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quarta-feira, 12 de junho de 2013

JOSÉ FERNANDES DE MELO

Por Licurgo Nunes Quarto

Nasceu a 02 de março de 1917, na cidade de Currais Novos, situada na Região do Seridó, no Rio Grande do Norte. Filho de Elias Fernandes de Melo e de Maria Pires Fernandes.
Foi alfabetizado na escola da Professora Maria Rosa, tendo, em seguida, se matriculado no Grupo Escolar Capitão-Mor Galvão, daquela cidade.
Concluído o curso primário, de então, transferiu-se para Natal, Capital do Estado, tendo ido estudar no Colégio Pedro II, onde fez o preparatório para o exame de admissão, e, aprovado, cursou até o 4° ano secundário.
Neste educandário, onde estudava e morava, pois era “interno”, conviveu com colegas de quase todas as regiões do Estado, pois sendo um colégio de excelente qualidade de ensino, e tendo na sua direção a figura irretocável e ilustre do Professor Severino Bezerra, para lá convergiam alunos dos mais diversos rincões do Rio Grande do Norte.
Transferido no ano seguinte para cursar o 5º ano secundário no centenário e legendário Colégio Atheneu Norte-riograndense, de tanta tradição na história do ensino do Rio Grande do Norte, inaugurado pelo então Presidente da Província Basílio Quaresma Torreão, em 03 de fevereiro de 1834.
Concluir aquele último ano secundário no secular estabelecimento da Junqueira Ayres significava para o ginasiano currais-novense um motivo de orgulho e regozijo, haja vista ser o citado educandário referência no ensino, uma vez que abrigava, no seu corpo docente, as mais expressivas figuras da intelectualidade natalense, tais como Câmara Cascudo, Severino Bezerra, Padre Calazans Pinheiro, Celestino Pimentel (que foi homenageado com o nome do Centro Estudantil do mesmo estabelecimento), Nilo Pereira, Véscio Barreto, Ivone Barbalho, dentre outros.
No ano de 1934 submeteu-se ao vestibular de Medicina na Faculdade de Medicina do Recife, tendo sido aprovado, com 17 anos de idade.
“Ser acadêmico de medicina aos 17 anos lavou-me a alma. Era uma credencial para participar com autoridade do mundo dos adultos e um passaporte diplomático para freqüentar bailes e receber as atenções de moças bonitas nas festas e reuniões sociais, reforçando, assim, a minha “boa pinta” de galã. Sentia-me um forte concorrente dos astros da Metro Goldwin Mayer daquela época, como Gary Cooper, Robert Taylor, Glen Ford e Clark Gable” ( José Fernandes de Melo, em “Nem todos calçam 40”, pág. 37 ).
Concluindo o curso de Medicina a 08 de dezembro de 1939, com 22 anos de idade, volta à sua terra natal, Currais Novos, quando é recebido com festa no seio da família, constituída pelos pais – Elias Fernandes de Melo e Maria Pires Fernandes e os irmãos Didi (único irmão homem), Diva, Aparecida, Divany e Terezinha.
No ano seguinte, logo em janeiro, instalava-se na vizinha cidade de São Tomé, onde passaria a exercer a profissão de médico, quando teve oportunidade de por em prática tudo aquilo que havia aprendido nas diversas disciplinas e seus respectivos estágios supervisionados da faculdade.
Sentindo que a cidade de São Tomé - embora lhe fosse muito cara, pois era uma extensão de Currais Novos, sua terra natal e ali moravam inúmeros familiares e amigos da sua família - não lhe apresentava grandes perspectivas de futuro na profissão que abraçara, e tendo recebido um convite irrecusável do colega médico Dr. Cleodon Carlos de Andrade para que fosse trabalhar com ele em Pau dos Ferros - cidade pólo, já à época, de uma região do Estado (oeste) - não titubeou, e aceitou de pronto o convite. Transferindo-se, em 27 de agosto de 1941 para Pau dos Ferros, cidade que lhe acolheu com tanto amor e à qual ele dedicou toda a sua atenção, todo o seu cabedal de conhecimento médico, e toda a sua vida.
“...E desta forma, do dia para a noite, me transferi para a velha e centenária cidade oestana onde chegaria naquele mesmo dia já tarde da noite. A cidade estava adormecida num “dolce far niente”, embalada pela brisa refrescante do “nordeste” que redimia seus habitantes do calor causticante dos dias de verão. Dr. Cleodon me levara para a Pensão de Calazans, onde dormi profundamente talvez pelo excessivo cansaço e fadiga da longa viagem de mais de 500 quilômetros”. (José Fernandes de Melo, em “Nem todos calçam 40”, páginas 77 a 78).
No dia seguinte à sua chegada, e tendo o Dr. Cleodon Carlos de Andrade como anfitrião, tratou logo de fazer visitas de cortesia às autoridades locais, tanto que esteve com o Juiz de Direito – Dr. José Vieira, (que depois viria a se tornar Desembargador do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado); com o Promotor de Justiça da Comarca, Dr. José Dantas (que se tornou Ministro do Superior Tribunal de Justiça); com o Sr. Francisco Fernandes de Sena, Prefeito Municipal; com o Padre Manoel Caminha Freire, Vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição; com o Capitão Luiz Gonçalves, Delegado Regional da Polícia; com o Sr. José Meireles Ponchet, Coletor Federal; com o Sr. Manoel Reginaldo, representante bancário de várias instituições financeiras e agente da Companhia Alfredo Fernandes, indústria de beneficiamento de algodão; com o Sr. Oton Queiroz, representante da firma Tertuliano Fernandes; com o Sr. José Paulino do Rego, escrivão da Coletoria de rendas do Estado; com o Sr. João Escolástico Bezerra, ex-Prefeito Municipal; com o Sr. José Vidal, escrivão do 2º Cartório Judiciário da Comarca, bem como visitou os maiores comerciantes e agro-pecuaristas da cidade, tais como, Chico França, José Lopes, Cícero Almino, Alexandre Pinto, Lafayete Diógenes, Francisco Dantas, Manoel Alexandre, Lindolfo Noronha.
Com o objetivo de se tornar conhecido em todo o município e região, numa espécie de “marketing” intuitivo e empírico, decidiu visitar os distritos pertencentes a Pau dos Ferros. Esteve em Panatís (Marcelino Vieira), Vazinha (Rafael Fernandes), Riacho de Santana, Encanto e Água Nova. Lugarejos que posteriormente passaram a ter a visita regular do medico recém chegado.
Com tamanho leque de opções para exercitar a nobre missão de curar, bem como com o enorme desprendimento de que era possuidor, não dando importância para valores materiais, uma vez que só cobrava honorários dos mais afortunados, fazendo do exercício da profissão um verdadeiro sacerdócio, não tardou em entrar para a política.
E aí o fez muito bem. Era um conciliador nato. Apaziguador; cordato; incapaz de tratar mal qualquer pessoa, por mais humilde que fosse. A contenda se restringia apenas às campanhas eleitorais, mantendo excelente grau de amizade com os adversários políticos. Não se tem notícia em Pau dos Ferros ou em toda a Região Oeste de alguém que tenha sido inimigo de José Fernandes de Melo, ou contra ele tenha praticado alguma desfeita.
Desportista, torcedor do “ABC F. Clube”, de Natal, tendo feito parte do seu quadro de conselheiro, era alvinegro também no plano nacional, pois torcia pelo “Vasco da Gama” do Rio de Janeiro.
Quando universitário em Recife, jogou pelo “Globo Sport de Tegipió”, bem como fez parte da equipe juvenil do “Sport Clube do Recife”.
Amante da boa música, adepto do “Jazz” e “Blues”, não era raro flagrá-lo sofejando “My way” ou “Strangers in the Night”, músicas imortalizadas pelo grande cantor norte-americano “Frank Sinatra” – de quem era fã incondicional.
Casou-se no dia 25 de outubro de 1943, na Cidade de Luiz Gomes, com a jovem Lindalva Torquato de Figueiredo, que passou a se chamar Lindalva Torquato Fernandes.
“.....O meu encontro com Lindalva aconteceu de maneira fortuita e casual, sem qualquer encenação antecipada que justificasse a feliz ocorrência..... Em viagem à cidade de Luiz Gomes, à noitinha fui fazer uma visita ao Sr. Gaudêncio Torquato do Rego, político e agro-pecuarista influente da cidade, em cuja residência foi servido um farto café com a participação dos seus familiares. Lindalva, filha do anfitrião, estava presente à mesa. Naquele instante, sem preparações encenadas ou motivações apaixonantes – mas de maneira simples e espontânea – senti que a mulher da minha vida, a minha futura esposa, estava ali na minha frente, na plenitude de sua graça feminina – saudável e atraente. Uma jovem de severa formação moral e de predicados sóbrios e recomendáveis além de uma vigorosa personalidade que já denotava decisiva vocação para a vida pública que posteriormente iria desempenhar” ( José Fernandes de Melo, em “Nem todos calçam 40”, páginas 104 a 105 ).
A cerimônia do casamento se deu na casa dos pais de Lindalva, Sr. Gaudêncio Torquato de Rego e Dona Maria Alves de Figueiredo (Dona Nia), à época já falecida. O Padre Caminha, de Pau dos Ferros, foi o celebrante, tendo como padrinhos o Coronel Antonio Germano (prestigioso chefe político local e grande agro-pecuarista, pessoa estimada na sociedade luizgomense pelas suas qualidades morais e conduta inatacável) e Dona Tonheira, Francisco Sena e Dona Liliosa, e Francisco França (Chico França) e Dona Adélia Vieira França.
Do casamento resultou o nascimento de seis filhos, a saber:
Sônia Maria Fernandes Ferreira, Bacharela em Direito, graduada em Pedagogia e Mestre em Educação pela UFRN, escritora, imortal da Academia de Letras do Rio Grande do Norte, casada com o Professor João Faustino Ferreira Neto, ex-Secretário de Educação do Estado e do Município de Natal e Deputado Federal por quatro legislaturas; Elias Fernandes Neto, Engenheiro Civil, Empresário e Agro-pecuarista, Deputado Estadual por quatro legislaturas, casado com Ana Karenina Teófilo Fernandes; Nia Fernandes Salustino, Professora, casada com o Dr. Carlos Salustino Dutra, Médico endocrinologista; Silvio Torquato Fernandes, Economista, Empresário, casado com Ivanoska Flor; José Fernandes Filho, Geólogo, ex-Presidente da Companhia de Desenvolvimento Mineral do Rio Grande do Norte – CDM -, casado com Yeda Monteiro Fernandes, Terapeuta Ocupacional, e Virgínia Torquato Fernandes.
Eleito Deputado Estadual por cinco vezes, assim discriminado: eleito para o primeiro mandato de Deputado Estadual, formando a 17ª legislatura que foi de 1947 a 1951; para o segundo mandato, compondo a 18ª legislatura, que durou de 1951 a 1955, só o exerceu por dois anos, pois teve que renunciar vez que fora eleito Prefeito Municipal de Pau dos Ferros, para o primeiro mandato, haja vista que voltaria depois a exercer estas honrosas funções por mais dois mandatos.
Neste período legislativo – referente à 18ª legislatura - há uma curiosidade singular. Nela foram eleitos também Deputados Estaduais dois dos seus cunhados - Jader Torquato e o Dr. José Torquato de Figueiredo, que passaram a formar a maior bancada familiar da história do legislativo do nosso Estado. Feito inédito até os dias de hoje.
Renunciando ao mandato de Deputado Estadual para ter que assumir a Prefeitura de Pau dos Ferros, cuidou em preparar a eleição da sua esposa, Dona Lindalva, para a legislatura seguinte, o que conseguiu, tornando-a a segunda mulher a chegar à Assembléia Legislativa do nosso Estado, quando assumiu o mandato a 12 de janeiro de 1955. Era a 19ª legislatura. Dona Lindalva, Deputada Estadual e José Fernandes, Prefeito Municipal de Pau dos Ferros. Foi o apogeu da sua carreira política.
Terminado o período da administração do Município de Pau dos ferros, o Dr. José Fernandes se candidata novamente a Deputado Estadual, e é eleito pela 3ª vez, formando a 20ª legislatura, que perdurou de 1959 a 1963. Elegeu-se ainda Deputado Estadual por mais duas legislaturas, as 21ª e 22ª que compreenderam os períodos de 1963 a 1967 e de 1967 a 1971. Perfazendo, portanto, cinco mandatos de Deputado Estadual.
Exerceu, por mais duas vezes, as funções de Prefeito Municipal de Pau dos Ferros, eleito que foi para os períodos de 1973 a 1977 e de 1983 a 1988.
Como Deputado Estadual teve suas ações constantemente voltadas para a Região Oeste do Estado, notadamente para os Municípios que lhe davam sustentação política, como Pau dos Ferros, Marcelino Vieira, Encanto, Água Nova, Rafael Fernandes e Luiz Gomes. Tudo o que se passava nesses municípios tinha o beneplácito do Deputado José Fernandes de Melo, ou simplesmente Dr. Zé, como era carinhosamente conhecido pelo povo bom e ordeiro de Pau dos Ferros.
Na condição de Prefeito realizou obras estruturantes necessárias a uma Cidade do porte de Pau dos Ferros. Construiu estradas, centros de saúde, escolas, colégios, calçamento de ruas, arborização, etc. Porém, o principal marco de suas administrações à frente da Prefeitura de Pau dos Ferros, foi, sem dúvida, a construção do obelisco – marca registrada da Cidade – que perpetuou o transcurso das comemorações do centenário da cidade e o bicentenário da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. Monumento majestoso que faz com que todos os que o vejam tenham sempre em mente a historia secular do nosso município.
Com o falecimento de Dona Lindalva, a 27 de junho de 1996, passou a morar em Natal, perto dos filhos. Foram 53 anos de feliz convivência ao lado da mulher que tanto amou, onde o respeito e a consideração mútuos foram os pilares dessa união.
Aposentado, usufruindo de justo e merecido ócio, não abandonou a política, pois passou a trabalhar nos bastidores ajudando ao filho Elias a se eleger Deputado Estadual, o que o fez por quatro legislaturas.
Faleceu em Natal a 09 de setembro de 2001, com 84 anos, tendo sido sepultado em Pau dos Ferros, cidade que ele tanto amou e à qual dedicou toda a sua vida e pela qual trabalhou tanto, não só para que Pau dos Ferros se tornasse uma cidade melhor, como para fazer com que os pauferrenses tivessem melhores condições de vida.
Quando do seu falecimento foi homenageado por várias instituições, como a Assembléia Legislativa – que lhe dedicou uma sessão especial; pelos votos de pesar consignados em ata pelo Tribunal de Justiça do Estado, Tribunal Regional Eleitoral, Tribunal de Contas do Estado, Câmaras Municipais de Natal, Mossoró, Pau dos Ferros, Luiz Gomes, Marcelino Vieira, José da Penha, Rafael Fernandes, Água Nova, Riacho de Santana, Encanto e Francisco Dantas.
Em Pau dos Ferros foi inaugurado um colégio com o seu nome.
Eis, pois, caros pauferrenses, a biografia de um homem que, não tendo nascido em Pau dos Ferros, (pois era seridoense, de Currais Novos), o era de coração, por afeição, além de ser honorário, pois este título lhe fora concedido pela Câmara Municipal. Gostava tanto da nossa terrinha, e fez tanto por ela que, sem dúvida, pode ser considerado um dos mais ilustres e importantes filhos de Pau dos Ferros.

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