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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O LEGADO DE ALCINO ALVES COSTA PARA A CULTURA NACIONAL (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa

O LEGADO DE ALCINO ALVES COSTA PARA A CULTURA NACIONAL

O falecimento de Alcino Alves Costa em 1º de novembro deste ano significou, a um só tempo, a perda do sertanejo apaixonado pela história e cultura de seu povo, e também uma imensa lacuna na historiografia nacional, principalmente no que diz respeito ao culto das raízes nordestinas e dos fenômenos sociológicos do banditismo social e suas afluências místicas e coronelistas.

Alcino Alves Costa

Mesmo autodidata, tendo somente estudado até o quarto ano primário, Alcino acabou se constituindo num grandioso pesquisador dos fenômenos nordestinos, e estes de alcance nacional. Era membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC, sócio honorário do Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, participante efetivo do seminário permanente Cariri Cangaço, além de palestrante em diversos eventos de renomadas instituições.

Alcino e Rangel, seu filho

Em setembro de 2011, no município de Barbalha/CE, foi homenageado com uma placa distintiva outorgada pela Comunidade Lampião – Grande Rei do Cangaço e pelo blog Lampião Aceso, como “Reconhecimento por sua valiosa contribuição à cultura nordestina, e, em especial, aos estudos e preservação da memória do cangaço”.

Em fevereiro de 2012, o evento II Arena de Arte e Cultura, promovido pela Prefeitura de Nossa Senhora da Glória/SE, homenageou-o como expoente da cultura e da memória sertaneja, ocasião em que recebeu uma placa alusiva ao evento com os seguintes dizeres: “Parabéns Alcino, Escritor que permanecerá sempre resgatando as histórias do povo do nosso sertão. Obrigada pela participação na II Arena da Arte, Cultura e Turismo da Rota do Sertão”.

Nos seus livros, ensaios, artigos e composições estão presentes a história, a geografia, o cotidiano matuto, a sociologia da violência e do misticismo, a descrição dos meandros políticos como causa e consequência das injustiças, da pobreza, da violência e das lutas cangaceiras que tão presentes estiveram nas vastidões áridas do Nordeste.

Todos estes aspectos foram pesquisados, analisados, discutidos e dimensionados por Alcino nas suas obras. Longe de ser um pesquisador eminentemente bibliográfico, procurava estudar os fenômenos nas suas fontes de origem, nos locais e perante os seus personagens. Ele mesmo convivendo com a história, com o objeto do seu estudo, pois sertanejo de raiz e ladeado por ex-cangaceiros, ex-volantes, ex-coiteiros, vaqueiros da vida inteira.

Na sua casa recebia Adília de Canário, Sila de Zé Sereno, os coiteiros Mané e Adauto Félix, dentre tantos outros que lhe faziam amizade e confidências tão úteis ao desvendamento da saga cangaceira. Mesmo mais moço, conviveu e foi até adversário político de Durval Rodrigues Rosa, o mesmo Durval irmão de Pedro de Cândido, este tão citado na história como possível delator do Capitão Virgulino.

Ademais, não se deve esquecer que era sobrinho materno do cangaceiro Zabelê (irmão de sua mãe Emeliana Marques, ainda viva), e genro dos maiores amigos que Lampião tinha no arruado do Poço Redondo, que eram Teotônio Alves China, o China do Poço, e Dona Marieta, sua esposa. Na casa destes é que se deu o célebre encontro entre a cruz e a espada, entre Padre Arthur Passos e Lampião. Dona Peta, a eterna companheira de Alcino, era, pois, filha desse gentil casal sertanejo.


Outros aspectos também aproximam Alcino daquilo que passou a admirar com devoção. A Gruta do Angico, onde a 28 de julho de 38 ocorreu a chacina que pôs fim ao bando cangaceiro mais importante, está localizada no se berço de nascimento; a Maranduba, fazenda onde se travou o maior combate da história cangaceira também fica nos arredores da povoação. E tantos outros lugares que foram palco das vinditas, dos coitos e tramas, estavam no Poço Redondo, bem ao lado e ao alcance de Alcino.

Desse modo, o que “O Caipira de Poço Redondo” conta nos seus livros soa quase como relatos autobiográficos, dado à veracidade da narrativa, ao conhecimento profundo dos acontecimentos, ao convívio com parte dos personagens, debaixo do sol, pisando no espinho esturricado e cortando as veredas que eram os mesmos daqueles tempos mais antigos. Dois anos após a chacina do Angico, Alcino avistou seu primeiro sol. Nasceu em 40.

Tais elementos de convívio possibilitaram que começasse a produzir relatos o mais próximo possível à realidade cangaceira, principalmente naquela região e arredores, no mesmo chão onde o Capitão Lampião dizia se sentir mais seguro, mais protegido das emboscadas e das traições. E a história acabou mostrando o contrário, ainda que a mesma história continue entremeada de mentiras e mistérios, como bem assegurava “O Caipira de Poço Redondo”.

E foi pela força e contundência dos relatos, preferindo construir uma obra distante das influências e dos consensos literários acerca do banditismo matuto, que Alcino foi se firmando pela seriedade de suas pesquisas e logo reconhecido como um dos maiores expoentes da história cangaceira nordestina.

E não apenas da história do cangaço, pois a memória cultural e sociológica do sertanejo teve em suas mãos o cuidado do artesão, do oleiro que forja no barro a feição de um povo, de uma gente marcada pelas durezas de toda sorte e que, não obstante as intempéries naturais, ainda teve de suportar os sofrimentos causados pelas refregas entre os ditos bandidos e os conhecidos mocinhos.

E Alcino descreveu tais meandros de modo quase que irretocável, pois na linguagem fácil, na escrita sem rebuscamentos, sobressaindo apenas aquilo que foi uma das suas maiores características: o lirismo na descrição da guerra, quase poesia falando da emboscada. Assim, os seus livros “Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico”, “O Sertão de Lampião” e “Lampião em Sergipe”, se tornaram referências necessárias na bibliografia nacional.

Contudo, Alcino dividia sua paixão pelo fenômeno cangaço com muitas outras paixões sertanejas. Amando sua terra e o seu povo, sendo eleito por três vezes prefeito do seu município, deixou escrita a sua história no livro “Poço Redondo – A Saga de Um Povo”, tratando desde os desbravadores aos tempos mais recentes. No mesmo sentido fez com o município vizinho de Canindé, ao publicar “Canindé do São Francisco – Seu Povo e Sua História”.



De sua paixão pela autêntica música caipira nasceu prosa e o dom da locução. Tentando delimitar de vez a fronteira entre a canção dita sertaneja e a música caipira de viola de pinho, escreveu um livro essencial intitulado “Sertão, Viola e Amor”, o mesmo nome do programa radiofônico que manteve por muitos anos nas tardes de sábados na Rádio Xingó FM, na vizinha Canindé do São Francisco.

Homenageou o rio que passa pela sua aldeia no livreto “Preces ao Velho Chico”, publicado pela Coleção Mossoroense da SBEC, em 2000. Ao falecer, deixou um grande número de obras inéditas e que serão futuramente publicadas. Dentre tais obras estão “João dos Santos – O Caçador da Curituba”, “Canoas – O Caminho Pelas Águas”, “Lendas e Mistérios do Sertão” e “Vaqueiro, Cavalo e Boi”, além de diversos rascunhos e estudos inacabados acerca do cangaço.

Foi também grande compositor de música caipira, iniciando em 1974 sua assinatura de músicas de sucesso. Neste ano Clemilda gravou com enorme sucesso sua “Seca Desalmada”. Anos mais tarde as renomadas duplas sertanejas Dino Franco e Mouraí e Dino Franco e Fandagueiro gravaram diversas músicas de sua autoria, também com grande sucesso, dentre as quais “Sertão, Viola e Amor”, “Garça Branca da Serra”, “Desencanto da Natureza”, “Velho Chico” e “Nuvens Brancas do Sertão”.

No mês de julho deste ano Alcino lançou o seu último livro, o romance “Maria do Sertão”. Ao lado de seus livros sobre o cangaço, considerava esse romance a expressão maior de sua verve de escritor. Talvez porque tenha sido um de seus primeiros escritos, mas a verdade é que era apaixonado por sua Maria e sua história de amor e sofrimento. Ao lançá-lo já estava muito doente, debilitado pela prolongada enfermidade que o viria silenciar poucos meses depois.

Mas por que afirmar – como intitulado no presente texto – ter Alcino Alves Costa deixado importante legado para a cultura nacional, vez que sua obra se volta basicamente para o sertão e o nordestino? Ora, as lutas do homem nos seus sertões, bem como suas manifestações e realizações, não se resumem ao lugar quando se tornam história.

E foi essa história que “O Caipira de Poço Redondo” soube tão bem relatar para todos, nacionalmente e até além fronteiras. Daí a imortalidade do seu legado. E fato reconhecido pela Academia Gloriense de Letras, no alto sertão sergipano, que ao ser instalada e com posse de seus membros em 12 de dezembro de 2012, escolheu Alcino Alves Costa como Patrono da Cadeira nº 1.

Enfim, não há que se reconhecer em Alcino senão aquele sertanejo de uma imensa alma humana tomada pela feição de um grande poeta, pesquisador, escritor. E um pai orgulhoso de sua prole, tanto nos filhos como nos livros.

Poeta e cronista
Filho de Alcino
blograngel-sertao.blogspot.com

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O MUNDO VAI SE ACABAR EM 2012?

Nos primeiros meses deste ano de 2012, estava junto com dois amigos viajando da cidade pernambucana de Palmares em direção a Mossoró, onde teríamos que atravessar o sertão da Paraíba e do Rio Grande do Norte, para assim chegar ao nosso destino.

Já havíamos passado por Campina Grande e viajávamos tranquilos pela BR-230, em direção da cidade de Santa Luzia, antiga porta de entrada para a colonização do Seridó Potiguar.

Era final da tarde e eu apertava mais o acelerado apara evitar dirigir muito tempo durante a noite. Mas em dado momento, surgiu na nossa frente uma verdadeira “parede” de nuvens, anunciando a chegada de muita chuva. Não tardou e um dilúvio caiu na estrada, obrigando a ligar os limpadores de para brisa, tirar o pé do acelerador, ligar faróis, redobrar a atenção e por aí vai.

Tão repentina como surgiu, a verdadeira massa de água se foi conforme seguíamos em direção oeste. Mas logo uma situação estranha me chamou a atenção pelo retrovisor; o horizonte que ficava atrás do meu carro estava completamente tomado por uma cor avermelhada.

Diante desta inusitada situação paramos para fazer algumas fotos. Na mesma hora a galera no carro já ligou aquela visão com a história do fim do mundo em 21 de dezembro de 2012.

Segundo o que os ditos “especialistas do apocalipse”, as duas da manhã, horário de Brasilia (não sei se o calculo já é com horário de verão) desta sexta-feira, começa a transcorrer o ano 5128 do quinto sol, estabelecido no calendário solar da ancestral cultura maia, cujo fim, segundo as evidências científicas encontradas em monumentos, esfinges e placas, prevê “uma mudança de época” para a humanidade.

Será que esta tal mudança é o fim desse mundo de meu Deus? E a gente vai junto!

                                  
Fonte – http://tele-fe.com

Seguimos viagem debatendo quantas vezes na nossa vida, em pleno início século XXI, 12 anos após a passagem para o ano 2000, já tínhamos ouvindo falar no fim do mundo. E no meu caso, mesmo com menos de cinquenta anos de idade, posso lhes garantir que já ouvi esta história várias vezes.

Nesse caso dos Maias, até a NASA está tendo que acalmar vários americanos que pensam em praticar suicídio para não ver o fim do mundo. Ver - http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/2012-11-30/nasa-desmente-fim-do-mundo-e-alerta-sobre-suicidios.html

No fim das contas, durante o trajeto, chegamos à conclusão que somos todos simples mortais, tanto quanto alguma mísera formiguinha que passe ao seu lado e você pise nela. A nossa vida é finita, tanto quanto o nosso pequeno planetinha. Basta o nosso belo sol acordar um dia de pá virada, começar a inchar, se expandir, engolindo o nosso planeta em seu processo natural de extinção e isso tudo aqui vai virar cinzas. O detalhe é que mesmo com toda tecnologia, nós não poderemos fazer nadica de nada!

Acho que este lance de calendário Maia, fim de mundo com dia e hora marcada, é o tipo da coisa que só ajuda produtor de programa de televisão que mostra temas apocalípticos, ou líder religioso que trabalha com o nosso eterno medo do que vai nós acontecer na hora que deixarmos este plano.

Bem, mas vai que os Maias tinham razão!

Então amigos aproveitem o tempinho que nós resta nesta Terra e vá curtir o restinho da sua vida junto de quem você ama…
                                  
Apenas um belo pôr do sol.

P. S. – A tal visão que vimos no interior da Paraíba nada tinha de extraordinário. Conforme seguíamos em direção oeste, a chuva foi ficando para trás. Após deixarmos a massa de água, o sol iluminou de forma maravilhosa as nuvens e o horizonte na direção leste. Apenas o efeito do pôr do sol, que deixou o sertão com uma cor bem bonita. Isso foi somente um fenômeno natural e a natureza merece ser contemplada sempre que possível.

O bom mesmo era que a tal “parede” de chuvas voltasse e molhasse o nosso sertão atingido por uma seca que vai transformando o interior do Nordeste em um verdadeiro fim de mundo.

Por Rostand Medeiros

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

NAQUELA ÉPOCA....

 É impressionante as mudanças pelas quais o mundo tem passado nos últimos 30 anos, principalmente nos costumes, nas relações sociais e econômicas.Por estarmos na festa da padroeira da cidade, dei uma de minhas voltinhas no tempo para lembrar aos mais jovens como estávamos nessa época no fim dos anos 1970: Todas as atenções estavam  voltadas para saber quem era a atração que tocaria no "Bar das Almas",nos dias 6,7 e 8 de dezembro. A essa altura as costureiras ainda estavam abarrotadas de roupas para entregar, os tecidos eram invariavelmente comprados em "Seu Expedito Gualberto", Eustácio ou no simpático "Seu Zé Gabriel". Os calçados eram adquiridos em "Seu Augusto' ou em Seu Luis da sapataria. Não haviam tantas opções como agora, e só comprávamos o que o pai ou a mãe quisesse, muitas vezes coisas de muito mal gosto, mas fazer o que? E ai de quem ensaiasse um xilique, era uma surra na certa. Quem lembra dos famigerados "conjuntos"(do mesmo tecido, faziam a calça e a camisa), dos sapatos cavalo de aço, das calças de veludo cutelê, dos bobs que as meninas colocavam e que marcavam o cabelo horrivelmente? As bebidas da moda eram Vodka com fanta e Rum com coca-cola, um tubo de Halls no bolso para os que iam beijar.....A procissão arrastava multidões pela cidade e a bateria era esperada com muita ansiedade. Saudosismo besta? Não sei, mas acho hoje tudo muito apático, artificial.....
                                   VIANNEY