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sexta-feira, 22 de abril de 2016

O NOME DA MINHA CIDADE É PAU DOS FERROS


-Pau dos Ferros? -Sim, Pau dos Ferros. Tenho bussoluta certeza, e bussoluta vem de bússola, que essa pergunta inicial em sinal de estranheza ante a revelação de nossa terra natal, é um episódio frequente quando algum pauferrense sai para outras regiões do país e até para fora do Brasil, no entanto, quando explicamos a origem do nome, todos fazem reverência à originalidade. É como diz um poeta amigo meu: -Pode até existir um mais bonito, mas igual num tem não. 

Na contramão da identidade de nossa cidade ao menos no nome, nosso Estado é um seio farto e férfil de autoafirmação pessoal, personificação das ações e disseminação das oligarquias, através da invasão de identidade. Temos 167 municípios e destes, cerca de 25 %, um quarto, tem nomes de pessoas, direta ou indiretamente, 34 têm nome próprio como Rafael Fernandes, Marcelino Vieira ou sobrenome próprio como Martins. Outros trazem a alcunha hierárquica como ousadia: Tenente Laurentino Cruz, Senador Elói de Souza e outras 6, trazem o nome indiretamente, o que é pior, pois dá a ideia de posse, que aquela cidade, aquela história, é de uma única pessoa ou de uma única família: Timbaúba dos Batistas, Olho Dágua do Borges, Santana do Matos etc. Homenagens são justas e sabemos da importância de grandes líderes, todavia, por mais perspicaz que seja a pessoa, o ser humano, a influência daquela família, não é de bom grado, colocá-los no topo do ranking, como os maiorais e olhe que muitas vezes nem são. Reverenciá-los de outra forma seria mais coerente. 

Acompanhemos os nomes abaixo:

1. João Câmara
2. Nísia Floresta
3. Afonso Bezerra
4. Almino Afonso
5. Frutuoso Gomes
6. Pedro Velho
7. Ielmo Marinho
8. Governador Dix-Sept Rosado
9. Tenente Ananias
10. Luís Gomes
11. Antônio Martins
12. Pedro Avelino
13. Doutor Severiano
14. José da Penha
15. Felipe Guerra
16. Tenente Laurentino Cruz
17. Coronel Ezequiel
18. Bento Fernandes
19. Martins
20. Coronel João Pessoa
21. Rodolfo Fernandes
22. Messias Targino
23. Senador Georgino Avelino
24. Lucrécia
25. Ruy Barbosa
26. Rafael Godeiro
27. Fernando Pedrosa
28. Francisco Dantas
29. João Dias
30. Rafael Fernandes
31. Senador Eloi de Souza
32. Severiano Melo
33. Major Sales
34. Alexandria

E ainda:

1. Carnaúba dos Dantas
2. Timbaúba dos Batistas
3. Olho Dágua do Borges
4. Alto do Rogrigues
5. Santana do Matos
6. Serrinha dos Pintos

Contudo, nem tudo está perdido, três cidades do Rio Grande do Norte deixaram as alcunhas pessoais e hoje possuem seus novos-antigos nomes com auteti(cidade) e originalidade. Ei-las:

Boa Saúde deixou de ser Januário Cicco (médico) que agora é apenas uma maternidade, por sinal muito conceituada; 

Serra Caiada deixou de ser Presidente Juscelino que, por sua vez, num sabe nem sabia nem onde ficava Serra Caiada. A população escolheu num plebiscito em 2012 com 98,53% dos votos, a favor da troca, ou seja, o nobre Juscelino Kubitschek não recebeu um real de cabimento dos serracaiadenses;

Campo Grande, deixou de ser Augusto Severo após uma manifestação de menosprezo de um familiar do referido patrono, explicitada numa solenidade, dizendo que era uma cidade minoritária, muito longe da capital e outras asneiras... Um pesquisador da cidade estava presente e fez um abaixo assinado na cidade, que voltou a ser Campo Grande em 1991.

Certa feita, um amigo me confidenciou ser bisneto de Coronel João Pessoa, e mesmo assim, preferia que o nome da cidade fosse Baixio de Nazaré, haja vista aquela pequenita cidade estar localizada em um grande baixio. Belo nome, né não?!

Por falar em belo, Caiçara do Rio do Vento, cidade perto de nossa capital, já ganhou um concurso, certa vez, como um dos nomes de cidades mais belos do país. E com justiça.

Nossa própria Pau dos Ferros, ainda teve como sugestão Vila Cristina, mas não vingou. A cidade de Encanto, antes de emancipada, era Joaquim Correia, um mecenas da educação e grande líder político, hoje é nome do centro cultural em nossa cidade, que inclusive foi construído por ele. Mais justo né não?!

Não obstante a isso, desperdiçamos vários nomes justos, intrínsecos de cada região, de cada lugar em detrimento de nomes pessoais... Que pena.

Felipe Guerra, cidade de belezas naturais, deixou de ser Pedra da Abelha... Algum outro lugar teria uma pedra com o formato de uma abelha? Olha só quão bonitas são as paisagens de Pedra de Abelha:


Antônio Martins antes era Boa Esperança, bonito e singelo, concorda? Alexandria era chamada de Barriguda, em homenagem a Serra da Barriguda, cartão postal do município... Nome que além de exaltar a própria cidade, deixaria todo mundo de bucho cheio, nera? Olha a Barriguda aí:


Rafael Godeiro atendia por Várzea da Caatinga, lindo demais... Rafael Fernandes por Varzinha, Frutuoso Gomes por Mombaça... Rodolfo Fernandes já foi Serrote dos Gatos, Tenente Ananias já foi Água Marinha, Major Sales já foi Cavas, Doutor Severiano: Mundo Novo, Francisco Dantas era Riacho Tesoura, quer nome mais afiado? São infindos os exemplos.

São nomes de políticos, médicos, autoridades da justiça e da polícia que imperam, apenas três nomes de mulheres ou que fazem reverência a ela: Nísia Floresta, Alexandria e Lucrécia. É a velha relação do maior contra o menor, da sociedade patriarcal. Bonito também seria: Vaqueiro Zé do Gado, Agricultor Antônio das Umburanas... Mas, parece sonho que os trabalhadores da terra e das lutas naturais tenham essa honraria.

Ainda existem as cidades com nome de santos da igreja católica, o que desfaz a laicidade do estado, no caso do município, mas nisso nem vamos tocar...

Contudo, respiramos quando vemos nomes em tupi-guarani como Assu, Itaú, Canguaretama, Ipanguaçu, Parnamirim e outros mais... Temos essa vantagem.

Por fim, os pauferrenses só têm a comemorar a identidade do nome, a originalidade do gentílico, lutando sempre em favor da manutenção e valorização da cultura de raiz. Oremos!

Por Manoel Cavalcante (que é contra a existência do povo cavalcantense).







3 comentários:

  1. Atualizando “O Elephante de Shiva”

    http://www.publikador.com/politica/roberto-cardoso/atualizando-o-elephante-de-shiva

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  2. Sobre a sombra da frondosa árvore os vagueiros colocavam no tronco os seus ferros que marcavam o gado e também um registro da sua passagem naquela bela árvore, nascendo assim a nossa bela " Pau dos Ferros. "

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  3. É nosso orgulho ser um pauferrense autor do slogan PARA ACORDAR O ELEFANTE http://www.hemerotecadoelefante.blogspot.com.br/

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