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quarta-feira, 17 de junho de 2020

PAU DOS FERROS NA DÉCADA DE 70: memórias do ontem que ecoam no hoje

Fotos: Toinho Dutra
Acervo: Ponto de Memória Pau-Ferrense
Texto: Victor Rafael do Nascimento Mendes

Estas imagens foram registradas pelo fotógrafo Antônio Medeiros Dutra, conhecido em Pau dos Ferros por Toinho Dutra (em memória), durante a década de 70. As fotografias fazem parte dos acervos pessoais de Núbia Batalha (as 3 primeiras) e de Evanda Lopes (a última, 4ª fotografia).
Em 2014, eu fui coordenador, juntamente com a Vereadora Bolinha, de um projeto de pesquisa que tinha por objetivo coletar registros fotográficos da memória pau-ferrense. Foi a partir dessa pesquisa que intensifiquei o meu gosto e respeito pela história de Pau dos Ferros.
Toinho Dutra foi meu amigo e, como ele mesmo dizia, em virtude de nossa diferença de idade (aproximadamente 40 anos): “Victor é meu afilhado, ele precisa aprender como é a vida, ainda é muito novo e afoito”. Com ele aprendi muitas coisas da/para a vida!
Pela sequência das fotografias, passo a dissertar o que cada uma representa, pautado nas memórias de Toinho Dutra:
1ª Foto: a Rua principal que aparece na fotografia é a 15 de Novembro, no Centro da cidade. Um pouco mais à frente, está a Avenida Independência. Por trás da Avenida Independência, está a Rua Lafayete Diógenes que, na época, era conhecida como o Rabo da Gata (zona onde residiam prostitutas e que tinha inúmeros bares). Toinho fez a fotografia de cima da torre da Igreja de Nossa Senhora Imaculada Conceição;

2ª Foto: Rua Hipólito Cassiano cruzando com a Avenida Independência. Ao fundo da fotografia, é possível perceber a Escola Estadual 4 de Setembro. Centralizado na fotografia, está o Hospital Centenário. Segundo Toinho Dutra, as carroças que transitam descendo a Rua Hipólito Cassiano vinham do Açude 25 de Março (Bairro Riacho do Meio), que traziam água, pois as ruas mais distantes do centro não tinham abastecimento público. A fotografia também foi feita de cima da torre da Igreja de Nossa Senhora Imaculada Conceição;

3ª Foto: Um pequeno “pedaço” da antiga Praça da Matriz, atual Praça Monsenhor Caminha. Na foto é possível ver alguns dos antigos casarões. Na esquina dos casarões, está o prédio da Coletoria Estadual de Pau dos Ferros. No canto direito, o prédio da Pastoral da Igreja. Ao fundo da foto, segue a Avenida Getúlio Vargas. Para fazer a fotografia, Toinho, segundo ele mesmo, subiu até a metade do Obelisco. Lembro que ele disse: “Naquela época eu era novo, destemido, não tinha medo mesmo”;

4ª Foto: Centralizado na foto, está o Pavilhão Cônego Caminha, na Praça da Igreja Matriz. No lado direito da fotografia, está o Mercado Público Municipal Antônio Soares de Holanda. Ao fundo da fotografia, o prédio que tem o primeiro andar (o único da rua em 60-70) era o Cine São João. Para conseguir o registro, Toinho Dutra precisou pagar uma “rodada” na Roda Gigante, que estava na cidade no período das festividades da Padroeira, em dezembro.

Quem desejar ver mais fotografias antigas/históricas de Pau dos Ferros, visite (após esse período de pandemia, claro) o Ponto de Memória Pau-ferrense, na Câmara Municipal de Pau dos Ferros. O acervo conta com mais de 40 quadros.
Deixo aqui o meu registro que, nesse momento de isolamento, me fez recordar da cidade amada.
Saudades do nosso amigo
Toinho Dutra
!
Victor Rafael do Nascimento Mendes.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

PAU DOS FERROS E SUAS PERDAS...


São muitas as perdas históricas arquitetônicas e materiais que Pau dos Ferros acumula no percurso de seu tempo. As entidades políticas, sociais, religiosas parecem desconhecer a importância genuína que as edificações públicas possuem em nossa cidade. Como se paredes fossem paredes e o concreto não tivesse valor afetivo, histórico, artístico etc. Agora, com o curso de Arquitetura em nossa cidade, talvez, essa visão possa mudar... Quem sabe... A lei de tombamento de bens com valor histórico, públicos e/ou privados chegou muito tardiamente, sem debate, mas chegou, que possa ser exercida, aprimorada, respeitada por entes públicos e privados em geral. Cidades como Icó-CE e Açu-RN possuem um centro preservadíssimo, que mantém parte de sua cidade cheia de história. 

A foto acima traz um exemplo inicial... "A praça é do povo como o céu é do condor". Eis a frase (um verso do poeta Castro Alves) impressa na parede da concha acústica da antiga Praça do Condor, inaugurada na década de 1970, em pleno regime militar. Mas, os dizeres que havia apregoados não era apenas uma frase bonitinha e um verso de efeito, essa era uma frase que simbolizava a Resistência, a única CIDADE DO RN, O ÚNICO PREFEITO DO RIO GRANDE DO NORTE QUE FAZIA OPOSIÇÃO AO REGIME MILITAR. Foi esse o significado do gesto, um grito de liberdade. A Praça do Condor foi ao chão se sequer ser consultada... se ela falava alguma coisa, se ela representava alguma coisa.

O CCP, Clube Centenário Pauferrense, célebre lugar de encontro dos jovens pauferrenses de sua época, lugar de festas memoráveis, de paqueras, de muitas programações que alegrou gerações, também existe apenas nas memórias saudosistas dos nossos munícipes, mais um ato impensado deixá-lo nos escombros da história, sujeito ao bolor do esquecimento. Nem fotos estão ao nosso alcance. Por N motivos.




O Salão Paroquial (fotos acima) é um prédio que ainda existe, no entanto, não funciona mais as instalações da Igreja e do Centro Social, possui, hoje, uma versão desfigurada de tudo que representou no passado, um total desrespeito à história vivida e não mais revisitada pelo desrespeito aos bens arquitetônicos da cidade.


O Ginásio Professor João Faustino, inaugurado na década de 80, é um caso recente desse descaso com nossa identidade e nossa memória coletiva. Quantos pauferrenses passaram por ali... Quantos de nós vivemos momentos inesquecíveis naquele teatro, naquela quadra, naquele tatame, naquele tablado, naquele palco de muitas emoções... Uma edificação afetiva para atletas de vários esportes, para estudantes de toda a região, para as pessoas do bairro, da cidade... enfim... um coração que batia e nos ajudava a passar os dias melhores, a esquecer os problemas que temos no dia a dia. Uma edificação que não era nem tão antiga foi ao chão sem dar direito de ter suas estórias recontadas. Em seu lugar, um terreno abandonado... Um cenário cruel de nostalgia. Ao contrário da Praça do Condor, por exemplo, que uma nova praça foi construída e um nova história se contará, mesmo que esquecendo o significado da antiga.


A Casa Paroquial (foto abaixo), pertencente à paróquia da cidade, também é lugar de muitas memórias, de muitas boas lembranças de todos os pauferrenses, foi lá, que o histórico Padre Caminha viveu por muitos e muitos anos e preencheu milhares de páginas de nossa história. Como praxe, foi reformada... Perdeu seu aspecto arquitetônico antigo, ficou como uma casa qualquer dos tempos atuais... moderna...  quem olha para ela nem enxerga mais o espírito hospitaleiro que ali existia nos tempos passados... mais um ato desastroso contra nossa identidade e nossas lembranças. 


Há, ainda, prédios que resistem... O Pavilhão (inaugurado na década de 1950), também cenário de encontros e paqueras de gerações passadas, além de épicas e gigantescas missões populares de Frei Damião, com um valor histórico incalculável para o município, necessita de um olhar mais sensível por parte do poder público quanto à sua estrutura e, mais do que isso, quanto à sua serventia. Poderia ser um museu religioso, poderia ser palco de eventos religiosos e culturais em geral, como é o Cantoria na Feira (uma iniciativa privada, foto abaixo). 




O Centro Cultural Joaquim Correia também está de pé e vejo, além de ser o prédio mais antigo da cidade, inaugurado em 1911, como o mais conservado. É preciso manter seu uso e preservar suas instalações mantendo sua arquitetura antiga e protegendo suas formas e memórias.





A Prefeitura Municipal (foto abaixo), erguida em 1929, passou por muitas reformas e hoje se encontra um brinco, no entanto, é preciso debater seu valor arquitetônico histórico e saber sua edificação identitária foi preservada, o mesmo vale para o Pavilhão e o Joaquim Correia.



No momento, surge o debate na redes sociais sobre o fim da Escola Municipal Professor Severino Bezerra... Inaugurada na década de 1970... Veio logo em minha mente todo esse ataque histórico permanente que aconteceu durante o percurso do tempo, será o saudoso "Municipal", lugar onde minha mãe foi professora na década de 70, onde meu pai foi aluno, onde milhares de pauferrenses passaram por lá, mais uma vítima da insensibilidade política e social? No Severino Bezerra existe a única quadra de Pau dos Ferros com dimensões oficiais para a prática do futsal. Que O MUNICIPAL permaneça e, em suas salas de aulas, se conte a história da cidade de Pau dos Ferros de maneira verídica para que, os futuros cidadãos e cidadãs pauferrenses não cresçam sem identidade mais do que já estão... Que os crimes históricos não se repitam. Que a memória prevaleça e que nossa terra não contabilize mais uma perda.





Manoel Cavalcante





terça-feira, 28 de janeiro de 2020

AS ALIANÇAS POLÍTICAS EM PAU DOS FERROS




Existem, na história recente de Pau dos Ferros, três grupos políticos tradicionais e predominantes, representados por políticos da velha-guarda e seus filhos. O grupo que chamaremos de A, é representado por Nilton Figueiredo e seus filhos Lara e Bráulio Figueiredo. O grupo que chamaremos de B, é representado por Getúlio Rêgo e seu filho Leonardo Rêgo. O grupo que chamaremos de C, é representado Maria Rêgo e seu filho Fabrício Torquato. Os três grupos possuem seus adeptos, seus contin(gente)s, seus impactos e as respectivas importâncias na história da política partidária de nossa terra. No presente artigo, vamos demonstrar as arrumações, as conjecturas dos grupos durante as eleições municipais dos últimos 20 anos.

Eleição de 1996

No ano de 1996, lá estavam os grupos A e B unidos contra o grupo C. Nessa época, os grupos eram representados pelos caciques mais experientes e seus filhos ficaram de fora. Partidariamente, Getúlio Rêgo e Nilton Figueiredo estavam coligados contra Maria Rêgo.


Eleição de 2000

No referido ano, lá estavam os grupos A e C unidos contra o grupo B. Nilton Figueiredo tendo por vice Maria Rêgo, se uniram contra o grupo de Getúlio Rêgo que tinha como vice o popular Aliatá Chaves de Queiroz, o Baiba. Os protagonistas dos grupos ainda eram os "pais". A partir deste ano, os grupos A e B nunca mais se uniram numa eleição municipal. 


Eleição de 2004

Em 2004 se manteve o mesmo cenário da eleição de 4 anos atrás, Grupos A e C coligados contra o grupo B. Neste pleito, surge a primeiro herdeiro, o primeiro dos descendentes, Leonardo Rêgo, filho de Getúlio, se candidata pela primeira vez.


Eleições de 2008

Neste ano, uma nova conjectura se desenha. Os grupos B e C se unem contra o grupo A. Surge o segundo herdeiro, Fabrício Torquato, filho de Maria Rêgo, surge como o vice de Leonardo Rêgo, filho de Getúlio Rêgo.


Eleição de 2012

Se mantém o mesmo cenário de alianças de 4 anos atrás. Os grupos B e C se mantém unidos contra o grupo A. No referido pleito, se candidata mais um descendente, Braulio Figueiredo, filho de Nilton Figueiredo, contra Fabrício Torquato, filho de Maria Rêgo.

Eleição de 2016

Uma nova-velha arrumação se formou. Os grupos A e C, unidos nos pleitos dos anos 2000 e 2004, voltaram a se coligar contra o grupo B, surge Lara Figueiredo, outra herdeira política de Nilton Figueiredo, se candidatou ao lado de Fabrício Torquato. Contra Leonardo Rêgo.

Ao longo dos anos, "terceiros" candidatos surgiram. Em 1996, Milton Urbano, pelo PT. Em 2000, Salismar Correia, pelo PL. Em 2004, Genilson Pinheiro pelo PPS e em 2016, Juscelino Rêgo pelo PMB, no entanto, fora das alianças com os grandes grupos, se tornaram coadjuvantes nos pleitos, obtendo, previsivelmente, uma quantidade mínima de votos. Uma nota interessante é que, em 2014, nas eleições de governo federal e estadual, os grupos A e B, "se uniram" entre aspas mesmo, a favor do nome do candidato a governo do estado Henrique Alves, mas, antagônicos ferrenhos no âmbito municipal, não participaram do mesmo palanque, fizeram manifestações políticas separadas.

Este ano de 2020 inicia-se, a barragem está vazia há anos, mas as conversas políticas já começam a encher as calçadas, as negociações já começam a ocorrer, novos-velhos candidatos se apresentam, novas-velhas formações se perlustram. Difícil é aparecer um eleitor de Pau dos Ferros, que ao longo desses 20 anos, não tenha votado em no mínimo dois desses grupos, ou até nos 3. A dança das letras e dos números já começa a tocar nas trombetas da cidade. Os grupos e candidatos brigam, fazem as pazes, brigam, fazem as pazes, brigam, fazem as pazes e o eleitor... o eleitor apenas sobrevive, assiste e fica refém dessas situações enfadonhas e repetitivas... tendo que atacar quem defendeu e tendo que defender quem atacou. Que ruflem os tambores... Dias melhores para a nossa terra, para além de interesses maiores de quem deseja manter ou retomar o poder, para além de letras, cifras e partidos, para além das cores de bicudo e bacurau... Dias melhores.


Por Manoel Cavalcante





sábado, 18 de agosto de 2018

VERSOS E CANÇÕES: UM FESTIVAL DE CAUSOS E CAUSAS


A cena cultural em nossa cidade vem sendo movimentada por verdadeiros abnegados da cultura, apologistas da arte, verdadeiros amantes desses caminhos que podem mudar a mente e o coração das pessoas para os caminhos do bem. Assim ressurge o "Versos e Canções" em seu segundo ano. Devemos frisar bem que em 2017 o evento aconteceu em sua primeira edição, com o intuito de arrecadar fundos para a edição e publicação do livro de nosso poeta Robson Renato, dado o sucesso e o entusiasmo daquela festa, surgiu a força motriz para continuar ofertando as pessoas esse deleite, esse momento de profundo mergulho na identidade cultural que nos constrói. Mudando apenas a causa vigente em cada ano, no presente 2018 o festival será destinado ao poeta mossoroense Antônio Francisco, toda a renda será doada ao nosso vate maior. Mas por quê? Simplesmente porque ele merece uma carreira sólida e não possui, porque sua obra é transcendental e não é devidamente reconhecida e também porque a arte, por mais que finjam não saber disso, a arte também enche pratos de comida. Antônio Francisco é membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, na cadeira de Patativa do Assaré, mas, acima de tudo, é membro do mundo e comprometido com o futuro do planeta e da coletividade. Tudo isso é refletido em seus livros, ele não escreve por escrever, não lança o que não prega, ele escreve e é. Vale à pena conhecer para quem não conhece e vale à pena reencontrá-lo para quem já o conhece. Antônio é a personificação da poesia e das coisas boas, uma mentira de ser humano de tão bom que é e eu nem deveria dizer isso.

O evento possui como principais enfrentantes os poetas Francisco Fernandes e Robson Renato. Eles são os caminheiros que queimam o solado dos pés atrás de sins, muito embora que ouçam alguns nãos, sintam olhares desprezíveis e almas insensíveis. Com muita garra, surgiram vários patrocinadores e parceiros e a festa cultural já tem sua cara e seu esboço para acontecer no próximo dia 25. Aqui deixo registrado meus parabéns e meus agradecimentos aos dois enfrentadores que estão fazendo o que o poder público não faz, estão recuperando o superfaturamento da obra, o posto de saúde sem gaze, a consulta negada e devolvendo ao povo o que vem sendo tomado a todo instante: sua própria cultura, sua própria identidade.

Tem artista de todo canto, de Natal, do Seridó, da Paraíba, do Ceará, da Bahia... É um verdadeiro culto cultural. Artistas também de nossa terra vão abrilhantar a noite. Música regional, instrumental, poesia a fole, perfomances, recitações e o diabo a sete, tudo numa noite só. Quem não for, o velho do saco carrega.

Tudo acontece sábado à noite, 25 de agosto, a partir das 20:30h, no Recanto Potiguar, vizinho à praça de eventos de Pau dos Ferros. As senhas estão sendo vendidas antecipadamente pelo preço de R$ 10,00 e na hora custarão R$ 15,00. Barato até demais para a grandiosidade da coisa. Lá mesmo no Recanto, na Escola Armorial de Música e com os poetas em suas residências, vocês encontram as senhas. 

Vá por sua causa, por causa dos artistas, por causa de Antônio, ouvir verso, música, causos e se encher de cultura. Não é todo dia que, numa cidade do semiárido nordestino, governada pelo coronelismo desde que nasceu, bombardeada pelo consumismo barato, pelo mercado sonoro intragável, existe um evento dessa magnitude, bom seria se já fizesse parte de uma política cultural.  Paciência. Quem perder, eu não sei nem o que é que eu diga! Causas e causos sobrarão lá. Viva!

Por Manoel Cavalcante

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

QUEM DISSE QUE EM PAU DOS FERROS NÃO TEM CARNAVAL?


Carnaval não é aquela festa feita com dinheiro público superfaturado, não é aquela festa nos grandes centros do país, não é aquela festa efêmera que maquia a mente da massa por alguns dias, não é aquela festa que reafirma a superficialidade humana, não é aquela festa veiculada pelas grandes emissoras de TV do Brasil e do mundo. Querem saber o que é Carnaval? Venham ao bairro Riacho do Meio...! Lá qualquer doido como eu aprende que Carnaval é alegria e consciência de comunidade. Esse é o conceito da festa de momo em Pau dos Ferros, mais precisamente nesse bairro que matou a sede de nossa terra com o Açude 25 de Março até meados do Século XX, mas que parece ser esquecido pelos homens do poder. Um bairro periférico, de pessoas humildes, todavia, talvez, o lugar mais rico do município: de espirituosidade, cultura, alegria e fé. 

A história foliã começou em 2008, com o surgimento do primeiro arrastão, na ocasião, em período carnavalesco, um carro de som trafegava pelas ruas do bairro fazendo propagandas rotineiras... alguns amigos que se confraternizavam pediram ao motorista para fazerem "um arrastão" e assim fizeram... Foi alegria total... saíram pelas veias daquele logradouro e, dessa forma, deu-se o início da folia organizada e coletiva. O Bloco Cachorra da Mulesta surgiu em 2003, são 15 anos de história, 16 anos de carnaval e 11 anos de arrastão.


O Cachorra possui 40 sócios e além de ser o maior bloco da comunidade, é o pioneiro que deu origem a outros três... Esse ano de 2018, as veias do Riacho tiveram 4 blocos desfilando, além do primeiro, o Aidentro (2017) que possui 30 sócios, Os Fedorento'z (2018) que possui 25 sócios e Os Legalizados (2018) que possui 20 sócios. Um salto significativo num curso de dois anos. Esse ano o evento comunitário levou o nome de Riacho do Meio Folia, mas já foi chamado de Arrastão da Cachorra da Mulesta, Maza Folia e Riacho Folia.


Basta um carro de som, veículo que os foliões chamam carinhosamente de Trio Elétrico, para a farra ser grande... Esse ano foi um celta preto com um som atrás, o tal dum paredão. O tamanho do carro é inversamente proporcional ao tamanho da felicidade do povo... Crianças, adultos, idosos, todos caem na folia em harmonia plena pelas ruas do bairro e a alegria é o bloco principal. Ao longo de cerca de 15 anos de história já chegaram a contratar orquestra de frevo, trios da cidade e algumas bandas locais de axé e pagode, mas a festa parece ser maior quando a comunidade inteira sai atrás de um pequeno paredão tendo a rua como palco, as calçadas como arquibancadas e camarotes para a fuzaca  de todos... é uma festa total, supimpa! 


Eu não fui à Olinda, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, porém, pude sentir o termômetro de união de uma comunidade que possui por volta de 2 mil habitantes e que é um fértil manancial cultural em nossa cidade. Bairro de Seu Chicão, de Neguinho de Ana, de Mazzaropi, do Professor Vicélio, de Dona Macina e de tantas rezadeiras, pescadores, vaqueiros, agricultores, homens e mulheres de fé e garra que representam nossa terra. Sampaios, Franças, Fernandes, Estevão, Rêgos, Florenços e tantas e tantas outras famílias influentes em nosso município que tiveram esse pequeno e rico pedaço de chão como berço esplêndido. Cultura pura e viva. Viva ao povo do Riacho do Meio, vivas a esse lugar de gente humilde e rica de espírito! Viva! Viva!

O retrato em riba desse letreiro aqui, é da associação da comunidade, agremiação que será legalizada em breve, no entanto, já possui extensa atuação em eventos juninos, culturais e esportivos. Salve!


Por Manoel Cavalcante

terça-feira, 8 de agosto de 2017

O POETA E A SAGA DE UM LIVRO


Todo mundo que escreve com intenções de publicar é doido. A escrita é um ato muito intimista, uma terapia para as impurezas da mente, do corpo e da alma. Aliás, a escrita é tanta coisa... O poder da palavra nos leva a mares, poços, açudes ou barreiros nunca dantes navegados. Pois bem, quando nos apossamos desse poder, sonhamos, vamos longe e queremos pregar asas nessas palavras até que elas possam voar para os lares e os corações das pessoas fazendo com que elas despertem a alegria, a tristeza, a saudade e um turbilhão de energias que estão aglomerados nos porões do espírito. Para os seres que escrevem, hoje o meio virtual pode disseminar sua arte para todo o mundo, mas isso não consegue desformatar, desconfigurar o sonho de ver suas palavras com as asas de um Livro. Ah... Um livro... E é isso que esse cabinha de chapeuzinho de couro de bode se mete a fazer, um livro. Um livro de poesia popular, que fala da gente, de nossos costumes, de nosso falar, de nosso cotidiano, que vai do poema matuto a academia, ao científico.

E quem é esse cabinha de chapéu de couro de bode? Esse cabinha é Robson Renato, um poetão, um jovem que nasceu em Pau dos Ferros, e está prestes a fazer 29 anos. Filho de Chico das Redes, (vulgo Francisco Cabral) e Vera Lúcia. Hoje já é pai de Natália e João Miguel, graduado em Geografia, professor e funcionário público municipal. Destaca-se na declamação pela desenvoltura e no seu ofício de professor por levar o cordel como mais uma alternativa de aprendizagem. O homem é uma potência. Nasceu e se criou correndo na Rua Mano Marcelino, rua em que eu morei e estudei, ou seja, somos quase do mesmo terreiro poético. Jogamos bola juntos, corremos juntos, brincamos juntos e não vai ser agora, que inventamos essa doidice de ser poeta, que vamos nos distanciar. Mas como asssim?

Para lançar seu trabalho, Robinho está fazendo um evento de primeira grandeza, um festival cultural que tem por nome Festival Versos e Canções, e está trazendo a nossa cidade uma programação extensa de nomes de peso nossa cultura, um prato cultural apetitoso, de altíssima qualidade para deleite de nossos munícipes e de nossa comunidade. Nomes como Antônio Francisco, Francisco Fernandes, Jadson Lima, Edcarlos, Acrízio de França e tantos outros vão abrilhantar a festa. Vão perder?

A FESTA

O festival ocorrerá no próximo sábado, dia 12 de agosto, na Loja Macônica Manoel Reginaldo, ali por trás da Escola 31 de Março, no bairro Paraíso, começará às 21h, os ingressos para a entrada custam R$ 20,00 e toda renda será revertida justamente para que? Adivinhem... Para a publicação e lançamento do seu trabalho. As senhas estão sendo vendidas no Quixote Sebo Café, no CAMEAM com Dona Fátima Diógenes, no Fórum com Gildemar e na Escola Dr. José Fernandes de Melo com a diretora Bethânia, além de ser encontrada, é claro, com o próprio poeta. Nós artistas fizemos uma corrente para ajudar ao nosso poeta nessa empreitada e estaremos lá prestigiando-lhe com todo o entusiasmo possível.


A TRAJETÓRIA DE ROBSON COMO POETA

Nosso poeta começou a tomar gosto pela poesia incentivado pelos seus pais, o meio em que se criou, perto da cantoria, perto do cordel, perto de nossas raízes, fez com que ele despertasse sua verve. A escola, mais especificamente a Escola Estadual Tarcísio Maia, motivado pela professora Ceição, foi de fundamental importância para ele começar a rabiscar seus primeiros versos. Quando passou para o ensino superior, passou a exercitar a poesia com fins pedagógicos e hoje, meteoricamente é um dos nomes principais da poesia de nossa região. Escreve poesia matuta e científica. Escreve trova, soneto, sextilha, canta, toca violão, é um caba invocado mesmo. Outra página linda em sua biografia, é sua filha Natália, famosa por suas declamações que fez com que ela viajasse para participar do Programa Encontro, apresentado por Fátima Bernardes, na rede globo. Também incentivado pelo seu pai, Natália traçou os mesmos caminhos paternos aqui já citados e entre uma travessura e outra solta uns versos com sua voz inocente e meiga, para nosso deleite.


O PROJETO

Robson e Francisco Fernandes, nosso Chico Melodia, entusiasmados pela chama da poesia, começaram a pensar nesse projeto. O de lançar o livro e de como lançar. Nesse sentido, vislumbraram a realização de um evento em prol da ideia. Tudo foi tomando corpo, foram surgindo alguns caminhos e o poeta saiu das páginas para ir à rua, com seu plano de mídia debaixo do braço, junto a Francisco, para buscar chão para os pés. Conseguiu, graças a Deus, alguns parceiros de verdade, mas levou aqueles nãos, uns compreensíveis e outros dignos de pena, essa parte eu não poderia escrever, mas enfim, é bom que as pessoas saibam o quanto olham para a gente com olhos atravessados, com conceitos errados e que tapinha nas costas não resolve nem significa muita coisa, achar a poesia linda e sorrir sadicamente é algo que não nos acerta, nós buscamos a essência e a verdade das coisas. Ou melhor, nós queremos mostrar ao menos nossa verdade, como diria Quintana. Para deixar de lado os espinhos, o projeto estar aí, pronto, prestes a ser realizado e nós estaremos todos lá, assim como estaremos no futuro lançamento do livro. De mãos dadas em nome da cultura. Os patrocinadores estão sendo muito bem divulgados e desde já todos nós que fazemos cultura agradecemos.

Por fim, nosso encontro será sábado, às 21hrs, na Loja Maçônica Manoel Reginaldo... Quem não for, não brinque mais comigo não. Viva Robson Renato! Avante!

Por Manoel Cavalcante




segunda-feira, 26 de junho de 2017

E LÁ SE FOI ZÉ BONGA... CONSERTAR OS SAPATOS DE DEUS


Hoje, 26 de junho, Pau dos Ferros amanheceu descalça, pois ontem (25), São Pedro abriu as portas do céu para José Oliveira da Silva (81 anos), vulgo não, conhecido e maciçamente conhecido como Zé Bonga. O sapateiro da cidade. O beque do time de Pau dos Ferros. O porteiro do Estádio 9 de Janeiro. 

Olhar sério, poucas palavras, mas firmes como cola quente de sapato... Zé Bonga nasceu em nossa cidade em 1935, passou uma temporada em Brasília, porém retornou a Pau dos Ferros e, apesar de ter começado a trabalhar no ofício de pedreiro, foi como sapateiro que ele se tornou uma lenda viva de nossa cultura. Não há nenhum pauferrense, de meados do século XX até os dias atuais, que tenha vivido alguns fiapos de dias em nossa terra, que não saiba quem é Zé Bonga. Eu desafio! Bolsas, sandálias, tênis, chinelos, sapatos, chuteiras, patins, cinturões, bolas de futebol, futsal, luvas de vaqueiro, perneiras, gibão, selas, tudo passou pelas mãos de Zé, tudo que seja de couro e/ou que se calce ou se vista, ele passava a agulha ou a cola. O homi era bom. E num tinha infeliz que botasse um defeito.

E de onde vem o Bonga, Zé? Nosso sapateiro era zagueiro do time da cidade, o Clube Centenário Pauferrense, CCP. Conta-se que devido a existirem apelidos parecidos na equipe como o do craque do time, Bobô, assim como também Bobó, Zé ficou com o Bonga para carregar por toda a vida e fazer parte da história de todos os pauferrenses. 

A moral e a popularidade de Zé Bonga eram tão grande que ele já entrou para as páginas da literatura, para a imortalidade dos livros... Citado num trecho, como personagem do livro "Quem matou Odilon Peixoto", do santanense José Sávio Lopes. O livro, por sua vez, proseia sobre uma história ocorrida na década de 50, na Serra de Mundo Novo, hoje Dr. Severiano, motivo de matérias vindouras, eis o trecho: 

"O Tenente Ungido, conhecido por sua competência em desvendar os mais escabrosos crimes da capital. Era uma questão de honra para as autoridades coibir as ações como a então ocorrida. O sertão não poderia ficar à mercê de bandidos.
                                                                 ****
Enquanto boatos sobravam nos botecos, passava de uma semana o processo de investigação para desvendar o assalto do Fomento, e nada de pistas.

De boato em boato, Zé Bonga foi inquirido para depor.

-Doutor, eu não sei de nada. Isso é futrica desse povo que não tem o que fazer. Eu sou um pobre sapateiro, trabalho ali naquele beco estreito, à direita de quem sai do cinema. Nas horas vagas sou "beque" do time aqui de Pau-Ferrado.

-E que "beque", Tenente! Aqui em Pau-Ferrado se diz que o "centefor" que dividir bola com Zé Bonga, vira defunto ou carniça! - sem pedir permissão, interrompia Nonato Vaqueiro, o escrivão que reduzia a termo o depoimento.

Sem nada acrescido aos depoimentos tomados, o Tenente Ungido começou a pensar no convite que recebera naquela tarde."



Nosso Zé encantou-se às 13h de um domingo provinciano, bem distante daqueles domingos fervidos pelo sol e pela animação dos nossos munícipes, desportistas de toda a região, propícios para o futebol dominical, os jogos da nossa Sociedade Esportiva Pauferrense. "Vai pro jogo do Sociedade?" E ao chegar ao estádio, quem estava na portaria para receber seu ingresso com aquele jeito simpático de ser? Seu Zé Bonga! O sapateiro que não arredava o pé de nosso esporte, o zagueiro que fazia marcação cerrada em todo mundo, o costurador de costela de bola, o ajeitador de sapato que andava com as sandálias da humildade, o ganhador do pão de cada dia honestamente. Que o autor do universo possa receber, em seus braços, este homem simples, que é a riqueza da cultura de Pau dos Ferros! Salve Zé Bonga!


Por Manoel Cavalcante