que os “administradores públicos” pudessem reagir de forma positiva para a diminuição dos problemas enfrentados no Manoel Deodato.
É importante evidenciar que o bairro MD é um grande palco de projeção para inúmeras personagens da cultura popular de Pau dos Ferros: artistas, professores, mães rezadeiras, parteiras, poetas, lideranças comunitárias, microempreendedores etc. que fizeram das dificuldades enfrentadas ofício do cotidiano para lutar por melhores condições de vida.
LUTAR MESMO! Vi e ouvi por diversas vezes os moradores do MD reivindicarem os seus direitos sociais, humanos e políticos em programas de rádio, também à porta da prefeitura (que era, na maioria das vezes, batida à cara). Acredito que em Pau dos Ferros não há gente de mais força, garra, luta e inventiva quanto a do Manoel Deodato.
O desenvolvimento do MD deve muito à luta desse povo, que mesmo sofrido e estigmatizado nunca silenciou diante de suas dificuldades e desafios. Hoje, o MD é um dos maiores bairros de Pau dos Ferros e nos serve de exemplo de luta, progresso e vida.
Transformemos nossas dificuldades em lutas. Dessa forma, não há oligarquia que cale a nossa VOZ. Parabéns ao povo forte, lutador e aguerrido do Manoel Deodato.

Victor Rafael do Nascimento Mendes.