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sábado, 13 de maio de 2017

LÁ VEM A FURIOSA - BANDA DE MÚSICA DEPUTADO ANTÔNIO FLORÊNCIO DE QUEIROZ




                                                                                                          Foto cedida ao blog, ano de 1994.

Começando lá nas profundezas da história, no fundo da cumbuca, o primeiro registro da existência de Banda de Música na cidade de Pau dos Ferros, deu-se nos anos de 1907 a 1908, há 110 anos... Quando incentivados pelo Coronel Joaquim Correia, chefe político local, e o juiz de direito Dr. Horácio Barreto, os pauferrenses mais privilegiados financeiramente decidiram comprar instrumentos para formação da Banda de Música da cidade. No entanto, a referida corporação teve vida efêmera de praticamente dois anos e os instrumentos ficaram abandonados, em estado de conservação deprimente com o passar dos anos. Na época, a compra foi de 12 a 14 instrumentos e tudo custou 1 conto de réis e pouco. Tudo isso, ou só isso, causaria uma dos episódios mais sangrentos de nossa história... Caminhemos, pois.

Em 1918, Tertuliano Ayres, membro da antiga Banda, resolve reativá-la e ao lado de Horácio Bernadino, outro antigo membro, reuniram jovens solteiros, livres e em total clima lúdico e de festa, para fazer renascer a Banda da cidade. Na época, o chefe político ainda era Joaquim Correia, coronel de prestígio inabalável. A corporação acompanhava os eventos políticos do então mandatário local e tudo transcorria na mais tranquila normalidade. Apenas um integrante não acompanhava as apresentações quando havia cunho político. Nas demais apresentações, era sempre um clima de festa, todos tocavam por prazer e não como meio de vida.

Em 1919, A Banda de Música serviu como pretexto e pano de fundo para uma empreitada contra o Coronel Joaquim Correia. Era o plano dos Fernandes de dominar o Oeste Potiguar, e Pau dos Ferros era o lugar que mais contrariava essa ambição face à alta credibilidade de Joaquim Correia, adversário dos Fernandes. A única alternativa era as armas, já que por meio do voto ou do povo isso não ocorreria. Entonces, partiram para o confronto direto e os instrumentos da banda de música foram o motivo para a reunião dos dois grupos, motivo torpe, inválido, diante da orquestrada ação de cunho político que estava por trás de tudo. Tudo ocorreu no dia 3 de abril de 1919, vidas foram ceifadas e o sangue jorrou em nossa terra, o episódio ficou conhecido como "Hecatombe de 1919" ou "O fogo de Pau dos Ferros", já foi e será motivos de outros artigos aqui por nosso blogue.

Após o sinistro acontecimento do dia 3 de abril de 1919, a Banda de Música de Pau dos Ferros foi fundada oficialmente não se sabe por quem, tampouco tem-se detalhes maiores, mas há o registro legal da fundação da Banda no dia 2 de dezembro de 1919. A partir daí ocorre um vácuo na história de quase 60 anos, até o ano de 1978, quando o ilustre deputado pauferrense Antônio Florêncio de Queiroz doou todos os instrumentos, a Banda foi reativada e, dessa vez, ganharia um novo nome: Banda de Música Deputado Antônio Florêncio de Queiroz. Na época, o prefeito de nossa cidade era Dr. José Edmilson de Holanda, o doutor Zé Dimilson.


                                                                Antônio Florêncio de Queiroz

A partir do ano de 1978 começou uma nova história que perdura até os dias de hoje, desde o primeiro maestro Lourival Vieira e do segundo Lorivaldo Cavalcante Duarte até o mais novo maestro Marcos Maciel, de quem falaremos mais adiante.



HISTÓRICO ATUAL

Pois bem... Vamos aos dias atuais... A Banda resistiu sofrivelmente ao passar do tempo, ao decorrer dos anos, sem sede, sem apoio do poder público, sem prestígio legal, sem respaldo, todo mundo achava lindo sair "pra ver a banda passar", mas ninguém tomava uma atitude que desse o respeito devido que a Banda merecia e merece. A banda foi extinta em 2005, devido a problemas pessoais, organizacionais e outros mais graves como o próprio alcoolismo dos músicos. Em 2011, houve uma apresentação protesto em frente à Escola Joaquim Correia (aquele primeiro incentivador da Banda em 1907, 1908), nas festividades da padroeira do município. Naquela oportunidade, alguns músicos procuraram pessoas influentes de nossa sociedade para dar um apoio a Banda e conseguiram esse amparo principalmente nas pessoas de Nonato Oliveira, nosso Teté, de Joaquim do INSS e  de Raimundo Rêgo, um trio de ferro que foi responsável pelo renascer da Banda em 2012. Teté, desses três, assumiu a linha de frente e até hoje num abriu uma polegada do compromisso que fez com sua paixão pela banda de música, batendo na porta de um e de outro, fazendo desabafo na rádio, pedindo, distribuindo carnês para contribuições avulsas, ouvindo nãos e se acalentando com pouquíssimos sins. Até quando a Banda passa ele sai correndo atrás... Há muitas outras pessoas envolvidas também.

Nonato Oliveira - Teté.

Raimundo Rêgo, Teté  e Joaquim do INSS


SITUAÇÃO REAL ATUALMENTE

Hoje a banda possui 23 componentes, mas já chegou a ter 34 membros. Possui uma sede alugada na Rua Francisco Raulino da Costa, n° 130, no bairro João XXIII. Ensaia nas segundas e quartas-feiras. A Associação Maria Eunice da Silva - Lilia do Padre, é quem responde legalmente pela banda de música e foi reconhecida como utilidade pública há 3 anos, pela lei 1372/14, do dia 15 de janeiro de 2014. A partir daí a Associação que estava e está em dia com seus compromissos, amparada por lei, já estava autorizada a receber dinheiro público, como se encontra até hoje, mas recebeu apenas alguns meses isolados quando respirava por aparelhos.

                                                                                                                              Foto da sede

                                                                                                                          Foto da sede

Em 2016, no ano passado, no dia 06 de dezembro, a lei 1555/ 2016 reconheceu a Banda de Música Deputado Antônio Florêncio de Queiroz como Patrimônio Histórico Cultural Imaterial do Município, numa proposição do vereador Gilson Rêgo. 

Hoje e desde a reativação da Associação em 2012, apesar do reconhecimento como utilidade pública, a Banda vive de doações de pauferrenses, de algumas pessoas do comércio que contribuem de uma forma ou de outra, mas mesmo assim, as doações não dão, muitas das vezes, para pagar as despesas mensais de luz, àgua e manutenção dos instrumentos. 23 pessoas estão ativas nas doações mensais, contribuem através dos carnês e algumas pessoas doam avulsamente.

O MAESTRO

O regente atual é Marcos Maciel, que recebe uma quantia simbólica e bote simbólica nisso, de acordo com as possibilidades momentâneas. 


                                                                                                                   Marcos Maciel

Muitos maestros passaram por nossa banda e alguns merecem destaque como Barbosa de Menezes, que foi o primeiro maestro após a reativação em 2012. Outro importante maestro foi João Batista Ferreira, o "Ferreirinha" ou "João Maestro", que é o autor da partitura do Hino de Nossa Cidade, composto por Francisco Bezerra no ano de 1991. Atualmente João Maestro reside em Luis Gomes.


                                                                                                                 João Batista Ferreira

Dos integrantes, há membros de todas as idades, desde os mais jovens, aos mais idosos. O caçula da turma é Ícaro Teodoro, com 14 anos, mas existem membros de 15, 16, 17 e 19 anos.

                                                                                                                      Ícaro Teodoro

O mais velho da turma, é seu Benjamim Cavalcante, 89 anos, que toca Sax Alto, uma maravilha, né não? Seu Benjamim além de ser o mais antigo da Banda na formação atual, ingressou na Furiosa a convite de seu irmão Lorivaldo Cavacante, o segundo maestro da banda, no pós 1978.


Que todos os músicos se sintam representados nesses dois colegas, pois do que seria a Furiosa sem os músicos?

A FURIOSA

O apelido de Furiosa tem várias versões de nascimento, o que é bem válido, pois não é somente a banda de nossa cidade que é chamada por esse nome. Alguns membros contam, numa versão mais explicativa, que foi como forma de adjetivar a banda, em sua forma de tocar, que mesmo com pouco componentes fazia apresentações eloquentes, altivas e levava o público ao delírio.


Numa versão mais folclórica e saudosa, relata-se que Chiquinho da Farmácia, nos anos de 1978, 1979, soltou o grito quando viu que a Banda vinha descendo a rua da independência: "Lá vem a Furiosaaaa!" E desde então, ficou conhecida por esse nome.



Até hoje, dia 13 de maio de 2017, dia de Fatinha de Portugal, nossa Furiosa vive de doações, no entanto, há uma luz no final do túnel que indica que a Banda começará a receber o repasse da prefeitura a partir do mês de junho, coisa que nós torcemos muito para acontecer. Os lugares para doações são a Farmácia Independência, Eletrotel, Livraria de Geová Holanda e Sec. da Paróquia. Quem quiser doar é só chegar junto, pois só assim podemos ver "a banda passar cantando coisas de amor"...

Por Manoel Cavalcante