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domingo, 11 de novembro de 2012

QUAL A CULTURA SENÃO A NOSSA?


Certa vez eu estava numa aula de Ortodontia e a professora quando foi dar exemplo de pacientes retrognatas (do queixo pra dentro) disse o seguinte: “Os pacientes retrognatas são aqueles que tem a mandíbula intruída,  tipo Noel Rosa...” Na mesma hora, um aluno virou para trás e indagou com a cara de estranheza enojada: “Noeeel Roosa?” Como quem dissesse: “Quem é esse doido?!”. Eu respirei fundo, mas sendo sincero, a vontade que eu tive foi de jogar uma cadeira nas fussas dele, no entanto, eu fui generoso e disse: “-É O PAI DO RITMO MUSICAL MAIS POPULAR DE SEU PAÍS, MAS LADY GAGA VOCÊ SABE QUEM É, NÃO É?”. Fiquei deveras enfurecido e envergonhado com tal episódio. Outro exemplo lastimoso foi na morte da cantora Amy Whine House. O mundo inteiro foi sensibilizado pela perca e sensacionalizado principalmente. Ela realmente cantava e tinha um timbre bonito e foi uma perca humana para a arte (não sei qual), mas ao ver o principal sucesso dela eu me revoltei. A tradução dizia: “Quiseram me levar para a clínica e eu disse eu não, eu não, eu não...” Aí fiquei me perguntando qual a diferença para aquele hit: “vou não, quero não, posso não, minha mulher não deixa não...” Mas o que isso significa?? Muita coisa!

O sistema capitalista impõe um compulsório consumismo no mundo cultural. Alguém já ouviu na rádio ou na TV um cantor ou artista romeno, africano, russo, japonês, árabe? Por que será que outros artistas que não cantam música inglesa não chegam ao nosso alcance? Eles também não são bons?! Infelizmente, a maioria das pessoas, flexíveis ao bombardeio da mídia aceitam o que chegam aos ouvidos com muita facilidade. A etiologia deste problema é profunda, passa por um problema educacional e político-econômico longo e muito longo. Ora bolas, se nós fomos catequizados e domados pelos ibéricos no início da história, se fomos  “independentes” por um golpe de estado, se o Vargas precisou de um golpe de estado para chegar ao poder, se a ditadura foi um golpe de estado, qual autonomia teríamos para termos identidade??

Mas o pior ou o melhor, é que temos autonomia artística sim e basta apenas ela ser valorizada. O samba é um ritmo brasileiro, a bossa nova também, o tropicalismo já mostrara. Mas Geraldo Vandré não passa no Faustão, Cartola, Noel Rosa e Pixinguinha não tinham dançarinas seminuas ornamentando o palco e eles não ensinavam a forma de como se matar o papai. E eu não falo apenas da música, o Cinema tem Glauber Rocha, a Literatura Machado de Assis, a Pintura Portinari, enfim, não é cabível prolongar exemplos, apesar de ser preciso. Aliás, Glauber Rocha já dizia: "A cultura nasceu na Grécia e morreu nos Estados Unidos".

Eu não quero impor que as pessoas gostem obrigatoriamente do que é produzido pelos seus conterrâneos e compatriotas, o livre arbítrio existe, porém o dever de ao menos conhecer é essencial. Quem é você? Qual sua verdade? Beyoncé dirá! Isto soa como alguém que conhece a pessoa mais distante do hemisfério, mas não conhece a própria mãe. Serão estes seres detentores de opinião própria? Capazes de formar sentido e de serem seres sociais ativos? Talvez este seja o motivo para a elegibilidade de tantas atrocidades, para uma crença tão fácil no horário político.

Por fim, o que se constata é um sistema que impõe cultura à maioria, é a massificação do “raso” e a marginalização, ridicularização do autêntico e do belo. E assim, por falar em ridicularização, é melhor eu botar um ponto final aqui ou um ponto de exclamação, uma vez que serei taxado de arcaico, radical, quadrado, retrógrado e mais outras alcunhas que me dão prazer ante à tal calamidade cultural. 


Por Manoel Cavalcante.

Um comentário:

  1. Temos uma cultura maquiada por uma prostituição de valores imposta pela mídia suja e manipuladora do nosso país, onde se mostra o que se dá retorno, se vende o que se dá lucro.

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