Há muito, os defensores da cultura relutam, reclamam e desabafam contra o descaso em desfavor da preservação de nossas memórias e nossas raízes. O tombamento de prédios históricos, arquiteturas antigas e edificações públicas, é grito perene na garganta dos patriotas entusiasmados. Consoante a isso, cada relato de longevidade e preservação de nossas raízes é motivo para muita comemoração. Eis que surge uma curta metragem de uma longa história nas brenhas do Encanto-RN, antigo Joaquim Correia, terra fértil em que Calazans Fernandes muito bem descreve em seu -O Guerreiro do Yaco, dois pontos:
"A casa foi construída em 1915 para ser o lar de Raimundo de Souza Nunes e Maria do Amor Divino, casal de agricultores, no Povoado de Várzea Nova, atualmente Município de Encanto - RN, entretanto, na época, pertencia a Pau dos Ferros. O terreno foi conseguido de herança dos pais de Raimundo, que deixaram um grande terreno para os filhos, a parte que tocou a Raimundo ele construiu sua casa. A construção teve início com três grandes vãos, que correspondiam a uma sala, um quarto e a cozinha, a construção foi empreendida pelo proprietário, juntamente com os irmãos, ao final do plano inicial da casa, notaram que ainda havia sobrado vários tijolos, de modo que construíram mais um vão, no caso, outro quarto. O casamento foi no ano de 1917 e lá foram morar e construir a família, tiveram 16 filhos ao todo, morreram 7 crianças destas 16, também houveram três abortos. A vida desta família foi bastante sofrida para construir o patrimônio e herança, Raimundo construiu ainda um açude nas proximidades da casa. Foi permitido a todos os filhos a educação, mesmo com as dificuldades da época, bem como foi ensinado desde cedo o trabalho doméstico e na agricultura e a certeza de que nada na vida é conquistado sem o trabalho. Em 1945 foi construído o alpendre que circunda a casa, desta vez com ajuda dos filhos. Também a devoção a Nossa Senhora das Graças no Povoado de Várzea Nova teve início nesta família, onde a caçula, Maria das Graças Souza, hoje com 74 anos passou por sérios problemas de saúde na infância, na qual uma dor ciática aguda culminou na perda de um pedaço de osso da sua perna, deixando-a sem andar, a Sra. Maria, sua mãe, empreendeu orações e promessas e escreveu uma carta a um Padre de Recife, conhecido na época, Pe. José Pinto que orientou-a a rezar a novena a Nossa Senhora das Graças, e assim, alcançou o milagre pedido que foi que sua filha voltasse a andar, recobrando a saúde, desde então, são realizadas as novenas e a devoção à santa milagrosa se difundiu no povoado onde foi construída a capela. Hoje, Maria das Graças vive na casa, cujo centenário se fez, não casou, nem teve filhos, mas criou duas sobrinhas que lhe são como filhas e reconta a história de sua família que é um patrimônio a ser lembrado com muito carinho, ela relembra um trecho da música de Pe. Zezinho que traz grandes lembranças sobre a época de seus pais e sua história nesta casa: "Faltava tudo mas a gente nem ligava, o importante não faltava, um sorriso e um olhar"
Daqui sempre irei lembrar
Eterna casinha brancaAonde fiz minha história
Desde o tempo de criança
Uma vida em tão belo lar
Um casarão de lembranças
Que sempre irei preservar
Sobre o tempo não há controle
Mas a história é preservada
A família construída
Vai honrar esta morada
Local de carinho e amor
Hoje está sendo lembrada
São cem anos de louvor."
Por Magna Fernandes - Reside na casa e é Tataraneta de Raimundo e Maria.
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