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segunda-feira, 7 de abril de 2014

“A criação bovina em uma propriedade rural é abençoada”!





Por Licurgo Nunes Quarto 



Essa frase é familiar, corriqueira e muito pronunciada por todos aqueles que lidam com a atividade do campo.

O gado prospera com muita rapidez, bem como é, entre todos os valores agregados da atividade agropecuária, o de melhor e mais rápida liquidez. Na hora do “aperreio”, de uma necessidade maior, de um “aperto” – do pequeno ao grande agropecuarista - é vendendo os bois ou vacas que se consegue, rapidamente, auferir um apurado financeiro e enfrentar qualquer despesa que se vislumbre.

Já vi um curral repleto de vacas ser todo vendido – dizimado - deixando-se, apenas, um exemplar como semente, e, dessa unidade remanescente restabelecer, em poucos anos, uma quantidade expressiva de “cabeças de gado”.

Seca terrível de 1958; região do Alto Oeste Potiguar – a exemplo de todo o Estado - sob decreto de “estado de calamidade”. Proprietários rurais liberando os seus operários para as “frentes de trabalhos” - um programa do governo federal que consistia em empregar a mão de obra ociosa do campo em serviços de manutenção de estradas, ou mesmo na construção de pequenos açudes.

Fazenda Galeão já com pouco pasto, água escassa, com o gado tendo que percorrer uma distância considerável para matar a sede, e, não muito raro – devido à desnutrição – uma ou outra rês, não resistia, vindo a morrer. Foi o que aconteceu com uma vaca que acabara de parir uma bezerra. Muito magra, esquelética, não resistiu ao esforço desprendido durante o parto, morreu, tendo, contudo, a sua respectiva cria sido preservada. Magrinha e órfã, e com apenas um dia de vida, tendia a morrer também. Montou-se, então, uma “operação de guerra” para salvar – manter viva - referida cria.

Providenciou-se a aquisição de mamadeira para alimentá-la com leite; reservou-se um espaço no quintal da casa grande para que ficasse bem acomodada e isolada dos animais maiores, bem como, sob a orientação de Joaquim Osório - Veterinário prático que prestava assistência ao rebanho da fazenda – adquiriu-se complexo vitamínico e toda medicação necessária para auxiliar na recuperação do pequeno e raquítico animal.

Maria Vieira, esposa do João Silvestre, gerente da propriedade, percebendo que o trabalho todo para salvar a bezerra ia ser dela, haja vista que hodiernamente essa tarefa de tratar de animais órfãos ou “enjeitados” - em uma fazenda - ficava sempre aos cuidados da caseira, e após ouvir todas as recomendações de como deveria proceder na tarefa que lhe estava sendo atribuída – com o horário determinado para alimentação, medicação, etc. - dirige-se ao proprietário, dizendo:

“Compadre Licurgo, essa bichinha não tem jeito não. Magrinha e fraquinha como ela está, vai morrer logo!”

No que o proprietário, num lance aguçado de inteligência e perspicácia, e para que não tivesse o prejuízo total, respondeu:

“Comadre Maria, vamos fazer o seguinte: cuide bem dessa bezerrinha, não deixe que ela morra, que a primeira cria dela eu lhe dou de presente”!

Foi o suficiente para que a comadre passasse a cuidar com todo esmero do pequeno animal, tratando-o “na palma da mão”, na esperança de vê-lo crescer, tornar-se adulto forte e saudável, “amojar” , parir, e, consequentemente, ganhar de presente a cria.

E, para a sorte da “tratadora”, a primeira cria foi uma fêmea, e, conforme prometido, foi-lhe dada de presente.

Corroborando com o preceito enunciado anteriormente de que “a criação bovina é mesmo abençoada”, desse presente – que a principio parecia sem maiores perspectivas - a Maria Vieira formou um rebanho bovino bem expressivo.

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