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domingo, 29 de maio de 2016

A NOVA ARTE DE PAU DOS FERROS







Toda e qualquer arte que se faça aqui no sertão de dentro, no interior de nosso interior, por si só, já pode ser considerada marginal, a arte, em sua essência, também é marginal, pois sempre está à margem do sistema, à margem das políticas públicas... é, gente, ser artista é ser revolução, revolução, atentem bem... Re-vo-lu-ção.

Pau dos Ferros do Help Som, de Léo Batista, de Raimundo Círio, de Dodó, de Lourdes Almeida, de Gilson de Bafute, do Sub Grave, agora vê com muita alegria chegar Eliano Silva, mais um Silva desse brasil com letra minúscula... Poeta nato, palavras de força e com direção, este Silva não nasceu no seio das famílias oligárquicas, não vem de um berço do centro cidade, não estudou em escolas particulares, tem o cabelo pixaim, a cor negra, o perfil magro, mas tem o verso certeiro e o canto como arma, apenas o canto... Só o canto.

Nasceu e cresceu no bairro mais carente da cidade, no Manoel Deodato, em meio ao descaso urbano e humano, como diz um poeta amigo meu: mora lá onde acaba dinheiro da prefeitura, mas foi no PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), que aprendeu suas primeiras notas de flauta e despertou e despontou para a música, eita, olhe os programas sociais nos dando um artista e um baita artista. Foi guitarrista do Safra 82, banda de rock da cidade, mas desde 2014 faz carreira solo. O menino do Manoel Deodato é um artista de um calibre diferente, desses que têm cara, que têm posição, que militam, um soldado da ideia.

No ano passado, Eliano gravou o Ecdemomania, a mania de fazer traquinagem, a mania de viajar e se aventurar, este nome difícil dá nome a seu trabalho, um álbum autoral, com algumas parcerias... músicas como "Tão devagar", "Dance, morena", já são hits perenes na mente dos jovens da cidade, dos subversivos, dos amantes da boa música. Tem crítica social, tem lirismo exacerbado, tem literatura entranhada em tudo, aliás, a poesia conversando de perto com as músicas, se confundindo, é uma das qualidades que distingue este poeta da periferia dos demais...

Foi tomando dinheiro emprestado, foi fazendo uma vaquinha, foi com ajuda dos amigos, com muita dificuldade, que este álbum conseguiu sair do estúdio e ainda tem gente que diz que a cultura não precisa de intervenção do Estado, que não precisa de secretaria da cultura nem de ministério, não, não precisa, imagina... todo artista tem uma editora e um estúdio no muro de sua casa e pode produzir com sua própria verba, mas o CD nasceu, veio, está aqui gritando e como ele mesmo diz:

tenho um coração
só não tem dinheiro
mas isso não é problema
pra quem tem o mundo inteiro.

E nessa quinta, 02 de junho, Eliano irá lançar seu trabalho na Pizzaria Água na Boca, à noite, às 20h, contando com a presença de vocês tudim, até porque "a felicidade é uma ditadura"... Viva!

                                    

O CD está ótimo, lindo, com essência, com ineditismo (o mais difícil), com identidade... E comprem, adquiram, é barato demais, dez reados, o artista quer que seu trabalho se espalhe, quer que vire gás e a arte não é brincadeira, é coisa séria...! Salve a nova arte de Pau dos Ferros, salve o grande Eliano, da linhagem de Miró, de Carolina Jesus e tantos outros, mas sem comparar com ninguém, ele é ele e com muita altivez. 

                                    

Boa sorte ao novo bardo pauferrense, saudações culturais e ideológicas! Viva!

Por Manoel Cavalcante