Hoje, 26 de junho, Pau dos Ferros
amanheceu descalça, pois ontem (25), São Pedro abriu as portas do céu para José
Oliveira da Silva (81 anos), vulgo não, conhecido e maciçamente conhecido como
Zé Bonga. O sapateiro da cidade. O beque do time de Pau dos Ferros. O porteiro
do Estádio 9 de Janeiro.
Olhar sério, poucas palavras, mas
firmes como cola quente de sapato... Zé Bonga nasceu em nossa cidade em 1935,
passou uma temporada em Brasília, porém retornou a Pau dos Ferros e, apesar de
ter começado a trabalhar no ofício de pedreiro, foi como sapateiro que ele se
tornou uma lenda viva de nossa cultura. Não há nenhum pauferrense, de meados do
século XX até os dias atuais, que tenha vivido alguns fiapos de dias em nossa
terra, que não saiba quem é Zé Bonga. Eu desafio! Bolsas, sandálias, tênis,
chinelos, sapatos, chuteiras, patins, cinturões, bolas de futebol, futsal,
luvas de vaqueiro, perneiras, gibão, selas, tudo passou pelas mãos de Zé, tudo
que seja de couro e/ou que se calce ou se vista, ele passava a agulha ou a
cola. O homi era bom. E num tinha infeliz que botasse um defeito.
E de onde vem o Bonga, Zé? Nosso
sapateiro era zagueiro do time da cidade, o Clube Centenário Pauferrense, CCP. Conta-se que devido a existirem apelidos parecidos na equipe como o do craque
do time, Bobô, assim como também Bobó, Zé ficou com o Bonga para carregar por
toda a vida e fazer parte da história de todos os pauferrenses.
A moral e
a popularidade de Zé Bonga eram tão grande que ele já entrou para as páginas da
literatura, para a imortalidade dos livros... Citado num trecho, como
personagem do livro "Quem matou Odilon Peixoto", do santanense José
Sávio Lopes. O livro, por sua vez, proseia sobre uma história ocorrida na década
de 50, na Serra de Mundo Novo, hoje Dr. Severiano, motivo de matérias
vindouras, eis o trecho:
"O Tenente Ungido, conhecido por sua competência em desvendar os mais escabrosos crimes da capital. Era uma questão de honra para as autoridades coibir as ações como a então ocorrida. O sertão não poderia ficar à mercê de bandidos.
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Enquanto
boatos sobravam nos botecos, passava de uma semana o processo de investigação
para desvendar o assalto do Fomento, e nada de pistas.
De boato em boato, Zé Bonga foi inquirido para depor.
-Doutor, eu não sei de nada. Isso é futrica desse povo que não tem o que fazer. Eu sou um pobre sapateiro, trabalho ali naquele beco estreito, à direita de quem sai do cinema. Nas horas vagas sou "beque" do time aqui de Pau-Ferrado.
-E que "beque", Tenente! Aqui em Pau-Ferrado se diz que o "centefor" que dividir bola com Zé Bonga, vira defunto ou carniça! - sem pedir permissão, interrompia Nonato Vaqueiro, o escrivão que reduzia a termo o depoimento.
Sem nada acrescido aos depoimentos tomados, o Tenente Ungido começou a pensar no convite que recebera naquela tarde."
Nosso Zé
encantou-se às 13h de um domingo provinciano, bem distante daqueles domingos
fervidos pelo sol e pela animação dos nossos munícipes, desportistas de toda a
região, propícios para o futebol dominical, os jogos da nossa Sociedade
Esportiva Pauferrense. "Vai pro jogo do Sociedade?" E ao chegar ao
estádio, quem estava na portaria para receber seu ingresso com aquele jeito
simpático de ser? Seu Zé Bonga! O sapateiro que não arredava o pé de nosso
esporte, o zagueiro que fazia marcação cerrada em todo mundo, o costurador de
costela de bola, o ajeitador de sapato que andava com as sandálias da humildade,
o ganhador do pão de cada dia honestamente. Que o autor do universo possa
receber, em seus braços, este homem simples, que é a riqueza da cultura de Pau
dos Ferros! Salve Zé Bonga!
Por Manoel Cavalcante
Esse homem singelo de coração enorme me ensinou as regras do futebol, com isso me colocava dentro do falecido ginásio de esportes e no quase falecido 9 de Janeiro. Meu tio amado e querido, o cunhado que minha mãe respeitava, admirava e confiava de olhos fechados. Por essa confiança ele me levava em jogos da região quando ia apitar. Temos bons e dele só tenho boas lembranças. Quando estudava no Municipal à noite e por vezes que seguia para casa sozinha ele me acompanhava em boa parte do caminho deixando a vigilância do fórum em segundo plano. Meu tio se foi, mas, como no texto acima, deixou seu legado a cidade e a história que não seria a mesma sem ele. #ZéBongaPraSempre. Da sobrinha que sempre irá se lembrar do tio mais que querido.
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