CLEODON CARLOS DE ANDRADE
Por Licurgo Nunes Quarto
Cleodon Carlos de Andrade, filho de Joaquim Cirilo de Andrade e de Jardilina Carlos de Andrade, nasceu a 31 de julho de 1903, na Cidade de Patú, localizada no médio oeste do Estado do Rio Grande do Norte.
Formado em Medicina pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, turma de 1931, especializou-se em Ginecologia e Obstetrícia, e, durante toda sua vida, dedicou-se à nobre missão de curar e salvar vidas. Foi o obstetra – parteiro – durante três décadas na região do Alto Oeste. Por suas mãos nasceram inúmeros e incontáveis pauferrenses e oestanos.
Foi o primeiro médico nascido na Cidade do Patú.
Antes de chegar a Pau dos Ferros, exerceu a medicina por várias cidades do Estado, como: Apodi, Portalegre, Angicos, Caraúbas, Ceará Mirim, Assú e Lajes.
Exerceu os seguintes cargos no Rio Grande do Norte, todos voltados para a medicina:
Nomeado, pelo Presidente do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos, como Médico interino da agência de 1ª Classe em Areia Branca;
Em abril de 1935 foi nomeado Médico chefe do Posto de Saúde de Mossoró, Rio Grande do Norte;
Em agosto de 1935 foi nomeado Assistente Médico do Centro de Saúde do Alecrim e da cidade de Macaíba;
Em agosto de 1944 foi nomeado Médico da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte.
Casou-se em 12 de março de 1938 com Idezith Dantas de Andrade, natural de Portalegre, Rio Grande do Norte, e filha do Coronel Francisco Dantas de Araújo, político e agro-pecuarista importante à época, proprietário de grande extensão de terra na região, notadamente no “pé da serra” de Portalegre, onde hoje situa-se a Cidade de Francisco Dantas. Dona Josefa Dantas de Araújo era a esposa de Francisco Dantas e mãe de Idezith Dantas de Andrade.
Do casamento do Dr. Cleodon com Dona Idezith, que perdurou por 49 anos, nasceram os seguintes filhos:
Lineu Dantas de Andrade; Maria Cleide Dantas de Andrade Abrantes; Maria Matilde Dantas de Andrade e Renato Dantas de Andrade.
O Dr. Cleodon Carlos de Andrade dedicava tempo integral à medicina, exercendo este mister com toda atenção e presteza, atendendo a todos da melhor maneira, sem distinção nem preconceitos, pondo em prática os conhecimentos adquiridos na faculdade e no dia a dia da clínica médica.
Pessoa de personalidade forte, “não levava desaforo para casa”.
Um pouco temperamental, tipo “pavio curto”, não gostava de política partidária.
Embora não gostasse de política partidária, não resistindo a insistentes apelos dos amigos, acedeu em concorrer ao cargo de Prefeito de Pau dos Ferros. Ano de 1952. Foi uma campanha muito acirrada, uma vez que o grupo adversário vinha de uma derrota eleitoral e tentava, consequentemente, sair vitorioso. Concorria com o Dr. José Fernandes de Melo, também Médico e igualmente grande benfeitor da Cidade.
Incansavelmente, saiu por todo o município pedindo votos para se eleger, acompanhado do então Prefeito Licurgo Nunes, que o apoiava nessa empreitada.
Em um verdadeiro corpo a corpo, encetou visitas a todas as residências, e, onde chegava, mostrando poder de persuasão, levava a sua mensagem de candidato.
Ao adentrar à casa de um compadre e amigo, o “João de Osmundo” - que lhe devia inúmeros favores relativos à medicina - localizada na zona rural, ao avistar o compadre, que também era compadre do Dr. José Fernandes, candidato adversário, foi logo falando que era candidato a Prefeito, e, sem perder tempo, perguntou em quem ele votaria. O compadre, homem sincero e honesto, de hábitos simples e afeito às lides rurais, sem titubear, respondeu que votaria nele, compadre Cleodon, porém Maria, sua mulher, iria votar no candidato adversário, o também compadre José Fernandes de Melo, pois este, como médico que era, havia feito os três partos que resultaram no nascimento dos seus filhos; que os dois votos da casa seriam democraticamente divididos entre os dois compadres Cleodon e José Fernandes. Após ouvir a declaração de votos do compadre João, o Dr. Cleodon, argumentando e elencando suas metas de candidato, tentou reverter o quadro, querendo fazer com que o voto da comadre Maria também fosse para ele. Dona Maria - que se encontrava na cozinha fazendo um cafezinho para a ilustre visita que acabara de chegar - e que a tudo ouvia, e sentindo a insistência para que o seu voto também fosse para o compadre Cleodon, não se conteve, e, dirigindo-se à sala onde os dois conversavam, com as mãos na cintura e balançando os quadris, soltou:
“João, se você quiser votar no compadre Cleodon pode votar, tudo bem; agora não adianta você querer prometer o meu voto pra ele não, pois nesta eleição sou todinha, todinha mesmo, do meu compadre José Fernandes”.
O Dr. Cleodon, ao ouvir tamanha declaração, não se conteve, e, fazendo jus ao “pavio curto” que lhe era peculiar, levantou-se da “espreguiçadeira” em que estava sentado, e, dirigindo-se ao eleitor, disse:
“Compadre João, pelo que eu estou vendo você é muito é corno, e eu tenho nojo de corno; até logo, passe bem!” e, sem maiores delongas, retirou-se abruptamente da residência do compadre. Desnecessário dizer que perdeu os dois votos da casa.
Como era muito solicitado – chamado - para atender às urgências médicas que apareciam, principalmente as noturnas, resolveu instalar uma rede para dormir no quarto da frente da sua casa, na parede que dava para a calçada, bem encostada na janela. Ficava mais fácil ouvir qualquer chamado. Qualquer batidinha na janela dava para ele ouvir.
Certa madrugada, acorda com alguém batendo, insistentemente, chamando-o:
“Dr. Cleodon, Dr. Cleodon...!”
“Quem é?”, perguntou.
“É Chico de Manoel Rosa, respondeu, aflito.
“O que foi?”
“É que eu queria que o Senhor examinasse a minha filha Maria”!
“O que é que ela tem”, perguntou o esculápio, ainda deitado na rede, tentando iniciar uma rápida anamnésia.
“Tá passando mal; foi comida”!
“Então, meu amigo, não é comigo não, é na Delegacia; é na Delegacia; vá procurar o Delegado!”.
Esse era o Dr. Cleodon, muito inteligente; uma figura humana das melhores e de uma verve e de um humor muito aguçados.
Perdeu a campanha política, e nunca mais se candidatou a qualquer cargo eletivo.
Tempos depois, abrindo raríssima exceção, integrou-se à campanha do empresário Raimundo Abrantes, (Senhor Abrantes) seu genro, (pois era casado com sua filha Cleide), que se elegera Deputado Estadual no ano de 1966.
De uma dignidade a toda prova, correto e de uma capacidade de trabalho muito grande, fez do exercício diário da medicina um verdadeiro ideário, e a todos atendia, a qualquer hora do dia ou da noite, com a maior boa vontade e presteza.
Faleceu a 08 de janeiro de 1987.
O Governo do Estado do Rio Grande do Norte, através da Secretaria de Saúde do Estado, prestou-lhe uma significativa homenagem quando, ao inaugurar um grande hospital na Cidade de Pau dos Ferros – um hospital de referência que atende a todos os municípios do Alto Oeste - deu o nome “Hospital Regional Dr. Cleodon Carlos de Andrade”.
Eis pois, amigo e conterrâneos a história de um pauferrense por adoção, por opção, que muito fez por nossa terra e por nossa gente.
Com essa biografia, creio estar contribuindo para que o trabalho, bem como as boas ações realizadas pelo Dr. Cleodon Carlos de Andrade cheguem ao conhecimento das gerações mais novas, assim como fiquem perpetuadas para a história.