Desde 1856, pelo menos, duelam Fernandes e Rêgos pelo poder
em Pau dos Ferros, principal cidade do Alto Oeste potiguar. Cento e sessenta e
quatro anos de luta política![1]
Este ano, 2020, de um lado temos o prefeito Leonardo Nunes
Rêgo – o nome já diz tudo – e, do outro, enquanto principal nome da oposição, o
ex-prefeito Francisco Nilton Pascoal de Figueiredo, muito embora sua candidata
seja Marianna Almeida.
Nilton Figueiredo, como é conhecido, é descendente de
Childerico Fernandes de Queirós, que do seu segundo casamento, com Maria Amélia
Fernandes (Mãe Marica), teve Umbelina Fernandes da Silveira, mãe de Maria
Fernandes de Figueiredo (Dona Lalia), sua avó paterna.[2]
Em 1864, na sessão do dia 23 de dezembro, a ata da Câmara
Municipal dá conta de requerimento apresentado por alguns vereadores ao
Presidente da Província solicitando fosse-lhes “relevada” a aplicação de
algumas multas a eles impostas. Requeriam a eles, diretamente, alegando que a
Câmara não se reunira em outubro e novembro passados, porque seu presidente,
Manoel Pereira Leite, aliado dos Rêgos, estava foragido e “perseguido pela
força do Delegado de Polícia”.
Assim decorreram os anos subsequentes, afirma o cronista,
José Dantas.
No período que vai de 1865 a 1872, os Fernandes dominaram a
Câmara Municipal, presidida por Viriato Fernandes e Hemetério Raposo de Melo,
casado com Umbelina Fernandes, filha de Childerico Fernandes de Queirós.
No dia 6 de outubro de 1872, houve eleição para juízes de
paz dos distritos e vereadores à Câmara Municipal. Durante quinze dias vieram
os eleitores votar, mas não lhes tomaram os votos. A Junta Paroquial, presidida
pelo 3º Juiz de Paz, Galdino Procópio do Rêgo, instalou-se na Igreja Matriz,
para realizar a eleição, sob o protesto dos Fernandes, sob o argumento da sua
incompetência para presidi-la.
A discussão transformou-se em violenta pancadaria dentro da
igreja, e, fora, os liderados de ambos os grupos políticos travaram-se em briga
corporal, armando-se de paus e pedras.
Muitos foram os feridos, e a Matriz foi seriamente
danificada. Cessada a luta, a Junta Paroquial cercou a igreja com um grupo
armado, para evitar outra confusão.
Os Fernandes, inconformados, organizaram uma outra Junta,
sob a presidência do 1º Juiz de Paz, Childerico José Fernandes[3], e
realizaram outra eleição, na Casa da Câmara. Submetida a documentação das duas
Juntas à apreciação da Câmara Municipal, esta, em 16 de novembro de 1872, sob a
presidência do Dr. Hemetério Raposo de Melo decidiu, por unanimidade de votos,
a favor da eleição realizada na Casa da Câmara.
Foram, então, diplomados o Tenente Coronel Epiphanio José de
Queiróz, Alferes José Alexandre da Costa Nunes, Manoel Francisco do Nascimento
Souza, Manoel Queirós de Oliveira e Pedro Lopes Cardoso.
Vários argumentos foram levados em conta para a decisão,
dentre eles o de que o eleitorado foi impedido de entrar na Matriz por uma
força armada de clavinote, e o encerramento da eleição ter ocorrido no Sítio
“Logradouro”, de propriedade dos Rêgos quando, à meia-noite, os últimos votos
foram recolhidos em um chapéu improvisado de urna.
Entretanto, o Governo da Província não lhes foi simpático, e
anulou a eleição realizada na Câmara dos Vereadores. E, em 27 de outubro de
1873, por Aviso Ministerial, a Câmara foi cientificada que o Governo Imperial
confirmava a eleição promovida pela Junta Paroquial.
Tiveram, assim confirmadas suas diplomações, Galdino
Procópio do Rêgo, João Bernardo da Costa Maya, Norberto do Rêgo Leite,
Florêncio do Rêgo Leite Gameleira, e João Afonso Batalha.
O povo, que a tudo e todos alcunha, quando sua atenção é
despertada, não deixou por menos: batizou o episódio de “eleição das pedras”.
Natal, em 8 de outubro de 2020
Honório de Medeiros
Trineto de Childerico José Fernandes de Queirós, por parte
do seu primeiro casamento, com Guilhermina Fernandes Maia.
[1]
FREIRE, Cônego Manoel Caminha e outros. Revista Comemorativa do
Bi-Centenário da Paróquia e Centenário do Município de Pau dos Ferros. Natal.
Sebo Vermelho. Edição fac-similar. 2015.
[2]
FERNANDES, João Bosco e FERNANDES, Antônio Mousinho. Memorial de Família.Teresina.
Halley S/A. 1ª edição. 1994.
[3] Trisavô de Francisco
Nilton Pascoal de Figueiredo.