Intentona Comunista Quartel da Salgadeira - Atual Casa do Estudante
A Intentona Comunista faz parte da História
do Brasil. Luiz Carlos Prestes, mesmo depois de morto há muitos anos, é
noticiado cotidianamente. Há poucos meses devolveram o título de Senador da
República e sua viúva requereu sua investidura como General do
Exército Brasileiro, face a lei da anistia. Existe até uma discussão pública, e
nos anais oficiais, entre a viúva e a filha de Carlos Prestes com Olga Benário,
pois a filha não quer que o pai receba a patente de General, diz que ele sempre
odiou o Exército, assim a imprensa noticiou.
O RN, diferentemente de outros Estados, foi o único da federação cujo governador foi
deposto pelos rebeldes de Luiz Carlos Prestes. O comandante da polícia do
Estado aderiu a rebelião comunista, no início de novembro de 1935 e resolveu
depor o Governador Rafael Fernandes Gurjão (pauferrense). O Governador estava no Teatro
Carlos Gomes (hoje Alberto Maranhão?) quando soube da traição do seu Chefe de
Polícia. Fugiu e se escondeu com sua mulher e os 2 filhos (Gileno e Marcos
Fernandes Gurjão) na casa de amigo e no dia seguinte se asilou no Consulado da
Itália). O Comandante da PM do Estado telegrafou para todos os Chefes de
Batalhões da PM de todos os municípios, mas a maioria não aderiu ao seu chefe,
inclusive Mossoró, que se manteve fiel ao Governador. Mas o de Pau dos Ferros
atendeu a ordem e prendeu e depôs o prefeito Marcelino Francisco de Oliveira.
Alguns jovens de Pau dos Ferros, liderados por Licurgo Nunes, que na época era
acadêmico de Direito, se insurgiram contra essa opressão e tentaram se
organizar para o combate, mas a PM soube antes e passou a persegui-los. Além de
Licurgo, Antônio Holanda foi preso, como também um Diógenes e um Gameleira cujos
nomes não são lembrados.
Por aqui, nos idos
de 1935, foram 9 dias de angústias, de pesadelos, famílias tradicionais foram
envolvidas e seus sobrenomes não devem ser manifestados. Os manifestantes
tomaram a cidade, João Escolástico Bezerra fugiu para Cajazeiras num jeep
(fabricação USA) fornecido por Joaquim de Holanda para não ser preso pelos
manifestantes. A esposa de João Escolástico se escondeu embaixo de um Juazeiro
na Fazenda de Joaquim de Holanda, porque residentes na rua 7 de setembro, quase
vizinhos da cadeia de muro alto e fortificado ao lado do açougue e do motor da
luz, ouviram gritos e supuseram que os
preços políticos estavam sendo torturados. Há um fato engraçado com a prisão de
Antonio Holanda, que por pouco não conseguiu fugir da perseguição dos soldados,
mas ao pular uma cerca de arame ficou preso pelas calças e localizado pelos
militares. Os filhos de João Escolástico também se esconderam na fazenda,
inclusive o menor, de 11 meses, fora carregado em um cesto de pão pela senhora
Maria Elizária.
O motorista que transportou João
Escolástico a Paraíba foi preso ao retornar e, provavelmente, mediante tortura,
confessou a vinda de tropas da Paraíba, para tentar retomar a cidade dos rebeldes, o que
causou a fuga de policiais, além do fato de existir em Pau dos Ferros apenas 9
militares, alguns - inclusive - estiveram presos, por não terem compartilhado
com a Intentona. Mas esse é um fato obscuro, não se sabe exatamente
quantos soldados estavam em Pau dos Ferros, a única certeza é que ninguém
morreu, não houve enfrentamento. A desigualdade de tropas, no entanto, entre a
que veio da Paraíba e a que estava na cidade (inclusive soldados e civis
provenientes de Natal), serviu até de motivo de exploração na eleição contra João
Escolástico nas posteriores eleições de 1937. Através da vinda das tropas paraibanas,
foi que a cidade conseguiu ser retomada.
Essas tropas aqui desembarcaram,
através dos mandos do Governador da Paraíba, Argemiro de Figueiredo, que já
havia enviado tropas para várias cidades do RN, inclusive foram as tropas
paraibanas que expulsaram os rebelados da Intentona e trouxe a paz e tranquilidade
para Natal, eles quando depuseram o governador, passaram a usar a Vila Cinanto,
onde trabalhava e residia o Governador. Foi também o Governador da Paraíba que
reinvestiu o Governador Rafael Fernandes Gurjão no seu cargo. O interlocutor do
governo paraibano era o nosso conhecido Senador e Governador Dinarte Mariz, que
na época era um negociante de algodão, mas que resolveu liderar combatentes do
RN contra os comunistas. Foi Dinarte Mariz, um dos criadores do Partido Popular
(partido que também contou com Aluysio Alves), que intermediou com o governador
paraibano, a remessa de tropas paraibanas para Pau dos Ferros.
O caminhão GM chegava a Pau dos Ferros
transportando João Escolástico Bezerra e 46 soldados paraibanos. A rua, hoje
Avenida Getúlio Vargas, estava cheia de gente, nunca vira tantos pauferrenses
juntos. O caminhão era enorme (de fabricação da USA que o Brasil
importava), a cabine cabia 4 pessoas e na carroceria 2 carreiras de bancos nas
laterais e 2 unidas no centro, onde os soldados estavam. A cobertura
de encerados (lonas), mas as lonas estavam encolhidas nas laterais, por
onde o povo e os militares se avistavam.
Os sublevados ou tinham fugido ou se
rendido, na verdade em Pau dos Ferros existiam apenas 1 Sargento
(Comandante) e 8 soldados. Os prisioneiros (da Intentona) foram
libertados. A cidade estava em festa. Os rebelados erraram em subestimar
a capacidade dos católicos, ao fechar a Catedral. No comunismo da
época, o mesmo da Rússia, as propriedades privadas passavam para o Estado,
tudo era distribuído para o povo usufruir, só governava as pessoas
por eles indicadas, mas os pauferrenses ficaram revoltados em ter sua igreja
fechada, não ter onde assistir a missa, o Padre Omar Cascudo foi aprisionado na
casa paroquial. Tal como em Natal, as mercearias e as mercadorias da
feira foram confiscadas, aquele que não tivesse reserva de alimentos,
estava desesperado, virava pedinte dos policiais e dos pauferrenses que se
aliaram a eles. Sim, houve quem fizesse isso, inclusive de famílias - na época
- bem conhecidas, que assim tentavam preservar seus pertences e, supõe-se que isso tenha causado tanto silêncio para a posteridade.
Em 1937 foram realizadas as eleições
para Prefeito, em 16/03/1937, e João Escolástico concorreu pelo Partido
Popular. Foi eleito e proclamado em 02/04/1937. Mas, não foi uma vitória
retumbante, os adversários questionaram o fato de ser o responsável
pela invasão de militares paraibanos em Pau dos Ferros, que poderia ter causado
um morticínio, se tivesse havido reação das forças que dominavam a
cidade. Levaram a emoção, alegando que os soldados pauferrenses se
renderam para não provocar tantas mortes, como ocorrera em Caraúbas. Como citado anteriormente, havia uma
preocupação imensa dos capelães Omar Cascudo, seguido pelo capelão Militão
Benedito de Mendonça em apaziguar os ânimos e trazer a paz para Pau dos Ferros,
até que teve seus desejos satisfeitos, pois durante uma missa conseguiram do povo
pauferrense e solenemente, a promessa de paz entre os habitantes. Muitas
famílias voltaram a ser amigas, todo mundo perdoado e a paz imperou na cidade
até nossos dias, inclusive com muitos casamentos entre membros dessas famílias.
Hoje, não existem nomes, só os fatos, lamentavelmente provocados por ambições
de políticos desalmados do Rio de Janeiro e outras capitais do país, cuja
repercussão alcançou o povo ordeiro de nossa terra.
CRÉDITOS DA MATÉRIA A JOÃO ESCOLÁSTICO FILHO - Editor Manoel Cavalcante
Peço vênia, ao Editor Manoel Cavalcante e ao autorizador da postagem, Israel Vianney, para corrigir a marca do caminhão: De "GE" para "GM". Erro ao clicar a letra no teclado do computador. João Escolástico Bezerra Filho.
ResponderExcluir