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sábado, 28 de novembro de 2015

O BAR POLAR


E lá se iam os meados da década de 60... Eis o Bar Polar. Ponto de encontro e de diversão dos pauferrenses daquela época. Tempo puro, no qual não existiam os adventos da tecnologia e do consumismo, as pessoas priorizavam e tinham mais contatos humanos, afetuosos, se havia o costume de presentear amigos e pessoas queridas com foto e mimos simples, era uma época de ternura, de candidez. O estabelecimento se localizava onde hoje é a loja Mart Modas, na Rua 7 de Setembro, em frente à receita federal ou, para ser mais saudoso, de fronte ao -Prédio do Fomento-. Na imagem acima, flagra-se a construção de uma barreira para não entrar a água do Rio Apodi no saudoso bar, ante a histórica cheia de 1967.

O Bar Polar era de propriedade de Erasmo Castro, muito querido pelos seus fregueses, todos se dirigiam a ele com a alcunha carinhosa de -Tio Erasmo-, assim conta um dos fregueses da época, seu Antônio Conrado. A fotografia abaixo mostra seu Antônio sendo o moço de branco. Os demias da foto são Nicodemos Fontes, Zé Sávio, Carlos Alberto e o lá de trás, com o litro na mão, é Baia. Tio Erasmo, como era chamado por todos, aparece em pé, porte alto, meio calvo, camisa desabotoada perto da gola, olhar sério e certeiro. 


Fregueses contam que ele se nunca negou a vender fiado, havia um laço de confiança... Existiam homens de palavra. Não era o tempo que falou a canção de Zé Geraldo: -da força falsa do cartão de crédito ao invés de um fio de bigode-. O caráter era a moeda vigente.

A família sempre o ajudava: sua esposa Chiquinha Pereira (in memorian), sua irmã Eurides - Lodinha -  e suas filhas Ilza e Isabel. Lázaro de Preta (in memorian), era outro que sempre o auxiliava nas lutas diárias do ponto comercial e de lazer. As meninas sempre serviam café aos presentes, o que na época não era coisa abominável, tampouco para elas que se emanciparam e formaram suas famílias com belas e saudosas recordações daquele tempo, dos sábados de feira nos quais o movimento era intenso. A vida era simples, barata e tão boa que ninguém via o tempo passar.


Tio Erasmo fechou seu bar em 1972, quando foi residir em Mossoró na companhia da esposa e das filhas, mas deixou sua marca cultural na cidade, está na mente de muitos pauferrenses que se confraternizaram, jogaram seus galanteios, contaram suas anedotas, ouviram suas canções prediletas e viveram uma era de pureza naquele querido estabelecimento. Viajou para fora do combinado, como diz Rolando Boldrin, no ano de 1997 e foi sepultado em Mossoró-RN. Nasceu num dia 2, morreu num dia 3 e foi sepultado num dia 4, sequência mística e divina para um homem singular. E quer mais mistério? Num dia de Santa Luzia, a padroeira da visão, Tio Erasmo lesionou um olho e perdeu por completo a visão dele, o que lhe fez usar uma prótese ocular, -um olho de vidro- como todos que o conheciam chamavam. Era e ainda é, bastante raro uma pessoa usar esse tipo de prótese, porém ele usava e chamava a atenção de todos por isso. Ademais, nossa cultura agradece toda a contribuição dada por sua existência valiosa e peculiar. Viva! Salve, salve nossas memórias!


Por Manoel Cavalcante

Créditos a Isabel Diógenes, filha de Erasmo Castro, prova viva e ocular de todas as imagens e lembranças.


6 comentários:

  1. Meu querido primo! Feliz e emocionada por tão linda homenagem feita ao meu saudoso pai. Os que viveram em Pau dos Ferros naquela época, com certeza vão se recordar dos momentos vividos naquele estabelecimento simples, mas onde reinavam amizade, cordialidade e respeito!

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  2. Emocionado meu amigo. Obrigado por continuar essa página tão importante pra todos.

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  3. Grande, poeta. A foto me trouxe grandes lembranças. Tirando Carlos Alberto Barboza, a turma da foto morava na Casa do Estudante (Rua 13 de Maio em frente a atual Capela de Nossa Senhora de Fátima). Antônio Conrado (de Marcelino Vieira) era o Presidende da Casa. Nicodemos era professor do Ginásio 4 de setembro e como eu, de Riacho de Santana. Baiá, Sebastião Ferreira do Monte é de Rafael Fernandes. A foto deve ser de 1967/1968. Na época, só havia iluminação (energia elétrica) nas sorveterias de Sales Correia e na de João Esquerdinha. A praça era iluminada pelo gerador de uma da sorveteria (Sales). Nos bares e residências reinavam os lampiões a querosene. Veja acima de seu Erasmo um exemplar de um famoso lampião coleman.

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  4. Obrigado pelo apreço de sempre, grande Sávio, fico entusiasmado com isso. Seus esclarecimentos memorialistas deram ainda mais brilho a matéria. Viva os homens com essência e com cultura. Um abraço. Estendo a todos meus agradecimentos.

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