Fotografia: Bairro Manoel Deodato
na Década de 90 / Fonte: Tércia Maria Batalha
Acerto: Ponto de Memória
Pau-Ferrense
O Bairro Manoel Deodato surgiu em
meados dos anos 60. Às margens do Rio Apodi, construíram-se a primeiras casas, erguidas
em barro e taipas. Para além das margens do rio, o bairro também surgiu margeado
de estigmas e preconceitos com as famílias que lá residiam.
As pessoas que lá moram foram
discriminadas (e ainda são) e esquecidas à margem da sociedade, onde estão os
excluídos: negros, prostitutas, homossexuais e, sobretudo, os pobres.
Na década de 90, em virtude da
ausência de saneamento básico e assistência social, os moradores do bairro eram
isolados dos serviços públicos: culturais, artísticos, saúde, segurança e
educacionais (e quando tinham, recebiam migalhas, o que sobrava da casa grande).
Por falta de incentivo em
políticas públicas para a população do MD (como o bairro é popularmente
conhecido), muitos jovens e adultos caminharam rumo às drogas e prostituição,
já que eram as únicas portas que lhes davam morada. As demais portas eram
batidas à cara!
Por algum tempo, morar no MD era
sinônimo de “maconheiro”, puta e ladrão (fruto do padrão normativo de nossa sociedade).
Enquanto isso, as oligarquias e
os mais abastados moravam nos melhores bairros, no luxo de ruas asfaltadas, com
saneamento básico, onde estavam as melhores escolas, assistência social e de saúde,
e de fácil acesso aos bens culturais mais sofisticados que a cidade dispunha.
Faço aqui a comparação para
destacar que as diferenças sociais e de garantias de direitos foram
intensificadores para a exclusão, discriminação e preconceitos com os moradores
do MD. Infelizmente, foi preciso que muitos morressem para que os “administradores
públicos” pudessem reagir de forma positiva para a diminuição dos problemas
enfrentados no Manoel Deodato.
É importante evidenciar que o
bairro MD é um grande palco de projeção para inúmeras personagens da cultura
popular de Pau dos Ferros: artistas, professores, mães rezadeiras, parteiras,
poetas, lideranças comunitárias, microempreendedores etc. que fizeram das
dificuldades enfrentadas ofício do cotidiano para lutar por melhores condições
de vida.
LUTAR MESMO! Vi e ouvi por
diversas vezes os moradores do MD reivindicarem os seus direitos sociais,
humanos e políticos em programas de rádio, também à porta da prefeitura (que
era, na maioria das vezes, batida à cara). Acredito que em Pau dos Ferros não
há gente de mais força, garra, luta e inventiva quanto a do Manoel Deodato.
O desenvolvimento do MD deve
muito à luta desse povo, que mesmo sofrido e estigmatizado nunca silenciou
diante de suas dificuldades e desafios. Hoje, o MD é um dos maiores bairros de
Pau dos Ferros e nos serve de exemplo de luta, progresso e vida.
Transformemos nossas dificuldades
em lutas. Dessa forma, não há oligarquia que cale a nossa VOZ. Parabéns ao povo
forte, lutador e aguerrido do Manoel Deodato.
Victor Rafael do Nascimento
Mendes.
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