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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A INTENTONA COMUNISTA EM PAU DOS FERROS


                                    Intentona Comunista Quartel da Salgadeira - Atual Casa do Estudante



A Intentona Comunista faz parte da História do Brasil. Luiz Carlos Prestes, mesmo depois de morto há muitos anos, é noticiado cotidianamente. Há poucos meses devolveram o título de Senador da República e sua viúva requereu sua investidura como General do Exército Brasileiro, face a lei da anistia. Existe até uma discussão pública, e nos anais oficiais, entre a viúva e a filha de Carlos Prestes com Olga Benário, pois a filha não quer que o pai receba a patente de General, diz que ele sempre odiou o Exército, assim a imprensa noticiou.

O RN, diferentemente de outros Estados, foi o único da federação cujo governador foi deposto pelos rebeldes de Luiz Carlos Prestes. O comandante da polícia do Estado aderiu a rebelião comunista, no início de novembro de 1935 e resolveu depor o Governador Rafael Fernandes  Gurjão (pauferrense). O Governador estava no Teatro Carlos Gomes (hoje Alberto Maranhão?) quando soube da traição do seu Chefe de Polícia. Fugiu e se escondeu com sua mulher e os 2 filhos (Gileno e Marcos Fernandes Gurjão) na casa de amigo e no dia seguinte se asilou no Consulado da Itália). O Comandante da PM do Estado telegrafou para todos os Chefes de Batalhões da PM de todos os municípios, mas a maioria não aderiu ao seu chefe, inclusive Mossoró, que se manteve fiel ao Governador. Mas o de Pau dos Ferros atendeu a ordem e prendeu e depôs o prefeito Marcelino Francisco de Oliveira. Alguns jovens de Pau dos Ferros, liderados por Licurgo Nunes, que na época era acadêmico de Direito, se insurgiram contra essa opressão e tentaram se organizar para o combate, mas a PM soube antes e passou a persegui-los. Além de Licurgo, Antônio Holanda foi preso, como também um Diógenes e um Gameleira cujos nomes não são lembrados. 

Por aqui, nos idos de 1935, foram 9 dias de angústias, de pesadelos, famílias tradicionais foram envolvidas e seus sobrenomes não devem ser manifestados. Os manifestantes tomaram a cidade, João Escolástico Bezerra fugiu para Cajazeiras num jeep (fabricação USA) fornecido por Joaquim de Holanda para não ser preso pelos manifestantes. A esposa de João Escolástico se escondeu embaixo de um Juazeiro na Fazenda de Joaquim de Holanda, porque residentes na rua 7 de setembro, quase vizinhos da cadeia de muro alto e fortificado ao lado do açougue e do motor da luz,  ouviram gritos e supuseram que os preços políticos estavam sendo torturados. Há um fato engraçado com a prisão de Antonio Holanda, que por pouco não conseguiu fugir da perseguição dos soldados, mas ao pular uma cerca de arame ficou preso pelas calças e localizado pelos militares. Os filhos de João Escolástico também se esconderam na fazenda, inclusive o menor, de 11 meses, fora carregado em um cesto de pão pela senhora Maria Elizária.

O motorista que transportou João Escolástico a Paraíba foi preso ao retornar e, provavelmente, mediante tortura, confessou a vinda de tropas da Paraíba, para tentar retomar a cidade dos rebeldes, o que causou a fuga de policiais, além do fato de existir em Pau dos Ferros apenas 9 militares, alguns - inclusive - estiveram presos, por não terem compartilhado com a Intentona.  Mas esse é um fato obscuro, não se sabe exatamente quantos soldados estavam em Pau dos Ferros, a única certeza é que ninguém morreu, não houve enfrentamento. A desigualdade de tropas, no entanto, entre a que veio da Paraíba e a que estava na cidade (inclusive soldados e civis provenientes de Natal), serviu até de motivo de exploração na eleição contra João Escolástico nas posteriores eleições de 1937. Através da vinda das tropas paraibanas, foi que a cidade conseguiu ser retomada.

Essas tropas aqui desembarcaram, através dos mandos do Governador da Paraíba, Argemiro de Figueiredo, que já havia enviado tropas para várias cidades do RN, inclusive foram as tropas paraibanas que expulsaram os rebelados da Intentona e trouxe a paz e tranquilidade para Natal, eles quando depuseram o governador, passaram a usar a Vila Cinanto, onde trabalhava e residia o Governador. Foi  também o Governador da Paraíba que reinvestiu o Governador Rafael Fernandes Gurjão no seu cargo. O interlocutor do governo paraibano era o nosso conhecido Senador e Governador Dinarte Mariz, que na época era um negociante de algodão, mas que resolveu liderar combatentes do RN contra os comunistas. Foi Dinarte Mariz, um dos criadores do Partido Popular (partido que também contou com Aluysio Alves), que intermediou com o governador paraibano, a remessa de tropas paraibanas para Pau dos Ferros.

 O caminhão GM chegava a Pau dos Ferros transportando João Escolástico Bezerra e 46 soldados paraibanos. A rua, hoje Avenida Getúlio Vargas, estava cheia de gente, nunca vira tantos pauferrenses juntos.  O caminhão era enorme (de fabricação da USA que o Brasil importava), a cabine cabia 4 pessoas e na carroceria 2 carreiras de bancos nas laterais e 2 unidas no centro, onde os soldados estavam. A cobertura de encerados (lonas), mas as lonas estavam encolhidas nas laterais, por onde o povo e os militares se avistavam.

Os sublevados ou tinham fugido ou se rendido, na verdade em Pau dos Ferros existiam apenas 1 Sargento (Comandante) e 8 soldados. Os prisioneiros (da Intentona) foram libertados. A cidade estava em festa.  Os rebelados erraram em subestimar a capacidade dos católicos, ao fechar a Catedral.  No comunismo da época, o mesmo da Rússia, as propriedades privadas passavam para o Estado, tudo era distribuído para o povo usufruir, só governava as pessoas por eles indicadas, mas os pauferrenses ficaram revoltados em ter sua igreja fechada, não ter onde assistir a missa, o Padre Omar Cascudo foi aprisionado na casa paroquial.  Tal como em Natal, as mercearias e as mercadorias da feira foram confiscadas,  aquele que não tivesse reserva de alimentos, estava desesperado, virava pedinte dos policiais e dos pauferrenses que se aliaram a eles. Sim, houve quem fizesse isso, inclusive de famílias - na época - bem conhecidas, que assim tentavam preservar seus pertences e, supõe-se que isso tenha  causado tanto silêncio para a posteridade.

Em 1937 foram realizadas as eleições para Prefeito, em 16/03/1937, e João Escolástico concorreu pelo Partido Popular. Foi eleito e proclamado em 02/04/1937.  Mas, não foi uma vitória retumbante, os adversários questionaram o fato de ser o responsável pela invasão de militares paraibanos em Pau dos Ferros, que poderia ter causado um morticínio, se tivesse havido reação das forças que dominavam a cidade.  Levaram a emoção, alegando que os soldados pauferrenses se renderam para não provocar tantas mortes, como ocorrera em Caraúbas.  Como citado anteriormente, havia uma preocupação imensa dos capelães Omar Cascudo, seguido pelo capelão Militão Benedito de Mendonça em apaziguar os ânimos e trazer a paz para Pau dos Ferros, até que teve seus desejos satisfeitos, pois durante uma missa conseguiram do povo pauferrense e solenemente, a promessa de paz entre os habitantes.  Muitas famílias voltaram a ser amigas, todo mundo perdoado e a paz imperou na cidade até nossos dias, inclusive com muitos casamentos entre membros dessas famílias. Hoje, não existem nomes, só os fatos, lamentavelmente provocados por ambições de políticos desalmados do Rio de Janeiro e outras capitais do país, cuja repercussão alcançou o povo ordeiro de nossa terra. 


CRÉDITOS DA MATÉRIA A JOÃO ESCOLÁSTICO FILHO - Editor Manoel Cavalcante


Um comentário:

  1. Peço vênia, ao Editor Manoel Cavalcante e ao autorizador da postagem, Israel Vianney, para corrigir a marca do caminhão: De "GE" para "GM". Erro ao clicar a letra no teclado do computador. João Escolástico Bezerra Filho.

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