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sábado, 26 de dezembro de 2020

JUSTINO - O ANJO NEGRO DO ESPORTE PAUFERRENSE



Antes de qualquer coisa, é preciso dizer que escrever sobre Justino é um compromisso não só com Pau dos Ferros, é um compromisso comigo mesmo. Ele é patrimônio, acima de tudo, da minha infância, da minha história. 

Justino Basílio Mota nasceu no dia 15 de março de mil novecentos e vocês pensaram que eu iria dizer a idade do velho Basílio nera?! Filho de Dona Bacurau e seu João Lugero, de uma prole de 12 filhos, o grande Justino vem de uma família de negros -  A Família Mota- que foram os precursores, os primeiros habitantes do bairro Dom Bosco. Desde quando era o Alto da Laranjeira, depois Alto do Ipiranga e hoje Dom Bosco. Foram seus ancestrais que ajudaram a construir o bairro e hoje possuem raízes, ramos e frutos espalhados por toda a cidade e região. Trabalhou em várias atividades para sobreviver, como de oleiro nas terras do meu avô, juntamente com seus irmãos, tios e primos, dizia meu avô que Zé Coca (tio de Justino) fora o melhor oleiro que ele já tinha visto na face da terra. Morou em São Paulo na década de 80 por pouco mais de um ano, mas teve no esporte, viu no esporte a sua chama de vida, a coisa que ele teve mais prazer em fazer.  

O MARCO INICIAL

Justino considera o marco inicial em sua história no esporte na data de seu aniversário de 1972. Isso mesmo, em 15 de março de 1972, nosso Justino fundava o Esporte Clube Baraúnas Pauferrense, como jogador e como técnico, feito que está próximo dos 50 anos de existência. No início, nosso Anjo Negro trabalhava mais com jovens e com adultos, no entanto, da década de 90 pra frente ele passou a fazer um trabalho esportivo e formativo mais com crianças e hoje a maioria de seus atletas são crianças e adolescentes.


O nome de seu clube foi em homenagem ao Baraúnas de Mossoró que viera jogar um amistoso em 1972 aqui na cidade de Pau dos Ferros vencendo o CCP (Clube Centenário Pauferrense), então campeão do Matutão, por um tento a zero. Justino se encantou com aquela equipe e decidiu homenagear.

O APELIDO DE ALBERI

Alberi foi um jogador do futebol potiguar, ídolo do ABC de Natal, que ficou conhecido por ter aplicado dois lençóis em Pelé, em uma partida válida pelo campeonato brasileiro de 1972, no antigo estádio Castelão, em Natal-RN. Reza a lenda que, quando Justino morou em SP, um dia desceu para a cidade de Santos e foi chamado para completar o treino do Santos. Neste, Justino teria aplicado dois chapéus no Rei do Futebol, aí começaram a dizer: esse é o novo Alberi. O apelido pegou e quem conhece Juju, desde sempre ouviu alguém lhe chamar de Alberi, apelido que ele se orgulha. Abaixo um retrato de Pelé e o ídolo do ABC, o Alberi de lá das bandas de Natal.



TÍTULOS

Em quase seus 50 anos de esporte, Justino acumula mais de duzentos títulos na carreira, nas modalidades de futsal e futebol de campo. Campeão de vários torneios municipais, campeão de torneios da Liga Pauferrense de Futsal, de campeonatos regionais e muitos outros, em Pau dos Ferros e em toda região.

Em pé: Chico de Bacurau, Valdinei, Devânio, Weber, Justino e Joe.
Agachados: Marcelo, Netinho, Binho, Caio e Darlan.

A equipe acima foi campeã do Campeonato da Liga Pauferrense de Futsal de 1995, um time que encantou dentro de quadra vencendo grandes favoritos da época, que trazia jogadores de toda os lugares possíveis. Nosso Alberi se destacava na montagem de suas equipes por formar times imbatíveis apenas com jogadores do bairro, ao menos a base. Assim foi o Dom Bosco, campeão pauferrense de futsal em 1995. Devânio foi considerado o melhor jogador daquela competição e ganhou uma bicicleta como prêmio. Binho e Devânio tiveram passagens pela Sociedade Esportiva Pauferrense. Devânio chegou a jogar em equipes como o Sousa da Paraíba.

Atualmente, nos campeonatos municipais de futebol, promovidos pela prefeitura, o Baraúnas Pauferrense é um verdadeiro papa-títulos, no ano de 2019, Justino venceu três categorias, mirim, infantil e juvenil, sua equipe na categoria adulta perdeu nas semi-finais. Chega a casa fica pequena para tantos troféus. Abaixo, Justino exibe dois dos troféus dos títulos de 2019, esse ano ele só não ganhou por conta da Pandemia, mas o time já voltou a treinar e está em ponto de bala para retornar a trajetória vencedora.


Em um de seus títulos mais importantes, ele relata um campeonato municipal da década de 90, em que venceu o expressinho da Pauferrense em pleno estádio 9 de Janeiro por 1x0, surpreendendo a todos e saindo com o título. Na época, a Pauferrense gozava de toda estrutura de treinamento, material esportivo, plantel de jogadores e comodidade total. A equipe do grande Alberi foi lá e venceu contra tudo e contra todos mais uma vez.


AS DIFICULDADES

Trabalhar com jovens não é fácil, ter uma carreira de quase 50 anos dedicados ao esporte não é brincadeira. Justino relata as dificuldades com transporte e com locais para treinar suas equipes. Hoje, ele possui 3 horários na quadra do São Benedito, treina seus atletas três vezes por semana, mas isso no futsal. No futebol de campo, por exemplo, o Baraúnas não dispõe de local para treinar e suas equipes ficam órfãs de estrutura. Eu mesmo já fui jogar na cidade de Rodolfo Fernandes em cima de uma rural e vencemos de 16 a 3 o time da cidade anfitriã. Só jogadores do bairro: Alan Raulino, Avelino Filho, João Paulo, Jorge e eu. Foi um baile. 

Justino conta que já viajou de Pau dos Ferros até a Paraíba em cima de uma caçamba, sim, imagine aí vocês, em cima de uma caçamba, com charanga e tudo, por três vezes, para a cidade Sousa-PB. Venceram os três jogos. Hoje, os transportes são as vans, modernas e bem equipadas, mas quem vai pagar? Implorando, pedindo a um e a outro ele arrecada o dinheiro e sai com seus atletas para defender nossas cidade e as cores do Baraúnas região a dentro. Sertões a dentro.

A CARREIRA POLÍTICA

Justino se candidatou a vereador em Pau dos Ferros em dois pleitos, em 1996 e em 2000. Ambas as vezes pelo PMDB. Em 1996, o velho Basílio conseguiu 195 votos e ficou como suplente do PMDB, hoje MDB. No ano 2000, Alberi obteve 145 sufrágios, também ficando na suplência do mesmo partido. Na foto abaixo, temos o santinho da campanha de 1996.


A CARREIRA COMO ARTISTA

Como se não bastasse todo esse patrimônio no esporte, na política, Justino também é compositor e cantor. Participou por várias vezes do show de calouros da festa do Dom Bosco, padroeiro da comunidade e se destacava. Alberi fazia diferente, cantava composições próprias, era um show de lirismo e simplicidade em suas apresentações e composições. Atualmente, em seu perfil no instagran, ele faz laives cantando e dá um palhinha para seus fãs.


HOMENAGENS

Durante esse tempo todo, esse legado, Justino fora homenageado poucas vezes pelo tanto que merece, sobretudo pelo poder público. No entanto, no sábado passado, a associação de desportistas do Riacho do Meio lhe prestou uma homenagem colocando o nome da taça de sua competição: Taça Justino Basílio Mota. Lá, quando entrevistado, Justino declarou: "Se eu viver 100 anos, vão ser 100 anos para o esporte".




SEU LEGADO

Justino estima ter trabalhado com mais de 1000 atletas, ter vencido mais de 200 competições, em Pau dos Ferros, na Região e nos Estados vizinhos da Paraíba e do Ceará. Já formou atletas com passagens por times profissionais e muitos cidadãos de bem. Hoje continua com seu bolsa com coletes, sua sacola de bolas nas costas e faz seu trabalho formativo com muitas dificuldades. Já se passaram quase 50 anos de sua trajetória, os problemas são os mesmos, com transporte, com material, com estrutura. Seu legado é vivo, é palpável, é algo que faz parte da história de Pau dos Ferros, são poucos os meninos que jogaram bola aqui em nossa cidade que não passaram pelo time de Justino. São poucos, eu mesmo já passei. Entra gestão e sai gestão, prefeitos e prefeitos e o trabalho de décadas, de eras, do velho Alberi não é reconhecido, não é avalizado, não é apoiado pelo poder público, sorrisos políticos e tapinhas nas costas não valem, ele também não quer dinheiro, seu trabalho é voluntário, ele quer dignidade, ele merece isso. Transporte para seus atletas disputarem as competições, material esportivo para treinar, quadras e campos de futsal e futebol disponíveis em bom estado para que suas equipes possam realizar as atividades com qualidade. Justino permanece a mesma pessoa, simples, humilde e pronto para caminhar pela cidade em busca de patrocínio em nome de seu amor pelo esporte e por sua cidade. História maior de abnegação não há e não é essa matéria que irá contar, isso foi apenas uma preliminar de tudo que ele já fez e vai fazer pelo esporte e Pau dos Ferros. Seu nome já é nome de taças e de homenagens, mas seu nome e sua história precisam de respeito e dignidade a contento, antes que seja tarde. Viva Alberi! Viva Justino! Salve o grande Basílio! Viva O ANJO NEGRO DO ESPORTE DE PAU DOS FERROS.




Por Manoel Cavalcante
Ex atleta, fã e prova viva da história de Justino.











 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

O CASARÃO DE ELÍSIO MAIA: memórias de Vicente de Paula Fernandes


    Há histórias pau-ferrenses que são tão verdadeiras e poéticas que o encanto da narrativa é o silêncio. Mas o silêncio é a voz da evidência de bonitas memórias que, apresentadas, ecoam no tempo, fazendo da materialidade do texto a eternização do momento.
    Sem sombra de dúvidas um dos mais bonitos casarões que Pau dos Ferros já teve foi o do Senhor Elísio Maia. Grande, imponente e em estilo arquitetônico inglês, o Casarão de Elísio Maia, assim como era conhecido, já foi palco de diversas tramas da vida social pau-ferrense.
    No Casarão de Elísio Maia, depois de ser residência de outras pessoas, como de Doutor Expedito Ferreira, funcionaram o Clik Bar (administrado por Ivanalda Oliveira, depois por Itaécia e Aparecida) e o Núcleo Regional de Educação, sob administração da Professora Maria Rêgo.
    No entanto, silencio por um momento as histórias dos antigos donos, estabelecimentos e instituições para contar, com autorização, obviamente, uma memória que muito me comoveu. Por meio da voz de Vicente de Paula Fernandes, conhecido popularmente por Paulinho, ouvi uma história que jamais sairá de minha recordação pau-ferrense [há recortes]: “Desde criança eu tenho uma admiração e paixão pela Avenida Getúlio Vargas, pelos casarões e, em especial, pelo Casarão de Elísio Maia, onde hoje é o prédio da Pizzaria e Restaurante Água na Boca. Meus pais moravam em casa simples, então, tudo era para mim, quando eu transitava pela avenida, uma verdadeira narrativa poética de beleza arquitetônica. Um dia eu passei em frente ao casarão, junto aos meus pais, e disse à minha mãe: - Mãe, esta casa ainda vai ser minha! Na época, meu pai disse para eu parar de conversar besteira.
    A vida seguiu... Fui morar em Natal, mas sempre guardando na memória o casarão de meus sonhos. De volta para Pau dos Ferros, tive a oportunidade de conhecer o casarão, pela primeira vez, internamente. Na época, funcionava lá o Núcleo Regional de Educação (NURE). Quando entrei no casarão, pelas largas portas e observando as grandes janelas, eu senti que estava em outro mundo, olhava tudo muito detalhadamente e, obviamente, com muita emoção. Nas paredes havia, assim, não sei dizer bem o que eram, mas pareciam ‘gomos’, feitos a mãos, decorando todo o entorno do prédio.
    O tempo passou, comecei a trabalhar no estado e administrava a pizzaria. Eu tinha um dinheiro guardado para investir, mas não estava em meus planos comprar o casarão, pois eu achava que, financeiramente, não seria possível. Então, em um certo dia, Zefinha Paiva, Advogada, amiga minha, chegou e me disse: - Paulinho, tem um prédio que está à venda e é perfeito para você alocar a pizzaria. Eu disse: - Qual prédio? Ela me respondeu: - O prédio de Arinaldo Maia, onde era o Casarão de Elísio Maia. No momento, eu comecei a me tremer e a chorar. Pedi a minha amiga para auxiliar essa aquisição, pois era a concretização de um sonho.
    Comprei o casarão: parte com o dinheiro que eu tinha guardado e o restante financiado pela Caixa Econômica Federal. Deu certo! Primeiro, pensei em reestruturar o prédio, pois a estrutura básica estava danificada. Contratei uma arquiteta, Márcia Rejane, de Mossoró. Apresentei minha proposta para ela, e ela me disse: - O casarão é em estilo inglês, inclusive um dos mais bonitos que conheço. No entanto, vai lhe custar muito dinheiro para realizar a conservação e preservação, mas vale a pena. Eu disse: Não tem problema, eu tenho coragem e vontade de trabalhar para conseguir pagar as despesas. Quero a estrutura externa original!
    A conservação e preservação começaram. O primeiro desafio foi perceber que não havia nenhuma estrutura em ferro que sustentasse o prédio. Então, precisava fazer colunas: ao todo são 16. Precisava cavar aos poucos, uma coluna de cada vez, assim como orientou a arquiteta e o engenheiro..., mas, infelizmente, o pedreiro não entendeu a proposta e cavou todas as colunas de uma vez. Infelizmente, o prédio desmoronou. O pedreiro ficou soterrado, mas sobreviveu, ele ficou somente com alguns arranhões (dei toda assistência necessária a ele, claro). Eu fiquei triste, meu coração, assim como o casarão, também desmoronou”.
(Vicente de Paula Fernandes)
    A história que constitui memória de nossa Pau dos Ferros é encantadora não só pela narrativa, mas pelo zelo, respeito e amor que Paulinho tem pela memória material da cidade. O Casarão de Elísio Maia era um ícone arquitetônico da cidade e, sem sombra de dúvidas, se hoje ainda estivesse ‘de pé’, seria símbolo identitário de uma década cultural pau-ferrense repleta de arquitetura, arquitetura como bem simbólico cultural, como defende Pierre Bourdieu, uma vez que as casas refletiam a identidade de seus moradores e constituíam a poesia ornamental das ruas.

Por Victor Mendes
Foto: Toinho Dutra

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

ELEIÇÕES 2020 - PERSPECTIVAS HISTÓRICAS

 



A VITÓRIA DE MARIANNA ALMEIDA

As eleições 2020, em Pau dos Ferros-RN, trouxeram resultados históricos. No executivo, Marianna Almeida foi a primeira mulher eleita da história de nossa cidade, a primeira eleita pelo voto democrático e será a terceira a governar nossa terra. Tivemos, em 1946, Eulália Fernandes Bessa, através de nomeação, governando o executivo municipal por apenas 45 dias, vulgo um mês e meio, de 31 de janeiro a 15 de março daquele ano. Depois, em plena ditadura militar, com idas e vindas nos pleitos, resultados das eleições anulados por várias vezes, toda a instabilidade instaurada pelo regime, enquanto se resolviam os babados todos, foi nomeada para governar o município interinamente, Maria Izete de Queiroz, em 31 de janeiro de 1969 e, desta feita, ela ficou até 5 de maio, um pouco mais de que 3 meses no poder. Marianna Almeida, além de quebrar a hegemonia de 4 vitórias consecutivas do grupo de Leonardo Rêgo, ainda entra para a história como a primeira prefeita eleita pelo voto direto.


A DERROTA DE LEONARDO RÊGO

Caso vencesse as eleições, Leonardo seria o primeiro prefeito da história da cidade a ter quatro mandatos. Segue a sina dos "12 anos", dos 3 mandatos. Nenhum prefeito, até hoje, conseguiu ultrapassar 3 mandatos no poder do executivo municipal. Além de Leonardo Rêgo (2004-2008), (2008-2012), (2016-2020), tivemos mais dois. José Fernandes de Melo e Nilton Figueiredo. José Fernandes (1953 - 1958), (1973 - 1977), (1983 - 1988). Nilton (1988 - 1992), (1996 - 2000), (2000 a 2004). Com dois mandatos tivemos Francisco Fernandes Sena, Licurgo Ferreira Nunes e José Edmilson de Holanda.


ELEIÇÕES DE VEREADOR(A)




Na próxima legislatura, teremos 11 representantes, assim como nessa legislatura corrente. Com alguns destaques... Nessa, a câmara só conta com uma mulher dentre todos os eleitos, Itacíria Aires, Bolinha, que foi reeleita. Na próxima, a casa legislativa volta a ter 3 mulheres nos púlpitos e tribunas. O recorde de mulheres na câmara foi de 4 mulheres, na legislação de 1997-2000. Além de Bolinha,  tivemos Professora Aldaceia e Zélia Leite, esta, volta à câmara de vereadores como a candidata mais votada, em primeiríssimo lugar. Pau dos Ferros deu vez às mulheres. Em outro feito histórico, Professora Aldaceia quebra a mística do Partido dos Trabalhadores, PT, nunca ter elegido um vereador na cidade, é a primeira vereadora eleita pelo Partido dos Trabalhadores na história política de nossa cidade.




OUTRO MARCO HISTÓRICO




Uma grata surpresa em nossa câmara foi a ascendência de Deusivan Santos, o menino do Riacho do Meio, sem nenhuma estrutura capitalista por trás, sem ser de nenhuma família tradicional da cidade, chegou lá contra tudo e contra todos, somente com o povo humilde do seu lado. Deusivan chega na câmara, como diria Miró, como preto, pobre e periférico. Para além disso, ele faz parte da comunidade LGBTQIA+ e é, também, o primeiro vereador eleito da história da cidade, que se define assumidamente gay. Vendia cheiro verde na feira e faz ações sociais em seu bairro. Viva Deusivan! Não para por aí, é também, o primeiro vereador eleito do PC do B, Partido Comunista do Brasil, na história política de Pau dos Ferros. Carrega todas as minorias possíveis em suas costas, em sua história, e as defenderá na Câmara Municipal.


REELEITOS

Dos 11 vereadores do mandato em curso, foram reeleitos apenas 5, houve uma renovação de mais de 50%. 6 novos postulantes são novatos, muito embora que Zélia Leite já tenha cumprido mandato em outra ocasião.


O blogue cultura pauferrense deseja boa sorte aos eleitos e as eleitas, a prefeita, vereadoras e vereadores, com a esperança que nossa cidade se mantenha sempre no caminho do progresso e do desenvolvimento, em todos os âmbitos.


Por Manoel Cavalcante


sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A ELEIÇÃO DAS PEDRAS

 


Desde 1856, pelo menos, duelam Fernandes e Rêgos pelo poder em Pau dos Ferros, principal cidade do Alto Oeste potiguar. Cento e sessenta e quatro anos de luta política![1]

Este ano, 2020, de um lado temos o prefeito Leonardo Nunes Rêgo – o nome já diz tudo – e, do outro, enquanto principal nome da oposição, o ex-prefeito Francisco Nilton Pascoal de Figueiredo, muito embora sua candidata seja Marianna Almeida.

Nilton Figueiredo, como é conhecido, é descendente de Childerico Fernandes de Queirós, que do seu segundo casamento, com Maria Amélia Fernandes (Mãe Marica), teve Umbelina Fernandes da Silveira, mãe de Maria Fernandes de Figueiredo (Dona Lalia), sua avó paterna.[2]

Em 1864, na sessão do dia 23 de dezembro, a ata da Câmara Municipal dá conta de requerimento apresentado por alguns vereadores ao Presidente da Província solicitando fosse-lhes “relevada” a aplicação de algumas multas a eles impostas. Requeriam a eles, diretamente, alegando que a Câmara não se reunira em outubro e novembro passados, porque seu presidente, Manoel Pereira Leite, aliado dos Rêgos, estava foragido e “perseguido pela força do Delegado de Polícia”.

Assim decorreram os anos subsequentes, afirma o cronista, José Dantas.

No período que vai de 1865 a 1872, os Fernandes dominaram a Câmara Municipal, presidida por Viriato Fernandes e Hemetério Raposo de Melo, casado com Umbelina Fernandes, filha de Childerico Fernandes de Queirós.

No dia 6 de outubro de 1872, houve eleição para juízes de paz dos distritos e vereadores à Câmara Municipal. Durante quinze dias vieram os eleitores votar, mas não lhes tomaram os votos. A Junta Paroquial, presidida pelo 3º Juiz de Paz, Galdino Procópio do Rêgo, instalou-se na Igreja Matriz, para realizar a eleição, sob o protesto dos Fernandes, sob o argumento da sua incompetência para presidi-la.

A discussão transformou-se em violenta pancadaria dentro da igreja, e, fora, os liderados de ambos os grupos políticos travaram-se em briga corporal, armando-se de paus e pedras.

Muitos foram os feridos, e a Matriz foi seriamente danificada. Cessada a luta, a Junta Paroquial cercou a igreja com um grupo armado, para evitar outra confusão.

Os Fernandes, inconformados, organizaram uma outra Junta, sob a presidência do 1º Juiz de Paz, Childerico José Fernandes[3], e realizaram outra eleição, na Casa da Câmara. Submetida a documentação das duas Juntas à apreciação da Câmara Municipal, esta, em 16 de novembro de 1872, sob a presidência do Dr. Hemetério Raposo de Melo decidiu, por unanimidade de votos, a favor da eleição realizada na Casa da Câmara.

Foram, então, diplomados o Tenente Coronel Epiphanio José de Queiróz, Alferes José Alexandre da Costa Nunes, Manoel Francisco do Nascimento Souza, Manoel Queirós de Oliveira e Pedro Lopes Cardoso.

Vários argumentos foram levados em conta para a decisão, dentre eles o de que o eleitorado foi impedido de entrar na Matriz por uma força armada de clavinote, e o encerramento da eleição ter ocorrido no Sítio “Logradouro”, de propriedade dos Rêgos quando, à meia-noite, os últimos votos foram recolhidos em um chapéu improvisado de urna.

Entretanto, o Governo da Província não lhes foi simpático, e anulou a eleição realizada na Câmara dos Vereadores. E, em 27 de outubro de 1873, por Aviso Ministerial, a Câmara foi cientificada que o Governo Imperial confirmava a eleição promovida pela Junta Paroquial.

Tiveram, assim confirmadas suas diplomações, Galdino Procópio do Rêgo, João Bernardo da Costa Maya, Norberto do Rêgo Leite, Florêncio do Rêgo Leite Gameleira, e João Afonso Batalha.

O povo, que a tudo e todos alcunha, quando sua atenção é despertada, não deixou por menos: batizou o episódio de “eleição das pedras”.

Natal, em 8 de outubro de 2020

Honório de Medeiros

Trineto de Childerico José Fernandes de Queirós, por parte do seu primeiro casamento, com Guilhermina Fernandes Maia.



[1] FREIRE, Cônego Manoel Caminha e outros. Revista Comemorativa do Bi-Centenário da Paróquia e Centenário do Município de Pau dos Ferros. Natal. Sebo Vermelho. Edição fac-similar. 2015.

[2] FERNANDES, João Bosco e FERNANDES, Antônio Mousinho. Memorial de Família.Teresina. Halley S/A. 1ª edição. 1994.

[3] Trisavô de Francisco Nilton Pascoal de Figueiredo.



quarta-feira, 16 de setembro de 2020

MARIA FATEIRA E OS ESTIGMAS SOCIAIS

                                                            Maria Fateira. Foto: Véscio Lima


Quem da minha geração não se lembra de Maria Fateira?

Uma senhora preta nascida numa cidade vizinha a Pau dos Ferros que tinha a fama de andarilha e era chamada pejorativamente de cigana. Embora estejam por vários lugares do país e tenham "cartão de cidadão em situação especial" no SUS, os Ciganos sofrem muito preconceito na sociedade em geral e também nas instituições. Maria era denominada como Cigana, mas ela própria não se reconhecia como tal.

Fateiras eram mulheres que tratavam e limpavam as vísceras dos animais abatidos. Esse nome também passou a ter um tom depreciativo. Ela saía de sua casa, próximo a UERN, com um saco grande, recolhia coisas em lixos e juntava ao que ganhava de outras pessoas. Como tinha animais em casa, recolhia também "fatos" de animais e restos de comidas, talvez por isso o nome Fateira. Sabedora do tom pejorativo do nome, atendia cordialmente por Maria Fateira quando não via maldade no chamado.

Era Uma verdadeira sobrevivente a (tantas) violências e a tantos silenciamentos que viveu. Andava a pé a cidade inteira pedindo ajuda pra seu sustento e de sua família. Era da estirpe das rezadeiras. Essas também estão sumindo. Quando recebia algo, gostava de rezar nas crianças em retribuição.

O nome Maria Fateira virou um apelido. Algo associado a estar com roupas extravagantes, ou com muitas pulseiras e colares. Usavam o nome Maria Fateira pra fazer medo. "Lá vem Maria Fateira." As crianças tinham medo. Eu tive medo. Era a versão Pauferrense do "Velho do saco." Somos formados dessa sociedade que é capaz de tirar a roupa pra dar ao vizinho que está precisando, mas que também pode se comportar como o suprassumo da exclusão. Respondendo à pergunta inicial : Não há ninguém da minha geração que não lembre dela. É quase uma figura folclórica na cidade. Está no nosso imaginário. Maria Fateira amava dançar.Certamente está dançando muito com colares e pulseiras ainda mais extravagantes lá no céu. Viva!!!

Por José Holanda

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Pau dos Ferros - Emancipação política x Criação do município


Hoje, 4 de setembro de 2020, Pau dos Ferros completa 164 anos de emancipação política. De desmembramento de Portalegre. Na realidade, dois atos institucionais foram conseguidos em 4 de setembro de 1856. A elevação de Freguesia à Vila e a emancipação política da Vila. Foram várias tentativas para que lográssemos êxito. Ante o crescimento populacional, o desenvolvimento econômico de nosso povoado na época, a independência era apenas questão de tempo. 


A PRIMEIRA TENTATIVA

O primeiro pedido foi proposto em 1841, através de um abaixo-assinado, conta-se que 492 pessoas compuseram esse abaixo-assinado, inclusive alguns ágrafos, "analfabetos", que puseram as impressões digitais. Todavia, nessa primeira tentativa, não obtivemos sucesso.


A SEGUNDA TENTATIVA

Em 1847, O deputado João Inácio Loiola de Barros, defendeu projeto na Asembleia Legislativa do RN para transferir a sede do município para nossas terras, para o seio de nosso povoado. No entanto, novamente, não foi aprovado.


A TERCEIRA TENTATIVA

A terceira tentativa se deu pelas mãos do Barão de Assu juntamente com Elias Antônio Cavalcanti de Albuquerque. Em 1853, mais precisamente no dia 12 de abril, o projeto apresentado defendia a elevação de Freguesia à Vila e a nomeação como Vila Cristina. Mais uma vez não foi aprovado. Como diria a música, "tentativas em vão".


A QUARTA TENTATIVA

A quarta tentativa aconteceu pelo projeto do Deputado Bevenuto Fialho, que fora apresentado em 23 de Agosto de 1856. A proposição, desta feita, foi aprovada e sancionada no dia 4 de setembro de 1856, pelo presidente das províncias do Rio Grande do Norte, Antônio Bernardo Passos. A Lei de número 344, elevou à Freguesia à Vila e desmembrou nosso povoado de Portalegre. Obtivemos independência política. A chamada Emancipação. E em 19 de janeiro de 1857, Manoel Silvestre Ferreira foi o primeiro Presidente da Câmara de nossa vila, o que correspondia, na época, ao prefeito da Vila. Seus atos primeiros foram destinar verba para construção da Matriz e do Cemitério, no ano de 1858. Em 1859, criou-se a feira da Vila, primeiramente aos domingos e, em 1873, aos sábados como acontece atualmente.


A CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO

De 1856 a 1924, Pau dos Ferros existiu independentemente na categoria de Vila. Apenas no dia 2 de dezembro de 1924, o município teve sua criação legal. Através da Lei 593, o município de Pau dos Ferros foi criado. Seu primeiro prefeito institucional eleito foi Francisco Dantas de Araújo, em 1929, inclusive foi ele, conforme a história atesta, que construiu o prédio da prefeitura municipal com dinheiro do próprio bolso. Francisco Dantas, fora destituído do cargo um ano depois na revolução de 1930.

A criação do município é um ato olvidado em nossa cidade, não se vê em lugar nenhum de nosso tempo e de nossa história, uma menção à data de 2 de dezembro de 1924, que se fique registrada essa data. Não somente à emancipação de 4 de setembro de 1856.

No mais, hoje chegamos a 164 anos de independência, com muito desenvolvimento, muita prosperidade, mas com muitos desafios adiante, inclusive a preservação de nossa memória. Viva!


Por Manoel Cavalcante


 



terça-feira, 14 de julho de 2020

BAIRRO MANOEL DEODATO: PRECONCEITOS E ESTIGMAS SOCIAIS À MARGEM DA SOCIEDADE PAU-FERRENSE


Fotografia: Bairro Manoel Deodato na Década de 90 / Fonte: Tércia Maria Batalha
Acerto: Ponto de Memória Pau-Ferrense

O Bairro Manoel Deodato surgiu em meados dos anos 60. Às margens do Rio Apodi, construíram-se a primeiras casas, erguidas em barro e taipas. Para além das margens do rio, o bairro também surgiu margeado de estigmas e preconceitos com as famílias que lá residiam.
As pessoas que lá moram foram discriminadas (e ainda são) e esquecidas à margem da sociedade, onde estão os excluídos: negros, prostitutas, homossexuais e, sobretudo, os pobres.
Na década de 90, em virtude da ausência de saneamento básico e assistência social, os moradores do bairro eram isolados dos serviços públicos: culturais, artísticos, saúde, segurança e educacionais (e quando tinham, recebiam migalhas, o que sobrava da casa grande).
Por falta de incentivo em políticas públicas para a população do MD (como o bairro é popularmente conhecido), muitos jovens e adultos caminharam rumo às drogas e prostituição, já que eram as únicas portas que lhes davam morada. As demais portas eram batidas à cara!
Por algum tempo, morar no MD era sinônimo de “maconheiro”, puta e ladrão (fruto do padrão normativo de nossa sociedade).
Enquanto isso, as oligarquias e os mais abastados moravam nos melhores bairros, no luxo de ruas asfaltadas, com saneamento básico, onde estavam as melhores escolas, assistência social e de saúde, e de fácil acesso aos bens culturais mais sofisticados que a cidade dispunha.
Faço aqui a comparação para destacar que as diferenças sociais e de garantias de direitos foram intensificadores para a exclusão, discriminação e preconceitos com os moradores do MD. Infelizmente, foi preciso que muitos morressem para que os “administradores públicos” pudessem reagir de forma positiva para a diminuição dos problemas enfrentados no Manoel Deodato.
É importante evidenciar que o bairro MD é um grande palco de projeção para inúmeras personagens da cultura popular de Pau dos Ferros: artistas, professores, mães rezadeiras, parteiras, poetas, lideranças comunitárias, microempreendedores etc. que fizeram das dificuldades enfrentadas ofício do cotidiano para lutar por melhores condições de vida.
LUTAR MESMO! Vi e ouvi por diversas vezes os moradores do MD reivindicarem os seus direitos sociais, humanos e políticos em programas de rádio, também à porta da prefeitura (que era, na maioria das vezes, batida à cara). Acredito que em Pau dos Ferros não há gente de mais força, garra, luta e inventiva quanto a do Manoel Deodato.
O desenvolvimento do MD deve muito à luta desse povo, que mesmo sofrido e estigmatizado nunca silenciou diante de suas dificuldades e desafios. Hoje, o MD é um dos maiores bairros de Pau dos Ferros e nos serve de exemplo de luta, progresso e vida.
Transformemos nossas dificuldades em lutas. Dessa forma, não há oligarquia que cale a nossa VOZ. Parabéns ao povo forte, lutador e aguerrido do Manoel Deodato.

Victor Rafael do Nascimento Mendes.



quarta-feira, 17 de junho de 2020

XANANA DIÓGENES: a flor pau-ferrense da arte plástica

Acervo: Secretaria de Cultura e Turismo de Pau dos Ferros (2015)
Texto: Victor Rafael do Nascimento Mendes
Na memória de hoje apresento algumas das obras de Dona Xanana Diógenes, pioneira nas artes plásticas em Pau dos Ferros (décadas de 60 a 90). Com mais de 200 obras vendidas e espalhadas por todo o Brasil, Dona Xanana, como era popularmente conhecida, fez da arte o seu ofício de vida.
No interior do estado, mais precisamente no Alto Oeste, ela é referência, tendo iniciado sua atividade artística ainda jovem. Seus principais temas na pintura retratavam fatos do cotidiano familiar, da religião e de paisagens do sertão potiguar.
Em Pau dos Ferros, Mossoró e Natal, Dona Xanana realizou algumas exposições, elevando o seu nome em domínio estadual no quesito de arte plástica.
Foi professora de boa parte dos artistas pau-ferrenses, quais sejam: Marta Pontes, Toinho Dutra, Edielton Rêgo, Israel Vianey, Marnilce etc.
Em uma de suas poucas entrevistas, ao Jornal De Fato (S. D.), disse Dona Xanana: “A arte de pintar para mim é tudo. As vezes eu deixava de cuidar da casa e do marido. A verdade é que a arte não tem preço”.
As fotografias que aqui apresento foram concedidas a mim por Gigi Diógenes, filha de Dona Xanana, no ano de 2015 (feitas pelo fotógrafo Franskin Leite), quando estivemos reunidos (eu, Franskin, Marta Pontes e Gigi) para dialogarmos sobre homenagens do Vitrine Cultural do mesmo ano.
Para além do que o seu nome popular representa; uma flor do semiárido com propriedades curativas e decorativas do sertão, Xanana representa a identidade pau-ferrense em seus trabalhos espalhados por muitos lugares do mundo.
Por toda arte espalhada e semeada em Pau dos Ferros, salve à memória de Dona Xanana!
Victor Rafael do Nascimento Mendes









TRÊS MARIAS DA BARRAGEM: personagens do folclore pau-ferrense

Fotografias:
Ene Pinheiro
e Blog Nossa Pau dos Ferros
Texto: Victor Rafael do Nascimento Mendes
Três irmãs: Lilita, Antônia e Helena. São esses os nomes das - Três Marias da Barragem – (nome popular atribuído), “estrelas ofuscadas” (FREITAS, 2013) que circundam a memória folclórica pau-ferrense. Nascidas na comunidade Sanharão, zona rural da cidade de Pau dos Ferros, as - Três Marias da Barragem -, desde crianças, apresentaram comportamento de convívio afastado da “sociedade” (certas estão elas).
Algumas pessoas contam que esse comportamento se deu pelo fato do convívio limitado, apenas com os pais, pois esses também não gostavam de conviver com outras pessoas, pouco saíam e pouco conversavam. Dizem também que quando chegava alguém “estranho” (fora do convívio de casa) as três irmãs corriam para dentro do quarto e de lá só saíam quando a visita se ausentava.
As “Três Marias da Barragem” são conhecidas pelo povo pau-ferrense como mulheres que escondem a face com panos sob a cabeça, que usam vestidos pretos e de pouco contato com outras pessoas. Na juventude, com a morte dos pais, começaram a caminhar pelas ruas de Pau dos Ferros a procura de comida (para alguns, ‘esmolas’), produtos para uso pessoal e doméstico (continuam até os dias de hoje).
Vítimas do machismo e da ausência de compreensão da maldade humana, foram abusadas por alguns homens, o que as fizeram gerar filhos que hoje são criados por diferentes famílias do Alto Oeste Potiguar (em maior quantidade em Pau dos Ferros).
Muitas são as histórias, memórias e lendas contadas sobre as irmãs Marias, que são evidenciadas em positiva pesquisa realizada pela historiadora Vanessa Maria de Queiroz Freitas (pau-ferrense pioneira neste assunto), em seu trabalho de conclusão no curso de História (UFRN-Campus de Caicó).
As memórias construídas em relação às “Três Marias da Barragem” são marcadas por exclusão e preconceito em virtude da forma de como é conduzida a vida das três irmãs. No entanto, não podemos deixar de reconhecer que elas fazem parte da cultura imaterial da cidade de Pau dos Ferros, sobretudo pelas histórias, lendas e mitos que são criadas em torno delas e que hoje, graças aos trabalhos desenvolvidos (FREITAS, 2013; NASCIMENTO-MENDES, 2014), estão escritos nos anais da memória pau-ferrense.
REFERÊNCIAS
FREITAS, Vanessa M. Queiroz. Estrelas Ofuscadas: as “Três Marias da Barragem” sob a ótica da sociedade pau-ferrense. 2013. 30 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em História) - Faculdade de História, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Caicó, 2013.
NASCIMENTO-MENDES, Victor Rafael do. As Três Marias da Barragem: redes de memórias e construções de identidades sob a ótica pau-ferrense. II Seminário de Educação, Memória e Identidade. Mossoró: UERN, 2014.
Foto 01: As “Três Marias da Barragem” caminhando pelas ruas de Pau dos Ferros/RN. Fonte: Blog Nossa Pau dos Ferros. Disponível em: http://www.nossapaudosferrosrn.blogspot.com.br/2009/09/as-tres-marias-da-barragem-lenda-viva.html. Acessado em 12 de julho de 2014.
Foto 02: Da esquerda para a direita: Lilita, Antônia e Helena – As “Três Marias da Barragem”. Fonte: Arquivo pessoal de Ene Moreira Pinheiro.

IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA IMACULADA CONCEIÇÃO DE PAU DOS FERROS: sobre as máculas arquitetônicas durante os séculos

Fotografias: Fausto Fernandes, Toinho Dutra e Edna Souza

Acervo: Ponto de Memória Pau-Ferrense

Próximo ao antigo leito do Rio Apodi e cercada por árvores frondosas, como a Oiticica, por exemplo, uma capela foi construída em 1738 por Francisco Marçal. Essa capela, inicialmente, serviu de apoio às devoções e orações de pessoas que viviam em um povoado que crescia no Alto Oeste da província do Rio Grande do Norte.
No ano de 1756, a capela tornou-se matriz, tendo como padroeira Nossa Senhora Imaculada Conceição. Na metade do século XVIII, a então matriz iniciou suas atividades paroquianas e começou a realizar, sempre aos 8 dias de dezembro, missas e procissões em alusão à Senhora Padroeira.
Por estar situada no local de passagem de vaqueiros e viajantes, a Matriz de Nossa Senhora Imaculada Conceição recebia fieis de todas as localidades, tanto de vilas e povoados do RN quanto de outras províncias.
Aos poucos, o povoado foi crescendo e, em virtude de vaqueiros bravios, que esfriavam os ferros quentes que marcavam o gado em árvores às margens do Rio Apodi, o local foi, inicialmente, ficando conhecido por "Pau de Ferro", posteriormente passando a ser chamado de "Vila Cristina" (nome não oficializado) e, por último, "Pau dos Ferros".
Sob forte influência de fazendeiros, religiosos da igreja católica e deputados provinciais, Pau dos Ferros, outrora integrado à Vila de Portalegre (1761), foi elevada à categoria de Vila em 1856.
Com a elevação da Vila de Pau dos Ferros, a Igreja Matriz de Nossa Senhora Imaculada Conceição passou de uma pequena capela a um grande de templo de amor, festa e devoção à Mãe Imaculada, tendo seu estilo arquitetônico modificado durantes as décadas e século seguintes (rococó, barroco, gótico etc.).
Nos anos 2000, a Igreja Matriz, já sem nenhuma característica de sua construção inicial, é modernizada à luz do eu que considero (e acredito que seja) movimento carismático das igrejas católicas brasileiras.
Sob influência desse movimento, o belíssimo e bicentenário altar-mor da igreja foi demolido, dando espaço para uma parede que recebe uma bonita pintura da artista sacra Maria Fonseca. Junto à demolição do altar, também foi demolida a memória material do povo pau-ferrense. Por outro lado, tivemos a construção da segunda torre da igreja, que há muito era requerida pelos fies.
Quero pensar que as influências carismáticas na igreja sejam para seguir os ensinamentos do atual Papa Francisco, que vê na humildade e na prática da caridade de sua igreja o caminho para a salvação.
Eu gostaria que houvesse um tombamento histórico e arquitetônico da igreja de nossa querida cidade Pau dos Ferros, sobretudo para impedir que novos apagamentos arquitetônicos sejam feitos, mas, ao que me parece, não é somente a Senhora que é imaculada, mas também a cúria diocesana, que insiste em seguir um caminho um tanto diferente do que o Francisco (o santo) e o Francisco (o papa, e ainda não santo) nos ensinam.
Victor Rafael do Nascimento Mendes.