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sábado, 18 de agosto de 2018

VERSOS E CANÇÕES: UM FESTIVAL DE CAUSOS E CAUSAS


A cena cultural em nossa cidade vem sendo movimentada por verdadeiros abnegados da cultura, apologistas da arte, verdadeiros amantes desses caminhos que podem mudar a mente e o coração das pessoas para os caminhos do bem. Assim ressurge o "Versos e Canções" em seu segundo ano. Devemos frisar bem que em 2017 o evento aconteceu em sua primeira edição, com o intuito de arrecadar fundos para a edição e publicação do livro de nosso poeta Robson Renato, dado o sucesso e o entusiasmo daquela festa, surgiu a força motriz para continuar ofertando as pessoas esse deleite, esse momento de profundo mergulho na identidade cultural que nos constrói. Mudando apenas a causa vigente em cada ano, no presente 2018 o festival será destinado ao poeta mossoroense Antônio Francisco, toda a renda será doada ao nosso vate maior. Mas por quê? Simplesmente porque ele merece uma carreira sólida e não possui, porque sua obra é transcendental e não é devidamente reconhecida e também porque a arte, por mais que finjam não saber disso, a arte também enche pratos de comida. Antônio Francisco é membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, na cadeira de Patativa do Assaré, mas, acima de tudo, é membro do mundo e comprometido com o futuro do planeta e da coletividade. Tudo isso é refletido em seus livros, ele não escreve por escrever, não lança o que não prega, ele escreve e é. Vale à pena conhecer para quem não conhece e vale à pena reencontrá-lo para quem já o conhece. Antônio é a personificação da poesia e das coisas boas, uma mentira de ser humano de tão bom que é e eu nem deveria dizer isso.

O evento possui como principais enfrentantes os poetas Francisco Fernandes e Robson Renato. Eles são os caminheiros que queimam o solado dos pés atrás de sins, muito embora que ouçam alguns nãos, sintam olhares desprezíveis e almas insensíveis. Com muita garra, surgiram vários patrocinadores e parceiros e a festa cultural já tem sua cara e seu esboço para acontecer no próximo dia 25. Aqui deixo registrado meus parabéns e meus agradecimentos aos dois enfrentadores que estão fazendo o que o poder público não faz, estão recuperando o superfaturamento da obra, o posto de saúde sem gaze, a consulta negada e devolvendo ao povo o que vem sendo tomado a todo instante: sua própria cultura, sua própria identidade.

Tem artista de todo canto, de Natal, do Seridó, da Paraíba, do Ceará, da Bahia... É um verdadeiro culto cultural. Artistas também de nossa terra vão abrilhantar a noite. Música regional, instrumental, poesia a fole, perfomances, recitações e o diabo a sete, tudo numa noite só. Quem não for, o velho do saco carrega.

Tudo acontece sábado à noite, 25 de agosto, a partir das 20:30h, no Recanto Potiguar, vizinho à praça de eventos de Pau dos Ferros. As senhas estão sendo vendidas antecipadamente pelo preço de R$ 10,00 e na hora custarão R$ 15,00. Barato até demais para a grandiosidade da coisa. Lá mesmo no Recanto, na Escola Armorial de Música e com os poetas em suas residências, vocês encontram as senhas. 

Vá por sua causa, por causa dos artistas, por causa de Antônio, ouvir verso, música, causos e se encher de cultura. Não é todo dia que, numa cidade do semiárido nordestino, governada pelo coronelismo desde que nasceu, bombardeada pelo consumismo barato, pelo mercado sonoro intragável, existe um evento dessa magnitude, bom seria se já fizesse parte de uma política cultural.  Paciência. Quem perder, eu não sei nem o que é que eu diga! Causas e causos sobrarão lá. Viva!

Por Manoel Cavalcante

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

QUEM DISSE QUE EM PAU DOS FERROS NÃO TEM CARNAVAL?


Carnaval não é aquela festa feita com dinheiro público superfaturado, não é aquela festa nos grandes centros do país, não é aquela festa efêmera que maquia a mente da massa por alguns dias, não é aquela festa que reafirma a superficialidade humana, não é aquela festa veiculada pelas grandes emissoras de TV do Brasil e do mundo. Querem saber o que é Carnaval? Venham ao bairro Riacho do Meio...! Lá qualquer doido como eu aprende que Carnaval é alegria e consciência de comunidade. Esse é o conceito da festa de momo em Pau dos Ferros, mais precisamente nesse bairro que matou a sede de nossa terra com o Açude 25 de Março até meados do Século XX, mas que parece ser esquecido pelos homens do poder. Um bairro periférico, de pessoas humildes, todavia, talvez, o lugar mais rico do município: de espirituosidade, cultura, alegria e fé. 

A história foliã começou em 2008, com o surgimento do primeiro arrastão, na ocasião, em período carnavalesco, um carro de som trafegava pelas ruas do bairro fazendo propagandas rotineiras... alguns amigos que se confraternizavam pediram ao motorista para fazerem "um arrastão" e assim fizeram... Foi alegria total... saíram pelas veias daquele logradouro e, dessa forma, deu-se o início da folia organizada e coletiva. O Bloco Cachorra da Mulesta surgiu em 2003, são 15 anos de história, 16 anos de carnaval e 11 anos de arrastão.


O Cachorra possui 40 sócios e além de ser o maior bloco da comunidade, é o pioneiro que deu origem a outros três... Esse ano de 2018, as veias do Riacho tiveram 4 blocos desfilando, além do primeiro, o Aidentro (2017) que possui 30 sócios, Os Fedorento'z (2018) que possui 25 sócios e Os Legalizados (2018) que possui 20 sócios. Um salto significativo num curso de dois anos. Esse ano o evento comunitário levou o nome de Riacho do Meio Folia, mas já foi chamado de Arrastão da Cachorra da Mulesta, Maza Folia e Riacho Folia.


Basta um carro de som, veículo que os foliões chamam carinhosamente de Trio Elétrico, para a farra ser grande... Esse ano foi um celta preto com um som atrás, o tal dum paredão. O tamanho do carro é inversamente proporcional ao tamanho da felicidade do povo... Crianças, adultos, idosos, todos caem na folia em harmonia plena pelas ruas do bairro e a alegria é o bloco principal. Ao longo de cerca de 15 anos de história já chegaram a contratar orquestra de frevo, trios da cidade e algumas bandas locais de axé e pagode, mas a festa parece ser maior quando a comunidade inteira sai atrás de um pequeno paredão tendo a rua como palco, as calçadas como arquibancadas e camarotes para a fuzaca  de todos... é uma festa total, supimpa! 


Eu não fui à Olinda, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, porém, pude sentir o termômetro de união de uma comunidade que possui por volta de 2 mil habitantes e que é um fértil manancial cultural em nossa cidade. Bairro de Seu Chicão, de Neguinho de Ana, de Mazzaropi, do Professor Vicélio, de Dona Macina e de tantas rezadeiras, pescadores, vaqueiros, agricultores, homens e mulheres de fé e garra que representam nossa terra. Sampaios, Franças, Fernandes, Estevão, Rêgos, Florenços e tantas e tantas outras famílias influentes em nosso município que tiveram esse pequeno e rico pedaço de chão como berço esplêndido. Cultura pura e viva. Viva ao povo do Riacho do Meio, vivas a esse lugar de gente humilde e rica de espírito! Viva! Viva!

O retrato em riba desse letreiro aqui, é da associação da comunidade, agremiação que será legalizada em breve, no entanto, já possui extensa atuação em eventos juninos, culturais e esportivos. Salve!


Por Manoel Cavalcante