Há muito, se conhece (ou não) sobre os tipos populares das "Três Marias da Barragem", assim como outros tipos populares que permeiam as ruas de Pau dos Ferros. No entanto, o cancão piou diferente e uma danada por nome de Vanessa Maria de Queiroz Freitas, beliscada pelo "menino ruim" da História, cutucada pelo ferrão da curiosidade, decidiu estudar "As três Marias da Barragem" em seu artigo de conclusão de curso.
Foi nesse terreiro, que o feijão foi desbulhado de outra maneira, sob a ótica da História e os olhares de Michael Foulcaut e seus coleguinhas. Foi com um grande prazer que recebi o convite de fazer uns versos para a epígrafe e como conheço a autora desde o tempo em que eu era ruim que nem presta, assim como a história das 3 Marias, não hesitei. Fiz.
Três Marias de verdade.
Maria da Lucidez,
A da Singularidade,
E a da Ingênua Timidez.
Três Marias autorais
Mentoras dos próprios ais
Donas da própria agonia...
Um mundo só em três mentes,
Três Marias diferentes
De qualquer outra Maria.
Marias da inconsciência,
Da margem da sociedade,
Da própria história em essência
Das mãos da desigualdade.
Marias da vida inglória,
Marias filhas da História,
Almas vagando em vielas,
Pedintes de amor interno
Rainhas do trono eterno
Do próprio refúgio delas.
Ela muito bem descreve objetivamente as três personagens reais:
"Lilita. Antônia. Helena. Três mulheres. Um mistério comportamental. Falar
das “Três Marias da Barragem” é falar de três irmãs que são conhecidas e
nomeadas pela maior parte da população pauferrense por andarem sempre juntas e
compartilharem de hábitos recorrentemente parecidos, em público, ou seja, as
três irmãs não costumam se comunicar com outras pessoas, usam sempre um pano na
cabeça para cobrir o rosto e se afastam de todos que tentam alguma aproximação;
além disso, esta ligação com a barragem se dá pelo momento em que elas passaram
a ser mais vistas na cidade, quando moravam no Sítio Barragem, pertencente à
cidade de Pau dos Ferros – RN."
O academicismo pôs um quê a mais neste universo já belo, porém obscuro. Com a lanterna do conhecimento, Vanessa clareou um caminho bastante enigmático e controverso e com isso, prestou um grande serviço à literatura, ao misticismo, à história de Pau dos Ferros, aos deuses, e a quem quiser se sentir tocado por tudo isso. Filha do ex-vereador Eraldo Alves e consequentemente neta do também ex-vereador João Queiroz, ela traz em si, um espírito genuinamente pauferrense, de buscar, de preservar e de valorizar tudo aquilo que nos remete. Também Maria, Vanessa é uma Maria além do vértice, mais uma Maria singular, mais uma Maria afogada no universo humano. Pelo artigo, no mundos das outras três, percebemos inquietações, padrões vencidos, corpos modificados, vidas moldadas por mãos imaginárias, histórias talhadas com o cinzel das realidades. É uma loucura, é uma lucidez, é uma divindade. É um conflito entre o belo e o intrigantemente belo. É uma dose de história com "três" de dedos de imaginação (ou de cana). Viagem pela memória, é a tampa de um baú secular. É tudo e mais um pires de doce de leite. Tá bom. Parei. Mas quem quiser, continue!
Por Manoel Cavalcante
Você tem o dom de me deixar emocionada com suas palavras,meu amigo!
ResponderExcluirObrigada pela contribuição de sempre e pelo incentivo; por analisar com muita propriedade a minha escrita e por divulgar a nossa história, infame e linda.
Projetaremos essa futura publicação, se Deus e as Marias de todos os santos quiserem! =D
Meu Poeta parabéns pelos belos versos. E isso me lembro "As Flor de Puxinã", de Zé da Luz.
ResponderExcluirTrês muié ou três irmã,
Três cachorra da mulesta
Eu vi num dia de festa,
No lugar puxinanã.
A mais véia a mais ribusta
Era mermo um tentação!
Mimosa flô do sertão
Que o povo chamava Ogusta.
A segunda a Guléimina,
Tinha uns ói qui ô mardição!
Matava quarquê cristão
Os oiá déssa minina.
Os ói dela paricia
Duas istrêla tremendo,
Se apagando e se acendendo
Em noite de ventania.
A tercêra, era Maroca,
Cum corpo muito má feito,
Mas porém tinha nos peito
Dois cuscús de mandioca.
Dois cuscús, qui, pro capricho,
Quando ela passou pro eu,
Minha venta se acendeu
Cim xêro vindo dos bicho.
Eu inté, me atrapaiava
Sem saber das três irmã
Qui eu vi em Puxinanã,
Qual era a qui me agradava.
Inscuiendo a minha cruz
Prá sair desse imbaraço,
Desejei morrer nos braços,
Da dona dos dois cuscús.
Emoção pura. Os versos sinalizam a pureza dessas 3 Marias e o texto postado, sobranceiro e autêntico, dá um significado de esplendor espiritual, para 3 mulheres que se esgueiram pela vida, fugindo da realidade que não sabem ou não foram ensinadas para enfrentar. Sem dúvida: "Viagem pela memória, a tampa de um baú secular". É o espírito que norteia o rumo dessas 3 mulheres, e elas se sentem seguras e únicas, por isso se afastam das pessoas, que podem afasta-las dos seus desígnios. João Escolástico Bezerra Filho.
ResponderExcluirEssas três mulheres fazem parte da minha infância, quando na "boca da noite" chegavam na casa da minha para pedir comida. Toda a família dela era conhecida por meus avós, com os quais eu morava desde pequeno. Me lembro que quando elas chegavam, muitas vezes, quem dava comida a elas era eu mesmo, mas nunca vi seus rostos e nem como eram, sempre chegavam ao cair da noite e sempre às sombras. Fiquei curioso em ver seu trabalho Vanessa Freitas...
ResponderExcluirperfeito Emanoel!!!!!!!!!!
ResponderExcluirEU CONHECI AS TRÊS, ESTUDANDO COM MAMÃE, A PROFESSORA MARGARIDA PAIVA, NA SALA DA NOSSA CASA. SÃO TRÊS FIGURAS MESMO. OBG. PRIMO, POR ESSE RESGATE DA NOSSA HISTÓRIA.
ResponderExcluirVanessa, as três Marias todas as 3ª feiras a noite vão a residência de D.Eunice Rego a rua: 13 de Maio,144 pegar uma feira doada a muitos anos por D. Eunice, o mais interessante é que tem que ser 3 feiras, pois cada uma faz sua comida separada e no final do ano ela doa sandálias e roupas pretas , a cor das roupas é uma das exigências delas.
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