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segunda-feira, 7 de junho de 2010

CÂMARA CASCUDO E MÁRIO DE ANDRADE NO RN

           O Rio Grande do Norte, em matéria de Cultura popular é, por vários motivos, um Estado privilegiado.
            Em primeiro lugar, aqui nasceu Luís da Câmara Cascudo, por muitos considerado o maior folclorista brasileiro. Depois, por influência de Cascudo, aqui esteve, durante um período de 45 dias, nos meses de Dezembro de 1928 a Janeiro de 1929, o escritor paulista Mário de Andrade,realizando um fabuloso trabalho de coleta do repertório poético-musical de nossas danças folclóricas e de outras manifestações de nossa cultura popular.
            Não obstante toda a sua importância como intelectual de elite, Mário nunca desdenhou da cultura do povo. Por isto, quando, em 1928, surgiu a oportunidade de ele viajar ao Nordeste brasileiro, atendendo a um convite de Lúis Da Câmara Cascudo, para pronunciar conferências sobre literaturas, Mário não pensou duas vezes, mas, ao invés de pronunciar conferências, ele se dedicou, de corpo e alma, durante todo o tempo que passou em Natal, como hóspede de cascudo, a coletar cantigas e documentar o folclore potiguar. 
Câmara Cascudo
 
Mário de Andrade
VIAJANDO O SERTÃO

              Nós potiguares ainda não conhecemos a obra de Câmara Cascudo como deveríamos. Em "Viajando o Sertão" encontri a prova da visita de Câmara Cascudo a Pau dos Ferros em Maio de 1934.
             Nas páginas 15 e 16 lê-se: "Minha curiosidade acendia-se ao contato dos temas prediletos. Os portões dos cemitérios, todos guardando reminiscências do barroco jesuítico, as lápides fúnebres, ingênuas e doces; a lâmpada maravilhosa da Igreja de Pau dos Ferros, pesada e maciça, de prata de Lisboa, trabalhada em estilo rococó, carinhas de anjos e motivos conchiformes, o turíbulo e sacrário, lindos ambos; a capelinha de Nossa Senhora dos Impossíveis, na Serra do Lima, com as paredes cobertas de ex-votos, símbolos de fé intrépida e profunda, comovente pela sinceridade do gesto e incrível feiúra dos modelos; a chapada do Apodi, viagem inesquecível de beleza fulgurante; a subida de Luiz Gomes, piso de vermelho-gole num tapete infindável de verdura, os riachos fulvos e rumorosos que desciam cantando nas areias, os milharais intermináveis, pendoados de ouro agitando os guiões ao vento breve, como um exército imóvel e vestido de sinopla; a jornada pelo rio moçoro, noitinha, numa canoa balouçante, ao palor dum luar hesitante, a corrida de auto dentro da treva até o pirilampejo das luzes de moçoro, vinte outros assuntos, pedem espaço para registro e saudade".
Israel Vianey.

Um comentário:

  1. Olá, Vianey, parabéns pelo CULTURA PAU-FERRENSE. Gosto das temáticas de suas matérias e da simplicidade e da riqueza de seus textos, especialmente de como dá sentidos leves e apaixonados a nossa cultura. Abraços, Gilton Sampaio

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