São muitas as perdas históricas arquitetônicas e materiais que Pau dos Ferros acumula no percurso de seu tempo. As entidades políticas, sociais, religiosas parecem desconhecer a importância genuína que as edificações públicas possuem em nossa cidade. Como se paredes fossem paredes e o concreto não tivesse valor afetivo, histórico, artístico etc. Agora, com o curso de Arquitetura em nossa cidade, talvez, essa visão possa mudar... Quem sabe... A lei de tombamento de bens com valor histórico, públicos e/ou privados chegou muito tardiamente, sem debate, mas chegou, que possa ser exercida, aprimorada, respeitada por entes públicos e privados em geral. Cidades como Icó-CE e Açu-RN possuem um centro preservadíssimo, que mantém parte de sua cidade cheia de história.
A foto acima traz um exemplo inicial... "A praça é do povo como o céu é do condor". Eis a frase (um verso do poeta Castro Alves) impressa na parede da concha acústica da antiga Praça do Condor, inaugurada na década de 1970, em pleno regime militar. Mas, os dizeres que havia apregoados não era apenas uma frase bonitinha e um verso de efeito, essa era uma frase que simbolizava a Resistência, a única CIDADE DO RN, O ÚNICO PREFEITO DO RIO GRANDE DO NORTE QUE FAZIA OPOSIÇÃO AO REGIME MILITAR. Foi esse o significado do gesto, um grito de liberdade. A Praça do Condor foi ao chão se sequer ser consultada... se ela falava alguma coisa, se ela representava alguma coisa.
O CCP, Clube Centenário Pauferrense, célebre lugar de encontro dos jovens pauferrenses de sua época, lugar de festas memoráveis, de paqueras, de muitas programações que alegrou gerações, também existe apenas nas memórias saudosistas dos nossos munícipes, mais um ato impensado deixá-lo nos escombros da história, sujeito ao bolor do esquecimento. Nem fotos estão ao nosso alcance. Por N motivos.
O Salão Paroquial (fotos acima) é um prédio que ainda existe, no entanto, não funciona mais as instalações da Igreja e do Centro Social, possui, hoje, uma versão desfigurada de tudo que representou no passado, um total desrespeito à história vivida e não mais revisitada pelo desrespeito aos bens arquitetônicos da cidade.
O Ginásio Professor João Faustino, inaugurado na década de 80, é um caso recente desse descaso com nossa identidade e nossa memória coletiva. Quantos pauferrenses passaram por ali... Quantos de nós vivemos momentos inesquecíveis naquele teatro, naquela quadra, naquele tatame, naquele tablado, naquele palco de muitas emoções... Uma edificação afetiva para atletas de vários esportes, para estudantes de toda a região, para as pessoas do bairro, da cidade... enfim... um coração que batia e nos ajudava a passar os dias melhores, a esquecer os problemas que temos no dia a dia. Uma edificação que não era nem tão antiga foi ao chão sem dar direito de ter suas estórias recontadas. Em seu lugar, um terreno abandonado... Um cenário cruel de nostalgia. Ao contrário da Praça do Condor, por exemplo, que uma nova praça foi construída e um nova história se contará, mesmo que esquecendo o significado da antiga.
A Casa Paroquial (foto abaixo), pertencente à paróquia da cidade, também é lugar de muitas memórias, de muitas boas lembranças de todos os pauferrenses, foi lá, que o histórico Padre Caminha viveu por muitos e muitos anos e preencheu milhares de páginas de nossa história. Como praxe, foi reformada... Perdeu seu aspecto arquitetônico antigo, ficou como uma casa qualquer dos tempos atuais... moderna... quem olha para ela nem enxerga mais o espírito hospitaleiro que ali existia nos tempos passados... mais um ato desastroso contra nossa identidade e nossas lembranças.
Há, ainda, prédios que resistem... O Pavilhão (inaugurado na década de 1950), também cenário de encontros e paqueras de gerações passadas, além de épicas e gigantescas missões populares de Frei Damião, com um valor histórico incalculável para o município, necessita de um olhar mais sensível por parte do poder público quanto à sua estrutura e, mais do que isso, quanto à sua serventia. Poderia ser um museu religioso, poderia ser palco de eventos religiosos e culturais em geral, como é o Cantoria na Feira (uma iniciativa privada, foto abaixo).
O Centro Cultural Joaquim Correia também está de pé e vejo, além de ser o prédio mais antigo da cidade, inaugurado em 1911, como o mais conservado. É preciso manter seu uso e preservar suas instalações mantendo sua arquitetura antiga e protegendo suas formas e memórias.
A Prefeitura Municipal (foto abaixo), erguida em 1929, passou por muitas reformas e hoje se encontra um brinco, no entanto, é preciso debater seu valor arquitetônico histórico e saber sua edificação identitária foi preservada, o mesmo vale para o Pavilhão e o Joaquim Correia.
No momento, surge o debate na redes sociais sobre o fim da Escola Municipal Professor Severino Bezerra... Inaugurada na década de 1970... Veio logo em minha mente todo esse ataque histórico permanente que aconteceu durante o percurso do tempo, será o saudoso "Municipal", lugar onde minha mãe foi professora na década de 70, onde meu pai foi aluno, onde milhares de pauferrenses passaram por lá, mais uma vítima da insensibilidade política e social? No Severino Bezerra existe a única quadra de Pau dos Ferros com dimensões oficiais para a prática do futsal. Que O MUNICIPAL permaneça e, em suas salas de aulas, se conte a história da cidade de Pau dos Ferros de maneira verídica para que, os futuros cidadãos e cidadãs pauferrenses não cresçam sem identidade mais do que já estão... Que os crimes históricos não se repitam. Que a memória prevaleça e que nossa terra não contabilize mais uma perda.
Manoel Cavalcante
É mais do que essencial que esse assunto seja debatido. Parabéns ao Cultura Pauferrense pela postagem. Pau dos Ferros tem uma ideia de progresso muito errada, onde a história é descaracterizada e deixada para trás.
ResponderExcluirEscola Severino bezerra mais conhecida como municipal minha irmã trabalhou 18 anos graciete fontes era muito querida pelos alunos e professores
ResponderExcluirUma tisteza!Com a "reforma" da praça da Matriz muitas histórias foram apagadas e existentes em mentes de quem as viveu e as gerações presentes e futuras nunca saberão.
ResponderExcluirUma tristeza!
ResponderExcluirCom a "reforma"da praça da Matriz muitas histórias foram apagadas,existentes nas mentes de quem as viveu e as gerações presentes e futuras nunca saberão.
Só consigo vê para frente, e sinto que a cidade vem avançando no sentindo de oferecer uma qualidade de vida melhor a sociedade.
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