Quando
encontrei o escritor [Francisco] Calazans Fernandes (1929-2010) ele
morava em S. Paulo. Ele foi jornalista nos melhores jornais, Jornal do
Brasil, Times, dentre outros. Foi também Secretário de Educação do Rio
Grande do Norte – ele deu a primeira oportunidade para o pernambucano
Paulo Freire (1921-1997) aplicar o seu método de alfabetização. Como
correspondente gerou o mundo todo, esteve em Israel de ponta a ponta,
porém o seu espírito nunca deixou o seu berço natal, na região conhecida
como “Tromba do Elefante”, parte do RN que vai em direção a PB.
---“Três dias que passo na minha terra – disse-me entre o raro sorriso de sertanejo desconfiado – me rejuvenesce trinta anos”. Falava enquanto me mostrava uma espingarda Comblain, usada em Canudos e por todo o Brasil profundo.
Eu cheguei a Calazans Fernandes, através de Marília Freidenson, que leu o seu livro O GUERREIRO DE YACO. SERRA DAS ALMAS. MEMÓRIAS E LENDAS DE ZÉ RUFINO
(C.F. Natal, Fundação José Augusto, 2002, 318 páginas) e me emprestou
um exemplar, sabendo que era assunto de meu interesse. Imediatamente
falei com o Dr. Marcos Antonio Filgueira, o genealogista par excellance
das famílias do RN, que me passou o seu endereço e assim pude conversar
uma tarde com este notável criador e saber um pouco mais de seu
trabalho.
O GUERREIRO DE YACO (...) é o primeiro de uma planejada trilogia. Escritor disciplinado pelos prazos do jornalismo, ele já tem a pauta dos trabalhos que seguirão “Chamas do Passado” e “Cinzas da Fortuna”, contando as histórias do seu pai Zé Rufino (José Calazans Fernandes, 1892-1976), homem atento e de boa memória que reteve as histórias de ocupação das terras em volta da Serra das Almas. O leitmotiv do livro é o desvendamento de um segredo. para que isto aconteça, microbiografias de sertanejos são reveladas através de pequenos episódios, onde a identidade cultural é sempre realçada.
Este primeiro volume é descrito como “a
memória do baú sobre um Fernandes cristão novo da Ilha do Fayal contava
como, perseguido pela Inquisição por viver com uma bruxa também
Fernandes, em 1700 ele demandou ao Brasil no navio de que era dono,
sobreviveu a um naufrágio no litoral do RGN, subiu o Apodi dos encantos,
com ajuda dos índios, chegou à Serra das almas, onde , dos grotões da
mina do Cabelo-Não-Tem, arrancou fortuna em ouro. Tão venturosa história
resume tudo sobre quem deixou descendentes sem conta e brigas eternas
nos direitos de posse de terras sem fim” (p. 27).
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no universo de C.F. não foi difícil para quem tem a pele crestada
herdada de ancestrais que também viveram alongados pelo Sertão. Na
riqueza memorial do seu pai, lembrei-me de histórias contadas por alguns
Valadares sertanejos – como a de uma chuva de peixes vivos no sertão
sergipano. Mas a mim falta-me o talento narrativo e a fluidez do autor
norteriograndense, portanto basta-me desfrutar o seu saborosissimo
trabalho para eu também recuperar o me Sertão e recomendá-lo a quem
deseje conhecer o Brasil profundo – não o das grandes e insossas cidade,
mas as raízes profundas deste país, que leiam este livro,pois ele se
coloca ao lado de três outras obras primas sobre o sertão brasileiro: A pedra do Reino, de Ariano Suassuna; Os Peãs, de Gerardo Mello Mourão (1917-2007) e o poema Psiu, a penúltima, de Soares Feitosa.
Por Paulo Valadares.
Belíssima matéria!!!!!!!!!!!! O Guerreiro do Yaco, é um tratado sobre o sertão, praticamente uma ode do sertão brasileiro. Representado pelo nossa região, o que embevece mais ainda um pauferrense como eu.
ResponderExcluirComo posso ter um exemplar" o Guerreiro do yaco" ?
ResponderExcluirComo posso ter um exemplar" o Guerreiro do yaco" ?
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