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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

QUEM DISSE QUE EM PAU DOS FERROS NÃO TEM CARNAVAL?


Carnaval não é aquela festa feita com dinheiro público superfaturado, não é aquela festa nos grandes centros do país, não é aquela festa efêmera que maquia a mente da massa por alguns dias, não é aquela festa que reafirma a superficialidade humana, não é aquela festa veiculada pelas grandes emissoras de TV do Brasil e do mundo. Querem saber o que é Carnaval? Venham ao bairro Riacho do Meio...! Lá qualquer doido como eu aprende que Carnaval é alegria e consciência de comunidade. Esse é o conceito da festa de momo em Pau dos Ferros, mais precisamente nesse bairro que matou a sede de nossa terra com o Açude 25 de Março até meados do Século XX, mas que parece ser esquecido pelos homens do poder. Um bairro periférico, de pessoas humildes, todavia, talvez, o lugar mais rico do município: de espirituosidade, cultura, alegria e fé. 

A história foliã começou em 2008, com o surgimento do primeiro arrastão, na ocasião, em período carnavalesco, um carro de som trafegava pelas ruas do bairro fazendo propagandas rotineiras... alguns amigos que se confraternizavam pediram ao motorista para fazerem "um arrastão" e assim fizeram... Foi alegria total... saíram pelas veias daquele logradouro e, dessa forma, deu-se o início da folia organizada e coletiva. O Bloco Cachorra da Mulesta surgiu em 2003, são 15 anos de história, 16 anos de carnaval e 11 anos de arrastão.


O Cachorra possui 40 sócios e além de ser o maior bloco da comunidade, é o pioneiro que deu origem a outros três... Esse ano de 2018, as veias do Riacho tiveram 4 blocos desfilando, além do primeiro, o Aidentro (2017) que possui 30 sócios, Os Fedorento'z (2018) que possui 25 sócios e Os Legalizados (2018) que possui 20 sócios. Um salto significativo num curso de dois anos. Esse ano o evento comunitário levou o nome de Riacho do Meio Folia, mas já foi chamado de Arrastão da Cachorra da Mulesta, Maza Folia e Riacho Folia.


Basta um carro de som, veículo que os foliões chamam carinhosamente de Trio Elétrico, para a farra ser grande... Esse ano foi um celta preto com um som atrás, o tal dum paredão. O tamanho do carro é inversamente proporcional ao tamanho da felicidade do povo... Crianças, adultos, idosos, todos caem na folia em harmonia plena pelas ruas do bairro e a alegria é o bloco principal. Ao longo de cerca de 15 anos de história já chegaram a contratar orquestra de frevo, trios da cidade e algumas bandas locais de axé e pagode, mas a festa parece ser maior quando a comunidade inteira sai atrás de um pequeno paredão tendo a rua como palco, as calçadas como arquibancadas e camarotes para a fuzaca  de todos... é uma festa total, supimpa! 


Eu não fui à Olinda, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, porém, pude sentir o termômetro de união de uma comunidade que possui por volta de 2 mil habitantes e que é um fértil manancial cultural em nossa cidade. Bairro de Seu Chicão, de Neguinho de Ana, de Mazzaropi, do Professor Vicélio, de Dona Macina e de tantas rezadeiras, pescadores, vaqueiros, agricultores, homens e mulheres de fé e garra que representam nossa terra. Sampaios, Franças, Fernandes, Estevão, Rêgos, Florenços e tantas e tantas outras famílias influentes em nosso município que tiveram esse pequeno e rico pedaço de chão como berço esplêndido. Cultura pura e viva. Viva ao povo do Riacho do Meio, vivas a esse lugar de gente humilde e rica de espírito! Viva! Viva!

O retrato em riba desse letreiro aqui, é da associação da comunidade, agremiação que será legalizada em breve, no entanto, já possui extensa atuação em eventos juninos, culturais e esportivos. Salve!


Por Manoel Cavalcante

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